Roteiro Homilético 9: Padre Françoá Costa
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Banquete
sacrifical
“Eis o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). Essas palavras soam
aos nossos ouvidos em cada Santa Missa ao aproximar-se um dos momentos mais
sublimes do sacrifício eucarístico, a comunhão. E nós respondemos: “Senhor, eu
não sou digno (…)”. Jesus Cristo vem a nós em cada celebração eucarística. Não
nos esqueçamos, no entanto, de que a graça da comunicação de Deus conosco passa
pelo sacrifício do seu filho, Cordeiro oferecido ao Pai que, com a sua
obediência e com o seu amor, tira o pecado do mundo. De fato, essas palavras do
Evangelho segundo S. João aludem ao sacrifício redentor de Jesus Cristo.
A Missa é
sacrifício, ou seja, uma realidade sagrada oferecida a Deus. Não se pode negar
essa verdade de fé divina e católica, quem assim o fizesse cairia na heresia.
O sacrifício
está presente em toda a Sagrada Escritura; também o está nas diversas
religiões. O ser humano sempre sentiu o desejo de oferecer dons a Deus. A
universalidade desse fato nos mostra que é uma tendência natural do ser humano
dirigir-se à divindade ofertando-lhe algo. Nas pessoas há tendências
universais, independentemente da cultura na qual estejam integradas: a
consciência de limitação e de culpa; a intuição de que existe um ser que está
por encima de todos, criador e providente (= Deus); essa inclinação a oferecer
a Deus dons, queira para agradá-lo queira para aplacá-lo; o desejo de não
morrer etc.
Foi Deus quem
colocou essas tendências universais no coração do homem. Assim como os projetos
do homem passam primeiro pela sua mente, depois vão ao papel e chegam à
realidade; de maneira semelhante, os projetos de Deus passaram pelo seu
coração, foram prefigurados de diversas maneiras nas multiformes culturas e,
finalmente, chegaram à sua cima em Jesus Cristo. Santo Irineu de Lyon gostava de
dizer que Deus foi acostumando, durante séculos, o ser humano à sua maneira de
atuar. O homem foi se acostumando com a maneira de Deus trabalhar no mundo e na
sua vida. Em relação aos sacrifícios se vê essa mesma “pedagogia” de Deus.
Começando pela
rudimentariedade dos sacrifícios antigos, passando pelo primor das cerimônias
do povo de Israel e chegando, finalmente, à perfeição do sacrifício de Cristo
na cruz, se vê uma línea constante na maneira de atuar de Deus. Cristo ofereceu
a si mesmo, o seu amor e a sua obediência, como oblação pura ao Pai. Ele é
sacerdote, vítima e altar. O sacrifício de Cristo, que consiste essencialmente
no seu amor e na sua obediência, teve manifestações externas que chegaram ao
cume do sofrimento humano.
A Igreja
Católica sempre teve essa convicção: a Missa, toda Missa, é verdadeiro e
próprio sacrifício. Essa verdade de fé foi reafirmada e dogmatizada solenemente
pelo Concilio de Trento. Em cada celebração eucarística se oferece,
verdadeiramente, Jesus Cristo ao Pai pela ação do Espírito Santo; em cada Santa
Missa há um sacrifício no sentido próprio e real que essa palavra tem:
sacrifício é oferecimento de um dom sagrado à divindade. É muito importante que
compreendamos a palavra sacrifício como oferta. Seria um absurdo, em efeito,
pensar, segundo o modelo dos antigos sacrifícios, que em cada Missa o padre
mata a Cristo e o oferece ao Pai. Isso seria um horrível sacrilégio!
Cristo
“apareceu uma só vez ao final dos tempos para destruição do pecado pelo
sacrifício de si mesmo” (Hb 9,26). Jesus morreu uma só vez, ofereceu
perfeitissimamente ao Pai o seu amor e a sua obediência, as suas chagas e os
seu sangue derramado para a nossa salvação. Conseguida essa salvação, “Cristo
entrou, não em santuários feito por mãos de homens, que fosse apenas figura do
santuário verdadeiro, mas no próprio céu, para agora se apresentar intercessor
nosso ante a face de Deus” (Hb 9,24). Mas, de que maneira Cristo intercede por
nós no céu? De várias maneiras, mas todas elas se resumem no seu sacrifício. A vida
santíssima, redentora e santificadora de Jesus Cristo teve o seu momento mais
alto e reunificador no Mistério Pascoal, isto é, na sua Morte, Paixão e
Glorificação. Cristo nos salvou apresentando-se ao Pai e continua salvando-nos
apresentando-se ao Pai. Ele é o nosso único Mediador.
Jesus entrou
no céu com todos os méritos conseguidos na sua vida terrenal. Esses méritos são
infinitos porque são os méritos do Filho de Deus, que é Deus. Apresentando-se
ao Pai com o seu Mistério Pascoal, Jesus envia desde o santuário celeste esse
mesmo Mistério, a sua Páscoa, à humanidade. Como? Através da Missa, que é a
atualização dos Mistérios de Cristo, cujo central é a Cruz gloriosa, isto é, a
sua Morte e Ressurreição, que mereceu também o envio do Espírito Santo. Em cada
Missa, faz-se presente, atual, o Mistério da Cruz gloriosa e, ao entrarmos
nesses raios divino-humanos da Eucaristia, somos redimidos, salvados,
santificados e glorificados antecipadamente.
Há um livro
belíssimo, escrito por um santo, que vale a pena ler para aumentar a piedade
eucarística: “As excelências da Santa Missa” de S. Leonardo do Porto Mauricio
pode ser uma grande ajuda para adentar mais nesse Mistério, para viver a Santa
Missa.