17º DOMINGO Tempo Comum - Ano B

17º DOMINGO Tempo Comum - Ano B

Roteiro Homilético 1: Mensagem
(cnbbleste2.org.br Dom Emanuel Messias de Oliveira)
1ª LEITURA - 2Rs 4,42-44
Em torno do grande profeta Eliseu surgiram muitas histórias de milagres, lendas e fatos admiráveis. O capítulo 4 registra alguns para mostrar a força do profeta na sua admirável sintonia com Deus e com o seu povo.
O texto de hoje é um milagre, sem dúvida, fantástico, mas narrado com muita simplicidade. Mas o texto do evangelho de hoje vai mostrar como Jesus supera de longe o grande profeta. Um homem oferece a Eliseu 20 pães de cevada e espigas de trigo novo. Os pães eram dos primeiros frutos da terra. Eram as primícias que todo o agricultor tinha que oferecer a Deus em sinal de agradecimento. Parte das ofertas ficava para o ofertante, que deveria partilhá-las. Na verdade, Deus não fica com nada, ele se contenta com o gesto de reconhecimento e da abertura de coração de quem oferece com alegria. Deus é o Senhor absoluto de tudo o que temos e somos. Ele quer mesmo é ver os bens da criação partilhados. Daí a ordem de Eliseu mandando distribuir os pães para o povo.
 Com uma misteriosa atração para o egoísmo e o acúmulo, sempre achamos motivos para não partilhar: “Como vou distribuir tão poucos pães para cem pessoas?” Eliseu não é egoísta. Ele está cheio da caridade de Deus. Cheio de fé, ele insiste na partilha e acrescenta a razão de sua fé, pois “assim diz o Senhor: comerão e ainda sobrará”. Os pães foram distribuídos e as 100 pessoas comeram à vontade e ainda sobrou. Realmente o pouco com Deus é muito. No Brasil vivemos a fartura para poucos e a miséria  para quase um terço da população. O que é que está faltando? Na sua casa é ensinada a partilha?  Prevalece o amor-doação ou o egoísmo-retenção? Seus filhos são acostumados a participar do ofertório da missa? A família entrega à Igreja, agradecida e feliz,  o dízimo (10%)  de todos os bens recebidos de Deus?

2ª LEITURA - Ef 4,1-6
Os capítulos 4-6 da carta aos Efésios tratam de exortações morais decorrentes da doutrina que foi apresentada nos 3 primeiros capítulos. Deus, em Jesus Cristo, cria o homem novo. Este homem novo tem um modo novo de se comportar. O homem faz agora parte do corpo de Cristo; então, a união dos homens entre si numa vida de comunidade é preceito fundamental.
Parece que o autor faz três pedidos-exortações: Primeiro, que a comunidade se comporte de maneira digna da vocação cristã. Segundo, que seja humilde, amável, paciente e tolerante no amor; e, terceiro, que procure conservar a união no espírito pelo laço da paz. É a paz que é capaz de unir, é o amor que gera convivência fraterna. Para isso cada um precisa cultivar pessoalmente a humildade, a mansidão e a paciência.
 O motivo para tudo isso vem logo em seguida: a comunhão, a comum união em torno de Cristo, formando um só corpo. Há na verdade um só corpo, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai. Ele é Pai de todos, está acima de todos, age por meio de todos e está em todos. Em síntese, somos chamados a ser uma nova criatura. O homem novo é o homem em Jesus Cristo voltado para o Pai em unidade com o Espírito Santo.

EVANGELHO - Jo 6,1-15
Jesus, qual novo Moisés, vai libertar o povo. A travessia do mar da Galiléia relembra a travessia do Mar Vermelho. Jesus está realizando um novo êxodo, libertação definitiva do povo. Como Moisés, Jesus também sobe ao monte. E o pão que Jesus distribui relembra o maná do deserto. Mas, devagarzinho, a gente vai percebendo que o milagre de Jesus supera o do profeta Eliseu, e o pão que Jesus dá supera o maná, pois, “quem come deste pão tem a vida eterna”.
Jesus experimenta o coração de Filipe, sua fé e sua caridade. O texto nos prepara para a grande novidade de Jesus: seu coração compassivo e a partilha como solução. O sistema de acúmulo, de compra e venda só gera diferença de classes: ricos cada vez mais ricos à custa de pobres cada vez mais pobres.
André tem uma boa intuição, uma grande sensibilidade: mas com pouca esperança. Pelo menos ele soube valorizar a criança e o que ela trouxe. A criança (em grego paidarion = menino ou menor que trabalha sem remuneração) era desprezada junto com os pequenos empobrecidos. Vamos perceber que com Jesus a solução vem dos pequenos, vem de baixo. Os grandes, os de cima só têm planos capazes de alimentar seu próprio egoísmo, sua própria ganância. Os olhos de André, cheios de humanidade (André=homem), enxergam um caminho, mas seu coração ainda não conhece a partilha. É o mesmo pensamento do ajudante de Eliseu (1a leitura). Jesus, porém manda os homens (em grego = “andrés”) se assentarem na grama. Eram uns cinco mil homens. Todos se assentam - gesto de homens livres. Jesus os está libertando. A diferença dos números, com relação ao milagre de Eliseu, destaca a superioridade de Jesus. Jesus toma os pães e os peixes, agradece ao Pai e os distribui.
É interessante que Jesus agradece ao Pai de quem procedem todos os bens da criação. Ele não agradece nem ao menino, nem a André. Jesus está reconhecendo que os bens da criação pertencem ao Criador e devem ser distribuídos para todos. Outro fato curioso é que é o próprio Jesus quem distribui. Ele está ensinando a partilha. Quem acumula para depois partilhar é vencido pelo egoísmo. Jesus manda os discípulos recolherem as sobras depois que todos já estavam satisfeitos. Recolher as sobras pode lembrar o respeito pelas espécies eucarísticas, pois este milagre é símbolo da Eucaristia. O no 12 relembra a comunidade cristã - o novo povo de Deus. A partilha deve ser a marca da nova comunidade. O povo reconhece em Jesus o profeta esperado e quer forçá-lo a receber a coroa dos reis deste mundo. Não entenderam o sinal de Jesus. Jesus se retira de novo, sozinho, qual Moisés, para o monte. Mais tarde Jesus vai subir num monte determinado e, no trono da cruz, vai  assumir sua realeza dando a vida.




Roteiro Homilético 2: Dehonianos de Portugal
(http://www.dehonianos.org/)
Tema do 17º Domingo do Tempo Comum
A liturgia do 17º domingo Comum dá-nos conta da preocupação de Deus em saciar a “fome” de vida dos homens. De forma especial, as leituras deste domingo dizem-nos que Deus conta connosco para repartir o seu “pão” com todos aqueles que têm “fome” de amor, de liberdade, de justiça, de paz, de esperança.
Na primeira leitura, o profeta Eliseu, ao partilhar o pão que lhe foi oferecido com as pessoas que o rodeiam, testemunha a vontade de Deus em saciar a “fome” do mundo; e sugere que Deus vem ao encontro dos necessitados através dos gestos de partilha e de generosidade para com os irmãos que os “profetas” são convidados a realizar.
O Evangelho repete o mesmo tema. Jesus, o Deus que veio ao encontro dos homens, dá conta da “fome” da multidão que O segue e propõe-Se libertá-la da sua situação de miséria e necessidade. Aos discípulos (aqueles que vão continuar até ao fim dos tempos a mesma missão que o Pai lhe confiou), Jesus convida a despirem a lógica do egoísmo e a assumirem uma lógica de partilha, concretizada no serviço simples e humilde em benefício dos irmãos. É esta lógica que permite passar da escravidão à liberdade; é esta lógica que fará nascer um mundo novo.
Na segunda leitura, Paulo lembra aos crentes algumas exigências da vida cristã. Recomenda-lhes, especialmente, a humildade, a mansidão e a paciência: são atitudes que não se coadunam com esquemas de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de preconceito em relação aos irmãos.

LEITURA I – 2 Re 4,42-44
Leitura do Segundo Livro dos Reis
Naqueles dias,
veio um homem da povoação de Baal-Salisa
e trouxe a Eliseu, o homem de Deus,
pão feito com os primeiros frutos da colheita.
Eram vinte pães de cevada e trigo novo no seu alforge.
Eliseu disse: «Dá-os a comer a essa gente».
O servo respondeu:
«Como posso com isto dar de comer a cem pessoas?»
Eliseu insistiu:
«Dá-os a comer a essa gente,
porque assim fala o Senhor:
‘Comerão e ainda há-de sobrar’».
Deu-lhos e eles comeram,
e ainda sobrou, segundo a palavra do Senhor.
AMBIENTE
As tradições proféticas sobre Elias e Eliseu (os “ciclos” de Elias e Eliseu) ocupam um espaço significativo no Livro dos Reis (cf. 1 Re 17,1-21,29; 2 Re 1,1-13,21). Referem-se a um período bastante conturbado – quer em termos políticos, quer em termos religiosos – da vida do Reino do Norte (Israel). Elias exerce a sua missão profética durante os reinados de Acab (874-853 a.C.) e de Acazias (853-852 a.C.); Eliseu dá o seu testemunho profético durante os reinados de Jorão (853-842 a.C.), de Jeú (842-813 a.C.) e de Joacaz (813-797 a.C.).
Os reis de Israel procuraram sempre estabelecer relações comerciais, económicas, políticas e militares com os povos circunvizinhos. Essa abertura de fronteiras teve, no entanto, os seus custos em termos de fidelidade a Jahwé e à Aliança, uma vez que os cultos aos deuses estrangeiros entravam no país e ocupavam um lugar significativo na vida e no coração dos israelitas. É uma época de sincretismo religioso, em que a religião jahwista é, com a complacência até com o apoio declarado dos reis de Israel, preterida em favor dos cultos de Baal e de Astarte. Em termos sociais, é uma época em que se multiplicam as injustiças contra os pobres e as arbitrariedades contra os fracos. Tudo isto consubstancia um quadro de graves infidelidades contra Deus e contra a Aliança.
É contra este quadro que se levantam Elias e Eliseu. Elias aparece como o representante desses israelitas fiéis aos valores religiosos tradicionais, que recusavam a coexistência de Jahwéh e de Baal no horizonte da fé de Israel; e a luta de Elias será continuada por um dos seus discípulos – Eliseu.
Parece que Eliseu – o actor principal da primeira leitura deste domingo – fazia parte de uma comunidade de “filhos de profetas” (os “benê nebi'im” – 2 Re 2,3; 4,1). Trata-se de uma comunidade de homens que viviam pobremente (2 Re 4,1-7) e que eram os seguidores incondicionais de Jahwéh. O Povo consultava-os regularmente e buscava neles apoio face aos abusos dos poderosos. Eliseu é apresentado muitas vezes, nas histórias narradas no “ciclo de Eliseu” (cf. 2 Re 2; 3,4-27; 4,1-8,15; 9,1-10; 13,14-21), como um profeta “dos milagres”, cujas acções mostram a presença da força e da vida de Deus no meio do seu Povo. Outras vezes, Eliseu é o profeta da intervenção política; a sua acção neste campo ultrapassa mesmo as fronteiras físicas de Israel e chega a Damasco (cf. 2 Re 8,7-15).
MENSAGEM
O texto que nos é proposto como primeira leitura conta que um homem de Baal-Shalisha trouxe a Eliseu o “pão das primícias”: vinte pães de cevada e trigo novo num saco. De acordo com Lv 23,20, o pão das primícias devia ser apresentado diante do Senhor e consagrado ao Jahwéh, embora depois revertesse em benefício do sacerdote… Deve ser este costume que está subjacente ao episódio da entrega dos pães a Eliseu.
Eliseu, no entanto, não conservou os dons para si, mas mandou reparti-los pelas pessoas que rodeavam o profeta. O “servo” do profeta não acreditava que os alimentos oferecidos chegassem para cem pessoas; no entanto, chegaram e ainda sobraram.
Estamos, aqui, diante de uma sucessão de gestos que revelam generosidade e vontade de partilhar: do homem que leva os dons ao profeta e do profeta que não os guarda para si, mas os manda partilhar com as pessoas que o rodeiam. A descrição de uma milagrosa multiplicação de pães de cevada e de grãos de trigo sugere que, quando o homem é capaz de sair do seu egoísmo e tem disponibilidade para partilhar os dons recebidos de Deus, esses dons chegam para todos e ainda sobram. A generosidade, a partilha, a solidariedade, não empobrecem, mas são geradoras de vida e de vida em abundância.
Este relato fornecerá aos autores neo-testamentários o modelo literário em que se inspirarão para apresentar os relatos evangélicos das multiplicações dos pães (cf. Mc 6,34-44; 8,1-10; Mt 14,13-21; 15,32-38; Lc 9,10-17).
ACTUALIZAÇÃO
• O “profeta” é um homem chamado por Deus e enviado a ser o rosto de Deus no meio do mundo. Nas palavras e nos gestos do “profeta”, é Deus que Se manifesta aos homens e que lhes indica a sua vontade e as suas propostas. No gesto de repartir o pão para saciar a fome das pessoas, o “profeta” manifesta a eterna preocupação de Deus com a “fome” do mundo (fome de pão, fome de liberdade, fome de dignidade, fome de realização plena, fome de amor, fome de paz…) e a sua vontade de dar aos homens vida em abundância… Não tenhamos dúvidas: Deus preocupa-Se, todos os dias, em oferecer aos seus filhos vida em abundância. É Deus que nos dá, dia a dia, o pão que mata a nossa fome de vida.
• Como é que Deus actua para saciar a fome de vida dos homens? É fazendo chover do céu, milagrosamente, o “pão” de que o homem necessita? A nossa primeira leitura sugere que Deus actua de forma mais simples e mais normal… É através da generosidade e da partilha dos homens (primeiro do homem que decide oferecer o fruto do seu trabalho; depois, do profeta que manda distribuir o alimento) que o “pão” chega aos necessitados. Normalmente, Deus serve-Se dos homens para intervir no mundo e para fazer chegar ao mundo os seus dons. Muitas vezes sonhamos com gestos espectaculares de Deus e vivemos de olhos fixos no céu à espera que Deus Se digne intervir no mundo; e acabamos por não perceber que Deus já veio ao nosso encontro e que Ele Se manifesta na acção generosa de tantos homens e mulheres que praticam, sem publicidade, gestos de partilha, de solidariedade, de doação, de entrega. É preciso aprendermos a detectar a presença e o amor de Deus nesses gestos simples que todos os dias testemunhamos e que ajudam a construir um mundo mais justo, mais fraterno e mais solidário.
• Ao mostrar que é através das acções dos homens que Deus sacia a fome do mundo, o nosso texto convida-nos ao compromisso. Deus precisa de nós, da nossa generosidade e bondade, para ir ao encontro dos nossos irmãos necessitados e para lhes oferecer vida em abundância. Nós, os crentes, somos chamados a ser – como o profeta Eliseu – testemunhas desse Deus que quer partilhar com os homens o seu “pão”; e esse “pão” de Deus deve derramar-se sobre os nossos irmãos nos nossos gestos de partilha, de generosidade, de solidariedade, de amor sem limites.

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 144 (145)
Refrão: Abris, Senhor, as vossas mãos e saciais a nossa fome.
Graças Vos dêem, Senhor, todas as criaturas
e bendigam-Vos os vossos fiéis.
Proclamem a glória do vosso reino
e anunciem os vossos feitos gloriosos.
Todos têm os olhos postos em Vós,
e a seu tempo lhes dais o alimento.
Abris as vossas mãos
e todos saciais generosamente.
O Senhor é justo em todos os seus caminhos
e perfeito em todas as suas obras.
O Senhor está perto de quantos O invocam,
de quantos O invocam em verdade.

LEITURA II – Ef 4,1-6
Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios
Irmãos:
Eu, prisioneiro pela causa do Senhor,
recomendo-vos que vos comporteis
segundo a maneira de viver a que fostes chamados:
procedei com toda a humildade, mansidão e paciência;
suportai-vos uns aos outros com caridade;
empenhai-vos em manter a unidade de espírito
pelo vínculo da paz.
Há um só Corpo e um só Espírito,
como existe uma só esperança na vida a que fostes chamados.
Há um só Senhor, uma só fé, um só Baptismo.
Há um só Deus e Pai de todos,
que está acima de todos, actua em todos
e em todos Se encontra.
AMBIENTE
A Carta aos Efésios (que temos vindo a reflectir e cujo texto vai continuar a acompanhar-nos nos próximos domingos) parece ser uma “carta circular”, enviada a várias comunidades cristãs da parte ocidental da Ásia Menor, inclusive aos cristãos de Éfeso. É considerada uma “carta de cativeiro”, escrita por Paulo da prisão (os que aceitam a autoria paulina desta carta discutem qual o lugar onde Paulo está preso, nesta altura, embora a maioria ligue a carta ao cativeiro de Paulo em Roma entre 61/63).
De qualquer forma, é um texto bem trabalhado, que apresenta uma catequese sólida e bem elaborada. Poderia ser um texto da fase “madura” de Paulo. Alguns autores consideram a Carta aos Efésios uma espécie de síntese do pensamento paulino.
O texto que hoje nos é proposto como segunda leitura é o início da parte moral e parenética da carta (cf. Ef 4,1-6,20). Temos, aí, uma espécie de “exortação aos baptizados”, na qual Paulo reflecte longamente sobre a edificação e o crescimento do “Corpo de Cristo”. Em termos sempre bastante concretos, Paulo dá pistas aos cristãos acerca da forma como eles devem viver os seus compromissos com Cristo, de forma a chegarem a ser Homens Novos.
MENSAGEM
O nosso texto começa com uma referência ao facto de Paulo estar preso… A condição de prisioneiro por causa de Jesus e do Evangelho dá um peso especial às recomendações do apóstolo: são as palavras de alguém que leva tão a sério a proposta de Jesus, que é capaz de sofrer e de arriscar a vida por ela.
Na perspectiva de Paulo, a vida nova exige, em primeiro lugar, que os crentes vivam unidos em Cristo. Ora, há comportamentos e atitudes que são condição necessária para que essa unidade se torne efectiva (vers. 2-3)… Antes de mais, Paulo refere a humildade, pois só ela permite superar o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência que afastam os irmãos e que erguem entre eles barreiras de separação; depois, Paulo refere a mansidão, irmã da humildade, e qualidade que derruba barreiras na comunhão; Paulo refere também a paciência, que permite ser tolerante e compreensivo para com as falhas dos irmãos e que permite entender e aceitar as diferentes maneiras de ser e de agir… Em resumo, trata-se, fundamentalmente, de fazer com que a caridade presida às relações que estabelecemos uns com os outros; o amor deve ser sempre o suporte das nossas relações humanas. A unidade é um dom de Deus; mas a sua efectivação depende do contributo e do esforço de cada irmão.
Na segunda parte do nosso texto, Paulo apresenta um conjunto de elementos que fundamentam a obrigatoriedade da unidade dos crentes: “há um só Corpo e um só Espírito, como existe uma só esperança” na vida a que todos os crentes foram chamados; “há um só Senhor, uma só fé, um só Baptismo; há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, actua em todos e em todos se encontra” (vers. 4-6). A menção do Pai, do Filho e do Espírito, neste contexto, sugere que a Trindade é a fonte última e o modelo da unidade que os cristãos devem viver, na sua experiência de caminhada comunitária.
ACTUALIZAÇÃO
• A Igreja é um “corpo” – o “Corpo de Cristo”. Naturalmente, esse “corpo” é formado por muitos membros, todos eles diversos; mas todos eles dependem de Cristo (a “cabeça” desse “corpo”) e recebem d’Ele a mesma vida. Formam, portanto, uma unidade… Têm o mesmo Pai (Deus), têm um projecto comum (o projecto de Jesus), têm o mesmo objectivo (fazer parte da família de Deus e encontrar a vida em plenitude), caminham na mesma direcção animados pelo mesmo Espírito, têm a mesma missão (dar testemunho no mundo do projecto de amor que Deus tem para os homens). Neste esquema, não fazem qualquer sentido as divisões, os ciúmes, as rivalidades, as invejas, os ódios, as divergências que tantas vezes dividem os irmãos da mesma comunidade. Quando os irmãos não se esforçam por caminhar unidos, provavelmente ainda não descobriram os fundamentos da sua fé. A minha comunidade (cristã ou religiosa) é uma comunidade que caminha unida e solidária, partilhando a vida e o amor, apesar das diferenças legítimas dos seus membros? Em termos pessoais, sinto-me um construtor de unidade, ou um factor de divisão?
• Para que a unidade seja possível, Paulo recomenda aos destinatários da Carta aos Efésios a humildade, a mansidão e a paciência. São atitudes que não se coadunam com esquemas de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de preconceito em relação aos irmãos. Como é que eu me situo face aos outros? A minha relação com os irmãos é marcada pelo egoísmo ou pela disponibilidade para servir e partilhar? Procuro estar atento às necessidades dos outros e ir ao seu encontro, ou levanto muros de orgulho e de auto-suficiência que impedem a relação, a comunhão, a comunicação? Estou aberto às diferenças e disposto a dialogar, ou vivo entrincheirado nos meus preconceitos, catalogando e marginalizando aqueles que não concordam comigo?
• A Igreja é uma unidade; mas é também uma comunidade de pessoas muito diferentes, em termos de raça, de cultura, de língua, de condição social ou económica, de maneiras de ser... As diferenças legítimas nunca devem ser vistas como algo negativo, mas como uma riqueza para a vida da comunidade; não devem levar ao conflito e à divisão, mas a uma unidade cada vez mais estreita, construída no respeito e na tolerância. A diversidade é um valor, que não pode nem deve anular a unidade e o amor dos irmãos.

ALELUIA – Lc 7,17
Aleluia. Aleluia.
Apareceu entre nós um grande profeta:
Deus visitou o seu povo.

EVANGELHO – Jo 6,1-5
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo,
Jesus partiu para o outro lado do mar da Galileia,
ou de Tiberíades.
Seguia-O numerosa multidão,
por ver os milagres que Ele realizava nos doentes.
Jesus subiu a um monte
e sentou-Se aí com os seus discípulos.
Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus.
Erguendo os olhos
e vendo que uma grande multidão vinha ao seu encontro,
Jesus disse a Filipe:
«Onde havemos de comprar pão para lhes dar de comer?»
Dizia isto para o experimentar,
pois Ele bem sabia o que ia fazer.
Respondeu-Lhe Filipe:
«Duzentos denários de pão não chegam
para dar um bocadinho a cada um».
Disse-Lhe um dos discípulos, André, irmão de Simão Pedro:
«Está aqui um rapazito
que tem cinco pães de cevada e dois peixes.
Mas que é isso para tanta gente?»
Jesus respondeu: «Mandai sentar essa gente».
Havia muita erva naquele lugar
e os homens sentaram-se em número de uns cinco mil.
Então, Jesus tomou os pães, deu graças
e distribuiu-os aos que estavam sentados,
fazendo o mesmo com os peixes;
E comeram quanto quiseram.
Quando ficaram saciados,
Jesus disse aos discípulos:
«Recolhei os bocados que sobraram,
para que nada se perca».
Recolheram-nos e encheram doze cestos
com os bocados dos cinco pães de cevada
que sobraram aos que tinham comido.
Quando viram o milagre que Jesus fizera,
aqueles homens começaram a dizer:
«Este é, na verdade, o Profeta que estava para vir ao mundo».
Mas Jesus, sabendo que viriam buscá-l’O para O fazerem rei,
retirou-Se novamente, sozinho, para o monte.
AMBIENTE
A liturgia propõe-nos hoje (e durante mais alguns domingos) a leitura do capítulo 6 do Evangelho segundo João – a catequese sobre Jesus, o Pão da vida.
Na primeira parte do Evangelho (cf. Jo 4,1-19,42), João apresenta a actividade de Jesus no sentido de criar e dar vida ao homem, de forma a que surja um Homem Novo, liberto do egoísmo e do pecado, animado pelo Espírito, capaz de seguir Jesus e de viver na mesma dinâmica de Jesus – isto é, no amor ao Pai e aos irmãos. Esta primeira parte divide-se em dois “livros” – o “Livro dos Sinais” (cf. Jo 4,1-11,56) e o “Livro da Hora” (cf. Jo 12,1-19,42).
No “Livro dos Sinais” (cf. Jo 4,1-11,56), o autor do Quarto Evangelho expõe, recorrendo a símbolos significativos (a “água” – cf. Jo 4,1-5,47; o “pão” – cf. Jo 6,1-7,53; a “luz” – cf. Jo 8,12-9,41; o “pastor” – cf. Jo 10,1-42; a “ressurreição” – cf. Jo 11,1-56), a sua catequese sobre a acção de Jesus em favor do homem. Jesus é aí apresentado como a proposta de vida verdadeira que o homem é convidado a acolher e a assimilar.
No capítulo 6 – que hoje começamos a ler – João apresenta Jesus como o Pão que sacia a sede de vida que o homem sente. O episódio hoje narrado é geograficamente situado “na outra margem” do Lago de Tiberíades (no capítulo anterior, Jesus estava em Jerusalém, no centro da instituição judaica; agora, sem transição, aparece na Galileia, a atravessar o “mar” para o outro lado). Em termos cronológicos, João nota que estava perto a Páscoa, a festa mais importante do calendário religioso judaico, que celebrava a libertação do Povo de Deus da opressão do Egipto.
MENSAGEM
Uma leitura, ainda que superficial, do texto que nos é proposto mostra alguns interessantes paralelos entre a cena da multiplicação dos pães e a libertação do Povo de Deus da escravidão do Egipto, com Jesus no papel de Moisés, o libertador. O facto dá-nos, logo à partida, uma chave de leitura para entender esta catequese: João quer apresentar a acção de Jesus como uma acção libertadora que visa fazer passar o Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade… A catequese que João nos apresenta vai desenvolver-se em vários passos:
1. Começa com uma referência à “passagem do mar” (que, na realidade, é um lago); essa referência pode aludir à passagem do Mar Vermelho por Moisés com o Povo libertado do Egipto (cf. Ex 14,15-31). O objectivo final de Jesus é, portanto, fazer o Povo que o acompanha passar da terra da escravidão para a terra da liberdade.
2. Como aconteceu com Moisés, com Jesus vai uma grande multidão. A multidão que acompanha Jesus pretende “ver os milagres que Ele realizava nos doentes” (vers. 2). O termo grego aqui utilizado (“asthenês” – “enfermos”) designa, em geral, alguém que está numa situação de grande debilidade. A multidão segue Jesus, pois quer ver os sinais que Ele faz e que representam a libertação do homem da sua debilidade e fragilidade. É um Povo marcado pela opressão, que quer experimentar a libertação. Já perceberam que só Jesus, o libertador, conseguirá ajudá-los a superar a sua condição de miséria e de escravidão.
3. Jesus – diz o nosso texto – subiu a “um monte” (vers. 3). A referência ao “monte” leva-nos ao contexto da Aliança do Sinai e ao monte onde Deus ofereceu ao Povo, através de Moisés, os mandamentos. Dizer que Jesus subiu ao “monte” significa dizer que é através de Jesus que se vai realizar a nova Aliança entre Deus e esse Povo de gente livre que, com Jesus, “atravessou o mar” em direcção à terra da liberdade.
4. A referência à Páscoa que estava próxima (vers. 4) seria uma referência inútil, se não estivéssemos no contexto da libertação do Povo da escravidão. Na época de Jesus, a Páscoa era a festa da libertação e da constituição do Povo de Deus; mas era também a festa que anunciava esse tempo futuro em que o Messias ia libertar definitivamente o Povo de Deus. Nesta altura, o Povo devia subir a Jerusalém para, no “monte” do Templo, celebrar a libertação; em contrapartida, a multidão segue Jesus para um outro “monte”, do outro lado do mar… O Povo começa a libertar-se do jugo das instituições judaicas e a perceber que é em Jesus que se vão inaugurar os tempos novos da liberdade e da paz.
5. A multidão que segue Jesus tem fome e não tem que comer (vers. 5-6). A referência leva-nos, outra vez, ao Êxodo, ao deserto, quando o Povo que caminhava para a terra da liberdade sentiu fome. Então, foi Deus que respondeu à necessidade do Povo e lhe deu comida em abundância; aqui, é Jesus que Se apercebe das necessidades da multidão e tenta remediá-las. Ele mostra, assim, o rosto do Deus do amor e da bondade, sempre atento às necessidades do seu Povo.
6. Qual a solução que Jesus vai dar à “fome” da multidão? Na procura da solução, Jesus envolve a comunidade dos discípulos (“onde havemos de comprar pão para lhes dar de comer?” – vers. 5). A comunidade de Jesus (onde naturalmente Jesus Se inclui) tem de sentir-se responsável pela “fome” dos homens e tem de sentir que é sua responsabilidade e missão saciar essa “fome”.
João nota que Jesus põe a questão aos discípulos (representados por Filipe) para os “experimentar” (vers. 6). O problema pode ser posto da seguinte forma: como é que a comunidade dos discípulos – formados na escola e nos valores de Jesus – pretende responder à fome do mundo? É recorrendo ao sistema económico vigente, que se baseia no egoísmo e no poder do dinheiro e coloca os bens nas mãos de poucos, gerando uma lógica de opressão, de dependência e de necessidade? Será este o sistema desse mundo novo e livre que Jesus deseja instituir? Os discípulos de Jesus alinham com esse sistema opressor, baseado na compra, na venda e no lucro, ou já perceberam que Jesus tem uma proposta nova a fazer, geradora de libertação e de vida em abundância para todos?
7. Filipe constata a impossibilidade de resolver o problema, dentro do quadro económico vigente… “Duzentos denários não bastariam para dar um pedaço a cada um” (vers. 7). Um denário equivalia ao salário base de um dia de trabalho; assim, nem o dinheiro de mais de meio ano de trabalho daria para resolver o problema. Por outras palavras: confiando no sistema instituído (o da compra e venda, que supõe o sistema económico regido pelo lucro egoísta), é impossível resolver o problema da necessidade dos esfomeados. A comunidade de Jesus é convidada, portanto, a abandonar este sistema e a encontrar outros…
8. André, porém, vislumbra uma solução diferente (vers. 8-9). Este apóstolo representa, na comunidade de Jesus, essa categoria dos que aderiram a Jesus de forma convicta, que têm uma grande intimidade com Jesus e que, portanto, estão mais conscientes das propostas de Jesus. No entanto, André não está muito convicto dos resultados (“o que é isso para tanta gente?”). Seria bom – considera André – encontrar outro sistema diferente do sistema explorador; mas isso não resulta… Jesus vai, precisamente, provar que é possível encontrar outro sistema que reparta vida e que elimine a lógica da exploração.
9. A figura do “menino” que apenas aparece na cena da multiplicação dos pães na versão de João é uma figura desnecessária do ponto de vista da narração: para o resultado final, tanto dava que o possuidor dos pães e dos peixes fosse uma criança ou um adulto. Sendo assim, porque é que João insiste em falar de uma criança? Porque a figura do “menino” é muito significativa: quer pela idade, quer pela condição, é um “débil”, física e socialmente. Representa a debilidade da comunidade de Jesus face às enormes carências do mundo. A palavra grega utilizada por João para falar da criança indica simultaneamente um “menino” e um “servo”: a comunidade, representada nesse “menino”, apresenta-se diante do mundo como um grupo socialmente humilde, sem pretensão alguma de poder e de domínio, dedicada ao serviço dos homens. É essa comunidade simples e humilde, vocacionada para o serviço, que é chamada a resolver a questão da necessidade dos pobres e a instaurar um novo sistema libertador. Qual é esse sistema?
10. Os números “cinco” (“pães”) e “dois” (“peixes”), também não aparecem por acaso: a sua soma dá “sete” – o número que significa totalidade… Ou seja: é na partilha da totalidade do que a comunidade possui que se responde à carência dos homens. É uma totalidade fraccionada e diversificada; mas que, posta ao serviço dos irmãos, sacia a fome do mundo.
11. Sobre os alimentos disponibilizados pela comunidade, Jesus pronuncia uma “acção de graças” (vers. 11). O “dar graças” significa reconhecer que os bens são dons que vêm de Deus. Ora, reconhecer que os bens vêm de Deus significa desvinculá-los do seu possessor humano, para reconhecer que eles são um dom gratuito que Deus oferece aos homens; e Deus não oferece a uns e não a outros… “Dar graças” é reconhecer que os bens recebidos pertencem a todos e que quem os possui é apenas um administrador encarregado de os pôr à disposição de todos os irmãos, com a mesma gratuidade com que os recebeu. Os bens são, assim, libertos da posse exclusiva de alguns, para serem dom de Deus para todos os homens. É este o sistema que Deus quer instaurar no mundo; e a comunidade cristã é chamada a testemunhar esta lógica.
12. Uma vez saciada a fome do mundo, através desses bens que a comunidade recebeu de Deus e que pôs ao serviço de todos os homens, os discípulos são chamados a outras tarefas. Há sobras que não se podem perder, mas que devem ser o princípio de outras abundâncias. É preciso multiplicar incessantemente o amor e o pão… E a comunidade, uma vez percebido o projecto de Jesus, deve usar o que tem para continuar a oferecer a vida aos homens. A referência aos doze cestos recolhidos pelos discípulos pode ser uma alusão a Israel (as doze tribos): se a comunidade dos discípulos souber partilhar aquilo que recebeu de Deus, pode satisfazer a fome de todo o Povo (vers. 12-13).
13. Alguns dos que testemunharam a multiplicação dos pães e dos peixes têm consciência de que Jesus é o Messias que devia vir para dar ao seu Povo vida em abundância e querem fazê-lo rei (vers. 14-15). Jesus não aceita… Ele não veio resolver os problemas do mundo instaurando um sistema de autoridade e de poder; mas veio convidar os homens a viverem numa lógica de partilha e de solidariedade, que se faz dom e serviço humilde aos irmãos. É dessa forma que Ele se propõe – com a colaboração dos discípulos – eliminar o sistema opressor, responsável pela fome e pela miséria. O mundo novo que Jesus veio propor não assenta numa lógica de poder e autoridade, mas no serviço simples e humilde que leva a partilhar a vida com os irmãos.
A perícopa que nos é hoje proposta pretende, pois, apresentar o projecto de Deus realizado em Jesus como um projecto de libertação, que há-de eliminar a opressão e instaurar um mundo de homens livres, salvos do egoísmo e capazes de amar e de partilhar. Frente ao sistema que se baseia no lucro e na exploração, Jesus propõe uma nova atitude. É necessário – diz Jesus – substituir o egoísmo pelo amor e pela partilha. A comunidade de Jesus tem a função de descobrir esta lógica, de a acolher e de propô-la ao mundo. Ela tem de aprender que os bens são um dom de Deus, destinados a todos. Procedendo dessa forma, ela está a instaurar um novo sistema e a libertar os homens desses condicionamentos egoístas que geram injustiça, necessidade, carência, debilidade, sofrimento. Quem quiser acompanhar Jesus neste caminho, passará seguramente da escravidão do lucro para a liberdade da partilha, do serviço, do amor aos irmãos.
ACTUALIZAÇÃO
• Jesus é o Deus que Se revestiu da nossa humanidade e veio ao nosso encontro para nos revelar o seu amor. O seu projecto – projecto que Ele concretizou em cada palavra e em cada gesto enquanto percorreu, com os seus discípulos, as vilas e aldeias da Palestina – consiste em libertar os homens de tudo aquilo que os oprime e lhes rouba a vida. O nosso texto mostra Jesus atento às necessidades da multidão, empenhado em saciar a fome de vida dos homens, preocupado em apontar-lhes o caminho que conduz da escravidão à liberdade. A atitude de Jesus é, para nós, uma expressão clara do amor e da bondade de um Deus sempre atento às necessidades do seu Povo. Garante-nos que, ao longo do caminho da vida, Deus vai ao nosso lado, atento aos nossos dramas e misérias, empenhado em satisfazer as nossas necessidades, preocupado em dar-nos o “pão” que sacia a nossa fome de vida. A nós, compete-nos abrir o coração ao seu amor e acolher as propostas libertadoras que Ele nos faz.
• A “fome” de pão que a multidão sente e que Jesus quer saciar é um símbolo da fome de vida que faz sofrer tantos dos nossos irmãos… Os que têm “fome” são aqueles que são explorados e injustiçados e que não conseguem libertar-se; são os que vivem na solidão, sem família, sem amigos e sem amor; são os que têm que deixar a sua terra e enfrentar uma cultura, uma língua, um ambiente estranho para poderem oferecer condições de subsistência à sua família; são os marginalizados, abandonados, segregados por causa da cor da sua pele, por causa do seu estatuto social ou económico, ou por não terem acesso à educação e aos bens culturais de que a maioria desfruta; são as crianças vítimas da violência e da exploração; são as vítimas da economia global, cuja vida dança ao sabor dos interesses das multinacionais; são as vítimas do imperialismo e dos interesses dos grandes do mundo… É a esses e a todos os outros que têm “fome” de vida e de felicidade, que a proposta de Jesus se dirige.
• No nosso Evangelho, Jesus dirige-Se aos seus discípulos e diz-lhes: “dai-lhes vós mesmos de comer”. Os discípulos de Jesus são convidados a continuar a missão de Jesus e a distribuírem o “pão” que mata a fome de vida, de justiça, de liberdade, de esperança, de felicidade de que os homens sofrem. Depois disto, nenhum discípulo de Jesus pode olhar tranquilamente os seus irmãos com “fome” e dizer que não tem nada com isso… Os discípulos de Jesus são convidados a responsabilizarem-se pela “fome” dos homens e a fazerem tudo o que está ao seu alcance para devolver a vida e a esperança a todos aqueles que vivem na miséria, no sofrimento, no desespero.
• No nosso Evangelho, os discípulos constatam que, recorrendo ao sistema económico vigente, é impossível responder à “fome” dos necessitados. O sistema capitalista vigente – que, quando muito, distribui a conta gotas migalhas da riqueza para adormecer a revolta dos explorados – será sempre um sistema que se apoia na lógica egoísta do lucro e que só cria mais opressão, mais dependência, mais necessidade. Não chega criar melhores programas de assistência social ou programas de rendimento mínimo garantido, ou outros sistemas que apenas perpetuam a injustiça… Os discípulos de Jesus têm de encontrar outros caminhos e de propor ao mundo que adopte outros valores. Quais?
• Jesus propõe algo de realmente novo: propõe uma lógica de partilha. Os discípulos de Jesus são convidados a reconhecer que os bens são um dom de Deus para todos os homens e que pertencem a todos; são convidados a quebrar a lógica do açambarcamento egoísta dos bens e a pôr os dons de Deus ao serviço de todos. Como resultado, não se obtém apenas a saciedade dos que têm fome, mas um novo relacionamento fraterno entre quem dá e quem recebe, feito de reconhecimento e harmonia que enriquece ambos e é o pressuposto de uma nova ordem, de um novo relacionamento entre os homens. É esta a proposta de Deus; e é disto que os discípulos são chamados a dar testemunho.
• Os discípulos de Jesus não podem, contudo, dirigir-se aos irmãos necessitados olhando-os “do alto”, instalados nos seus esquemas de poder e autoridade, usando a caridade como instrumento de apoio aos seus projectos pessoais, ou exigindo algo em troca… Os discípulos de Jesus devem ser um grupo humilde (a “criança” do Evangelho), sem pretensão alguma de poder e de domínio, e que apenas está preocupado em servir os irmãos com “fome”.
• O que resulta da proposta de Jesus é uma humanidade totalmente livre da escravidão dos bens. Os necessitados tornam-se livres porque têm o necessário para viverem uma vida digna e humana; os que repartem os bens libertam-se da lógica egoísta dos bens e da escravidão do dinheiro e descobrem a liberdade do amor e do serviço.
• No final, os discípulos são convidados a recolher os restos, que devem servir para outras “multiplicações”. A tarefa dos discípulos de Jesus é uma tarefa nunca acabada, que deverá recomeçar em qualquer tempo e em qualquer lugar onde haja um irmão “com fome”.

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 17º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 17º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
2. BILHETE DE EVANGELHO.
Jesus não fecha os olhos diante dos homens: não somente vê a multidão, como se apercebe da sua fome. Antes de fazer o milagre, solicita a confiança dos seus apóstolos, esta confiança que Ele põe à prova. Então faz dois gestos: vira-se para Deus seu Pai, dando graças, e distribui o alimento. Que contraste gritante entre esta multidão que tem fome e o alimento que lhe vai ser oferecido, cinco pães e dois peixes. E ao mesmo quanta abundância! Não somente a multidão está saciada, mas sobram doze cestos. É a prodigalidade do Amor: Deus ama infinitamente, e este sinal operado por Jesus anuncia não o poder de um rei, mas o dom de Deus a todos os homens. Não somente Jesus veio para o maior número, mas veio dar a vida em abundância. Este sinal anuncia um outro sinal. Depois de ter comido, a multidão, no dia seguinte, terá ainda fome. Mas o alimento que Cristo ressuscitado oferecerá aos homens será a sua vida, e aqueles que comerem este Pão de Vida jamais terão fome.
3. À ESCUTA DA PALAVRA.
Jesus não cria pães e peixes a partir de nada. Cria a partir dos cinco pães e dois peixes do rapazito. A partir do pão dos pobres! Ao multiplicar os pães e os peixes, Jesus multiplica o dom do rapazito. Mas é ridículo alimentar uma multidão de cinco mil homens com tão pequena quantidade. Mas uma pequena quantidade pode ter um valor infinito. Jesus não olha como nós. O nosso olhar deve ser como o de Jesus. Quando damos amor, amizade, um pouco do nosso tempo ou simplesmente um sorriso, quando procuramos respeitar o outro, sem o julgar, quando fazemos um caminho de perdão… Jesus serve-Se desse pequeno pouco para construir connosco, pacientemente, dia após dia, o seu Reino.
4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…
Procuremos afastar-nos um pouco da vida frenética e stressante, procuremos ser menos inquietos e mais confiantes… Fiar-se mais no Senhor, dispor-se para responder às diversas missões e confiar tudo isso ao Senhor, para que Ele multiplique…

UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909




Roteiro Homilético 3: Vida Pastoral
O que temos é tão pouco, mas Deus é rico em misericórdia
I. Introdução geral
Na primeira leitura, o milagre de Eliseu é uma prefiguração do sinal realizado por Jesus, a multiplicação dos pães. E esse sinal, por sua vez, aponta para uma realidade maior, a eucaristia, fonte e ápice da comunhão entre os seguidores do Messias. Nutridos por um só pão, o Corpo do Senhor, os fiéis formam um só corpo místico de Cristo. Essa realidade é o fundamento da comunhão e da práxis cristã mencionada na epístola aos Efésios, quando se exorta os fiéis a “conservar a unidade do espírito no vínculo da paz”. Essa comunhão é ação de Deus em nós e se traduz em serviço que ultrapassa as fronteiras da Igreja como instituição. Estamos a serviço da construção do mundo fraterno, não importa quão pequenos sejamos ou com quão pouco tenhamos a contribuir. Cada um deve fazer a sua parte e esperar que Deus faça a dele.
II. Comentário dos textos bíblicos
Evangelho (Jo 6,1-15): Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os entre eles
No Evangelho de João, Jesus realiza muitos sinais que apontam para a ação de Deus exercida por meio da missão messiânica. No texto de hoje, Jesus realiza o sinal do pão, muito significativo para a compreensão de sua identidade e de sua missão. O ambiente em que a cena se desenrola é importante para a compreensão da importância e do alcance da mensagem veiculada por esse sinal.
A Páscoa estava próxima, Jesus subiu à montanha e sentou-se. Estes três elementos nos mostram Jesus como o Mestre. A montanha é o lugar da revelação divina, onde Moisés recebeu a Lei, a instrução para o povo. O sentar-se é atitude própria do mestre quando vai ensinar seus discípulos. E, por último, a menção à Páscoa nos indica qual ensinamento Jesus quer transmitir: é um ensinamento novo realizado por meio do sinal do pão.
Antes do sinal, há uma instrução aos discípulos por meio da pergunta sobre como se pode resolver o problema de alimentar a multidão. Esse tipo de pergunta é própria do mestre para chamar a atenção do discípulo para o ensinamento que quer transmitir. E, primeiramente, o que Jesus quer ressaltar é o reconhecimento do que é ofertado: é pouco, mas há docilidade para a oferta. O ofertante é anônimo, o que pressupõe que qualquer pessoa pode ofertar algo a Deus e, por meio de uma oferta simples, mediar a ação de Deus em prol da salvação do mundo.
O sinal aqui apresentado é a eucaristia, retratada nas palavras da tradição: “tomou os pães e, depois de ter dado graças, os distribuiu” (v. 11) e em outro texto (Jo 6,23), quando se diz que há um único pão.
A distribuição do pão feita pelos discípulos significa que eles devem difundir o que receberam do Senhor: o batismo, representado pelo “peixe”, e a eucaristia, “os pães”. Essas realidades sacramentais são a fonte da pertença à comunidade e da vida cristã.
Após se fartarem, os discípulos juntaram 12 cestos, o suficiente para alimentar todo o Israel, a quem deveria ser primeiramente anunciado o evangelho. A menção de que nada deve se perder alude a Jo 6,39, que afirma que a vontade de Deus é que não se perca nenhum daqueles que pertencem a Jesus.
As pessoas ficaram admiradas, mas não foram capazes de entender o sinal do pão. O reconhecimento de Jesus como o profeta que devia vir ao mundo refere-se à esperança de um messias semelhante a Moisés, alguém que os libertaria do poder político do império romano, da mesma forma que Moisés havia libertado o povo da opressão do faraó do Egito.
Como no passado, ainda hoje se faz necessário entender esse sinal para compreender a vida e missão de Jesus. Jesus condensou a sua vida no sinal do pão. Como o trigo é triturado para fazer o pão, Jesus é o trigo triturado que gera vida plena. Sua oferta de vida, sua entrega plena na cruz, é sinal do amor de Deus pela humanidade. Por isso, batismo e eucaristia são oferecidos a todos como caminho para a salvação. Por eles, somos inseridos no mistério da vida, morte e ressurreição de Jesus. Somos feitos participantes dessa vida de entrega por amor que gera vida plena.
A opção por Jesus, por sua vida, requer que cada cristão saia do comodismo, pois a menor de nossas atitudes, por mais irrisória que seja diante dos desafios, é aceita como oferta generosa em favor da realização do bem maior, o amor pleno de Deus que gera salvação para o mundo.
Jesus triturou sua vida, ofertando-a no pão; somos chamados, pela nossa participação na mesa eucarística, a fazer o mesmo que ele: ofertar nossa vida para que ninguém se perca, mas todos ressuscitem no último dia.
I leitura (2Rs 4,42-44): Comeram e ainda sobrou, conforme a palavra do Senhor
Os pães que o homem trouxe para Eliseu eram uma oferenda a Deus a ser entregue pelas mãos do profeta. Eram pães feitos com as primícias, isto é, com os primeiros e melhores grãos da colheita. O texto menciona um homem, uma pessoa anônima, cujo nome não importa saber, pois, se essa narrativa chegou até nossos dias, isso se deve ao gesto dele de partilha e à ação de Deus em resposta àquele gesto.
Há uma ordem do profeta para que o ofertante distribua os pães ao povo. É uma ordem estranha, porque o homem reconhece que tem tão pouco para ofertar e há tanta gente para alimentar. O profeta reitera a ordem, agora assegurando, por meio de uma profecia, que Deus fará com que todos sejam saciados e ainda sobrará. A palavra dita pelo profeta foi finalmente cumprida quando o ofertante mudou o foco dos próprios pensamentos, deixou de centralizar-se na consideração do pouco que tinha e passou a confiar na ação de Deus.
Durante séculos, os sábios de Israel viram nessa passagem bíblica não apenas a providência de Deus, mas a importância da participação humana – apesar de ter pouco a oferecer – na obra conjunta com Deus. A partilha é a efetivação da vocação humana à comunhão fraterna. Todo gesto de partilha não passará sem uma resposta de Deus.
II leitura (Ef 4,1-6): Num só corpo
Com o capítulo 4, a carta aos Efésios começa grande exortação sobre o que vem a ser a vida cristã na prática. No texto de hoje, os cristãos devem levar uma vida digna da vocação que receberam: serem outro Cristo. A vida cristã é regida por valores totalmente diferentes daqueles que orientam a sociedade de ontem e de hoje.
“Suportai-vos uns aos outros no amor” (v. 2) significa que o amor de cada um ao seu próximo deve ser o suporte, para que ninguém venha a cair. “Pelo vínculo da paz” quer dizer que o Shalom é o elo que nos mantém unidos no mesmo espírito. O Shalom não significa concordar sempre com as ideias dos outros ou nunca haver atritos entre nós. Significa que o outro pode contar comigo sempre, embora pensemos bem diferente um do outro.
Somos distintos, mas formamos um só corpo. Estamos conectados existencialmente, pois o Pai está “no meio de nós e em cada um de nós” (v. 6). Não é possível seguir Jesus a não ser entrando nessa comunhão. “Há um só corpo”: o egoísmo sequestra a dignidade da vocação à comunhão, que se efetiva em gestos concretos no dia a dia.
III. Pistas para reflexão
– Todo aquele que faz autêntica experiência com Deus torna-se mais preocupado com o ser humano e mais dócil à ação divina. Quem tem verdadeiro encontro com Deus põe-se a seu serviço em favor do próximo. A mesquinharia, o egoísmo e o indiferentismo são sinais de que a pessoa está longe de ser religiosa no sentido exato da palavra, ou seja, de estar ligada a Deus. Em vez de servir a Deus servindo o próximo, muitas pessoas são, de fato, usurpadoras do sagrado, ou seja, usam a religião em benefício dos próprios interesses.
– É louvável que a homilia incentive cada um a fazer sua parte, a não ser indiferente às necessidades das pessoas nem à vontade de Deus. Ainda há muitos necessitados em nosso meio, o que é sinal de que há muito ainda a ser feito para que possamos dizer, com toda a certeza, que vivemos em comunhão. Aproximar-se da mesa eucarística com um coração indiferente às necessidades alheias é uma ofensa à misericórdia de Deus.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje – BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com



Roteiro Homilético 4: Dom Henrique
2Rs 4,42-44
Sl 144
Ef 4,1-6
Jo 6,1-15
Salta à vista o tema do pão na liturgia de hoje: ele aparece claramente na primeira leitura e no evangelho e, de modo implícito, está presente também no salmo. Na tradição bíblia, o pão recorda duas coisas importantíssimas. Lembra-nos, primeiramente, que não somos auto-suficientes, não possuímos a vida de modo absoluto: devemos sempre renová-la, lutar por ela. O homem não se basta a si próprio; precisa do pão de cada dia. E aqui, um segundo importante aspecto: o homem não pode, sozinho, prover-se de pão: é Deus quem faz a chuva cair, quem torna o solo fecundo, quem dá vigor à semente. Assim, a vida humana está continuamente na dependência do Senhor. Portanto, meus caros, todos necessitamos do pão nosso de cada dia – e este é dom de Deus. “O que tens tu, ó homem, que não tenhas recebido? E, se recebeste, do que, então, te glorias?”
Desse modo, caríssimos irmãos em Cristo, Jesus, ao multiplicar os pães, apresenta-se como aquele que dá vida, que nos sacia com o sentido da existência – sim, porque não há vida de verdade para quem vive sem saber o sentido do viver! – Dá-nos, Jesus a vida física, a vida saudável, mas dá-nos, mais que tudo, a razão verdadeira de viver uma vida que valha a pena!
Mas, acompanhemos com mais detalhes a narrativa do Quarto Evangelho. Jesus, num lugar deserto, estando próxima a Páscoa, Festa dos judeus, manda o povo sentar-se sobre a relva verde, toma uns pães e uns peixes, dá graças, parte, e os distribui… multiplicando os pães e os peixes. Todos comeram e ficaram saciados. Não aparece no evangelho deste Domingo, mas sabemos, pela continuação do texto de São João, que o povo, após o milagre, foi à procura do Senhor e ele recriminou duramente a multidão: “Vós me procurais não porque vistes os sinais, mas porque comestes pão e ficastes saciados!” Que sinal o povo deveria ter visto? Recordemos que no final do trecho que escutamos no evangelho o povo exclama: “Este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo”. Eis: o povo até que começou a discernir o sentido do milagre de Jesus; mas, logo depois, fascinado simplesmente pelo pão material, pelas necessidades de cada dia, esquece o sinal. Insistimos: que sinal? Primeiro, que Jesus é o Novo Moisés, aquele profeta que o próprio Moisés havia anunciado em Dt 11,18: “O Senhor Deus suscitará no vosso meio um profeta como eu”. Pois bem: como Moisés, Jesus reúne o povo num lugar deserto, como Moisés, sacia o povo com o pão… Mas, Jesus é mais que Moisés: ele é o Deus-Pastor que faz o rebanho repousar em verdes pastagens (“Havia muita relva naquele lugar… Jesus mandou que o povo se sentasse…”) e lhe prepara uma mesa. Era isso que o povo deveria ter compreendido; foi isso que não compreendeu…
E nós, compreendemos os sinais de Cristo em nossa vida? Somos capazes de descortinar o sentido dos seus gestos, seja na alegria seja na tristeza, seja na luz seja na treva? Os gestos de Jesus na multiplicação dos pães é também prenúncio da Eucaristia. Os quatro gestos por ele realizados – tomou o pão, deu graças, partiu e deu – são os gestos da Última Ceia e de todas as ceias que celebram o sacrifício eucarístico do Senhor: na apresentação das ofertas tomamos o pão, na grande oração eucarística (do prefácio à doxologia – “Por Cristo, com Cristo…”) damos graças, no “Cordeiro de Deus” partimos e na comunhão distribuímos. Eis a Missa: o tornar-se presente dos gestos salvíficos do Senhor, dado em sacrifício e recebido em comunhão.
Vivendo intensamente esse Mistério, nos tornamos realmente membros do corpo de Cristo, que é a Igreja. Cumprem-se em nós, de modo real, as palavras do Apóstolo: “Há um só Corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança a que fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos”. Eis, caríssimos! Que o bendito Pão do céu, neste sinal tão pobre e humilde do pão e do vinho eucarísticos, nos faça compreender e acolher a constante presença do Senhor entre nós e nos dê a graça de vivermos de verdade a vida de Igreja, sendo um sinal seu no meio do mundo. Amém.


Roteiro Homilético 5: Dom Total
O BANQUETE MESSIÂNICO
1ª leitura: (2Rs 4,42-44) Eliseu sacia milagrosamente o povo – Elias e Eliseu renovam os “grandes feitos” de Javé do tempo do Êxodo. Eliseu sacia cem pessoas com vinte pãezinhos de cevada, lembrando a fratura do maná no tempo messiânico, que se realiza em Jesus Cristo (cf. evangelho). * Cf. Mc 6,31-44; Jo 6,1-14.
2ª leitura: (Ef 4,1-6) Um Corpo, um Espírito, um Senhor, uma fé, um batismo, um Deus e Pai – Da essência da Igreja faz parte sua unidade, baseada em Deus e sua obra em Cristo. 4,4-6 enumera as realidades divinas que fundamentam a Igreja, e que são indivisas. 4,1-3 ensina os meios para realizar esta unidade: humildade, mútuo suportar-se na caridade, unidade do Espírito mediante o vínculo da paz. Portanto, não se trata de uma unidade de rótulo (porque convém), mas de uma unidade conquistada pela caridade. * 4,1-3 cf. Cl 3,13-15; Fl 1,27 * 4,4-6 cf. Rm 12,5; Ef 2,15.18; 1Cor 1,13; 8,6; 12,4-6.
Evangelho: (Jo 6,1-15) A multiplicação dos pães – Superando o sinal de Eliseu (1ª leit.), Jesus alimenta 5.000 pessoas com cinco pãezinhos de cevada e dois peixes e deixando sobrar doze cestos de pedaços. O povo o considera um profeta escatológico (6,14) e quer proclamá-lo rei (i. é, messias, ungido). Mas Jesus não é o Messias conforme os conceitos materialistas do povo (cf. domingos seguintes) e retira-se. – A liturgia passa da narrativa de Mc (dom. passado) para a versão de Jo, para meditar também o Discurso do Pão da Vida, próprio de Jo (domingos seguintes). Mc 6,35-44, que, conforme a sequência, deveria ser o evangelho de hoje, narra o fato como uma instrução aos discípulos, ainda incompreensivos (“Vós mesmos, dai-lhes de comer”, Mc 6,37). Na versão de Jo, Jesus aparece como aquele que, soberanamente, dirige os acontecimentos (cf. 6,6). * Cf. Mt 14,13-21; Mc 6,32-44; Lc 9,10-17 * 6,2, cf. Jo 2,23; 3,2 * 6,5-9, cf. Nm 11,13.22; 2Rs 4,42-44 * 6,14 cf. Dt 18,15.18; Jo 1,21 * 6,15 cf. Mt 14,23; Mc 6,46.
***   ***   ***
No meio da sequência de Mc surgem de repente cinco evangelhos tomados de Jo. A razão é que o episódio da multiplicação dos pães encontra-se muito mais elaborado em Jo, e também o fato de Mc ser mais breve que os outros evangelhos, deixando espaço para alguns trechos de Jo que, senão, ficariam sem lugar na liturgia dominical. A versão joanina da multiplicação do pão (evangelho) é semelhante à de Mc, coloca porém os acentos de modo diferente. Enquanto Mc lembra a situação do povo no êxodo (os grupos de 50 e 100 etc.), Jo acrescenta alguns detalhes que evocam a atuação do profeta Eliseu (cf. 1ª leitura): os pães “de cevada”, o “rapaz” (cf. 2Rs 4,39). Com isso se relaciona a reação do povo no fim: Jesus é “o profeta que deve vir ao mundo” (Elias, a quem Eliseu é intimamente associado) (Jo 6,14). Também a distribuição dos papéis é diferente. Enquanto em Mc os discípulos tomam a iniciativa de pensar em comida e Jesus os instrui para que eles mesmos deem de comer ao povo (Mc 6,37; desde 6,7 estamos em contexto de “aprendizagem”), Jo coloca a iniciativa soberanamente nas mãos de Jesus; a gente até acha que ele nem quis pregar, somente multiplicar pão (6,5-6). Em Mc, o mistério do Cristo é velado e os discípulos, incompreensivos. Em Jo, Cristo radia uma luz divina e os discípulos são testemunhas – igualmente incompreensivas – de uma revelação de seu mistério em forma de um “sinal” (como João chama os milagres). Mistério que já se faz pressentir pela palavrinha “Donde (compraremos pão)?” (6,5), que, para o leitor iniciado no mistério de Jesus, já sugere a resposta: “de Deus”. É o que o “Discurso do Pão da Vida” (cf. próximos domingos) mostrará. O Jesus de Mc esconde para as categorias judaicas a natureza de sua missão, porque são inadequadas para a compreender; o de João revela para o cristão a glória de Deus. Mas o resultado é o mesmo: quem fica com as categorias antigas, fica por fora.
No fim do episódio, Jo descreve com insistência a quantia de restos que sobraram, sublinhando mais uma vez a revelação da obra de Deus em Jesus Cristo: nada (e ninguém) se pode perder (cf. 6,12, cf. 6,38). Depois, mostra o outro lado da medalha; o povo reconhece em Jesus o profeta que repete as façanhas de Eliseu e Elias, o profeta escatológico que deve vir ao mundo (cf. Ml 3,1.23; Dt 18,15); mas não reconhece sua categoria divina. Quer prender Jesus nas categorias messiânicas tradicionais: proclamá-lo rei. Mais tarde, ficará claro em que sentido Jesus é rei (Jo 18,33-37). Mas, neste momento, Jesus não pode aceitar o messianismo do povo; retira-se na solidão (6,14-15, cf. semelhante recusa do messianismo judeu em Mc 8,27-33).
A 2ª leitura ajuda para sentir o ambiente de reunião escatológica que marca a multiplicação dos pães, realização do banquete escatológico anunciado em Is 25,6-8. Pois esse banquete é para todos os povos – universalismo realizado de maneira plena na unidade da Igreja, sucintamente resumida por Paulo em Ef 4,4-6: um só Corpo, um só Espírito, uma só esperança, um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai, sete (!) elementos que fazem da Igreja uma unidade divina. Para os leitores da carta, essa unidade era, muitas vezes, problemática. Nós estamos acostumados a dizer que a Igreja é una, e ficamos cegos para as reais divisões que existem no seu seio; estamos “ideologicamente proibidos” de enxergá-las (não pelo Papa, mas por nosso próprio comodismo). Contudo, será bom checar a realização dessa unidade. E melhor ainda, meditar sobre as qualidades que servem de base para essa unidade: a humildade, a mansidão, a paciência, o mútuo suportar-se na caridade. Não parecem qualidades subversivas, mas são: a subversão da bondade irresistível, desarmada e desarmante, o “vínculo da paz”, que garante a unidade do Espírito. Não entrar no jogo das oposições intermináveis, mas, a partir de um lúcido reconhecimento das divisões existentes, superá-las, pela erradicação firme e paciente de suas causas mais profundas (portanto, não por um cômodo encobrimento da realidade). Eis aí o caminho para a verdadeira unidade universal dos irmãos, para que juntos possam sentar-se à mesa do banquete do Senhor.

O PÃO DA MULTIDÃO E A VOZ DA IGREJA
Em certa sociedade é comum ouvir-se críticas à ação social da Igreja e, muito mais, às suas declarações sobre a política econômica. Julga-se que a Igreja não deve tocar em assuntos “temporais”, mas ocupar-se com o “espiritual”. Mas a violência, a impunidade, a falta de saúde e educação, a fome de grande parte da população não dizem respeito ao reino de Deus que Jesus veio anunciar e inaugurar e que a Igreja pretende atualizar?
No domingo passado, Mc descreveu a chegada de Jesus diante da multidão: compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar, com a consequência de que, no fim do dia, teve de alimentar a multidão. Hoje, para descrever esse gesto, a liturgia prefere dar a palavra ao evangelista João (evangelho), porque nos domingos seguintes vai continuar o “sermão do Pão da Vida”, que não está em Mc.
A maneira em que João apresenta a multiplicação dos pães salienta que Jesus não agiu surpreendido pelas circunstâncias (a hora avançada), mas porque ele quis apresentar pão ao povo (Jo 6,5-6) – para depois mostrar qual é o verdadeiro “pão”. Se em Mc Jesus manda os discípulos distribuir o pão (exemplo para a Igreja), João diz que Jesus mesmo o distribui, para acentuar que o pão é o dom de Jesus. E no fim, João menciona que o povo quer proclamar Jesus rei (messias), mas Jesus se retira, sozinho, na região montanhosa (Jo 6,14-15).
Este último traço é muito significativo. Jesus não veio propriamente para distribuir cestas básicas e ser eleito prefeito, para resolver os problemas materiais do povo. Isso é apenas um “sinal” que acompanha sua missão. Para resolver os problemas materiais do povo há meios à disposição, desde que as pessoas ajam com responsabilidade e justiça. Mas para que isso aconteça, é preciso algo mais fundamental: que conheçam o Deus de amor e justiça que se revela em Jesus. E é para isso que Jesus vai pronunciar o sermão do Pão da vida, como veremos nos próximos domingos.
A preocupação social da Igreja deve pautar-se por essa linha. Para resolver os problemas econômicos e sociais não é preciso vir o Filho de Deus ao mundo. Os meios estão aí. O Brasil é rico; é só ter pessoas justas, sensíveis às necessidades do povo, para bem gerenciar essa riqueza. Mas a missão da Igreja é em primeiro lugar colocar os responsáveis diante da vontade de Deus, como Jesus fez. E criar uma comunidade em que as pessoas vivam como Jesus ensinou.
Isso não significa pregar ingenuamente a “boa vontade”, sem fazer nada que obrigue as pessoas a pô-la em prática. Somos todos filhos de Adão, portadores de pecado desde a origem. Quem diz que não tem pecado fala mentira (1Jo 1,8-10). A boa vontade de usar bem os meios econômicos segundo a justiça social precisa de leis que funcionem, de mecanismos econômicos e de “estruturas” que os reproduzam, para amarrar essa boa vontade a realizações concretas. Não é o papel da Igreja inventar e implantar tais mecanismos, assim como Jesus não se transformou em fornecedor de pão e de bem-estar. Mas a Igreja tem de mostrar o rosto de Deus, que é Pai de todos e deseja que nos tratemos como irmãos. E para isso ela não pode deixar de apontar quais são as responsabilidades concretas.
(O Roteiro Homilético é elaborado pelo Pe. Johan Konings SJ – Teólogo, doutor em exegese bíblica, Professor da FAJE. Autor do livro "Liturgia Dominical", Vozes, Petrópolis, 2003. Entre outras obras, coordenou a tradução da "Bíblia Ecumênica" – TEB e a tradução da "Bíblia Sagrada" – CNBB. Konings é Colunista do Dom Total. A produção do Roteiro Homilético é de responsabilidade direta do Pe. Jaldemir Vitório SJ, Reitor e Professor da FAJE.)




Roteiro Homilético 6: Roteiro
(http://www.presbiteros.com.br/)
RITOS INICIAIS

Salmo 67, 6-7.36
ANTÍFONA DE ENTRADA: Deus vive na sua morada santa, Ele prepara uma casa para o pobre. É a força e o vigor do seu povo.

Introdução ao espírito da Celebração

Os textos litúrgicos deste Domingo falam-nos da Providência divina. Deus enche de seus bens todo o universo e de modo especial a humanidade.

ORAÇÃO COLECTA: Deus, protector dos que em Vós esperam: sem Vós nada tem valor, nada é santo. Multiplicai sobre nós a vossa misericórdia, para que, conduzidos por Vós, usemos de tal modo os bens temporais que possamos aderir desde já aos bens eternos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.


LITURGIA DA PALAVRA

Primeira Leitura

Monição: Com vinte pães o profeta Eliseu alimenta cerca de cem homens. Este texto foi escolhido para mostrar a superioridade do grande milagre da multiplicação dos pães feito por Jesus, com vamos ouvir no Evangelho. Deus cumpre a sua promessa: «Todos comeram e ainda sobrou, segundo a palavra do Senhor.»

2 Reis 4, 42-44
Naqueles dias, 42veio um homem da povoação de Baal-Salisa e trouxe a Eliseu, o homem de Deus, pão feito com os primeiros frutos da colheita. Eram vinte pães de cevada e trigo novo no seu alforge. Eliseu disse: «Dá-os a comer a essa gente». 43O servo respondeu: «Como posso com isto dar de comer a cem pessoas?» Eliseu insistiu: «Dá-os a comer a essa gente, porque assim fala o Senhor: ‘Comerão e ainda há-de sobrar’». 44Deu-lhos e eles comeram, e ainda sobrou, segundo a palavra do Senhor.

O nosso texto é extraído do chamado «ciclo de Eliseu» (2 Rs 2, 13 – 13, 25), onde se contam grandes prodígios deste profeta. Foi escolhido para a Liturgia de hoje para pôr em evidência a superioridade de Jesus sobre o maior taumaturgo de todos os profetas. De facto, o contraste é flagrante: com 20 pães Eliseu alimentou 100 pessoas, ao passo que Jesus, com 5 pães, alimenta 5000. A desproporção é de 1 para 5 e de 1 para mil, e nem sequer o aspecto prodigioso se situa no mesmo plano, pois não se diz que Eliseu multiplicou o pão, mas apenas que fartou a sua gente.

Salmo Responsorial
Sl 144 (145), 10-11.15-16.17-18 (R. cf. 16)

Monição: Este salmo é um poema de louvor à divina providência e traduz a alegria e a gratidão dos crentes. Damos graças ao Senhor que nos alimenta e enche de seus bens! Em comunhão com toda a Igreja, cantamos: «Vós abris, Senhor as vossas mãos e saciais a nossa fome!»

Refrão:         ABRIS, SENHOR, AS VOSSAS MÃOS
                      E SACIAIS A NOSSA FOME.

Graças Vos dêem, Senhor, todas as criaturas
e bendigam-Vos os vossos fiéis.
Proclamem a glória do vosso reino
e anunciem os vossos feitos gloriosos.

Todos têm os olhos postos em Vós,
e a seu tempo lhes dais o alimento.
Abris as vossas mãos
e todos saciais generosamente.

O Senhor é justo em todos os seus caminhos
e perfeito em todas as suas obras.
O Senhor está perto de quantos O invocam,
de quantos O invocam em verdade.

Segunda Leitura

Monição: S. Paulo ensina-nos: «há um só Corpo, um só Espírito, um só Senhor, uma só fé e um só Baptismo». A unidade da Igreja é fruto do Espírito Santo que habita em nós e realiza a maravilhosa comunhão dos fiéis: formamos um só corpo em Cristo Jesus!

Efésios 4, 1-6
Irmãos: 1Eu, prisioneiro pela causa do Senhor, recomendo-vos que vos comporteis segundo a maneira de viver a que fostes chamados: 2procedei com toda a humildade, mansidão e paciência; suportai-vos uns aos outros com caridade; 3empenhai-vos em manter a unidade de espírito pelo vínculo da paz. 4Há um só Corpo e um só Espírito, como existe uma só esperança na vida a que fostes chamados. 5Há um só Senhor, uma só fé, um só Baptismo. 6Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, actua em todos e em todos Se encontra.

A leitura corresponde ao início das exortações morais da Epístola (cap. 4 – 6). Pelo que diz no v. 1 – «estou na prisão» – ficamos a saber que S. Paulo escreve estando prisioneiro. Segundo a opinião tradicional, S. Paulo estaria no primeiro cativeiro romano, entre os anos 60-61 e 62-63; o Apóstolo não estava num calabouço, mas no regime da «custodia libera», com o braço direito preso ao esquerdo dum soldado que se revezava, esperando, numa certa liberdade, vivendo por conta própria (cf. Act 28, 16), a hora de ser julgado no tribunal imperial. As razões para negar a autenticidade paulina da carta pela maioria dos críticos não são absolutamente peremptórias.
3-6 A unidade de espírito, para que se apela tem uma base doutrinal sólida: «Há um só Corpo», o de Cristo, que é uma única Igreja (cf. Ef 1, 22-23); «há um só Espírito», o Espírito Santo, a alma da Igreja; «uma só esperança», o mesmo Céu para todos, a vida eterna a que estamos destinados; «há só Senhor, uma só fé…». Como diz o Vaticano II, no decreto sobre o ecumenismo, «o Espírito Santo, que habita nos crentes, enche e rege toda a Igreja, realiza aquela maravilhosa comunhão dos fiéis e une a todos tão intimamente em Cristo, que é o princípio da unidade da Igreja» (UR, 2).

Aclamação ao Evangelho
 Lc 7, 16

Monição. Aclamemos Jesus Cristo, que nos oferece o Pão do Céu, o alimento que permanece para a vida eterna. Deus visitou o seu povo: «Jesus é Profeta que estava para vir ao mundo.»

ALELUIA

Apareceu entre nós um grande profeta:
Deus visitou o seu povo.


Evangelho

São João 6, 1-15
Naquele tempo, 1Jesus partiu para o outro lado do mar da Galileia, ou de Tiberíades. 2Seguia-O numerosa multidão, por ver os milagres que Ele realizava nos doentes. 3Jesus subiu a um monte e sentou-Se aí com os seus discípulos. 4Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. 5Erguendo os olhos e vendo que uma grande multidão vinha ao seu encontro, Jesus disse a Filipe: «Onde havemos de comprar pão para lhes dar de comer?» 6Dizia isto para o experimentar, pois Ele bem sabia o que ia fazer. 7Respondeu-Lhe Filipe: «Duzentos denários de pão não chegam para dar um bocadinho a cada um». Disse-Lhe um dos discípulos, 8André, irmão de Simão Pedro: 9«Está aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tanta gente?» 10Jesus respondeu: «Mandai sentar essa gente». Havia muita erva naquele lugar e os homens sentaram-se em número de uns cinco mil. 11Então, Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, fazendo o mesmo com os peixes; e comeram quanto quiseram. 12Quando ficaram saciados, Jesus disse aos discípulos: «Recolhei os bocados que sobraram, para que nada se perca». 13Recolheram-nos e encheram doze cestos com os bocados dos cinco pães de cevada que sobraram aos que tinham comido. 14Quando viram o milagre que Jesus fizera, aqueles homens começaram a dizer: «Este é, na verdade, o Profeta que estava para vir ao mundo». 15Mas Jesus, sabendo que viriam buscá-l’O para O fazerem rei, retirou-Se novamente, sozinho, para o monte.

A importância doutrinal deste capítulo 6 do Quarto Evangelho é posta em evidência pelo facto de ser o mais comprido de todos os relatos joaninos. Não deixa de ser significativo que tenhamos nos Evangelhos seis relatos de multiplicação do pão: esta insistência parece corresponder a um interesse motivado pela relação deste milagre com a Eucaristia, podendo observar-se em todos esses relatos uma grande semelhança de linguagem com os da instituição da Eucaristia, os quais, por sua vez, têm fortes ressonâncias litúrgicas, provenientes certamente da vida das primitivas comunidades. Em João o relato do milagre serve mesmo de introdução ao discurso do pão do Céu que se lhe segue. Por outro lado, fica patente que a pregação de Jesus se dirige a pessoas que não são puros espíritos, mas são gente que precisa tanto do pão para a boca como do pão para a alma. Vêm a propósito as palavras de Bento XVI, Deus caritas est, nº 32: «A prática da caridade é um acto da Igreja enquanto tal, e também ela, tal como o serviço da Palavra e dos Sacramentos, faz parte da sua missão originária».
É interessante verificar que S. João, além de conservar muitos pormenores que os Sinópticos não transmitiram, em nada contradiz o relato dos outros três Evangelhos. Com efeito, ele refere a ocasião da Páscoa (v. 4), que os pães eram de cevada {v. 9), que o chão tinha erva abundante (v. 10), conserva o nome dos dois discípulos (vv. 5.8) e que quem tinha os 5 pães era um rapaz (v. 9). Por outro lado, o IV Evangelho dá maior relevo à figura de Jesus que é quem toma iniciativas (vv. 6.12).
1. A tradição cristã palestina considera que «o outro lado do mar da Galileia» não é a margem oriental, mas o outro lado dum golfo existente na mesma margem ocidental (Tabga).
4ss. A referência à proximidade da Páscoa, sublinhada com a referência à muita erva própria da época pascal (v. 10), é como a chave para que o leitor descubra que o milagre da multiplicação do pão prefigura a Páscoa cristã e a instituição da Santíssima Eucaristia.
14. «O Profeta», isto é, o novo Moisés, o Messias anunciado em Dt 18, 15.

Sugestões para a homilia
A providência divina.
O tema da Missa de hoje é a Providência Divina em favor de todos os homens. Na primeira leitura, tirada do Livro dos Reis, o profeta Eliseu, confia na palavra de Deus e sacia a fome de algumas pessoas. Esta leitura do Antigo Testamento foi escolhida em função do milagre da multiplicação dos pães, para evidenciar a superioridade de Jesus. Vejamos o contraste: com vinte pães Eliseu alimentou cem pessoas. Com apenas cinco pães, Jesus alimentou cinco mil. Nos dois casos, todos comeram, ficaram saciados e ainda sobrou. Isto demonstra que Deus distribui com abundância os Seus bens pelas Suas criaturas, como cantava o salmista: «Vós abris, Senhor, a Vossa mão, e saciais a nossa fome.» Os dois milagres são feitos a partir de reduzidas provisões: os vinte pães oferecidos ao profeta Eliseu e os cinco pães e os dois peixes oferecidos a Jesus por um rapazinho. Deus pode fazer tudo do nada, mas habitualmente serve-se de nós para fazer as Suas intervenções. Quando o homem faz aquilo que está ao seu alcance, Deus faz frutificar as suas obras.
Se o milagre da primeira leitura é prelúdio da multiplicação dos pães operada por Jesus, por sua vez, este milagre prepara o grande milagre da Eucaristia: através da Comunhão Jesus dá-nos o alimento do seu Corpo, o Pão vivo descido do Céu.
Todos comeram e ficaram saciados! Encheram doze cestos com os bocados que sobraram! Esta abundância revela a grandeza da Providência divina. No primeiro milagre feito por Jesus nas bodas de Caná, quando transformou a água em vinho, já está presente este sinal da abundância. Ao multiplicar o pão e o vinho, certamente que Jesus via mais longe: Jesus havia de oferecer-nos o seu Corpo e o Sangue! «O pão que Eu hei-de dar é a minha carne, para a vida do mundo!» O pão e o vinho na mesa da Comunhão matam a fome e a sede de infinito de milhões de crentes. O Corpo e o Sangue de Jesus tornam-se para nós o alimento que sacia a nossa fome e permanece para a vida eterna.

LITURGIA EUCARÍSTICA

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Aceitai, Senhor, os dons que recebemos da vossa generosidade e trazemos ao vosso altar, e fazei que estes sagrados mistérios, por obra da vossa graça, nos santifiquem na vida presente e nos conduzam às alegrias eternas. Por Nosso Senhor.

SANTO

Monição da Comunhão

Graças vos damos Senhor!
Os nossos olhos estão postos em Vós. A seu tempo Vós nos dais o alimento! (Salmo)

Salmo 102, 2
ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Bendiz, ó minha alma, o Senhor, e não esqueças os seus benefícios.

Ou
Mt 5, 7-8
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Senhor, que nos destes a graça de participar neste divino sacramento, memorial perene da paixão do vosso Filho, fazei que este dom do seu amor infinito sirva para a nossa salvação. Por Nosso Senhor.


RITOS FINAIS

Monição final

«A prática da caridade é um acto da Igreja e faz parte da sua missão originária.»
Papa Bento XVI, Deus caritas est, nº 32
Multipliquemos do pão que mata a fome do corpo e trabalhemos pelo alimento que permanece para a vida eterna!

HOMILIAS FERIAIS

17ª SEMANA

2ª Feira, 30-VII: A transformação da sociedade.
Ex 32, 15-24 / Mt 3, 31-35
As tábuas eram obra de Deus, a escrita era letra de Deus, gravada nas tábuas.
Nas tábuas encontramos as palavras de Deus, que indicam as condições duma vida humana vivida plenamente. «Por isso, é que estas tábuas são chamadas ‘o testemunho’ (cf Leit). De facto, elas contêm as cláusulas da Aliança concluída entre Deus e o seu povo.
Com a imagem do fermento (cf Ev), o Senhor recorda-nos a nossa responsabilidade na família, no trabalho, na sociedade, etc., de tal maneira que ajudemos a transformar o ambiente em que vivemos.

3ª Feira, 31-VII: Capacidade de discernimento.
Ex 33, 7-11; 34, 5-9. 28 / Mt 13, 36-43
A boa semente são os filhos do reino, o joio são os filhos do Maligno e o inimigo que o semeou é o demónio.
Esta parábola do trigo e do joio continua a ser de grande actualidade: junto com a cultura, fruto do cristianismo, há uma nova cultura influenciada pelos meios de comunicação social.
Para nos ajudar a discernir o que é bom e o que é mau podemos consultar o Senhor, como Moisés fazia na Tenda do Encontro (cf Leit) e pedir humildemente a sua ajuda: «É certo que somos um povo insubmisso, mas perdoai as nossas faltas e pecados e fazei de nós a vossa herança» (Leit).

4ª Feira, 1-VIII: S. Marta: Acolher bem o Senhor.
1 Jo 4, 7-16 / Jo 11, 19-27
Marta disse então a Jesus: Se tivesses estado aqui, Senhor, meu irmão não teria morrido.
Os irmãos de Betânia mantinham uma grande amizade com o Senhor, que lá procurava descansar e se sentia bem acompanhado. Marta oferecia-lhe a hospitalidade (cf Oração); pediu-lhe pela ressurreição do irmão e conseguiu-o.
Imitemos a hospitalidade de Marta, acolhendo bem o Senhor e as pessoas amigas; imitando a sua oração, pedindo pela resolução dos problemas de amigos e conhecidos. O Pai não deixará de nos ouvir, porque «foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados» (Leit).

5ª Feira, 2-VIII: A ‘nuvem’ e a presença de Deus.
Ex 40, 16-21. 34-38 / Mt 13, 47-53
A nuvem do Senhor estava de dia sobre o Tabernáculo e, de noite, havia nele um fogo.
«A nuvem e a luz. Estes dois símbolos são inseparáveis nas manifestações do Espírito Santo. Desde as teofanias do Antigo Testamento, a nuvem, umas vezes escura, outras luminosa, revela o Deus vivo e salvador… a Moisés no monte Sinai, na Tenda do Encontro e durante a marcha pelo deserto (cf Leit)» (CIC, 697).
Saibamos descobrir esta presença de Deus nos Sacrários. Lembremo-nos de que é «muito boa companhia a do bom Jesus, para não nos separarmos d’Ele e da sua santíssima Mãe» (S. Teresa de Ávila).

6ª Feira, 3-VIII: As referências de Deus.
Lev 23, 1. 4-11. 15-16. 27. 34-37 / Mt 13, 54-58
Não é Ele o filho do carpinteiro? Não tem sua mãe o nome de Maria?
Estas são as referências que têm os conterrâneos de Jesus; o trabalho, a mãe. Procuremos que o nosso trabalho tenha igualmente uma referência a Deus, oferecendo-o ao Senhor cada dia, fazendo-o bem feito. E que Maria esteja igualmente presente na nossa vida: «chamada nos Evangelhos a ‘Mãe de Jesus’ (Ev), Maria é aclamada, sob o impulso do Espírito Santo e, desde antes do nascimento de seu Filho, como a ‘Mãe do meu Senhor’» (CIC, 495).
Deus indicou igualmente a Moisés uma série de solenidades para se ter o Senhor presente (cf Leit).

Sábado, 4-VIII: A coerência eucarística e suas consequências.
Lev 25, 1. 8-17 / Mt 14, 1-12
Herodes mandara prender João por causa de Herodíade. É que João dizia a Herodes: Não podes tê-la contigo.
João Baptista foi martirizado por defender a verdade do Evangelho sobre o casamento (cf Ev).
Procuremos viver a coerência eucarística, isto é, o acto de culto há-de ter consequências nas nossas relações sociais. Assim, Deus recordou a Moisés os dias festivos e o modo de vivê-los, quanto às colheitas e às pessoas (cf Leit). A palavra de Deus que escutamos nesses dias deve ser acolhida e levada aos nossos actos e às pessoas com quem convivemos.






Celebração e Homilia:  JOSÉ ROQUE
Nota Exegética:   GERALDO MORUJÃO
Homilias Feriais: NUNO ROMÃO
Sugestão Musical:    DUARTE NUNO ROCHA




Roteiro Homilético 7: Exegese
(http://www.presbiteros.com.br/)

Roteiro Homilético 8: Mons. José Maria
(http://www.presbiteros.com.br/)
A PROVIDÊNCIA DE DEUS
A Palavra de Deus (2Rs 4,42-44 e Jo 6,1-15) tem como tema central a providência de Deus que satisfaz todas as necessidades do homem. Em 2Rs 4,42-44, lê-se a multiplicação dos pães levada a cabo por Eliseu, multiplicação esta que é figura e prenúncio daquela outra que foi realizada, uns oito séculos mais tarde, por Jesus e que se lê no Evangelho (Jo 6,1-15). Um homem apresenta-se ao profeta levando consigo “vinte pães de cevada” e recebe a ordem de os distribuir à sua gente: cem homens. O servo responde dizendo que tal provisão é insuficiente, mas Eliseu repete a ordem nome de Deus: “dá ao povo para que coma; pois assim diz o Senhor: “comerão e ainda sobrará” (2Rs 4, 43).
O milagre repete-se, mas de uma maneira mais imponente, nos verdes montes da Galileia, quando Jesus se vê rodeado de uma grande multidão que o procurava (Jo 6,5). Tal como Eliseu, que tinha saciado a fome dos seus discípulos, assim Jesus provê às necessidades das multidões que O acompanhavam para ouvir a Sua palavra. Mas, enquanto no caso de Eliseu, vinte pães saciaram os homens; no caso de Jesus, cinco pães e dois peixes saciam uns cinco mil. Nos dois casos, há sobras – doze cestos no caso do Evangelho –, para mostrar que Deus não é avaro em prover as necessidades de Suas criaturas. Reza o Salmo: “Vós abris a vossa mão prodigamente e saciais todo ser vivo com fartura” (Sl 144 (145), 16).
Significativa a sobra dos doze cestos. O novo Povo de Deus, nascido do mistério pascal de Cristo, será alimentado por Jesus, multiplicado nos Doze Apóstolos que participam da multiplicação dos pães. Mais importante ainda do que a multiplicação dos pães é o seu simbolismo. Para saciar a fome da multidão faminta, Jesus quer multiplicar-se nos seus Apóstolos, nos seus discípulos, em sua Igreja.
Se o milagre de Eliseu é figura da multiplicação dos pães, levada a cabo por Cristo, esta é preparação e figura de um milagre mais estrondoso: a Eucaristia. Não está por acaso a descrição dos gestos do Senhor: “tomou os pães, deus graças e distribuiu-os aos que estavam sentados…” (Jo 6,11). Ela antecipa, quase à letra, os gestos e as palavras da instituição da Eucaristia. Depois de ter saciado tão copiosamente a fome dos corpos, Jesus também proverá, de maneira divina e inefável, a da alma. Alimentados por um único pão, o Corpo do Senhor, os fieis formam um só corpo, o Corpo Místico de Cristo. Esta realidade é o alicerce do dever da caridade e da solidariedade cristã, de que fala São Paulo em Ef 4,1-6, ao exortar os fieis a “caminhardes de acordo com a vocação que recebestes; com toda humildade e mansidão, suportai-vos uns aos outros com paciência, no amor” (Ef 4,1).
“Recolhei os pedaços que sobraram…” (Jo 6,12). O mandato de recolher os pedaços que sobram ensina que os bens materiais, por serem dons de Deus, não se devem desperdiçar, mas hão de ser usados com espírito de pobreza. Neste sentido, explica Paulo VI que “depois de ter alimentado com liberalidade a multidão, o Senhor recomenda aos seus discípulos que recolham o que sobrou para que nada se perca. Que formosa lição de economia, no sentido mais nobre e mais pleno da palavra, para a nossa época, dominada pelo esbanjamento! Além disso, leva consigo a condenação de toda uma concepção da sociedade em que até o próprio consumo tende a converter-se no próprio bem, desprezando os que se veem necessitados e em detrimento, em última análise, dos que julgam ser seus próprios beneficiários, incapazes já de perceber que o homem é chamado a um destino mais alto” (Discurso aos participantes na Conferência mundial da Alimentação, 09 de novembro de 1974).
O Senhor, mais adiante (Jo 6,26ss.) explicará o verdadeiro sentido da multiplicação dos pães e dos peixes e logo foge daquele lugar para evitar uma proclamação popular alheia à sua verdadeira missão.


Roteiro Homilético 9: Padre Françoá Costa
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“Cinco pães e dois peixes”
Jesus, a partir de tão pouco, fez um milagre: aquele menino tinha tão somente cinco pães, Jesus fez com que fosse alimentada uma multidão composta de umas cinco mil pessoas! “Cinco pães e dois peixes” é o título de um livrinho muito interessante que narra o testemunho de fé de um bispo vietnamita na prisão. Francisco Xavier Nguyen Van Thuan, logo após sua nomeação como arcebispo coadjutor de Saigón foi preso pelo governo comunista. Foram 13 anos na cadeia(1975-1988). Seu crime? Ser bispo da Igreja Católica.
O citado livro nos fala que os cinco pães são:
1º) viver o momento presente: “todos os prisioneiros, incluindo eu, esperam cada minuto sua libertação. Mas depois decidi: “Eu não esperarei mais. Vou viver o momento presente enchendo-o de amor”. Quantas preocupações vagueiam em nossas mentes e em nossos corações sobre o passado e sobre o futuro. Perdemos tempo… Poderíamos aproveitar mais e melhor o momento presente, vivendo-o intensamente na dedicação a Deus e aos demais por amor de Deus;
2º) distinguir entre Deus e as obras de Deus. O mais importante é Deus e não fazer coisas por ele, ainda que também sejam muito importantes. “Quando digo: “ Por Deus e pela Igreja”, fico em silêncio na presença de Deus e pergunto-me honestamente: “Senhor, trabalho somente por ti? Tu és sempre o motivo essencial de tudo o que eu faço? Dar-me-ia vergonha admitir que tenho outros motivos mais fortes”. Precisamos constantemente ver se o que fazemos é realmente por Deus ou para a nossa glória pessoal (glória vã, vanglória). Para Deus toda a glória! Seja essa a nossa constante oração;
3º) a oração. São Josemaría Escrivá dizia: “Santo, sem oração?!… – Não acredito nessa santidade” (Caminho 107). Realmente, quem quiser ser santo, e essa é a nossa obrigação, precisa rezar muito;
4º) a Eucaristia: é nosso grande tesouro!
5º) amar até a unidade:
“Era muito difícil para os meus guardas compreender como se pode perdoar, amar os inimigos, reconciliar-se com eles:

O senhor nos ama de verdade?
Sim, eu os amo sinceramente.
Ainda que lhe façamos danos? Ainda sofrendo por ter passado tantos anos na prisão sem ter sido julgado?
Pensai nos anos que temos vivido juntos. Realmente os amei!
Quando receba a liberdade, não mandará os seus fazer-nos danos, a nós ou às nossas famílias?
Não, continuarei amando-vos, ainda que me queirais matar.
Mas, porquê?
Porque Jesus ensinou-me a amar-vos. Se eu não o fizesse, não seria digno de chamar-me cristão.”
Os dois peixes são:
1º) Maria Imaculada: “Maria tem um papel especial na minha vida. Fui preso no dia 15 de agosto de 1975, festa da Assunção de Maria. Saí no carro da polícia, com as mãos vazias, sem um centavo no bolso, só com o rosário, e estava em paz. Essa noite, pela longa estrada de 450 km, recitei muitas vezes a oração Lembrai-vos, ó piedosíssima Virgem Maria.”;
2º) escolher Jesus: “Se das 24 horas vivemos 24 radicalmente por Jesus, seremos santos”.
Como seria bom se esses fossem os nossos cinco pães e dois peixes. Como aquela criança, com simplicidade, queremos oferecer a Jesus o nosso esforço por sermos bons. Rezemos uns pelos outros para que possamos oferecer a Deus esses cinco pãezinhos e esses dois peixinhos, nossa luta por vivermos esses pontos acima mencionados, com os quais o Senhor pode fazer grandes milagres, alimentar muitos irmãos nossos: famintos de verdade e de amor, famintos do nosso testemunho de cristãos. Da nossa fidelidade dependem muitas coisas!
Maria Imaculada abra os nossos corações ao amor de Deus e à oblação, à entrega generosa daquilo que temos. Se oferecermos água, a simples água, como outrora pela intercessão de Maria, Cristo a transformará em bom vinho. De novo, se lhe darmos, pela intercessão de Maria o nosso desejo de viver esse planos dos “cinco pães e dois peixes”, o nosso plano de vida espiritual, o Senhor fará grandes obras.