Roteiro Homilético 9: Padre Françoá Costa
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Tesouro da fé
Há poucas
palavras de apenas duas letras que contenham tanta densidade como essa: Fé. Os
apóstolos, ao compreender algo dessa realidade, pediram ao Senhor: “aumenta-nos
a fé!” (Lc 17,5). O Catecismo da Igreja Católica diz que a fé é uma resposta a
Deus (cfr. Cat. 26). Trata-se de uma resposta afirmativa: dizemos “sim” ao seu
plano de salvação e começamos a viver de fé (cfr. Rm 1,17). Toda a Igreja vive
de fé e o Catecismo o expressa na sua estrutura: na primeira parte trata a fé
professada: o Credo; na segunda, a fé celebrada: a liturgia; na terceira, a fé
vivida: a moral católica; a quarta e última, a fé interiorizada na oração
cristã, cujo resumo se encontra no Pai-nosso.
Pelo menos,
desde S. Agostinho, é comum falar de três aspectos da fé. O primeiro deles é o
subjetivo (credere in Deum), a entrega pessoal a Deus que cada um faz ao
acreditar nele e nas suas promessas. Não se trata de ter fé como se tem um
carro ou uma casa. Não! A fé impregna toda a nossa existência e, a partir do
encontro com Deus, nós, fiéis de Cristo, não podemos explicar a nós mesmos sem
a fé. Crer em Deus marca um antes e um depois na nossa vida: as nossas relações
familiares, laborais, sociais, econômicas, políticas, etc., recebem um novo
sentido, uma nova visão; simplesmente, vemos à maneira de Deus. Nós, crentes em
Deus, não podemos permitir uma espécie de divórcio entre a fé e a vida, entre
as convicções religiosas e as científicas, entre a maneira de atuar na presença
de Deus e a de atuar, por exemplo, na política. Nós, os filhos de Deus, vivemos
a unidade de vida. Cremos em Deus e lutamos pelo bem da humanidade e de cada
pessoa que temos ao nosso lado, conscientes de que podemos e devemos oferecer
aos nossos amigos o nosso tesouro, o que mais vale: a fé em Deus, a amizade com
Cristo, o sentido para a vida e… para a morte.
O segundo
aspecto da fé é o objetivo (Credere Deum). Qual é o objeto da nossa fé?
“Corramos com perseverança ao combate proposto, com o olhar fixo no autor e
consumador de nossa fé, Jesus” (Hb 12,1). Como é importante manter o olhar fixo
naquele que é fonte e meta, o único Salvador e Senhor do gênero humano: Jesus
Cristo! Cremos em Deus, mas esse único Deus é três Pessoas: Pai e Filho e
Espírito Santo. Cremos que Deus fez-se homem para a nossa salvação: o Filho
único do Pai eterno fez-se carne, pela ação do Espírito Santo, nas entranhas
puríssimas da Virgem Maria. A nova criação é a humanidade de Jesus e todos os
que querem fazer parte dessa nova realidade têm que entrar em Cristo. Não
podemos sequer ofuscar as verdades da nossa fé. São Paulo era tão consciente
disso que deixou escrito que “ainda que alguém – nós ou um anjo baixado do céu
– vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele
seja anátema” (Gl 1,8).
Além do mais,
ainda que sejamos compreensivos com aqueles que nunca creram, que são ateus,
não podemos deixar de sentir um grande pesar por essas pessoas e pedir para
elas o dom da fé. Em 1942 fundou-se em Inglaterra o Clube Socrático da
Universidade de Oxford. Lewis, famoso literata, era o presidente do Clube. Em
determinado momento um conferencista relativista terminava a sua intervenção
afirmando: “O mundo não existe, Inglaterra não existe, Oxford não existe e
estou seguro de que eu não existo!” Lewis, que era um mestre em respostas
rápidas, disse-lhe: “E como vou dirigir-me a um homem que não está aqui?” O
absurdo é ridículo! De fato, a Sagrada Escritura chega a afirmar que quem não
acredita em Deus é insensato, isto é, falta-lhe o bom senso (cfr. Sl 13,1).
O terceiro
aspecto é o motivo pelo qual cremos: a autoridade de Deus que se revela (Credere
Deo). Não acreditamos porque estudamos muito ou temos muitos argumentos
racionais, nem mesmo porque nos sentimos bem, nem muito menos porque a família
sempre foi católica. Esses motivos são insuficientes. Cremos por Jesus Cristo
nosso Senhor! O Amém da nossa fé está fundado em Deus que não se engana, nem
pode enganar-se. A certeza da fé é mais segura que qualquer certeza científica.
É interessante como algumas verdades científicas, certas noutros tempos, foram
já totalmente descartadas. A ciência progride continuamente, Jesus Cristo, ao
contrário, “é sempre o mesmo: ontem, hoje e por toda a eternidade” (Hb 13,8). É
verdade, pode crescer a nossa compreensão do mistério de Cristo, mas ele é
sempre o mesmo.
Os apóstolos
realmente souberam apreciar o grande dom da fé e por isso não somente pedem-no,
mas suplicam um aumento desse dom. Fé! Fé! Fé! Peçamos insistentemente ao
Senhor que aumente a nossa fé e não descuidemos esse tesouro, por exemplo,
lendo coisas perigosas, cheias de falácias; não nos deixemos levar da malsã
curiosidade em escutar teorias de supostos teólogos que – em lugar de servir à
fé e explicá-la – minam os seus fundamentos e arrancam as raízes da salvação do
coração das pessoas. Atentar contra a fé dos outros, máxime quando se trata de pessoas
simples, é uma impiedade tão grande que Jesus advertiu utilizando uma expressão
que soa dura aos nossos ouvidos: “se alguém fizer cair em pecado um desses
pequenos que crêem em mim, melhor seria que lhe atassem ao pescoço a mó de um
moinho e o lançassem no fundo do mar” (Mt 18,6).
Pe. Françoá
Costa