Roteiro Homilético 4: Dom Henrique
Hoje, a
Palavra de Deus nos fala sobre a oração. Mais ainda: manda-nos “rezar sempre,
sem jamais desistir” . A primeira leitura mostra-nos Moisés de braços abertos,
como os de Cristo na cruz, intercedendo pelo seu povo. Como Moisés, assim
também o Cristo, nosso intercessor e mediador junto do Pai: ” Enquanto Moisés
conservava a mão levantada, Israel vencia; quando baixava a mão, vencia
Amalec”. Assim também com Cristo: ele intercede continuamente junto ao Pai por
nós: “Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar
como trigo; eu, porém, orei por ti, a fim de que a tua fé não desfaleça” (Lc
22,31). Na Última Ceia, o Senhor, mais uma vez, rezou por nós: “Não rogo
somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim!” (Jo
17,20). Que consolo, saber que o Senhor Jesus continuamente ora por nós e, se
nos deixarmos invadir por essa oração de Jesus, nossa fé não desfalecerá, nossa
vida não desmoronará, nossa existência não sucumbirá. Se Pedro caiu e negou
Jesus, foi porque confiou em si, nas suas forças e não na graça da oração de
Jesus…
Pois bem, o
Senhor orou, pediu por nós e também pediu ao Pai por ele mesmo. Como esquecer
aquelas palavras impressionantes da Escritura sobre Jesus? “É ele que, nos dias
de sua vida terrestre, apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor e
lágrimas, àquele que o podia salvar da morte; e foi atendido por causa da sua
submissão. E embora fosse Filho, aprendeu, contudo, a obediência pelo
sofrimento” (Hb 5,7s). É este mesmo Jesus que, no Evangelho de hoje nos ensina
a rezar sempre sem jamais desfalecer!
Hoje, diante
das dores do mundo, diante do progresso da ciência que explica tantas coisas
que antes pareciam um mistério, diante do nosso próprio sofrimento, somos
tentados a não mais confiar na oração nem ver a sua necessidade. No entanto, o
Senhor nos manda rezar! Vejamos o porquê.
Primeiro, a
oração nos abre para Deus; faz-nos experimentar com todo o nosso ser –
sentimentos, inteligência, afeto, alma e corpo – que dependemos de Deus, que
ele está presente no mais íntimo da nossa vida, da nossa história, do nosso
mundo. É na oração que percebemos vivamente que ele não é somente o Deus de
longe, mas também o Deus de perto. Nenhuma outra realidade deste mundo tem a
capacidade de nos colocar imediatamente na presença de Deus, como a oração. Se
não rezarmos, Deus irá deixando de ser Alguém para ser algo; vamos deixando de
experimentá-lo como Pessoa para experimentá-lo simplesmente como uma idéia
fria, estéril e distante.
Em segundo
lugar, a oração feita em nome de Jesus – isto é, com os sentimentos de Jesus,
as atitudes de Jesus -, nos faz enfrentar todos os desafios da vida com paz,
liberdade e maturidade. Se rezei, se supliquei, se coloquei nas mãos de Deus,
haja o que houver, sei que posso acolher confiando no seu amor. Foi assim a
oração de Jesus: buscou simplesmente e em tudo a vontade do Pai e, por isso, a
o fracasso e a cruz não o destruíram. Foi ouvido – ele sabia, ele mesmo
dissera: “Pai, eu te dou graças porque me ouviste. Eu sabia que sempre me
ouves!” (Jo 11,41s) – pois bem: mesmo diante da cruz e da morte, o Filho
permaneceu em paz, abandonado amorosamente nas mãos do Pai! A oração faz isso
conosco: elimina nosso temor e nos joga nos braços de Deus.
Em terceiro
lugar, a oração quebra nosso orgulho, nossa auto-suficiência, nosso engano de
pensar que somos capazes de algo por nós mesmos. Rezando, experimentamos a
alegria indizível de sermos crianças nos braços do Pai.
Então, é
engano pensar que a oração é sem importância ou inútil. Pelo contrário: sem
ela, é impossível permanecer firmes na fé. E, compreendamos de uma vez por
todas: Deus nos escuta sempre: “E Deus não fará justiça aos seus escolhidos,
que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? Eu vos digo que
Deus vos fará justiça bem depressa”. Sim, Deus não nos abandona jamais. O
problema é que queremos que ele aja como esperamos, nos tempos e nos modos
nossos. E aí erramos! Não foi assim que Jesus procedeu e quem faz assim, faz
diferente de Jesus e, portanto, não reza em nome de Jesus! Compreendamos bem:
reza em nome de Jesus quem reza como Jesus: “Não a minha vontade, mas a tua
seja feita” (Lc 22,42). É esta a verdadeira oração do cristão, é essa a oração
em nome de Jesus. Por isso mesmo, ele hoje nos desafia e pergunta, com
franqueza: “Quando o Filho do homem vier, será que ainda vai encontrar fé sobre
a terra?” Em outras palavras: Quando o Pai, através de mim, atende vossos
pedidos, não como queríeis, mas como ele quer vos dar, encontra fé em vós para
reconhecer o dom e ser agradecidos?
Rezemos sem
desfalecer. Estejamos atentos à nossa vida de oração. Foi isto que aprendemos
nas Escrituras Sagradas, foi isto que os Apóstolos nos ensinaram e os santos
santas de Deus vivenciaram. Pois bem, “Permanece firme naquilo que aprendeste e
aceitaste como verdade!” Num tempo de tantos falsos mestres, de tantos que se
desviam da verdade, sigamos o este conselho de São Paulo! Como dizia Santa
Teresa: “Que ninguém vos mostre outro caminho que não o da oração!”
Terminemos
esta meditação com as palavras do Salmo 16, colocado como antífona de entrada
da Missa de hoje: “Clamo por vós, ó Deus, porque me atendestes; inclinai vosso
ouvido e escutai-me. Guardai-me como a pupila dos olhos, à sombra das vossas
asas abrigai-me!” Que sejam sempre estes os nossos sentimentos. Amém.
Dom Henrique
Soares da Costa