Roteiro Homilético 12: Pe. Franclim Pacheco Diocese de Aveiro
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A parábola
deste Domingo apenas se encontra no Evangelho de Lucas. Trata-se duma catequese
que aborda o problema da relação entre o homem e os bens deste mundo. Jesus
dirige-se aos fariseus como representantes de todos aqueles que amam o dinheiro
e vivem em função dele.
Na primeira
parte (vv. 19-26) Lucas apresenta os dois personagens fundamentais da história:
um rico que vive luxuosamente e um pobre, que tem fome, vive miseravelmente e
está doente. A morte de ambos vem alterar a situação. Que lição apresenta
Jesus? Devemos estar atentos a alguns pormenores para perceber o que Jesus
pretende ensinar.
Quanto ao
rico, descreve-se a sua vida faustosa, não se dizendo se era bom ou mau. A
moralidade do comportamento não é tida em consideração. Não se fala nem de
desonestidade, nem de vida dissoluta. É um rico que não tem nome!
O pobre tem nome: Lázaro, forma
grega do nome hebraico/aramaico Eleazar, que significa «aquele que Deus
socorre» ou «Deus ajuda». Dificilmente o leitor grego poderia captar este
significado. Porém, o facto de ter um nome sugeria sobretudo que o pobre tinha
uma identidade junto de Deus.
Lucas quer
comover o leitor com o estado de aflição do pobre que pertence à categoria de
pessoas que Jesus proclama «bem aventuradas».
Outro elemento
acerca de Lázaro: não tinha com que matar a fome, enquanto o rico estava sempre
em banquetes; Lázaro não podia sequer alimentar-se com os bocados de pão que
serviam para limpar as mãos e que eram atiradas para debaixo da mesa e comidos
pelos cães. Como não bastasse, até os cães da rua o incomodavam com as
lambedelas nas suas chagas, sem que ele pudesse defender-se.
Também em
relação ao pobre nada é dito acerca da sua moralidade ou da paciência com que
suportava a sua vida, a sua confiança em Deus… Porém, quando morre, o pobre foi
levado pelos anjos ao seio de Abraão. Acerca do rico é dito que também morreu e
foi sepultado.
O rico encontra-se no Hades (em
hebraico: sheol), na morada dos mortos: como lugar de tormento, o Hades parece
identificar-se com a Geena (lugar de Jerusalém onde se depositavam e queimavam
os lixos). Também Abraão se encontra no Hades, mas num lugar à parte. O rico
encontra-se num lugar de tormento, sendo agora a sua situação descrita com
pormenores, mas pode ver Abraão à distância e com ele estabelece um diálogo.
As súplicas do rico atormentado
servem para acentuar mais o contraste entre a sua vida faustosa sobre a terra e
a mudança de situação. Em vez de pedir a intervenção de Abraão em seu favor,
pede a ajuda de Lázaro: agora é o rico a desejar alguma coisa que o sacie…
Porém, entre os mortos justos e os ímpios a comunicação já não é possível e,
portanto, a destino do rico é irreversível: Lázaro não pode ajudá-lo. Esta
verdade é apresentada com a imagem do «grande abismo» fixado por Deus que não
pode ser ultrapassado.
É a riqueza ou a pobreza a
determinar o destino diferente de cada um. Na perspectiva do evangelista Lucas,
a riqueza é um dom de Deus posto ao serviço de todos, não apenas de alguns,
mesmo que legitimamente conseguida. Quem a usa apenas em proveito próprio está
a criar um abismo entre si e os necessitados, abismo este que depois não pode
ser ultrapassado. Isto provoca o resto do diálogo.
Agora o pedido do rico é em relação
aos seus irmãos. De novo é requisitada a intervenção de Lázaro para evitar que
os irmãos ainda vivos tivessem uma sorte semelhante à sua.
O rico recebe uma segunda rejeição.
No entanto, é afirmada a permanente validade da Lei: Moisés e os Profetas devem
ser escutados à luz das exigências do Reino reveladas por Jesus. A Escritura
contém o ensinamento necessário e suficiente para conhecer a vontade de Deus e,
portanto, para entrar no seio de Abraão. Esta parte do texto dirige-se
claramente aos fariseus, peritos na Escritura (Moisés e os Profetas). Quem não
se deixa interpelar pela Palavra de Deus, mudando a sua atitude para com os
outros, não é com sinais espectaculares que se irá converter.
Pe. Franclim
Pacheco
Diocese de
Aveiro