Roteiro Homilético 2: Dehonianos de Portugal
(http://www.dehonianos.org/)
Tema do 27º
Domingo do Tempo Comum
Na Palavra de
Deus que hoje nos é proposta, cruzam-se vários temas (a fé, a salvação, a
radicalidade do “caminho do Reino”, etc.); mas sobressai a reflexão sobre a
atitude correcta que o homem deve assumir face a Deus. As leituras convidam-nos
a reconhecer, com humildade, a nossa pequenez e finitude, a comprometer-nos com
o “Reino” sem cálculos nem exigências, a acolher com gratidão os dons de Deus e
a entregar-nos confiantes nas suas mãos.
Na primeira
leitura, o profeta Habacuc interpela Deus, convoca-o para intervir no mundo e
para pôr fim à violência, à injustiça, ao pecado… Deus, em resposta, confirma a
sua intenção de actuar no mundo, no sentido de destruir a morte e a opressão;
mas dá a entender que só o fará quando for o momento oportuno, de acordo com o
seu projecto; ao homem, resta confiar e esperar pacientemente o “tempo de
Deus”.
O Evangelho
convida os discípulos a aderir, com coragem e radicalidade, a esse projecto de
vida que, em Jesus, Deus veio oferecer ao homem… A essa adesão chama-se “fé”; e
dela depende a instauração do “Reino” no mundo. Os discípulos, comprometidos
com a construção do “Reino” devem, no entanto, ter consciência de que não agem
por si próprios; eles são, apenas, instrumentos através dos quais Deus realiza
a salvação. Resta-lhes cumprir o seu papel com humildade e gratuidade, como
“servos que apenas fizeram o que deviam fazer”.
A segunda
leitura convida os discípulos a renovar cada dia o seu compromisso com Jesus
Cristo e com o “Reino”. De forma especial, o autor exorta os animadores
cristãos a que conduzam com fortaleza, com equilíbrio e com amor as comunidades
que lhes foram confiadas e a que defendam sempre a verdade do Evangelho.
LEITURA I –
Hab 1,2-3; 2,2-4
Leitura da
Profecia de Habacuc
«Até quando,
Senhor, chamarei por Vós
e não Me
ouvis?
Até quando
clamarei contra a violência
e não me
enviais a salvação?
Porque me
deixais ver a iniquidade
e contemplar a
injustiça?
Diante de mim
está a opressão e a violência,
levantam-se
contendas e reina a discórdia?»
O Senhor
respondeu-me:
«Põe por
escrito esta visão
e grava-as em
tábuas com toda a clareza,
de modo que a
possam ler facilmente.
Embora esta
visão só se realize na devida altura,
ela há-de
cumprir-se com certeza e não falhará.
Se parece
demorar, deves esperá-la,
porque ela
há-de vir e não tardará.
Vede como
sucumbe aquele que não tem alma recta;
mas o justo
viverá pela sua fidelidade».
AMBIENTE
Sobre a vida e
a personalidade de Habacuc, não sabemos nada: o título do livro não indica o
lugar do nascimento do profeta, nem o tempo histórico em que o profeta viveu. A
menção dos “caldeus” (Hab 1,6) parece situar a proclamação de Habacuc na época
em que os babilónios, depois de desmembrarem o império assírio, procuravam
impor o seu domínio aos povos de Canaan. Estaríamos, pois, nos finais do séc.
VII a.C.…
O rei de Judá
é, nesta altura, Joaquim (609-598
a .C.). Trata-se de um rei fraco, incompetente, que
explora o povo, que deixa aumentar as injustiças e cavar um fosso cada vez
maior entre ricos e pobres; além disso, o rei desenvolve uma política
aventureirista de alianças com as super-potências da época… Apesar das
simpatias pró-egípcias de Joaquim, Judá sente já o peso do imperialismo
babilónio e vê-se obrigado a pagar um pesado tributo a Nabucodonosor.
Prepara-se a queda de Jerusalém nas mãos dos babilónios, a morte de Joaquim, a
deportação do seu filho e sucessor Joaquin (que reinou apenas três meses – cf.
2 Re 24,8) e a partida para o exílio de uma parte significativa da classe
dirigente de Judá (primeira deportação: 597 a .C.).
MENSAGEM
O nosso texto
começa por expor a queixa do profeta: “até quando, Senhor, clamarei sem que me
escutes? Até quando gritarei ‘violência’, sem que me salves?” (Hab 1,2)…
Habacuc grita a sua impaciência (e a impaciência do seu Povo), questionando a
atitude complacente de Deus para com o pecado; ele não compreende que Deus
contemple, impassível, as lutas e contendas do seu tempo… Habacuc sente-se
interpelado pelo que o rodeia e não concebe que Deus (esse mesmo Deus que Se
manifestou como libertador e salvador na história do Povo e que Se proclama
fiel aos compromissos que assumiu para com os homens) não ponha fim a tantas
grosseiras violações do seu projecto para o mundo. O profeta não se limita a
escutar a Palavra de Jahwéh e a transmiti-la; mas ele próprio toma a
iniciativa, pergunta a Deus, exige respostas. E, como uma sentinela vigilante,
o profeta fica à espera que Deus Se justifique (cf. Hab 2,1).
Finalmente,
Deus digna-Se responder. A mensagem é de esperança, pois a resposta de Deus
deixa claro que Ele não fica indiferente diante do mal que desfeia o mundo e
que o momento da vingança divina está para chegar; ao homem, resta esperar com
paciência o tempo da acção de Deus (cf. Hab 2,2-5): nessa altura, o orgulhoso e
o prepotente receberão o castigo e o justo triunfará.
Em conclusão:
diante da injustiça e da opressão, Jahwéh parece, muitas vezes, indiferente e
ausente; mas, de acordo com o seu plano (que o homem não conhece em pormenor),
Ele encontrará o momento ideal para intervir, para castigar o imperialismo, o
orgulho, a injustiça e a opressão.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão e
partilha podem fazer-se de acordo com as seguintes linhas:
¨ Com
frequência encontramos pessoas que nos questionam acerca da relação entre Deus,
a sua justiça e a situação do mundo: se Deus existe, como é que Ele pode
pactuar com a injustiça e a opressão? Se Deus existe, porque é que há crianças
a morrer de cancro ou de fome? Se Deus existe, porque é que os bons sofrem e os
maus são compensados com glória, honras e triunfos? Se Deus existe, porquê o
sofrimento inocente? Estas são as questões que, hoje, mais obstaculizam a
crença em Deus… A nossa resposta tem de ser o reconhecimento humilde de que os
projectos de Deus ultrapassam infinitamente a nossa pequenez e finitude e que
nós nunca conseguiremos explicar e abarcar os esquemas de Deus…
¨ Sobretudo,
importa perceber que os caminhos de Deus não são iguais aos nossos. Deus tem o
seu próprio ritmo; e o ritmo de Deus não é o ritmo da nossa impaciência, da
nossa correria, do nosso egoísmo, dos nossos interesses… Do ponto de vista de
Deus, as coisas integram-se num “todo” que nós, na nossa pequenez, não podemos
abarcar. Resta-nos respeitar – mesmo sem entender – o ritmo de Deus.
¨ Além disso,
precisamos de aprende
r a confiar em
Deus, a entregarmo-nos nas suas mãos, a sentir que Ele é um Pai que nos ama e
que, aconteça o que acontecer, está a escrever a história por caminhos direitos
(embora os caminhos pelos quais Deus conduz o mundo nos pareçam, tantas vezes,
estranhos, misteriosos, enigmáticos, incompreensíveis). Há que confiar na
bondade e na magnanimidade desse Deus que nos ama como filhos e que tudo fará,
sempre, para nos oferecer vida e felicidade.
¨ Mesmo sem
entender, a nossa missão é continuar a dar testemunho… Deus chama-nos a
denunciar tudo o que impede a realização plena do projecto de felicidade que
Ele tem para o homem (a injustiça, a violência, a repressão, o egoísmo, o
medo…); mas quanto ao tempo exacto e aos moldes da intervenção salvadora e
libertadora de Deus no mundo e na história pessoal de cada homem ou mulher,
isso só a Deus diz respeito.
SALMO
RESPONSORIAL – Salmo 94 (95)
Refrão: Se
hoje ouvirdes a voz do Senhor,
não fecheis os
vossos corações.
Vinde,
exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos a
Deus, nosso Salvador.
Vamos à sua
presença e dêmos graças,
ao som de
cânticos aclamemos o Senhor.
Vinde,
prostremo-nos em terra,
adoremos o
Senhor que nos criou.
O Senhor é o
nosso Deus
e nós o seu
povo, as ovelhas do seu rebanho.
Quem dera
ouvísseis hoje a sua voz:
«Não
endureçais os vossos corações,
como em
Meriba, como no dia de Massa no deserto,
onde vossos
pais Me tentaram e provocaram,
apesar de
terem visto as minhas obras».
LEITURA II – 2
Tim 1,6-8.13-14
Leitura da
Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo
Caríssimo:
Exorto-te a
que reanimes o dom de Deus
que recebeste pela
imposição das minhas mãos.
Deus não nos
deu um espírito de timidez,
mas de
fortaleza, de caridade e moderação.
Não te
envergonhes de dar testemunho de Nosso Senhor,
nem te
envergonhes de mim, seu prisioneiro.
Mas sofre
comigo pelo Evangelho,
confiando no
poder de Deus.
Toma como
norma as sãs palavras que me ouviste,
segundo a fé e
a caridade que temos em Jesus Cristo.
Guarda a boa
doutrina que nos foi confiada,
com o auxílio
do Espírito Santo, que habita em nós.
AMBIENTE
A Segunda
Carta a Timóteo contém, como a primeira, conselhos pastorais de Paulo para o
seu grande colaborador e sucessor na animação das Igrejas da Ásia: esse Timóteo
que acompanhou Paulo nas suas viagens missionárias e que, segundo a tradição,
foi bispo de Éfeso.
Também aqui, é
muito duvidoso que seja Paulo o autor deste texto. Os argumentos são os mesmos
que vimos, a propósito da Primeira Carta a Timóteo: linguagem diferente da
utilizada habitualmente por Paulo, estilo diferente, doutrinas diferentes e,
sobretudo, um contexto eclesial que nos situa mais no final do séc. I ou
princípios do séc. II do que na época de Paulo (o grande problema destas cartas
já não é o anunciar o Evangelho, mas o “conservar a fé”, frente aos falsos
mestres que se infiltram nas comunidades e que ensinam falsas doutrinas).
De qualquer
forma, quem escreve a carta (e que se apresenta na pele de Paulo) diz
encontrar-se na prisão e pressentir a proximidade da morte. Exorta
insistentemente Timóteo a perseverar no ministério e a conservar a sã doutrina.
É uma espécie de “testamento”, no qual Timóteo (que aqui representa todos os
animadores das comunidades cristãs) é convidado a manter-se fiel ao ministério
e à doutrina recebidos dos apóstolos.
MENSAGEM
O autor da
carta começa por exortar Timóteo (e os animadores das comunidades cristãs, em
geral) a que reanime o carisma que recebeu quando Paulo e o colégio dos anciãos
lhe impuseram as mãos, consagrando-o para o ministério apostólico (vers. 6-8).
É um pedido lógico: mesmo que a opção de doar a vida a Deus e aos irmãos já
tenha sido tomada, essa decisão fundamental necessita, cada dia, de ser
aprofundada e confirmada… As desilusões, os fracassos, a monotonia, a
fragilidade humana arrefecem o entusiasmo original; e é necessário, a cada
instante, redescobrir o sentido das opções fundamentais que, um dia, o
discípulo fez. Na sequência, são recordadas a Timóteo três das qualidades
fundamentais que devem estar sempre presentes no apóstolo: a fortaleza frente
às dificuldades, o amor que o impulsionará para uma entrega total a Cristo e
aos homens e a prudência (ou moderação) necessária para a animação e orientação
da comunidade.
Na segunda
parte do texto que nos é proposto (vers. 13-14), Timóteo é exortado a
conservar-se fiel à sã doutrina recebida de Paulo. Estamos – como já dissemos
atrás – numa época em que as heresias começam a infiltrar-se na comunidade
cristã e a confundir os cristãos. O animador da comunidade tem o dever de
ensinar a doutrina verdadeira e de defender a comunidade de tudo aquilo que a
afasta da verdade do Evangelho de Jesus, fielmente transmitido pelo testemunho
apostólico.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão e
partilha podem partir dos seguintes dados:
¨ A
interpelação do autor da Segunda Carta a Timóteo dirige-se, antes de mais, a
todos aqueles que um dia aceitaram o Baptismo e optaram por Cristo… Na verdade,
o mundo que nos rodeia apresenta imensos desafios que, muitas vezes, nos
desmobilizam do serviço do Evangelho e dos valores de Jesus. É por isso que é
preciso redescobrir os fundamentos do nosso compromisso. Quais são os
interesses que influenciam a minha vida e que condicionam as minhas opções: os
meus gostos pessoais, as indicações da moda, as sugestões da sociedade, ou as
exigências e os valores do Evangelho de Jesus?
¨ Como é que
eu revitalizo, dia a dia, o meu compromisso com Cristo e com os irmãos? Há
muitos caminhos para aí chegar… Mas a comunhão com Deus, a oração, a escuta e
partilha da Palavra de Deus, os sacramentos são formas privilegiadas para
redescobrir o sentido das minhas opções e do meu compromisso com Deus. Isto faz
sentido, para mim? É este o caminho que venho procurando seguir? Mantenho com
Deus esse diálogo necessário?
¨ O nosso
texto interpela de forma directa os animadores das comunidades cristãs.
Convida-os a redescobrir, cada dia, esse entusiasmo que lhes enchia o coração
no dia em que optaram pela entrega da própria vida a Cristo e aos irmãos.
Convida-os a despirem-se da preguiça, da inércia, do comodismo e a fazerem da
sua vida, em cada dia, um dom corajoso ao “Reino”. É isso que acontece comigo?
Sou forte, corajoso, sem medo, quando se trata de vencer as dificuldades que me
impedem de me dar a Cristo e aos outros? O que me impulsiona é o amor, ou são
interesses próprios e egoístas? Sou uma pessoa moderada e de bom senso, que não
trata os irmãos da comunidade de forma
agressiva e
prepotente?
¨ No texto há,
ainda, um convite a conservar a doutrina verdadeira… O que é que isto
significa: um conservar inalteradas as fórmulas e os ritos, ou um redescobrir
cada dia o essencial, adaptando-o sempre às novas realidades e aos novos
desafios que o mundo põe? Como é que sabemos se estamos em consonância com a
proposta de Jesus?
ALELUIA – 1
Pedro 1,25
Aleluia.
Aleluia
A palavra do
Senhor permanece eternamente.
Esta é a
palavra que vos foi anunciada.
EVANGEHO –
LUCAS 17,5-10
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
os Apóstolos
disseram ao Senhor:
«Aumenta a
nossa fé».
O Senhor
respondeu:
«Se tivésseis
fé como um grão de mostarda,
diríeis a esta
amoreira:
‘Arranca-te
daí e vai plantar-te no mar’,
e ela
obedecer-vos-ia.
Quem de vós,
tendo um servo a lavrar ou a guardar gado,
lhe dirá
quando ele volta do campo:
‘Vem depressa
sentar-te à mesa’?
Não lhe dirá
antes:
‘Prepara-me o
jantar e cinge-te para me servires,
até que eu
tenha comido e bebido.
Depois comerás
e beberás tu.
Terá de
agradecer ao servo por lhe ter feito o que mandou?
Assim também
vós,
quando
tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei:
‘Somos inúteis
servos:
fizemos o que
devíamos fazer’».
AMBIENTE
Continuamos a
percorrer o “caminho de Jerusalém” e a deparar com as “lições” que preparam os
discípulos para o desafio de compreender e de dar testemunho do “Reino”. Desta
vez, o nosso texto junta um “dito” de Jesus sobre a fé e uma parábola que
convida à humildade.
Nas “etapas”
anteriores, Jesus tinha avisado os discípulos da dificuldade de percorrer o
“caminho do Reino” (disse-lhes que entrar no “Reino” é “entrar pela porta
estreita” – Lc 13,24; convidou-os à humildade e à gratuidade – cf. Lc 14,7-14;
avisou-os de que é preciso amar mais o “Reino” do que a própria família, os
próprios interesses ou os próprios bens – cf. Lc 14,26-33; exigiu-lhes o perdão
como atitude permanente – cf. Lc 17,5-6); agora, são os discípulos que,
preocupados com a exigência do “Reino”, pedem mais “fé”.
O “dito” sobre
a fé que ocupa a primeira parte do Evangelho que hoje nos é proposto aparece
numa forma um pouco diferente em Mt 17,20 (um “dito” análogo lê-se também em Mc
11,23 e Mt 21,21, a propósito da figueira seca). No estado actual do texto, é
muito difícil definir o contexto original do “dito” de Jesus, o seu
enquadramento e o seu significado… Aqui, no entanto, ele serve a Lucas para
manifestar a preocupação dos discípulos com a dificuldade em percorrer esse
difícil “caminho do Reino”.
MENSAGEM
A primeira
parte do nosso texto é, portanto, constituída por um “dito” sobre a fé (vers.
5-6). Depois das exigências que Jesus apresentou, quanto ao caminho que os
discípulos devem percorrer para alcançar o “Reino”, a resposta lógica destes só
pode ser: “aumenta-nos a fé”. O que é que a fé tem a ver com a exigência do
“Reino”?
No Novo
Testamento em geral e nos sinópticos em particular, a fé não é,
primordialmente, a adesão a dogmas ou a um conjunto de verdades abstractas
sobre Deus; mas é a adesão a Jesus, à sua proposta, ao seu projecto – ou seja,
ao projecto do “Reino”. No entanto, os discípulos têm consciência de que essa
adesão não é um caminho cómodo e fácil, pois supõe um compromisso radical, a
vitória sobre a própria fragilidade, a coragem de abandonar o comodismo e o
egoísmo para seguir um caminho de exigência… Pedir a Jesus que lhes aumente a
fé significa, portanto, pedir-Lhe que lhes aumente a coragem de optar pelo
“Reino” e pela exigência que o “Reino” comporta; significa pedir que lhes dê a
decisão para aderirem incondicionalmente à proposta de vida que Jesus lhes veio
apresentar.
Jesus
aproveita, na sequência, para recordar aos discípulos o resultado da “fé”. A
imagem utilizada por Jesus (a ordem dada à “amoreira” para se arrancar da terra
e ir plantar-se a ela própria no mar) mostra que, com a “fé” tudo é possível:
quando se adere a Jesus e ao “Reino” com coragem e determinação, isso implica
uma transformação completa da pessoa do discípulo e, em consequência, uma
transformação do mundo que o rodeia. Aderir ao “Reino” com radicalidade é ter
na mão a chave para mudar a história, mesmo que essa transformação pareça
impossível… O discípulo que adere ao “Reino” com coragem e determinação é capaz
de autênticos “milagres”… E isto não é conversa fiada: quantas vezes a
tenacidade e a coragem dos discípulos de Jesus transformam a morte em vida, o
desespero em esperança, a escravidão em liberdade!
Na segunda
parte do nosso texto (vers. 7-10), Lucas descreve a atitude que o homem deve
assumir diante de Deus. Os fariseus estavam convencidos de que bastava cumprir
os mandamentos da Torah para alcançar a salvação: se o homem cumprisse as
regras, Deus não teria outro remédio senão salvá-lo… A salvação dependia, de
acordo com esta perspectiva, dos méritos do homem. Deus seria, assim, apenas um
contabilista, empenhado em fazer contas para ver se o homem tinha ou não
direito à salvação…
Jesus coloca
as coisas numa dimensão diferente. A atitude do discípulo – desse discípulo que
adere a Jesus e ao “Reino”, que faz as “obras do Reino” e que constrói o
“Reino” – frente a Deus não deve ser a atitude de quem sente que fez tudo muito
bem feito e que, por isso, Deus lhe deve algo; mas deve ser a atitude de quem
cumpre o seu papel com humildade, sentindo-se um servo que apenas fez o que lhe
competia.
O que Jesus
nos pede no Evangelho de hoje é que percorramos, com coragem e empenho, o
“caminho do Reino”. Quando o discípulo aceita percorrer esse caminho, é capaz
de operar coisas espantosas, milagres que transformam o mundo… E, cumprida a
sua missão, resta ao discípulo sentir-se servo humilde de Deus, agradecer-Lhe
pelos seus dons, entregar-se confiada e humildemente nas suas mãos.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão
pode fazer-se a partir das seguintes coordenadas:
¨ A “fé” é,
antes de mais, a adesão à pessoa de Jesus Cristo e ao seu projecto. Posso
dizer, de facto, que é a “fé” que conduz e que anima a minha vida? Jesus é o
eixo central à volta do qual se constrói a minha existência? É Jesus que marca
o ritmo e a cor das minhas opç&
otilde;es e
dos meus projectos?
¨ O “Reino” é
uma realidade sempre “a fazer-se”; mas apresentam-se, com frequência, situações
de injustiça, de violência, de egoísmo, de sofrimento, de morte, que impedem a
concretização do “Reino”. Como é que eu – homem ou mulher de fé – ajo, nessas
circunstâncias? A minha “fé” em Jesus conduz-me a um empenho concreto pelo
“Reino” e entusiasma-me a lutar contra tudo o que impede a concretização do
“Reino”? A minha “fé” nota-se nos meus gestos? Há algo de novo à minha volta pelo
facto de eu ter aderido a Jesus e pelo facto de eu estar a percorrer o “caminho
do Reino”? Quais são os “milagres” que a minha “fé” pode fazer?
¨ Nós, homens,
somos, com frequência, muito ciosos dos nossos direitos, dos nossos créditos,
daquilo que nos devem pelas nossas boas acções. Quando transportamos isto para
a relação com Deus, construímos um deus que não é mais do que um contabilista,
que escreve nos seus livros os nossos créditos e os nossos débitos, a fim de
nos pagar religiosamente, de acordo com os nossos merecimentos… Na realidade –
diz-nos o Evangelho de hoje – não podemos exigir nada de Deus: existimos para
cumprir, humildemente, o papel que Ele nos confia, para acolher os seus dons e
para O louvar pelo seu amor. É nesta atitude que o discípulo de Jesus deve
estar sempre.
¨ De certas
pessoas diz-se que “não dão ponto sem nó”, para descrever o seu egoísmo e as
suas atitudes interesseiras. Porque é que fazemos as coisas? O que é que motiva
as nossas acções e gestos: o amor desinteressado, ou o interesse pela
retribuição?
ALGUMAS
SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 27º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de
“Signes d’aujourd’hui”)
Ao longo dos
dias da semana anterior ao 27º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra
de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por
exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num
grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa
comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a
Palavra de Deus.
2. PALAVRA
CELEBRADA NA EUCARISTIA.
A Palavra de
Deus não se limita ao tempo da proclamação e da escuta da Palavra. Na
preparação da celebração, pode-se prever que algumas expressões da liturgia da
Palavra estejam presentes no momento penitencial, nalguma intenção da oração
dos fiéis, num momento de acção de graças…
3. BILHETE DE
EVANGELHO.
O pedido
“aumenta a nossa fé” que os Apóstolos fazem a Jesus é uma bela oração também para
nós. No Evangelho de Mateus, diz-se que, no momento da partida de Jesus,
“alguns tiveram dúvidas”, enquanto Jesus lhes assegura que estará com eles
todos os dias até ao fim dos tempos. Isto quer dizer que a fé não é da ordem da
evidência, mas do crescimento: não somos crentes uma vez por todas, tornamo-nos
crentes. E esta fé, precisa Jesus, manifesta-se humildemente, porque a
confiança não suporta grandes declarações, verifica-se no quotidiano e nas
pequenas coisas, pode mesmo operar grandes coisas, porque Deus Se deixa tocar
pela confiança que n’Ele depositamos. Deus deixa-Se tocar pela humildade do
servo, pois tal é a única e verdadeira atitude que espera daqueles que põem
n’Ele a sua confiança. O servo não procura, então, a glória, mas somente a alegria
de ter feito o seu dever.
4. À ESCUTA DA
PALAVRA.
“Aumenta a
nossa fé!” Jesus já tinha ouvido uma súplica semelhante, quando o pai da
criança epiléptica lhe havia suplicado: “Vem em ajuda da minha pouca fé!” A
resposta de Jesus é surpreendente, até provocadora, sem dúvida: “Se tivésseis
fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘arranca-te daí e vai
plantar-te no mar’, e ela obedecer-vos-ia”. A sua resposta, na realidade,
força-nos a ir para além do imediato e do sensacional. A fé é já um caminho
humano. Quando duas pessoas se amam, sabem muito bem que o seu amor não se pode
demonstrar cientificamente. O amor descobre-se como um dom gratuito, mas
constrói-se na confiança. Posso dizer àquele ou àquela que amo “eu sei que te
amo”, porque sei o que vibra dentro de mim. Mas ao mesmo tempo não posso
dizer-lhe “creio que tu me amas”, porque não estou na pele do outro. O amor
implica, pois, um salto num certo desconhecido que, no plano das relações
humanas, pode, sem dúvida, apoiar-se nas provas “tangíveis”, mas que são
fracas. Quando se trata da nossa relação com Deus, a fé é, sem dúvida, mais
difícil, porque não tem, ou tem muito pouco, suporte “afectivo”. Mas o
“princípio”, finalmente, é o mesmo. Sou convidado a ter confiança na Palavra de
Deus, que se exprimiu plenamente em Jesus e foi transmitida pelos seus
primeiros discípulos. Jesus dá-lhes como missão serem suas testemunhas
autorizadas. Posso, sem dúvida, pôr em causa o seu testemunho, não aderir a
Ele, exigindo provas convincentes. Mas posso igualmente comprometer-me noutro
caminho, da relação amorosa com Jesus. A fé só se pode viver numa relação de
amor que nos faz ver para lá das aparências, porque os homens vêem com os
olhos, mas Deus vê com o coração. “Sim, Jesus, aumenta em mim a fé, para que eu
possa amar-Te sempre cada vez mais”.
5. ORAÇÃO
EUCARÍSTICA.
Pode-se
escolher a oração eucarística para as circunstâncias especiais V-C, pela sua
insistência em Cristo “Verbo, mediador” e no Evangelho de que devemos ser
servidores.
6. PALAVRA
PARA O CAMINHO…
Levar a
Palavra de Deus como luz para mais uma semana de trabalho, de estudo… Ao longo
dos dias da semana que se segue, procurar rezar e meditar algumas frases da
Palavra de Deus: «Senhor, aumenta a nossa fé!»; «Não te envergonhes de dar
testemunho de Nosso Senhor…»; «Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os
vossos corações»; «Exultemos de alegria no Senhor!». Procurar transformá-las em
atitudes e em gestos de verdadeiro encontro com Deus e com os próximos que
formos encontrando nos caminhos percorridos da vida…
UNIDOS PELA
PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR,
PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo
Dinamizador:
P. Joaquim
Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província
Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de
Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900
– Fax: 218540909
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– www.dehonianos.org