Roteiro Homilético 3: Vida Pastoral
Ele tira o
pecado do mundo
I. Introdução
geral
O tema vocação
liga as três leituras deste domingo. Na primeira leitura, o servo é chamado,
desde o ventre materno, a unir Israel e ser luz para todas as nações. Como
servo, Deus o prepara para levar a salvação a todos os povos. Na segunda
leitura, Paulo fala da vocação primeira à qual Deus nos predestina: a vocação à
santidade. Somos chamados a ser santos! Quem nos santifica é o Filho de Deus!
No evangelho, João nos fala da vocação de João Batista: precursor do Messias!
Apresenta também, através do testemunho do Batista, que Jesus é aquele que nos
mergulha no Espírito de Deus. Pelo batismo no Espírito Santo, somos chamados a
nos configurar em Cristo Jesus.
II.
Comentários dos textos bíblicos
Evangelho: Jo
1,29-34
Ressalta-se no
texto de João o testemunho de João Batista sobre Jesus. Tal testemunho
expressa-se em três assertivas distintas: Jesus como Cordeiro de Deus, o
Espírito que desce e permanece em Jesus e Jesus o Filho de Deus.
a) O Cordeiro
de Deus
Ao ver Jesus
se aproximar, João diz que ele “é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo” (v. 29). O título “Cordeiro de Deus” que João dá a Jesus corresponde ao
quarto cântico do profeta Isaías: “Como cordeiro levado ao matadouro ou ovelha
diante do tosquiador” (Is 53,7). Pode-se dizer que, com o referido título, João
declara que Jesus é o servo sofredor. Mas não só: João diz que o servo sofredor
tira o pecado do mundo. Nota-se que a
afirmação está no singular: o pecado do mundo. Tirar significa levar embora.
Jesus leva embora o pecado do mundo. Mas que pecado é esse? O pecado da não
crença em Jesus, o pecado da incredulidade.
Em Jesus, não
encontramos somente o perdão dos pecados; nele há também a possibilidade de ser
tirado o pecado, a injustiça e o mal que nos dominam. Crer em Jesus não se
limita a aceitar seu perdão! Crer em Jesus, seguir seus passos, consiste em
lutar para o mundo se libertar do pecado que desfigura o ser humano.
Pecar não
consiste simplesmente em violar as normas divinas ou a Deus. O pecado ofende o
ser humano, pois o atinge em seu ser mais profundo. Desumaniza-o não somente
enquanto indivíduo, mas também socialmente. Pecar é recusar Deus como Pai e,
consequentemente, não aceitar o outro como irmão.
Nesse sentido,
pode-se definir o pecado como o fechamento do ser humano em si mesmo. Este
fechamento decorre da sua autoafirmação diante de Deus e do outro. Fechar-se em
si redunda em recusar relação, ou seja, comunhão.
b) O
testemunho de João
João sustenta
por duas vezes que não conhecia Jesus, mas professa sua fé nele. Esta se
expressa em três afirmações: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo” (v. 29), “eu vi o Espírito Santo descer, como pomba, e permanecer sobre
ele” (v. 32) e “ele é o Filho de Deus” (v. 34). Mas de onde vem essa fé do
Batista? Ela vem de sua experiência de Deus: “Aquele sobre quem vires o
Espírito descer e permanecer, é ele quem batiza com o Espírito Santo” (v. 33).
A fé de João não se limita em ouvir dizer. Ela se fundamenta em sua experiência
de Deus. Ele ouve a voz de Deus e vê o Espírito sobre Jesus.
A Palavra de
Deus é promessa que se realiza. Quem a ouve certamente verá. A fé que recebemos
no batismo nos convida a ouvir a Palavra de Deus e ver as maravilhas que ela
realiza em nossa vida e na vida de comunidade. A fé de João o leva a
aniquilar-se para que Cristo se manifeste: “vim batizar com água para que ele
fosse manifestado a Israel” (v. 31).
A fé faz com
que deixemos Deus se manifestar a todos. Vivemos plenamente a fé não quando
julgamos possuir um poder que nos faz ter Deus ao nosso serviço, ou quando a
vivemos de maneira intimista — estas são visões utilitaristas da fé, ou seja,
visão burguesa da fé —, mas somente quando ela nos leva a nos pôr a serviço dos
nossos irmãos! A fé verdadeira nos instiga a ter sempre jarro e bacia na mão! O
avental é a veste mais bonita da fé! Desse modo, todos nós, batizados, somos,
no mundo, precursores de Jesus, assim como fora João Batista.
c) O Filho de
Deus
João Batista
declara que ele veio “batizar com água” (v. 31), mas Jesus, conforme a
revelação do Pai, “é quem batiza com o Espírito Santo” (v. 33). O batismo do
Batista é um mergulho purificador. Nas águas do Jordão, todos aqueles que
aguardam o Messias purificam-se! O batismo de Jesus consiste num mergulho no
Espírito Santo. Somos imersos no Espírito de Deus! Como reconhecê-lo em nós?
O Espírito
Santo é Espírito de vida. Na criação, “o Espírito pairava sobre as águas” (Gn
1,2). Quando Deus criou o ser humano, “soprou o sopro da vida e ele se tornou
um ser vivente” (Gn 2,7). Após a ressurreição, Jesus soprou sobre os seus
discípulos e disse: “recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22). Em Jesus, toda a
humanidade é recriada. Assim, o Espírito de Deus age em nós todas as vezes que
lutamos em favor da vida! O Espírito Santo nos move sempre quando criamos
condições para que a vida aflore e, com isso, expulsamos do meio de nós os
reinos da morte!
O Espírito
Santo é Espírito da Verdade: “Quando ele vier, o Espírito da Verdade vos guiará
em toda verdade” (Jo 16,13). O Espírito da Verdade age em nós, pois é ele quem
nos remete a Cristo: ele faz em nós a memória de Cristo! Assim, quando agimos
na verdade, quando a buscamos porque é a nossa verdade, porque nos humaniza,
estamos sendo inspirados pelo Espírito Santo!
O Espírito
Santo é também o Espírito de Amor: ele é o laço que entrelaça o amante (Pai) ao
amado (Filho). Quando amamos, comungamos com Deus Trindade. Entrelaçamo-nos à
comunhão trinitária! Com efeito, praticamos a caridade porque o Espírito Santo
nos movimenta a sair de nós mesmos e ir ao encontro do Outro! Amor exige
relação, exige comunhão. Por isso, o amor sempre nos põe em saída, como o Pai e
o Filho!
Enfim, o
Espírito Santo é Espírito santificador. Deixando-nos conduzir pelo Espírito da
Vida, Espírito da Verdade e pelo Espírito de Amor, iremo-nos santificando na
nossa peregrinação da fé, ou seja, iremos tornando-nos perfeitos como o nosso
Pai (Mt 5,48). Imersos no Espírito Santo, deixando-o agir em nós,
testemunhamos, como João Batista, que Jesus é o “Filho de Deus” (v. 34).
I leitura: Is
49,3.5-6
Desde o útero
materno, Deus chama aquele de quem fala o profeta Isaías para ser o seu servo.
Sua vocação consiste em unificar Israel e também em ser luz para todas as
nações: “quero fazer de ti uma luz para as nações” (v. 6). O Servo de Deus não
só unifica os dispersos de Israel, também é luz para todas as nações. Isso para
que a salvação que vem de Deus “chegue aos confins da terra” (v. 6). O servo é
portador da salvação de Deus, pois ele é modelo do Filho de Deus. No batismo, o
próprio Deus revela a condição de Jesus: “Este é o meu Filho amado” (Mt 3,17).
O Filho de Deus, pelo seu Espírito, santifica todos os que creem em sua
Palavra.
II leitura:
1Cor 1,1-3
Paulo sustenta
que todos nós somos chamados por Deus Pai à santidade. A vocação primeira de
todo ser humano consiste neste chamado. Somos “predestinados” à santidade. No
nosso peregrinar na fé, optamos por modos de vida diferentes para responder a
esse chamado: uns no matrimônio, outros na vida consagrada. Todas essas
vocações configuram-se como respostas àquela vocação primeira e essencial.
Quem nos
santifica é Cristo Jesus! E ele nos santifica porque nos imerge no Espírito
Santo! Movendo-nos com o mesmo Espírito que moveu a Cristo, configuramo-nos a
ele. Somos povo santo de Deus!
III. Pistas
para reflexão
Como respondo
ao chamado de Deus à santidade? Deixo-me conduzir pelo seu Espírito? E a
comunidade apresenta-se como espaço no qual a santidade pode desabrochar-se, ou
ela vive fechada em si mesma? Todo aquele que mergulha no Espírito está sempre
em saída, jamais preso em si mesmo. Toda comunidade que se deixa impregnar do
Espírito de Deus se configura como comunidade em missão!
Jesus não só
oferece o perdão dos pecados, ele tira (leva embora) o pecado do mundo. Como
vivemos a experiência do perdão? Quando recebo o perdão, ou quando perdoo o meu
irmão, recebo ou perdoo com o propósito de extirpar o pecado do mundo? Caminhar
na santidade consiste em oferecer e receber o perdão! A comunidade caminha na
santidade?
Percebo o
Espírito da vida, da Verdade, do Amor e da Santidade agindo em mim e na
comunidade? De que modo a comunidade defende a vida, busca a Verdade, vive a
caridade, reveste-se de santidade? Eu colaboro com isso?
Pe. Ivonil
Parraz