31º domingo do tempo comum, Ano C 4
Roteiro Homilético 4: Dom Henrique
Comecemos
nossa meditação da Palavra deste Domingo pelo Evangelho. Aí, a miséria corre
para ver a Misericórdia, o homem corre para encontrar Deus…
Quem é este
Zaqueu, este baixinho ansioso do Evangelho de hoje? É um publicano – como o
homem que rezava compungido no Domingo passado. Um publicano é um pecador
público, cobrador de impostos para os romanos e, por isso, odiado pelos judeus.
Os publicanos muitas vezes extorquiam o povo. Talvez fosse o caso de Zaqueu,
pois ele “era chefe dos publicanos e muito rico”. Certamente, tanto mais odiado
quanto mais rico…
Pois bem, é um
homem assim que correu e subiu numa figueira para ver o Senhor. Imaginemos a
cena: Zaqueu esquece sua pose, sua respeitabilidade, sua posição. Aquele homem
rico devia também ser sozinho, amargurado na sua riqueza, que o tornava um
rejeitado por todos e um excluído da comunidade do Povo de Deus. Zaqueu
certamente ouvira falar de Jesus, de sua misericórdia, de sua bondade, de sua
mansidão. Não era ele que acolhia os pecadores? Não era ele que comia com os
publicanos? Não tinha ele um publicano, Mateus, como um dos Doze? Por isso, não
hesita em subir numa figueira, não tem medo do ridículo! Quer ver Jesus, nem
que fosse às escondidas… Quem dera que fôssemos assim, que não deixássemos o
Senhor passar em vão no caminho da nossa vida! E aí vinha Jesus… O coração de
Zaqueu certamente disparou… Jesus vai passando, acompanhado, cercado por uma
multidão barulhenta. Aí, então, para surpresa de todos e desespero de Zaqueu,
ele pára, olha pra cima… Imaginemos os risos, a mangação, a situação de
ridículo na qual o pobre Zaqueu encontrou-se! Mas, Jesus é surpreendente – ele
sempre nos surpreende; ele é maravilhosamente surpreendente! “Zaqueu – chama-o
pelo nome. Conhecia-o! – Desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa!” Era
demais para Zaqueu: o mundo desaparecera; a mangação não tinha importância…
Naquela hora, naquele momento só existitam Jesus e ele! E Jesus o chamava pelo
nome! Enquanto todos o rejeitavam, Jesus, chamava-o pelo nome, como a um amigo,
como a um conhecido, e oferecia-se para se hospedar na sua casa! “Ele desceu
depressa, e recebeu Jesus com alegria”. Contemplemos o amor de Deus, amor
misericordioso, que alegra, renova, transforma a existência e dá um novo
sentido para a vida!
Qual o resultado
desta visita do Senhor, deste acolhimento de Zaqueu? “Senhor, eu dou a metade
de meus bens aos pobres, e se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes
mais!” Zaqueu fizera experiência do amor de Deus, Zaqueu acolhera esse amor,
deixara-se amar e, agora, transborda em arrependimento, amor e misericórdia
para com os outros! Que pena que não compreenderam isso, e começaram a murmurar
contra Jesus…
Quem dera que
da escuta da Palavra deste Domingo aprendêssemos quem é o nosso Deus, como age
seu coração, e como nós deveríamos reagir! Pensemos no coração de Deus não a
partir dos nossos sentimentos mesquinhos, mas a partir das palavras comoventes
do Livro da Sabedoria: um Deus tão grande, tão imensamente maior que tudo
quanto existe, tão imensamente para lá de tudo quanto possamos imaginar…
“Senhor,o mundo inteiro, diante de ti, é como um grão de areia na balança, uma
gota de orvalho da manhã que cai sobre a terra”. E, no entanto, ele se inclina
com carinho sobre o mundo: dele cuida, sustenta-o, compadece-se de suas
criaturas e nos perdoa as loucuras, ingratidões e pecados: “De todos tens
compaixão, porque tudo podes. Fechas os olhos aos pecados dos homens, para que
se arrependam. Sim, amas tudo o que existe, e não desprezas nada do que
fizeste; porque, se odiasses alguma coisa não a terias criado”… Admirado, o
autor sagrado exclama: “A todos tu tratas com bondade, porque tudo é teu, ó
Senhor, Amigo da vida!” Que título comovente: Amigo da vida! Um Deus que
somente é glorificado na nossa alegria, na nossa vida! Um Deus que sorri com o
sorriso de Zaqueu, um Deus que se oferece para entrar na casa e no coração de
um pecador perdido!
Quem dera que
sejamos como Zaqueu; que desejemos vê-lo, que abramos para ele a nossa porta,
que por seu amor mudemos nossa atitude, como esse publicano. São Paulo deseja,
na segunda leitura de hoje, que o nome de Jesus seja glorificado em nós, na
nossa vida… Seria, será glorificado, se abrirmos essa nossa vida fechada,
mesquinha e cansada para o Senhor. Ele vem a nós cada dia, ele passa por nós de
tantos modos: na Palavra, nos irmãos, nas situações, nos desafios, nos
sofrimentos, nas provas… Quem dera que o reconhecêssemos, como Zaqueu… Saber
acolhê-lo nas suas vindas é glorificá-lo agora e preparar-se bem para a sua
Vinda, no fim dos tempos, aquela da nossa união definitiva com ele, de que fala
o Apóstolo na leitura de hoje.
Que o Senhor
nos dê a ânsia e a graça que concedeu a Zaqueu. Amém.
Dom Henrique
Soares da Costa