31º domingo do tempo comum, Ano C 2
Roteiro Homilético 2: Dehonianos de Portugal
(http://www.dehonianos.org/)
Tema do 31º
Domingo do Tempo Comum
A liturgia
deste domingo convida-nos a contemplar o quadro do amor de Deus. Apresenta-nos
um Deus que ama todos os seus filhos sem excluir ninguém, nem sequer os
pecadores, os maus, os marginais, os “impuros”; e mostra como só o amor é
transformador e revivificador.
Na primeira
leitura um “sábio” de Israel explica a “moderação” com que Deus tratou os
opressores egípcios. Essa moderação explica-se por uma lógica de amor: esse
Deus omnipotente, que criou tudo, ama com amor de Pai cada ser que saiu das
suas mãos – mesmo os opressores, mesmo os egípcios – porque todos são seus
filhos.
O Evangelho
apresenta a história de um homem pecador, marginalizado e desprezado pelos seus
concidadãos, que se encontrou com Jesus e descobriu n’Ele o rosto do Deus que
ama… Convidado a sentar-se à mesa do “Reino”, esse homem egoísta e mau
deixou-se transformar pelo amor de Deus e tornou-se um homem generoso, capaz de
partilhar os seus bens e de se comover com a sorte dos pobres.
A segunda
leitura faz referência ao amor de Deus, pondo em relevo o seu papel na salvação
do homem (é d’Ele que parte o chamamento inicial à salvação; Ele acompanha com
amor a caminhada diária do homem; Ele dá-lhe, no final da caminhada, a vida
plena)… Além disso, avisa os crentes para que não se deixem manipular por
fantasias de fanáticos que aparecem, por vezes, a perturbar o caminho normal do
cristão.
LEITURA I –
Sab 11,22-12,2
Leitura do
Livro da Sabedoria
Diante de Vós,
Senhor, o mundo inteiro
é como um grão
de areia na balança,
como a gota de
orvalho que de manhã cai sobre a terra.
De todos Vós
compadeceis, porque sois omnipotente,
e não olhais
para os seus pecados,
para que se
arrependam.
Vós amais tudo
o que existe
e não odiais
nada do que fizestes;
porque, se
odiásseis alguma coisa,
não a teríeis
criado.
e como poderia
subsistir,
se Vós não a
quisésseis?
Como poderia
durar,
se não a
tivésseis chamado à existência?
Mas a todos
perdoais,
porque tudo é
vosso, Senhor, que amais a vida.
O vosso
espírito incorruptível está em todas as coisas.
Por isso
castigais brandamente aqueles que caem
e advertis os
que pecam, recordando-lhes os seus pecados,
para que se
afastem do mal
e acreditem em
Vós, Senhor.
AMBIENTE
O “Livro da
Sabedoria” é o mais recente de todos os livros do Antigo Testamento (aparece
durante a primeira metade do séc. I a.C.). O seu autor – um judeu de língua
grega, provavelmente nascido e educado na Diáspora (Alexandria?) – exprimindo-se
em termos e concepções do mundo helénico, faz o elogio da “sabedoria”
israelita, traça o quadro da sorte que espera o justo e o ímpio no mais-além e
descreve (com exemplos tirados da história do Êxodo) as sortes diversas que
tiveram os egípcios (idólatras) e o hebreus (fiéis a Jahwéh). O seu objectivo é
duplo: dirigindo-se aos seus compatriotas judeus (mergulhados no paganismo, na
idolatria, na imoralidade), convida-os a redescobrirem a fé dos pais e os
valores judaicos; dirigindo-se aos pagãos, convida-os a constatar o absurdo da
idolatria e a aderir a Jahwéh, o verdadeiro e único Deus… Para uns e para
outros, só Jahwéh garante a verdadeira “sabedoria”, a verdadeira felicidade.
O texto que
nos é proposto pertence à terceira parte do livro (cf. Sab 10,1-19,22). Nessa
parte, recorrendo, sobretudo, à técnica do midrash, o autor faz a comparação
entre os castigos que Deus lançou contra aos “ímpios” (os pagãos) e a salvação
reservada aos “justos” (o Povo de Deus).
Depois de
descrever como a “sabedoria” de Deus que se manifestou na história de Israel
(cf. Sab 10,1-11,14), o autor faz referência ao pecado dos egípcios, que
rendiam culto “a répteis irracionais e a bichos miseráveis” (Sab 11,15); e
manifesta o seu espanto de que o castigo de Deus sobre os egípcios tenha sido
tão moderado e benevolente (cf. Sab 11,17-20). Porque é que Deus foi tão
moderado e não exterminou totalmente os egípcios? É a essa questão que o nosso
texto responde.
MENSAGEM
Fundamentalmente,
o autor encontra três razões para justificar a moderação e a benevolência de
Deus.
A primeira tem
a ver com a grandeza e a omnipotência de Deus (cf. Sab 11,22). Quem é grande e
poderoso, não se sente incomodado e posto em causa pelos actos daqueles que são
pequenos e finitos… Ele vê as coisas com suficiente distância, percebe as
razões do agir do homem, não perde o “fair play”; daí resulta a tolerância e a
misericórdia.
A segunda vem
dessa lógica que caracteriza sempre a atitude de Deus em relação ao homem: a
lógica do perdão (cf. Sab 11,23). Ele não quer a morte do pecador, mas que este
se converta e viva; por isso, “fecha os olhos” diante do pecado do homem, a fim
de o convidar ao arrependimento… Repare-se, no entanto, que esta lógica não se
exerce aqui sobre o Povo de Deus, mas sobre um império pagão e opressor: é a
universalidade da salvação que aqui é sugerida.
A terceira tem
a ver com o amor de Deus (cf. Sab 11,24-26), que se derrama sobre todas as
criaturas. A criação foi a obra de amor de um pai; e esse pai ama todos os seus
filhos. Ele é o Senhor que “ama a vida”.
É porque todos
os homens levam dentro de si esse “sopro de vida” que Deus infundiu sobre a
criação, que Ele se preocupa, corrige, admoesta, perdoa as faltas, faz que se
afastem do mal e estabeleçam comunhão com Ele (cf. Sab 12,1-2).
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão
pode fazer-se a partir dos seguintes elementos:
• O Deus que
este texto apresenta é uma figura benevolente e tolerante, cheia de bondade e
misericórdia, que não quer a destruição do pecador, mas a sua conversão e que
ama todos os homens que criou, mesmo aqueles que praticam acções erradas. Ora,
todos nós conhecemos bem este quadro de Deus, pois ele aparece-nos a par e
passo… Mas já o interiorizámos suficientemente?
• Interiorizar
esta “fotografia” de Deus significa “empapar-nos” da lógica do amor e da
misericórdia e deixar que ela transpareça em gestos para com os nossos irmãos.
Isso acontece, realmente? Qual é a nossa atitude para com aqueles que nos
fizeram mal, ou cujos comportamentos nos desafiam e incomodam?
• Muitas
vezes, percebemos certos males que nos incomodam como “castigos” de Deus pelo
nosso mau proceder. No entanto, este texto deixa claro que Deus não está
interessado em castigar os pecadores… Quando muito, procura fazer-nos perceber
– com a pedagogia de um pai cheio de amor – o sem sentido de certas opções e o
mal que nos
fazem certos
caminhos que escolhemos.
SALMO
RESPONSORIAL – Salmo 144(145)
Refrão:
Louvarei para sempre o vosso nome,
Senhor meu
Deus e meu Rei.
Quero
exaltar-Vos meu Deus e meu Rei
e bendizer o
vosso nome para sempre.
Quero
bendizer-vos, dia após dia,
e louvar o
vosso nome para sempre.
O Senhor é
clemente e compassivo,
paciente e
cheio de bondade.
O Senhor é bom
para com todos
e a sua
misericórdia se estende a todas as criaturas.
Graças Vos
dêem, Senhor, todas as criaturas
e bendigam-Vos
os vossos fiéis.
Proclamem a
glória do vosso Reino
e anunciem os
vossos feitos gloriosos.
O Senhor é
fiel à sua palavra
e perfeito em
todas as suas obras.
O Senhor
ampara os que vacilam
e levanta todos
os oprimidos.
LEITURA II – 2
Tes 1,11-2,2
Leitura da
Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses
Irmãos:
Oramos
continuamente por vós,
para que Deus
vos considere dignos do seu chamamento
e, pelo seu
poder,
se realizem
todos os vosso bons propósitos
e se confirme
o trabalho da vossa fé.
Assim o nome
de Nosso Senhor Jesus Cristo
será
glorificado em vós, e vós n’Ele,
segundo a
graça do nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo.
Nós vos
pedimos, irmãos,
a propósito da
vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo
e do nosso
encontro com Ele:
Não vos
deixeis abalar facilmente nem alarmar
por qualquer
manifestação profética,
por palavras
ou por cartas,
que se digam
vir de nós,
pretendendo
que o dia do Senhor está iminente.
AMBIENTE
Forçado a
deixar Filipos, Paulo chegou a Tessalónica pelo ano 50. Segundo o seu costume,
pregou primeiro aos judeus na sinagoga, obtendo algum sucesso; mas os judeus –
incomodados pelo testemunho de Paulo – sublevaram a multidão e o apóstolo teve
de abandonar, à pressa, a cidade. De lá, dirigiu-se para Bereia, Atenas e,
depois, Corinto.
Em Tessalónica
ficou uma comunidade entusiasta e fervorosa, constituída na sua maioria por
pagãos convertidos… Mas Paulo estava inquieto, pois chegaram-lhe notícias da
hostilidade dos judeus para com os cristãos de Tessalónica; e essa comunidade,
ainda insuficientemente catequizada, com uma fé muito “verde”, corria riscos.
Paulo enviou Timóteo a Tessalónica, para saber notícias e encorajar os
cristãos… Quando Timóteo voltou, Paulo estava em Corinto. As notícias eram
boas: os tessalonicenses continuavam a viver com entusiasmo a fé e a dar
testemunho de Jesus. Havia, apenas, algumas questões de doutrina que os
preocupavam – nomeadamente a questão da segunda vinda do Senhor. Paulo
decidiu-se, então, a escrever aos cristãos de Tessalónica, animando-os a
viverem na fidelidade ao Evangelho e esclarecendo-os quanto à doutrina sobre o
“dia do Senhor”. Estamos no ano 51.
Embora não
haja qualquer dúvida de que a Primeira Carta aos Tessalonicenses provém de
Paulo, há quem ponha em causa a autoria paulina da Segunda Carta aos
Tessalonicenses. De qualquer forma, a Segunda Carta aos Tessalonicenses é
considerada pela Igreja um texto inspirado que deve, portanto, ser visto como
Palavra de Deus.
MENSAGEM
O texto que
nos é proposto apresenta dois temas. O primeiro (cf. 2 Tess 1,11-12) expõe uma
súplica de Paulo, para que os tessalonicenses sejam cada vez mais dignos do
chamamento que Deus lhes fez; o segundo (cf. 2 Tess 2,1-2) refere-se à vinda do
Senhor.
A primeira
parte põe em relevo o papel de protagonista que Deus desempenha na salvação do
homem. Não basta a boa vontade e os bons propósitos do homem; é preciso que
Deus acompanhe os esforços do crente e lhe dê a força de percorrer até ao fim o
caminho do Evangelho. De resto, tudo é dom de Deus que chama, que anima e que
leva o homem para a meta.
A segunda
parte é o início da doutrina sobre o “dia do Senhor”. A intenção fundamental de
Paulo é denunciar e desautorizar alguns fanáticos e fantasistas que, invocando
visões ou mesmo cartas pretensamente escritas por Paulo, anunciavam a iminência
do fim do mundo… Isto estava a provocar perturbações na comunidade, porque
alguns – alvoroçados pela proximidade da segunda vinda de Jesus – demitiam-se
das suas responsabilidades e esperavam ociosamente o acontecimento.
ACTUALIZAÇÃO
Considerar,
para a reflexão pessoal e comunitária, as seguintes linhas:
• No nosso
caminho pessoal ou comunitário, rumo à salvação, Deus está sempre no princípio,
no meio e no fim. É preciso reconhecer que é Ele quem está por detrás do
chamamento que nos foi feito, que é Ele quem anima e dá forças ao longo da
caminhada, que é Ele quem nos espera no final do caminho, para nos dar a vida
plena. Tenho consciência desta centralidade de Deus? Tenho consciência de que a
salvação não é uma conquista minha, mas um dom de Deus?
• Ao longo do
caminho, é preciso estar atento para saber discernir o certo do errado, o
verdadeiro do falso, o que é um desafio de Deus e o que é o fanatismo ou a
fantasia de algum irmão perturbado ou em busca de protagonismo. O caminho para
discernir o certo do errado está na Palavra de Deus e numa vida de comunhão e
de intimidade com Deus.
ALELUIA – Jo
3,16
Aleluia.
Aleluia.
Deus amou
tanto o mundo que lhe deu o seu Filho unigénito;
quem acredita
nele tem a vida eterna.
EVANGELHO – Lc
19,1-10
Evangelho de
Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo,
Jesus entrou
em Jericó e começou a atravessar a cidade.
Vivia ali um
homem rico chamado Zaqueu,
que era chefe
de publicanos.
Procurava ver
quem era Jesus,
mas, devido à
multidão, não podia vê-l’O,
porque era de
pequena estatura.
Então correu
mais à frente e subiu a um sicómoro,
para ver
Jesus,
que havia de
passar por ali.
Quando Jesus
chegou ao local,
olhou para
cima e disse-lhe:
«Zaqueu, desce
depressa,
que Eu hoje
devo ficar em tua casa».
Ele desceu
rapidamente
e recebeu
Jesus com alegria.
Ao verem isto,
todos murmuravam, dizendo:
«Foi
hospedar-Se em cada dum pecador».
Entretanto,
Zaqueu apresentou-se ao Senhor, dizendo:
«Senhor, vou
dar aos pobres metade dos meus bens
e, se causei
qualquer prejuízo a alguém,
restituirei
quatro vezes mais».
Disse-lhe
Jesus:
«Hoje entrou a
salvação nesta casa,
porque Zaqueu
também é filho de Abraão.
Com efeito, o
Filho do homem veio procurar e salvar
o que estava
perdido».
AMBIENTE
O episódio de
hoje coloca-nos em Jericó, o oásis situado nas margens do mar Morto, a cerca de
34 quilómetros de Jerusalém. Era a última etapa dos peregrinos que, da Pereia e
da Galileia, se dirigiam a Jerusalém para celebrar as grandes festividades do
culto judaico (o que indica que o “caminho de Jerusalém”, que temos vindo a
percorrer sob
a condução de
Lucas, está a chegar ao fim).
No tempo de
Jesus, é uma cidade próspera (sobretudo devido à produção de bálsamo), dotada
de grandes e belos jardins e palácios (por acção de Herodes, o Grande, que fez
de Jericó a sua residência de inverno). Situada num lugar privilegiado de uma
importante rota comercial, era um lugar de oportunidades, que devia proporcionar
negócios chorudos (e também várias possibilidades de negócios “duvidosos”).
O personagem
que se defronta com Jesus é, mais uma vez, um publicano (neste caso, um “chefe
dos publicanos”). O nosso herói é, portanto, um homem que o judaísmo oficial considerava
um pecador público, um explorador dos pobres, um colaboracionista ao serviço
dos opressores romanos e, portanto, um excluído da comunidade da salvação.
MENSAGEM
Voltamos aqui
a um dos temas predilectos de Lucas: Jesus é o Deus que veio ao encontro dos
homens e Se fez pessoa para trazer, em gestos concretos, a libertação a todos
os homens – nomeadamente aos marginalizados e excluídos, colocados pela
doutrina oficial à margem da salvação.
Zaqueu (é o
nome do publicano em causa) era, naturalmente, um homem que colaborava com os
opressores romanos e que se servia do seu cargo para enriquecer de forma imoral
(exigindo impostos muito acima do que tinha sido fixado pelos romanos e
guardando para si a diferença, como aliás era prática corrente entre os publicanos).
Era, portanto, um pecador público sem hipóteses de perdão, excluído do convívio
com as pessoas decentes e sérias. Era um marginal, considerado amaldiçoado por
Deus e desprezado pelos homens. A referência à sua “pequena estatura” – mais do
que uma indicação de carácter físico – pode significar a sua pequenez e
insignificância, do ponto de vista moral.
Este homem
procurava “ver” Jesus. O “ver” indica aqui, provavelmente, mais do que
curiosidade: indica uma procura intensa, uma vontade firme de encontro com algo
novo, uma ânsia de descobrir o “Reino”, um desejo de fazer parte dessa
comunidade de salvação que Jesus anunciava. No entanto, o “mestre” devia
parecer-lhe distante e inacessível, rodeado desses “puros” e “santos” que
desprezavam os marginais como Zaqueu. O subir “a um sicómoro” indica a
intensidade do desejo de encontro com Jesus, que é muito mais forte do que o
medo do ridículo ou das vaias da multidão.
Como é que
Jesus vai lidar com este excluído, que sente um desejo intenso de conhecer a
salvação que Deus oferece e que espreita Jesus do meio dos ramos de um
sicómoro? Jesus começa por provocar o encontro; depois, sugere a Zaqueu que
está interessado em entrar em comunhão com Ele, em estabelecer com Ele laços de
familiaridade (“quando Jesus chegou ao local, olhou para cima e disse-lhe:
«Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa»”). Atente-se neste
quadro “escandaloso”: Jesus, rodeado pelos “puros” que escutam atentamente a
sua Palavra, deixa todos especados no meio da rua para estabelecer contacto com
um marginal e para entrar na sua casa. É a exemplificação prática do “deixar as
noventa e nove ovelhas para ir à procura da que estava perdida”… Aqui torna-se
patente a fragilidade do coração de Deus que, diante de um pecador que busca a
salvação, deixa tudo para ir ao seu encontro.
Como é que a
multidão que rodeia Jesus reage a isto? Manifestando, naturalmente, a sua
desaprovação às atitudes incompreensíveis de Jesus (“ao verem isto, todos
murmuravam, dizendo: «foi hospedar-se em casa de um pecador»”). É a atitude de
quem se considera “justo” e despreza os outros, de quem está instalado nas suas
certezas, de quem está convencido de que a lógica de Deus é uma lógica de
castigo, de marginalização, de exclusão. No entanto, Jesus demonstra-lhes que a
lógica de Deus é diferente da lógica dos homens e que a oferta de salvação que
Deus faz não exclui nem marginaliza ninguém.
Como é que
tudo termina? Termina com um banquete (onde está Zaqueu, o chefe dos
publicanos) que simboliza o “banquete do Reino”. Ao aceitar sentar-Se à mesa
com Zaqueu, Jesus mostra que os pecadores têm lugar no “banquete do Reino”;
diz-lhes, também, que Deus os ama, que aceita sentar-Se à mesa com eles – isto
é, quer integrá-los na sua família e estabelecer com eles laços de comunhão e
de amor. Jesus mostra, dessa forma, que Deus não exclui nem marginaliza nenhum
dos seus filhos – mesmo os pecadores – mas a todos oferece a salvação.
E como é que
Zaqueu reage a essa oferta de salvação que Deus lhe faz? Acolhendo o dom de
Deus e convertendo-se ao amor. A repartição dos bens pelos pobres e a
restituição de tudo o que foi roubado em quádruplo, vai muito além daquilo que
a lei judaica exigia (cf. Ex 22,3.6; Lev 5,21-24; Nm 5,6-7) e é sinal da
transformação do coração de Zaqueu… Repare-se, no entanto, que Zaqueu só se
resolveu a ser generoso após o encontro com Jesus e após ter feito a
experiência do amor de Deus. O amor de Deus não se derramou sobre Zaqueu depois
de ele ter mudado de vida; mas foi o amor de Deus – que Zaqueu experimentou
quando ainda era pecador – que provocou a conversão e que converteu o egoísmo
em generosidade. Prova-se, assim, que só a lógica do amor pode transformar o
mundo e os corações dos homens.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão
pode partir das seguintes linhas:
• A questão
central posta por este texto é, portanto, a questão da universalidade do amor
de Deus. A história de Zaqueu revela um Deus que ama todos os seus filhos sem
excepção e que nem sequer exclui do seu amor os marginalizados, os “impuros”,
os pecadores públicos: pelo contrário, é por esses que Deus manifesta uma
especial predilecção. Além disso, o amor de Deus não é condicional: Ele ama,
apesar do pecado; e é precisamente esse amor nunca desmentido que, uma vez
experimentado, provoca a conversão e o regresso do filho pecador. É esta Boa
Nova de um Deus “com coração” que somos convidados a anunciar, com palavras e
gestos.
• A vida
revela, contudo, que nem sempre a atitude dos crentes em relação aos pecadores
está em consonância com a lógica de Deus… Muitas vezes, em nome de Deus, os
crentes ou as Igrejas marginalizam e excluem, assumem atitudes de censura, de
crítica, de acusação que, longe de provocar a conversão do pecador, o afastam
mais e o levam a radicalizar as suas atitudes de provocação. Já devíamos ter
percebido (o Evangelho de Jesus tem quase dois mil anos) que só o amor gera
amor e que só com amor – não com intolerância ou fanatismo – conseguiremos
transformar o mundo e o coração dos homens. Na verdade, como é que acolhemos
e tratamos os
que têm comportamentos socialmente inaceitáveis? Como é que acolhemos e
integramos os que, pelas suas opções ou pelas voltas que a vida dá, assumem
atitudes diferentes das que consideramos correctas, à luz dos ensinamentos da
Igreja?
• Testemunhar
o Deus que ama e que acolhe todos os homens não significa, contudo, branquear o
pecado e pactuar com o que está errado. O pecado gera ódio, egoísmo, injustiça,
opressão, mentira, sofrimento; é mau e deve ser combatido e vencido. No
entanto, distingamos entre pecador e pecado: Deus convida-nos a amar todos os
homens e mulheres, inclusive os pecadores; mas chama-nos a combater o pecado
que desfeia o mundo e que destrói a felicidade do homem.
ALGUMAS
SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 31º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de
“Signes d’aujourd’hui”)
Ao longo dos
dias da semana anterior ao 31º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a
Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia,
por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra:
num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais,
numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno
a Palavra de Deus.
2. PALAVRA
CELEBRADA NA EUCARISTIA.
A Palavra de
Deus não se limita ao tempo da proclamação e da escuta da Palavra. Na
preparação da celebração, procurar que algumas expressões da liturgia da
Palavra estejam presentes no momento penitencial, nalguma intenção da oração
dos fiéis, num momento de acção de graças…
3. BILHETE DE
EVANGELHO.
É verdade que
Zaqueu tinha subido a um sicómoro, mas é Jesus que ergue os olhos e interpela o
publicano de Jericó: “Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua
casa”. A iniciativa de Jesus provoca em Zaqueu toda uma mudança, pois ele nunca
teria ousado convidar Jesus de quem ouvira falar. Sente-se reconhecido não como
“cobrador de impostos” e ladrão, mas como alguém que pode manifestar o homem
que é verdadeiramente capaz de ser: generoso para com os pobres, reparador das
faltas que tenha podido ocasionar. Na casa de Zaqueu, Jesus faz-nos ver o que veio
fazer ao vir ao encontro da humanidade: ajuda-o a encontrar o seu próprio
rosto… Sim, Ele veio “procurar e salvar o que estava perdido”, para
restabelecer a imagem de Deus no rosto do homem que o pecado tinha afundado.
4. À ESCUTA DA
PALAVRA.
A história de
Zaqueu é uma história de olhares… Há o olhar de Zaqueu, que procurava ver quem
era Jesus; correu e subiu a um sicómoro para ver Jesus que devia passar por aí.
Há o olhar de Jesus que, ao chegar a esse lugar, ergueu os olhos… Há, enfim, o
olhar da multidão, que, ao ver tudo isso, recriminava Jesus por ir a casa de um
pecador. Três olhares, tão diferentes uns dos outros! Bem o sabemos: o olhar é
uma linguagem para lá das palavras. Os nossos olhares falam muito mais do que
tantos discursos. As nossas palavras podem mentir, os nossos olhares não. EM
primeiro lugar, reparemos no olhar da multidão. Jesus tinha curado um mendigo
cego; ao ver isso, a multidão celebrou os louvores de Deus. Ao ver o
maravilhoso, a multidão maravilhou-se. E depois, tudo muda de repente. Após a
atitude de Jesus para com Zaqueu, a multidão olha Jesus com hostilidade.
Versatilidade das multidões, sem dúvida. Mas também versatilidade dos nossos
próprios olhares. Basta uma coisita de nada para que o meu olhar sobre aquele
que estimava mude, quando percebo que ele não era “bem” aquilo que eu pensava!
Em segundo lugar, reparemos no olhar de Zaqueu. Mais do que um olhar de simples
curiosidade, é um olhar de desejo. Ele tinha ouvido dizer que este Jesus não
falava como os escribas e os fariseus. Além disso, Ele fazia milagres. Não
viria Ele da parte de Deus? Então, ele quer ver este rabino que não é como os
outros. Mas a sua procura continua tímida. Não ousa avançar demasiado. E eu?
Qual é o meu desejo de ver Jesus, de O conhecer? Não sou demasiado tímido
quando se trata da minha ligação com Jesus e da minha fé? Finalmente, há o
olhar de Jesus, que ergueu os olhos para Zaqueu. Que viu Ele? Um pecador à
margem da Lei, banido por todos? Não, Jesus viu um homem rejeitado por todos,
um homem habitado por um desejo, talvez não muito explícito, de ser acolhido
por Ele próprio. Viu um homem que não tinha ainda compreendido que Deus o
amava, apesar dos seus pecados, que Deus o olhava unicamente à luz do seu amor
primeiro e gratuito. Então, Jesus colocou no seu olhar sobre Zaqueu todo este
amor que transformou o publicano. E que o salvou!
5. ORAÇÃO
EUCARÍSTICA.
Pode-se
escolher a oração eucarística nº 4, que reúne em si toda a alegre plenitude
deste dia.
6. PALAVRA
PARA O CAMINHO DA VIDA…
Levar a
Palavra de Deus como luz para mais uma semana de trabalho, de estudo… Ao longo
dos dias da semana que se segue, procurar rezar e meditar algumas frases da
Palavra de Deus: “Cantai ao Senhor um cântico novo”…; “A Palavra de Deus não
está encadeada”…; “Se morremos com Cristo, também com Ele viveremos”…;
“Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou”… Procurar transformá-las
em atitudes e em gestos de verdadeiro encontro com Deus e com os próximos que
formos encontrando nos caminhos percorridos da vida…
UNIDOS PELA
PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR,
PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo
Dinamizador:
P. Joaquim
Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província
Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de
Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900
– Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org
– www.dehonianos.org