31º domingo do tempo comum, Ano C 1

31º domingo do tempo comum, Ano C 1


Roteiro Homilético 1: Mensagem
(cnbbleste2.org.br Dom Emanuel Messias de Oliveira)

1a LEITURA – Sb 11,22-12,2
Para fixar na memória vamos transcrever o contexto histórico que motivou o livro da sabedoria que, aliás, já lembramos em comentários anteriores. É que o livro foi escrito em Alexandria no Egito, cerca do ano 50 antes de Cristo. Uns estudiosos falam que moravam na grande cidade de Alexandria cerca de 100.000 judeus, outros elevam este número a 200.000. Então o autor estava preocupado em defender a identidade cultural e religiosa desse numeroso povo, que estava ameaçado por uma cultura diferente e paganizada. Ele vai ajudar o povo a rever o seu passado para encontrar forças para viver o presente num contexto novo e hostil. Assim há uma contraposição entre a sabedoria grega e a sabedoria dos seus antepassados que é a verdadeira sabedoria capaz de conduzir o povo a uma vida justa e feliz. A sabedoria judaica era praticamente identificada com a justiça.

Do capítulo 10 até o último que é o 19, o autor faz uma longa meditação sobre o livro do Êxodo ou a libertação do povo de Deus, escravizado no Egito.

Nos versículos anteriores aos nossos, o povo praticamente se pergunta por que Deus no seu poder não aniquilou de vez este povo egípcio opressor.

Nosso texto é uma espécie de resposta a esta inquietante pergunta. É uma linda profissão de fé no Deus paciente, poderoso e misericordioso. Deus é paciente, porque os seus olhos são diferentes dos nossos.

Temos três respostas:
1) Deus é paciente por causa do seu poder. Para Deus o mundo inteiro não passa de um grão de areia na balança, como uma gota de orvalho. Só os fracos e medrosos são violentos e agressivos. O modo de Deus exercer o seu poder é através da compaixão. A violência é a arma dos fracos. Deus que pode tudo tem compaixão de todos. Se nós contemplássemos o mundo com os olhos de Deus seríamos mais tolerantes, pacíficos e compreensivos. Não nos apavoraríamos tanto com o mal que vemos.

2) O segundo motivo da moderação de Deus com relação aos egípcios é que ele não leva em conta os pecados dos homens, mas dá-lhes uma chance de arrependimento.

3) A terceira razão da moderação de Deus é o seu amor. Ele ama tanto o que existe e não despreza nada do que criou. Que belo exemplo ecológico, diante dos gananciosos predadores da natureza. Tudo que Deus criou depende dele e é amado por ele. O versículo 26 dá uma linda definição de Deus. Ele é o amigo da vida. Hoje os bens da vida estão na mão de povos superiores, gananciosos e egoístas que não se importam com a exclusão da maioria dos seres humanos e com a destruição da natureza, contanto que eles se enriqueçam cada vez mais como se a riqueza conduzisse à vida eterna.

Os dois versículos iniciais do capítulo 12 mostram primeiro que o espírito incorruptível de Deus está em todas as coisas. Daí nosso respeito por tudo e por todos.

Depois lembram que Deus “castiga” com brandura. Na realidade o que a Bíblia chama de castigo é mais um remédio que castigo para que os homens e mulheres se arrependam e acreditem no Senhor da vida.



2a LEITURA – 2Ts 1,11-2,2
O tema mais importante desta carta é o tema da 2ª vinda de Jesus (1,7-9), chamada parusia. Muitos visionários estão anunciando o fim do mundo e estão perturbando a comunidade e alegam que Paulo está com eles inclusive dizendo que detém algumas cartas atribuídas a Paulo sobre este assunto. Aqui Paulo vai esclarecer os mal entendidos.

Nosso trecho de hoje está dentro da ação de graças que começou no v. 3, logo após a saudação inicial. Paulo afirma rezar insistentemente pela comunidade por causa da sublime vocação daqueles que foram chamados para que eles realizem todo o bem possível e dinamizem o trabalho da fé (vv. 11). E que essa fé seja ativa e não uma espera passiva, sem fazer nada, como se o Senhor fosse chegar amanhã. (cf. 3,6ss). É na vocação cristã e no exercício de uma fé viva que a glória de Deus e dos cristãos se manifesta.

Nos dois versículos iniciais do capítulo segundo, Paulo pede à comunidade que não se perturbe quanto à segunda Vinda de Cristo como se estivesse para chegar logo, mesmo que os adversários argumentem que tiveram revelações ou cartas atribuídas a Paulo. Paulo quer dissipar todo engano, boatos e sensacionalismo acerca de uma iminente chegada de Jesus, como alguns estavam pregando. Também em nossos tempos – no ano 2000 – surgiram muitos visionários amedrontando os cristãos com o anúncio do fim do mundo. O importante é que nós abramos o nosso coração e deixemos Cristo entrar ensinado o verdadeiro amor, que é partilha, solidariedade e perdão.



EVANGELHO – Lc 19,1-10
Jesus está se aproximando de Jerusalém, onde ele se confrontará com as autoridades judaicas e depois será condenado à morte. A conversão de Zaqueu aparece assim no final da grande caminhada de Jesus em Lucas (9,51-19,28), como um episódio-exemplo, onde Zaqueu se tornou o tipo do discípulo que Jesus deseja, capaz de uma conversão sincera com a partilha dos bens. Em Marcos este discípulo do final da caminhada é o cego de Jericó.

O episódio de Zaqueu tem algumas coisas curiosas. Começa pelo nome. Seu nome significa “puro” e de puro Zaqueu não tem nada. Ele não era apenas cobrador de impostos, odiado e impuro aos olhos dos judeus, mas era chefe dos cobradores de impostos, ou seja, chefe de uma espécie de quadrilha de corruptos e exploradores do povo. O povo odiava os cobradores de impostos, pois os considerava traidores, ladrões e impuros.

É interessante que o episódio anterior ao Zaqueu é a cura de um cego. Ali o verbo ver aparece diversas vezes. Parece que Jesus quer nos ensinar a enxergar com os olhos de Deus. No episódio de Zaqueu o verbo “ver” aparece também três vezes. Nós costumamos ver as aparências, Deus vê o coração. Jesus parece que vê, além disso, as possibilidades de mudança no coração humano. Não é curioso que Jesus entre tantas pessoas boas em Jericó resolva hospedar-se logo na casa de um rico e explorador do povo? (v. 2) O povo que acompanhava Jesus não gostou e o criticou. “Ele foi hospedar-se na casa de um pecador” (v. 7). Jesus não se importa com as conveniências e os tabus da sociedade. Ele passa por cima até mesmo da sua própria afirmação em Lc 6,24: “Ai de vós, os ricos, porque já têm a sua consolação”. Aliás, um pouco antes em Lc 18,25 Jesus tinha dito: “É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos céus”. Mas ele continua em 18,27: “Entretanto, o que é impossível para os homens, é possível para Deus”. Jesus viu possibilidades de mudanças radicais no coração de Zaqueu.

Nós percebemos no episódio de Zaqueu o seu desejo de ver Jesus (3). Ele subiu numa figueira para ver Jesus. Jesus ao passar, olhou para cima e disse: “Desce depressa, Zaqueu, porque hoje preciso ficar em sua casa”. Jesus chama Zaqueu pelo nome e não disse que queria fazer-lhe uma visitinha, mas que queria ficar na sua casa com ele, tomar ali a refeição que normalmente era servida de noite, e dormir lá. O povo vendo isto critica Jesus. Muito interessante é a atitude de Zaqueu: Uma conversão radical; prometeu dar a metade dos seus bens para os pobres e devolver até quatro vezes mais o que roubou nos seus negócios. Será que ele continuou rico após esta atitude? Parece que ele se tornou pobre para receber a salvação que Jesus lhe trouxe!  Uma palavrinha interessante no Evangelho de São Lucas é a palavra “Hoje”. “Hoje”, na  cidade de Davi, nasceu para vocês um Salvador, que é o Messias, o Senhor” (Lc 2,11). “Hoje” se cumpriu essa passagem da Escritura que vocês acabaram de ouvir” (Lc4,21). “Desce depressa, Zaqueu, porque hoje preciso ficar em sua casa” (v.5). O episódio de Zaqueu termina quando Jesus diz: “Hoje a salvação entrou nesta casa, porque também este homem é um filho de Abraão. E no v. 10, o arremate do programa de Jesus: “De fato, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido”.

Talvez este episódio nos convide a olhar o hoje da nossa vida, e se a salvação de Jesus já chegou para nós, o que supõe nossa mudança de vida. E um segundo ponto é a mudança de ótica com que vemos as coisas. Costumamos ver as pessoas segundo os seus comportamentos externos, aparentes, seus defeitos e vícios. Não enxergamos o bem que cada um carrega de ser “filho de Deus”, e desacreditamos em uma possibilidade de mudança em certos casos. Parecemos desacreditar que para Deus nada é impossível (Lc 1,37).