Roteiro Homilético 8: Mons. José Maria
(http://www.presbiteros.com.br/)
Os Mortos não
Voltam…
O Evangelho
(Lc 16, 19-31) descreve-nos um homem que não soube tirar o proveito dos seus
bens. Ao invés de ganhar com eles o Céu, perdeu-o para sempre. Trata-se de um
homem rico, que se vestia de púrpura e de linho, e que todos os dias fazia
festas esplêndidas; muito perto dele, à sua porta, estava deitado um mendigo
chamado Lázaro, todo coberto de chagas, que desejava saciar-se com as migalhas
que caíam da mesa do rico. E até os cães lambiam as suas feridas.
A descrição
que o Senhor nos faz nesta parábola tem fortes contrastes: grande abundância
num, extrema necessidade no outro. O homem rico vive para si, como se Deus não
existisse. Esqueceu uma coisa que o Senhor recorda com muita freqüência: não
somos donos dos bens materiais, mas administradores.
O homem rico
não está contra Deus nem oprime o pobre! Apenas está cego para as necessidades
alheias. O seu pecado foi não ter visto Lázaro, a quem poderia ter feito feliz
com um pouco menos de egoísmo e um pouco mais de despreocupação pelas suas
próprias coisas. Não utilizou os bens conforme o querer de Deus. Não soube
compartilhar. Santo Agostinho comenta: “Não foi a pobreza que conduziu Lázaro
ao Céu, mas a sua humildade; nem foram as riquezas que impediram o rico de
entrar no descanso eterno, mas o seu egoísmo e a sua infidelidade.”
Do uso que
façamos dos bens que Deus depositou nas nossas mãos depende a vida eterna.
Estamos num tempo de merecer! Por isso, o Senhor nos dirá: “É melhor dar do que
receber” (At 20, 25). Ganhamos mais dando do que recebendo: ganhamos o Céu! A
caridade é sempre realização do Reino dos Céus e é a única bagagem que restará
neste mundo que passa. E devemos estar atentos, pois Lázaro pode estar no nosso
próprio lar, no escritório ou na oficina em que trabalhamos.
A parábola
ensina a sobrevivência da alma após a morte e que, imediatamente depois da
morte a alma é julgada por Deus de todos os seus atos – juízo particular –,
recebendo o prêmio ou o castigo merecidos; que a Revelação divina é, de per si,
suficiente para que os homens creiam no mais além.
Também ensina
que quem morre não volta mais! Que não existe reencarnação! Quem salva o homem
é Jesus Cristo, não o próprio homem que vai pagando as suas faltas, cada vez
que reencarna. Quem tem fé em Cristo e o aceita como salvador rejeita o
espiritismo e a sua doutrina, a reencarnação. Em Hb 9, 27, diz o Senhor: “está
determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo.”
“Entre vós e
nós existe um abismo”, disse Abraão ao rico, manifestando que depois da morte e
ressurreição não haverá lugar para penitência alguma. Nem os ímpios se
arrependerão e entrarão no Reino, nem os justos pecarão e descerão para o
inferno. Este é um abismo intransponível. Por isso se compreendem as palavras
de São João Crisóstomo: “Rogo-vos e peço-vos e, abraçado aos vossos pés,
suplico-vos que, enquanto gozemos desta pequena respiração da vida, nos
arrependamos, nos convertamos, no tornemos melhores, para que não nos
lamentemos inutilmente como aquele rico quando morrermos e o pranto não nos
traga remédio algum. Porque ainda que tenhas um pai ou um filho ou um amigo ou
qualquer outro que tenha influência diante de Deus, todavia, ninguém te
livrará, sendo como são os teus próprios fatos (atos) que te condenam.”
Exorta São
Paulo em 1 Tm 6, 10: “a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro e que
muitos perderam a fé por causa disso.” O mesmo S. Paulo nos convida: “Combate o
bom combate da fé, conquista a vida eterna, para qual foste chamado…” (1 Tm 6,
12).
Nós fomos
eleitos para ser fermento que transforma e santifica as realidades terrenas. A
sobriedade, a temperança, o despreendimento hão de levar-nos ao mesmo tempo a
sermos generosos: ajudando os mais necessitados, levando adiante – com o nosso
tempo, com os talentos que recebemos de Deus, com os bens materiais na medida
das nossas possibilidades – obras boas, que elevem o nível de formação, de
cultura, de atendimento aos doentes… Ou seja, com o coração em Deus e voltado
para o próximo.
Não vos
conformeis com este mundo…” (Rm 12, 2). Quando se vive com o coração posto nos
bens materiais, as necessidades dos outros escapam-nos; é como se não
existissem. O rico da parábola “foi condenado porque nem sequer percebeu a
presença de Lázaro, da pessoa que se sentava à sua porta e desejava
alimentar-se das migalhas que caíam da sua mesa” ( Sto. Agostinho).
Façamos bom
uso dos bens materiais. Jesus vê na riqueza o perigo mais grave de
auto-suficiência, de afastamento de Deus e de insensibilidade para com o
próximo.
Mons. José
Maria Pereira