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Crer em Deus,
crer no homem
Nos domingos
anteriores falamos da fé num sentido mais teológico sem deixar de pensar na
nossa existência concreta, diária e corrente. Hoje, essa meditação se
intensifica ao concretizar-se mais. A ideia que eu quero refletir com você no
dia de hoje é a seguinte: a fé é também uma grande promoção do ser humano. Ao
contrário do cristão, “havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus, nem
respeitava pessoa alguma” (Lc 18,2). Um filho de Deus teme a Deus e respeita a
pessoa humana. Cada pessoa é imagem de Deus. Como não respeitar a imagem de
quem amamos? É fácil compreender isso: quando nós guardamos uma foto de uma
pessoa querida na carteira e de vez em quando damos-lhe um beijo, essa
demonstração de carinho não é para com o papel, mas é a expressão do que nós
gostaríamos de fazer nesse momento: dar um beijo nessa pessoa querida. Cada
pessoa é “imagem e semelhança” (Gn 1,26) de Deus. Cada pessoa merece o nosso
beijo reverencial. Logicamente, não vamos sair por aí beijando todo mundo, mas
procuraremos sempre mostrar o nosso respeito para com os nossos semelhantes.
Sinceramente,
estou convencido que o atual complô contra a vida humana, contra o matrimônio
verdadeiro, contra o pudor, é consequência da falta de fé e de temor de Deus. É
contraditório crer em Deus e ser a favor do aborto, por exemplo. Não! A fé em
Deus não pode ser reduzida a algumas práticas de piedade semanais, ou até mesmo
diárias; a fé tem que dar forma ao nosso ser, à nossa maneira de viver, de
pensar, de amar, de sentir.
Deus veio à
terra para que o homem subisse ao céu! Jesus veio para devolver o que nós
tínhamos perdido a causa do pecado, para reconciliar-nos em todos os aspectos,
para que vivêssemos na “gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Rm 8,21).
Contudo, ainda o homem mais pecador é digno de respeito. A Sagrada Escritura
afirma a dignidade de qualquer ser humano, independentemente das suas ações,
quando, por exemplo, diz que “o Senhor pôs em Caim um sinal, para que, se
alguém o encontrasse, não o matasse” (Gn 4,15); ou seja, Deus continuou
protegendo a Caim, mesmo depois de ter matado o seu irmão Abel.
A fé em Deus e
no que ele nos revela, numa entrega cada vez mais intensa ao seu amor, é também
motor de crescimento da sociedade. Quando se retira a Deus do âmbito público se
começa a dizer um montão de bobagem; na ausência de um fundamento para a
convivência pacífica entre os seres humanos, começa-se a bombardear a sociedade
com leis que, finalmente, ajudarão a isolar cada vez mais a pessoa e que
poderiam ser reduzidas a essa máxima: não matar os demais para que os demais
não nos matem. Já dizia Eurípedes que “tudo o que o tolo encerra no coração,
ele o traz também impresso na cabeça e o manifesta nas palavras”. O interessante é que todas as
tolices são ditas com astúcia. João Paulo denunciava em 2002 os eufemismos que
se utiliza para que o mal pareça um bem e um bem, mal. Dizia o Papa numa
alocução aos Bispos da Região Leste II da CNBB: “Produz-se, portanto, uma
evolução semântica onde o homicídio chama-se morte induzida, o infanticídio,
aborto terapêutico e o adultério passa a ser uma simples aventura
extra-matrimonial. Não havendo mais uma absoluta certeza nas questões morais, a
lei divina torna-se uma proposta facultativa na oferta variegada das opiniões
mais em moda”.
É evidente,
mais parece que não nos damos conta. Será que estamos cegos? Desde que se
insistiu no uso dos preservativos, cresceu a promiscuidade sexual; ao crescer a
promiscuidade, cresceu o número de “filhos sem pais”, de pessoas com “aids”, de
homossexuais, de pacientes nos hospitais e de clientes para os psiquiatras.
Será que é preciso anunciar uma pasta de dentes com a foto de uma mulher sem
roupa? Eu me pergunto qual é a relação entre os automóveis e as roupas íntimas.
Acaso não se poderia divulgar um produto de uma maneira respeitável a toda a
população. Em Itália, pelo menos, muitas mulheres já se manifestaram contra
esse abuso do corpo feminino nas propagandas comerciais.
Que pena que
se acusa a Igreja de retrógrada em tantos temas que, com o passar do tempo, se
percebe que ela é realmente “mestra em humanidade”. Muitos países europeus que
apostaram pelo controle de natalidade, são hoje países “velhos”: a população é
idosa, há poucos jovens e, nalgum que outro país, até se oferece dinheiro para
que os casais tenham filhos e assim o país se rejuvenesça. Estou convencido: a
fé em Deus é de uma sensatez impressionante. Oxalá fizéssemos mais caso do que
o Senhor nos diz e seríamos uma sociedade desenvolvida em todos os aspectos.
Sem dúvida, não estou deixando de lado a justa autonomia das realidades
temporais, mais tem que ser justa, ou seja, dependente do Criador.
Pe. Françoá
Costa