Roteiro Homilético 2: Dom Henrique
A Solenidade
hodierna recorda a proteção da Virgem Maria, sua presença materna e
consoladora, experimentada em 1773,
por três
pobres pescadores, na aurora de nossa história nacional. As redes vazias dos
pobres quase se romperam pela abundância de peixes, após o “aparecimento” da
imagem enegrecida da Imaculada Conceição. Desde então, aquela imagenzinha
humilde e feiosa recorda ao povo brasileiro a presença materna da Mãe do Senhor
na nossa história e na nossa terra. Sim, hoje a festa é nossa, do povo brasileiro;
hoje, por todo o território nacional, gente de todas as raças que fazem esta
Nação, canta com devota gratidão: “Viva a Mãe de Deus e nossa, sem pecado
concebida! Salve a Virgem Imaculada, a Senhora Aparecida!”
Esta presença
materna, carinhosa, providente e atuante da Virgem Santíssima é ilustrada de
modo admirável nas leituras da Palavra de Deus, que acabamos de ouvir.
Primeiramente, a Virgem é evocada pela rainha Ester, que arriscou a vida para
salvar o seu povo da condenação à morte. Quem não se comove com o apelo da
Rainha? “Se ganhei as tuas boas graças, ó rei, e se for de teu agrado,
concede-me a vida – eis o meu pedido! – e a vida do meu povo – eis o meu
desejo!” Como tais palavras cabem na boca da Mãe do Senhor! Ela, perfeita e
completamente salva e redimida de todo pecado por pura graça de Deus; ela, a
Agraciada! Mais que ninguém, ela pode cantar as palavras de Isaías, que o
Missal coloca no início da Eucaristia deste dia: “Com grande alegria
rejubilo-me no Senhor, e minha alma exultará no meu Deus, pois me revestiu de
justiça e salvação, como a noiva ornada de suas jóias”. Maria Virgem,
totalmente agraciada, totalmente salva por Deus, não esquece de nós, filhos que
o Filho lhe deu ao pé da cruz: “Salva a vida do meu povo – eis o meu desejo!”
Ela é a Mulher do Apocalipse, em luta constante contra a serpente, o antigo
Inimigo, que ameaça o povo de Deus; ela é a Mulher que, em Caná, intercede
pelos esposos, ensina-nos a fazer o que o Filho disser e cuida para que a água
das nossas pobrezas e das nossas angústias seja transformada no vinho da
alegria, fruto da ação do Espírito do Cristo ressuscitado.
A Festa de
hoje recorda-nos a presença constante de Nossa Senhora na vida da Igreja, na
vida do povo brasileiro e na vida de cada um de nós. Não poderia ser diferente!
Foi o próprio Cristo quem lhe deu essa missão materna em relação a nós, seus
discípulos amados. Recordemo-nos da cena dramática no Calvário. Jesus diz à sua
Mãe, indicando o Discípulo Amado, que é cada um de nós, cada cristão, católico
ou não: “Mulher, eis o teu filho!”(Jo 19,26). Não foi ela quem escolheu ser
nossa Mãe. Não! Foi o Filho mesmo quem lhe deu a missão: “Eis o teu filho, os
teus filhos, Virgem Maria! Tu és a Mulher do Gênesis, inimiga da serpente; tu
és a Mãe dos viventes, a verdadeira Eva!” Fidelíssima à vontade do Senhor, como
sempre foi, a Virgem vela por todos os cristãos; até por aqueles que não lhe
têm amor e veneração, chegando mesmo a difamá-la! Mãe dos discípulos do Senhor
Jesus, Mãe da Igreja, Virgem Maria! Foi esta maternidade tão amorosa, fecunda e
providente que o povo brasileiro experimentou às margens do rio Paraíba do Sul,
quando a imagem enegrecida da Imaculada apareceu nas redes dos pescadores. É
esta maternidade que nós experimentamos continuamente em nossa vida. Quem de
nós não tem uma história para contar a respeito da presença da Virgem no nosso
caminho? “Filho, eis a tua Mãe!” (Jo 19,27). Não fomos nós que escolhemos Maria
por Mãe. Cristo mesmo, no-la deu como aconchego materno. Na cruz, ele olhou para
o Discípulo Amado, para cada um de nós, e deu-nos sua Mãe: “Filho, eis a tua
Mãe!” Que generosidade, a do Senhor: deu-nos tudo, seu corpo, seu sangue, sua
vida… deu-nos sua Mãe! Realmente, amou-nos até o fim (cf. Jo 13,1). Jesus olha
para todo cristão – católico ou não – e indica: “Eis a tua Mãe!” E o Evangelho
diz qual deve ser a atitude do discípulo ante um dom tão generoso, tão belo,
tão grande: “A partir daquele momento, o discípulo a levou para sua casa” (Jo
19,27). Todo discípulo de Cristo tem o dever de acolher o dom do Senhor, o
dever de levar a Mãe de Jesus – agora Mãe de cada cristão – para sua casa. Não
fazê-lo é desobedecer a um preceito expresso e claro do Senhor, é privar-se de
tão grande dom! Por isso, mil vezes tem razão o povo brasileiro em orgulhar-se
hoje de ter Maria por Mãe. Tem razão o nosso povo de tê-la proclamado Rainha e
Padroeira do Brasil!
Virgem Mãe
Aparecida, Mãe de Deus e nossa! Vela pelo povo brasileiro, acolhe nosso brado
filial!
Intercede com
tua oração materna por nossos governantes: que sejam retos, justos, servidores
do bem comum, sobretudo dos mais necessitados!
Sê consolo
para quem chora, força para quem se encontra alquebrado, inspiração e
encorajamento para os pobres, saúde para os enfermos e rosto maternal de Deus
para todos nós! Vela pelas crianças, mantém na harmonia as famílias de nossa
Pátria, vela pela paz no campo e nas cidades!
Senhora
Aparecida, protege a Santa Igreja em terras brasileiras! Roga pelo clero, pelos
religiosos, por todo o povo de Deus!
Ajuda-nos, Mãe
de Deus-Jesus e Mãe nossa, ajuda-nos a construir um Brasil mais cristão, mais
justo, mais pacífico e solidário… e que, pelas tuas preces maternas, jorre para
nós o vinho bom da alegria e sejamos todos, um dia, herdeiros do Reino dos
céus. Amém!