28º domingo do tempo comum, Ano C 11

Roteiro Homilético 11: Pe. Franclim Pacheco Diocese de Aveiro
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Breve comentário
            O texto começa, uma vez mais, com a menção da viagem para Jerusalém para onde Jesus dirige o seu caminho como cume da sua missão. Porém, nesta viagem, de modo paradoxal, a Samaria é citada antes da Galileia, enquanto no percurso, de norte para sul, para a cidade de Jerusalém acontece o contrário.  Evidentemente a Lucas não interessa o percurso geográfico, mas situar a narração num lugar em que era possível a presença de judeus e samaritanos. É óbvia a ligação deste texto à cura do sírio Naaman, também ele leproso, da parte do profeta Eliseu que viveu no séc. IX a.C. precisamente na zona da Samaria.
            A cena passa-se entre a Galileia e a Samaria, zona que pertenceu ao antigo Reino do Norte, depois da divisão, em 931 a.C., onde viveram dez tribos politicamente separadas das duas tribos do sul. Com o decorrer dos tempos, após a invasão assíria, no ano 722, foram deslocados para esta zona outros povos que se misturaram com os poucos que ficaram. Por isso, o sentido de 10 leprosos, significando todo o povo daquela região…
            A lepra, sinal de pecado grave que ela na altura representava, juntou dez homens, marginalizando-os a todos, sem distinção de origem, de comunidade e de culto. Estão proibidos pela Lei de se aproximarem dos homens ou de Deus, vivendo fora das localidades. Mas o seu grito chega a Jesus. Em vez de gritarem: «impuro, impuro!», conforme a lei, imploram: «Jesus, Mestre, tem piedade de nós!», numa expressão que soa muito a oração à maneira dos salmos em que a invocação «tem piedade!» é dirigida a Deus.
            A misericórdia de Jesus não faz distinção entre estes homens. Todos aqueles que imploraram a sua piedade foram purificados, porque todos obedeceram à sua ordem de irem constatar a sua cura junto dos sacerdotes, segundo as prescrições da Lei.
            Todos os dez leprosos acreditam na palavra de Jesus e, ainda antes de se curarem, vão apresentar-se aos sacerdotes. É no caminho que são purificados. Um deles volta atrás, desobedecendo à ordem recebida. E Jesus, longe de o censurar, admira-se que os outros não tenham feito o mesmo. Será precisamente a este – samaritano de origem – a quem Jesus louvará a sua fé.
            «Voltar» não é um simples movimento físico, uma mudança de direcção, mas uma alteração interior. «Voltar», já no Antigo Testamento, é o verbo da conversão, do regresso a Deus. É o mudar uma coisa noutra; é o regressar a cada, depois de se ter afastado. Assim faz este leproso: muda a sua doença em bênção, a sua distância de Deus em relação de intimidade, como entre pai e filho. Muda porque se deixou mudar pelo próprio Jesus, deixa-se atingir pelo seu amor.
            O samaritano curado une Deus e Jesus no mesmo louvor e na mesma acção de graças. Ele reconhece diante de todos que a salvação recebida é obra de Deus em Jesus. A sua fé não faz distinção entre eles e prostra-se diante daquele pelo qual foi purificado, tal como se prostra diante de Deus.
            O único a proclamar a sua fé, a percorrer todo o caminho para voltar a Jesus e a Deus é um samaritano; não é um judeu, é um herege, ainda mais desprezado que os estrangeiros. Uma vez mais, é um leproso curado ainda não reconhecido como tal, samaritano odiado, cuja fé é maior que a dos judeus.
Pe. Franclim Pacheco
Diocese de Aveiro