Roteiro Homilético 12: Ordem do Carmo Portugual
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Usando um
símbolo muito conhecido dos primeiros cristãos provenientes do judaísmo, João
Baptista proclama Jesus como o “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”.
O texto evoca ecos de duas imagens do Antigo Testamento: Jesus é o cordeiro pascal
da Páscoa cristã, que, pela sua morte, acontecida no exacto momento em que os
cordeiros pascais estavam a ser abatidos no Templo (Jo 19, 14), salvou o mundo
do pecado, da mesma maneira que o sangue do cordeiro pascal original salvou os
israelitas do anjo destruidor (Êx 12, 1-13). Em segundo lugar, Jesus é também o
Servo de Javé, descrito por Isaías, o Servo Sofredor, que “brutalizado, não
abre a boca; como uma ovelha emudece diante dos tosquiadores; ...carregou o
pecado das multidões e intercede pelos transgressores” (Is 53, 7-12). João
Baptista também proclama que Jesus existia antes dele, um tema tipicamente
joanino, o da pré-existência do Verbo.
Como João
Baptista baptizava com água, Jesus baptizará com o Espírito Santo. O
evangelista quer que o leitor veja uma referência ao Espírito Santo, dado por
Jesus e pelo baptismo cristão.
Diferentemente
dos outros Evangelhos, em João não se fala de uma voz celeste no momento do
baptismo de Jesus. Substituindo-a, o próprio João Baptista dá testemunho: Jesus
é o “Eleito” de Deus, sobre quem o Espírito de Deus desceu e permaneceu! Aqui
temos mais uma referência ao Servo Sofredor de Isaías (Is 42, 1). A ênfase
sobre o facto que o Espírito “permaneceu” sobre Jesus é peculiar ao Quarto
Evangelho. O autor quer ressaltar o relacionamento permanente entre o Pai e o
Filho, e entre o Filho e os que n’Ele acreditam. Aqui, o Espírito de Deus
permanece com Jesus, que o Evangelho vai mostrar ser aquele que o dispensa aos
que crêem (Jo 3, 5. 34; 7, 38-39; 20, 22).
Assim, logo no
início do Quarto Evangelho, temos toda uma cristologia, através do testemunho
de João Baptista referente a Jesus: Ele é aquele que sempre existia, que
morrerá como o Cordeiro Pascal e como o Servo Sofredor, pelos pecados das
pessoas, para depois derramar o Espírito Santo sobre o Novo Israel, a
comunidade dos discípulos.
O baptismo de
Jesus
Os
evangelistas esforçam-se por diferenciar bem o baptismo de Jesus do baptismo de
João. Não se deve confundi-los. O baptismo de Jesus não consiste em submergir
os seus seguidores nas águas de um rio. Jesus submerge os seus seguidores no
Espírito Santo.
O evangelho de
João diz isso de modo claro. Jesus possui a plenitude do Espírito de Deus e,
por isso, pode comunicar aos seus a plenitude. A grande novidade de Jesus
consiste em que Jesus é o “Filho de Deus” que pode “baptizar com o Espírito
Santo”.
Este baptismo
de Jesus não é um banho externo, parecido ao que alguns puderem conhecer nas
águas do Jordão. É um “banho interior”. A metáfora sugere que Jesus comunica o
seu Espírito para penetrar, preencher e transformar o coração da pessoa.
O Espírito
Santo é considerado, pelos evangelistas, como “Espírito de vida”. Por isso,
deixar-nos baptizar por Jesus significa acolher o seu Espírito como fonte de
vida nova. O seu Espírito pode potencializar em nós uma relação mais vital com
ele. Pode-nos levar a um novo nível de existência cristã, a uma nova etapa de
cristianismo mais fiel a Jesus.
O Espírito de
Jesus é “Espírito
de verdade”.
Deixar-nos baptizar por ele é colocar verdade no nosso cristianismo. Não
deixar-nos enganar por falsas seguranças. Recuperar uma e outra na nossa
identidade irrenunciável de seguidores de Jesus. Abandonar caminhos que nos
desviam do evangelho.
O Espírito de
Jesus é “Espírito de amor”, capaz de libertar-nos da covardia e do egoísmo de
viver pensando somente nos nossos interesses e no nosso bem-estar. Deixar-nos
baptizar por ele é abrir-nos ao amor solidário, gratuito e compassivo.
O Espírito de
Jesus é “Espírito de conversão” a Deus. Deixar-nos baptizar por Jesus significa
deixar-nos transformar lentamente por ele. Aprender a viver com os seus
critérios, as suas atitudes, o seu coração e a sua sensibilidade relativamente
a tudo aquilo que desumaniza os filhos e filhas de Deus.
O Espírito de
Jesus é “Espírito de renovação”. Deixar-nos baptizar por ele é deixar-nos
atrair pela sua novidade criadora. Ele pode despertar o melhor que há na Igreja
e dar-lhe um “coração novo”, com maior capacidade de ser fiel ao evangelho.
Palavra para o
caminho
Somente o
Espírito de Jesus pode pôr mais verdade no cristianismo actual. Somente o seu
Espírito pode conduzir-nos a recuperar a nossa verdadeira identidade,
abandonando caminhos que nos desviam, às vezes, do evangelho. Somente esse
Espírito pode dar-nos luz e força para empreender a renovação que necessita a
Igreja hoje.