Roteiro Homilético 12: Ordem do Carmo Portugual
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Lucas reúne
nos primeiros dez versículos deste capítulo diversos dizeres de Jesus sobre
algumas atitudes fundamentais para a vida de quem quer segui-Lo pelo caminho do
discipulado. Podemos dividir o trecho de hoje em duas partes: vv. 5-7 e vv.
8-10.
A primeira
parte trata da questão da fé inabalável, que deve ser característica do
discípulo. Inicia-se o diálogo com os apóstolos expressando diante de Jesus a
sua insegurança quanto à sua própria fé: “Os apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta
a nossa fé!»” (v. 5).
É a
experiência de todo(a) discípulo(a). Acreditamos em Jesus, queremos seguir a
sua pessoa e o seu projecto, mas a vida encarrega-se de nos demonstrar como é
fraca a nossa fé: quantas caídas, traições, incoerências, recaídas! O único
recurso é pedir este dom gratuito de Deus, que ninguém pode merecer, que é a fé
inabalável. Do fundo do nosso ser gritamos com os Doze: “Aumenta a nossa fé!”
Com a
hipérbole (exagero) típica do oriental, Jesus realça tanto a necessidade da fé
quanto a sua força, através das imagens do grão de mostarda (semente bem
pequena), e da amoreira (árvore mais ou menos grande): “Se tivésseis fé como um
grão de mostarda, diríeis a essa amoreira: 'Arranca-te daí e planta-te no mar',
e ela havia de obedecer-vos” (v. 6).
Na segunda
parte do nosso texto (vers. 7-10), Lucas descreve a atitude que o homem deve
assumir diante de Deus. Os fariseus estavam convencidos de que bastava cumprir
os mandamentos da Torah para alcançar a salvação: se o homem cumprisse as regras,
Deus não teria outro remédio senão salvá-lo. A salvação dependia, de acordo com
esta perspectiva, dos méritos do homem. Deus seria, assim, apenas um
contabilista, empenhado em fazer contas para ver se o homem tinha ou não
direito à salvação.
Jesus coloca
as coisas numa dimensão diferente. A atitude do discípulo – desse discípulo que
adere a Jesus e ao “Reino”, que faz as “obras do Reino” e que constrói o
“Reino” – frente a Deus não deve ser a atitude de quem sente que fez tudo muito
bem feito e que, por isso, Deus lhe deve algo; mas deve ser a atitude de quem
cumpre o seu papel com humildade, sentindo-se um servo que apenas fez o que lhe
competia. O que Jesus nos pede no Evangelho de hoje é que percorramos, com
coragem e empenho, o “caminho do Reino”. Quando o discípulo aceita percorrer
esse caminho, é capaz de operar coisas espantosas, milagres que transformam o
mundo. E, cumprida a sua missão, resta ao discípulo sentir-se servo humilde de
Deus, agradecer-Lhe pelos seus dons, entregar-se confiada e humildemente nas
suas mãos.
Orar a partir
da dúvida
No crente
podem surgir dúvidas sobre um ou outro ponto da mensagem cristã. A pessoa
pergunta-se como deve entender uma determinada afirmação bíblica ou um aspecto
concreto do dogma cristão. São questões que estão a pedir um maior e melhor
esclarecimento.
Porém, há
pessoas que experimentam uma dúvida mais radical, que afecta a totalidade. De
um lado, sentem que não podem ou não devem abandonar a sua religião, porém, por
outro lado, não são capazes de pronunciar, com sinceridade, esse “sim” total
que implica a fé.
Aquele que se
encontra neste estado costuma experimentar, geralmente, um mal-estar interior
que lhe impede de abordar a sua situação de modo pacífico e sereno. Pode
sentir-se, também, culpado. O que me aconteceu para eu chegar a isto? Que posso
fazer nestes momentos? Talvez, a primeira atitude, seja abordar de modo
positivo esta situação diante de Deus.
A dúvida
faz-nos experimentar que não somos capazes de “possuir” a verdade. Nenhum ser
humano “possui” a verdade última de Deus. Aqui não servem as certezas que
usamos noutras dimensões da vida. Diante do mistério último da existência,
temos de caminhar com humildade e sinceridade.
A dúvida, por
outro lado, testa a minha liberdade. Ninguém pode responder em meu lugar. Sou
eu que me encontro enfrentando a minha própria liberdade e sou eu que tenho de
pronunciar um “sim” ou um “não”.
Por isso, a
dúvida pode ser a melhor alavanca para nos despertar de uma fé infantil e
superar um cristianismo convencional. Em primeiro lugar, não se trata de
encontrar respostas às minhas interrogações concretas, mas perguntar-me que
orientação quero dar à minha vida. Desejo, realmente, encontrar a verdade?
Estou disposto a deixar-me interpelar pela verdade do Evangelho? Prefiro viver
sem buscar verdade alguma?
A fé brota do
coração sincero que se detém a escutar Deus. O importante é ver se o nosso
coração procura Deus ou o evita. Apesar de todo o tipo de interrogações e
incertezas, se procuramos Deus, de verdade, sempre podemos dizer a partir do
fundo do nosso coração a oração dos discípulos: “Senhor, aumenta-nos a fé”.
Aquele que reza assim, já é crente!
Palavra para o
caminho
Conta o Papa:
“Numa das saídas que tive, aqui em Roma, por ocasião de uma Missa, aproximou-se
um senhor, relativamente jovem, e disse-me: «Padre, prazer em conhecê-lo; mas
eu não acredito em nada! Não tenho o dom da fé! Que me recomenda o senhor?»
«Não desanimes! Deus ama-te. Deixa-te olhar por Ele. E basta»”.