Roteiro Homilético 9: Padre Françoá Costa
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Conhecimento
próprio
A falta de
conhecimento próprio é causa de muitos erros na nossa vida. Pensamos que somos
o que não somos e não consideramos o que realmente somos. Frequentemente
sofremos à toa, simplesmente porque não nos conhecemos. O desconhecimento de
quem somos pode levar-nos inclusive à depressão quando vemos a nossa imagem
desfigurada por alguém. O que acontece é que essa imagem que formamos de nós
mesmos não é a nossa verdadeira imagem, mas uma mera caricatura. Não serve para
nada! Qual é a nossa verdadeira imagem, então?
A falta de
conhecimento próprio pode levar-nos tanto à baixa estima quanto à vanglória.
Alguns “se vangloriavam como se fossem justos, e desprezavam os outros” (Lc
18,9). Vangloriamo-nos, isto é, temos uma glória vã, porque não nos conhecemos.
Uma das consequências é a falta de critério em relação às nossas ações e às dos
outros: excessivo rigor para com os outros, extrema misericórdia para conosco
mesmos. São Josemaría Escrivá deixou escrito: “Nunca queres esgotar a verdade”.
– Umas vezes, por correção. Outras – a maioria-, para não passares um mau
bocado. Algumas, para evitá-lo aos outros. E, sempre, por covardia. Assim, com
esse medo de aprofundar, jamais serás homem de critério” (Caminho 33).
Não adianta!
Enganar-nos a nós mesmos não é o caminho. Conta-se que Dionísio I de Siracusa
pensava de si mesmo que era um poeta excelente, tanto era assim que um belo dia
se alegrou de ler os seus versos diante de Filoxeno, um autêntico poeta. Ao
terminar, o poeta criticou os versos de Dionísio. Este, como um verdadeiro
tirano e sem respeito à opinião dos outros, mandou prender a Filoxeno sem
maiores explicações. Mas, depois de alguns dias, compôs outros versos e tanta
foi a sua curiosidade em saber a opinião de Filoxeno que o mandou trazer da
prisão e leu novamente as rimas que compusera. O poeta, depois de escutar, disse
aos guardas que o tinha conduzido à presença do rei: “Devolvei-me à prisão”.
Como
conhecer-nos a nós mesmos? Em primeiro lugar, dispondo-nos a obter esse
conhecimento com humildade para aceitar-nos como somos. Deus nos ama não apesar
de sermos dessa ou daquela maneira, mas com tudo o que somos e temos. É diante
de Deus que alcançaremos o verdadeiro conhecimento sobre nós mesmos, pois nos
conhece melhor que nós mesmos. Em segundo lugar é muito importante perder o
medo de chamar as coisas pelo nome: soberba, preguiça, gula, luxúria, etc. Nada
de eufemismos como: autoafirmação do eu, falta de disposição, apetite abundante
para a mesa ou para a cama etc. Quando não tivermos medo de saber quem somos,
isto é, sem assustar-nos e quando saibamos conviver pacificamente conosco
mesmos, lutando por ser melhores, o nosso conhecimento próprio irá de progresso
em progresso.
É interessante
que às vezes não dizemos algumas verdades às pessoas porque sabemos que vão se
ofender ou que ficarão brabas, ou ainda, que deixarão de falar conosco. Será
que Deus não nos dá um maior conhecimento sobre nós mesmos porque sabe que
ficaríamos irritados, não nos aceitaríamos ou, ainda, colocaríamos a culpa
nele? Como é importante dizer ao Senhor: “Pode me mostrar, Senhor, quem sou eu.
Por favor, me mostra pouco a pouco, à medida que me prepares, mas, não deixe de
fazer com que eu progrida nesse conhecimento”. A sinceridade com Deus é muito
importante, e o mesmo se diga da sinceridade para com os demais. Dessa maneira,
seremos homens e mulheres de critério, de personalidade, firmes.
Os santos se
consideravam tão pouca coisa e, ao mesmo tempo, era muito conscientes da sua
dignidade de filhos de Deus, a tal ponto de ignorar as ofensas pessoais que os
outros pudessem dirigir-lhes. Sabiam que qualquer coisa que os outros pudessem
dizer deles ainda era pouco diante daquele conhecimento que Deus lhes ia
concedendo. E, no entanto, esse conhecimento os mantinha em paz porque estava
fundamentado no fato de sentirem-se filhos muito amados de Deus e na humildade
cada vez maior que Deus lhes concedia.
Ao
conhecermo-nos a nós mesmos, tampouco iremos por aí alardeado: pobre de mim! Eu
sou tão pequeno, tão humilde, não sei fazer nada. Uma das frases mais bonitas
daquele delicioso romance de Dickens, David Cooperfield, é a seguinte: “estou
convencido que o homem que sabe o que vale não deixa de ser modesto”, com
autêntica modéstia e com otimismo.
Para ajudar no
nosso conhecimento próprio, um propósito que poderíamos fazer nesse domingo é o
de realizar, diariamente, o nosso exame de consciência. Talvez sejam úteis
essas três perguntinhas: no dia de hoje, o que eu fiz de bom? O que eu fiz de
mal? O que eu posso fazer melhor? A cada uma dessas perguntas correspondem três
atitudes, respectivamente: agradecer, pedir perdão, pedir ajuda.
Pe. Françoá
Costa