Roteiro Homilético 4: Dom Henrique
Na
segunda-feira passada, entramos no Tempo Comum. Hoje, com este Domingo, estamos
iniciando a segunda semana desse Tempo verde; verde de quem caminha no pequeno
dia-a-dia cheio de esperança, porque sabe que o Filho de Deus veio habitar
entre nós, entrou nos nossos tempos para santificar os pequenos e aparentemente
insignificantes momentos de nossa vida: “O Verbo se fez carne e armou sua tenda
entre nós” (Jo 1,14). Para nós, nunca mais o tempo, a vida e a história humana
serão a mesma coisa! Agora, tudo tem o gosto da presença de Deus, nossos tempos
têm sabor de eternidade, gostinho da vida de Deus, do companheirismo
misericordioso de Deus. Então, que este Tempo Comum seja, para todos quantos,
tempo de graça, tempo de vigilância amorosa, tempo de esperança invencível!
Neste segundo
Domingo Comum, a Palavra de Deus ainda nos liga ao Batismo do Senhor, celebrado
no Domingo passado. Recordemo-nos do que vimos na Festa que encerrou o santo
Tempo do Natal: Jesus foi batizado por João Batista e ungido pelo Pai com o
Espírito Santo como Messias de Israel: “Este é o meu Filho amado, no qual eu
pus o meu bem-querer!” (Mt 3,17). Recordemos que o Pai lhe revelou o caminho
pelo qual ele deveria passar para cumprir sua missão: o caminho do Servo
Sofredor de Isaías, pobre e humilde: “Ele não clama nem levanta a voz, nem se
faz ouvir pelas ruas”. Servo manso e misericordioso: “Não quebra a cana rachada
nem apaga o pavio que ainda fumega”. Servo perseverante no serviço de Deus:
“Não esmorecerá nem se deixará abater”. Servo que será redenção para o povo de
Israel e para todas as nações, dando-lhes a luz, o perdão e a paz: “Eu o
Senhor, te chamei para a justiça e te tomei pela mão; eu te formei e te
constitui como aliança do povo, luz das nacões, para abrires os olhos aos cegos,
tirar os cativos das prisões, livrar do cárcere os que viviam nas trevas!” (Is
42,2-4.6-7)
Pois bem, o
Evangelho de hoje aprofunda ainda mais este quadro impressionante, que nos
revela a missão de Cristo Jesus: “João viu Jesus aproximar-se dele e disse:
‘Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” Em aramaico, língua que
João e Jesus falavam, “cordeiro” diz-se talya, que significa, ao mesmo tempo
“servo” e “cordeiro”. Então, “eis o Cordeiro-Servo de Deus, que tira o pecado
do mundo!” Mas, que Cordeiro? Aquele, expiatório, que segundo Levítico 14, era
mandado para o deserto, colocado fora da cidade, carregando os pecados de
Israel… Como Jesus que “para santificar o povo por seu próprio sangue, sofreu
do lado de fora da porta” (Hb 13,12) de Jerusalém, como um rejeitado, um
condenado renegado. Repitamos a pergunta: Que Cordeiro? Aquele cordeiro pascal
de Ex 12, cujos ossos não poderiam ser quebrados (cf. Jo 19,36); cordeiro
comido como aliança de Deus com Israel! Que cordeiro? – insistamos na pergunta!
Aquele, cujo sangue, aspergido sobre o povo, selará a nova e eterna aliança
entre Deus e o povo santo (cf. Ex 24,8; Mt 26,27). Jesus é esse Cordeiro de
Deus, que tira o pecado do mundo, tomando-o sobre si! E que Servo? O Servo
sofredor anunciado pelo Profeta Isaías. Já ouvimos falar dele no Domingo
passado; fala-nos dele novamente a Liturgia deste Domingo hodierno: Servo
predestinado desde o nascimento: o Senhor “me preparou desde o nascimento para
ser seu Servo”; Servo destinado a recuperar e salvar Israel: “que eu recupere
Jacó para ele e faça Israel unir-se a ele; aos olhos do Senhor esta é a minha
glória”; Servo destinado não só a Israel, mas a todas as nações: “Não basta
seres meu Servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os remanescentes de
Israel: eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue aos confins
da terra”. Eis, portanto, quem é o nosso Jesus: o Cordeiro, o Servo! Nele,
feito homem, nele, sofrido como nós, nele, morto e ressuscitado, no seu corpo
macerado e transfigurado em glória, Deus reuniu e formou um novo povo, o
verdadeiro Israel, a Igreja – esta que aqui está reunida em torno do altar e
esta mesma, reunida em toda a terra e, como diz São Paulo hoje,“em qualquer
lugar” onde o nome do Senhor Jesus é invocado! Eis: este povo que Cristo veio
reunir, esta Igreja que o Senhor veio formar somos nós, já santificados no
Batismo e chamados a ser santos por nosso procedimento, por nosso seguimento ao
Senhor!
João
reconheceu em Jesus este Messias, tão humilde e tão grande: ele é o próprio
Deus: “passou à minha frente porque existia antes de mim!” E como Deus feito
homem, ele é o único e absoluto Salvador de todos – e não há salvação sem ele
ou fora dele! João reconhece nele o ungido, aquele sobre quem o Espírito“desceu
e permaneceu”. O próprio Jesus dará testemunho desta realidade: “O Espírito do
Senhor repousa sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres;
enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da
vista, para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar um ano de
graça do Senhor” (Lc 4,18-19). João reconhece nele ainda aquele que, cheio do
Espírito Santo, batizará no Espírito Santo:“Aquele sobre quem vires o Espírito
descer e permanecer, este é o que batiza com o Espírito Santo”. Batizando-nos
no Espírito, este Santíssimo Jesus-Messias dá-nos o perdão dos pecados, a sua
própria vida divina e a graça de, um dia, ressuscitar dos mortos!
Enfim, João dá
testemunho de que esse Jesus bendito é mais que um Servo, mais que um Crodeiro,
mais que um Profeta: ele é o Filho de Deus: “Eu vi e dou testemunho: Este é o
Filho de Deus!”
Que mais
dizer, ante um Messias tão humilde e tão grande? “Senhor Jesus Cristo, Santo
Messias, Servo e Cordeiro de Deus, cremos em ti, a ti seguimos, em ti colocamos
nossa vida e nossa morte! Sustenta-nos, pois em ti esperamos: tu és o sentido
de nossa existência, a razão de nossa vida e o rumo da nossa estrada! Queremos
seguir-te, a ti, tão pequeno e tão grande; queremos morrer contigo e contigo
ressuscitar-nos para a vida eterna; queremos ser testemunhas do Reino do Pai
que plantaste com tua bendita vinda. Senhor Jesus, a ti amamos, em ti
esperamos, em ti vivemos! Sê bendito para sempre. Amém”.
D. Henrique
Soares da Costa