3° Domingo do Tempo Comum, Ano A 5
Roteiro Homilético 5: Franciscanos.org
A Luz do
Evangelho
O evangelho de
Mt é o evangelho do cumprimento das Escrituras, como já notamos várias vezes.
Toda a “história de Jesus” é narrada como realização daquilo que, no Antigo
Testamento, parecia anúncio ou prefiguração do definitivo agir salvífico de
Deus. Quando Jesus se muda de Nazaré para Cafarnaum, Mt vê aí a realização
última e
definitiva daquilo que já acontecera uma vez no tempo de Isaías.
Pois, naquele
tempo, o nascimento de um príncipe parecia prometer tempos melhores para a
população da Galiléia (Zabulon e Neftali), terrorizada pelas deportações
assírias: o povo que ficara nas trevas veria uma nova luz, Para Mt, a mudança
de Jesus para aquela região realiza plenamente o plano de Deus. É o que nos
mostram a 1ª leitura e o evangelho de hoje. Nessa realização, soa o clamor
messiânico: “Convertei-vos, o Reino de Deus chegou!”
Na
efervescência desta nova consciência, pescadores são transformados em
pescadores de homens. Dando seqüência à palavra de Jesus, abandonam suas redes
e suas famílias e se engajam com ele para fazer acontecer o Reino de Deus.
Jesus inicia suas pregações nos arredores, sua mensagem é confirmada pelos
prodígios que realiza, prodígios que falam da comiseração de Deus para com seu
povo oprimido. Como canta o salmo responsorial, Deus se revela como luz e
salvação para os seus; o povo pode animar-se e pôr nele toda a confiança.
Com isto,
desenhamos o espírito fundamental deste domingo: um novo ânimo apodera-se do
povo no qual Jesus inicia sua pregação. Ao largarem tudo, os pescadores do lago
de Genesaré representam a transformação que a pregação da proximidade do Reino
causou.
A liturgia nos
toma contemporâneos desses primeiros que ouviram a pregação e seguiram o apelo.
A pregação de Jesus não perdeu nada de sua atualidade. Nisto consiste a
“plenitude” daquilo que Cristo veio fazer: o que aconteceu “uma vez” é também
“para sempre”. Sua pregação tornou-se, de algum modo, um eterno presente.
Também hoje devemos ouvir a voz que nos diz que Deus veio até nós, para que nós
voltemos a ele. Pois a nossa existência e a nossa história, por si mesmas,
sempre se degradam. O Reino de Deus nunca é definitivamente conquistado, pelo menos
não enquanto dura a história humana. É uma realidade que deve aproximar-se
sempre de novo; e nós, portanto, devemos converter-nos, voltar-nos para ele
sempre de novo, como indivíduos, como sociedade, como Igreja, como cultura.
Evangelização é isso aí: o evangelho, o clamor de Cristo na terra de Zabulon e
Neftali, ressoa sempre de novo nossa vida adentro.
Já no começo
da Igreja, Paulo sentiu que o evangelho não foi um mero grito passageiro lá na
margem do lago de Genesaré, mas um chamado sempre novo à conversão. Aos seus
cristãos de Corinto, que generosamente aceitaram a fé, ele deve lembrar, depois
de algum tempo, o evangelho, que, diferente das considerações humanas, não
permite a divisão, mas une a todos no nome do Cristo, no qual são batizados. O
evangelho não é de belas palavras, mas da cruz de Cristo.
“Evangelho”
significa “boa-nova”. É uma luz para os que estão nas trevas. Os prodígios que
acompanham a pregação de Jesus revelam o luminoso amor de Deus para seu povo. O
que nós anunciamos como mensagem de Deus tem estas características? Alivia o
povo oprimido, anima os desanimados?
Evangelizar
com palavras e ações
Para ver
melhor, vamos recuar um pouco… Sete séculos antes de Cristo, duas tribos de
Israel – Zabulon e Neftali – foram deportadas para a Assíria, e povos pagãos
tomaram seu lugar. A região ficou conhecida como “Galiléia dos pagãos”. Naquele
mesmo tempo, o profeta Isaías anunciou que o novo rei de Judá poderia ser uma
luz para as populações oprimidas (1ª leitura). Sete séculos depois, Jesus começa
sua atividade exatamente naquela região, a Galiléia dos pagãos. Realiza-se, de
modo bem
mais pleno, o
que Isaías anunciara. É o que nos ensina o evangelho de hoje.
Jesus anuncia
a chegada do Reino de Deus. Mas não o faz sozinho. Do meio do povo, chama os
seus colaboradores. Dos pescadores do Lago da Galiléia ele faz “pescadores de
homens”. Eles deixam seus afazeres, para se dedicarem à missão de Jesus:
anunciar a boa-nova, a libertação de seu povo oprimido. Esse anúncio não
acontece somente por palavras, mas também por ações. Jesus e os discípulos
curam enfermos, expulsam demônios… Anunciar o reino implica aliviar o
sofrimento, pois é a realização do plano de amor de Deus.
Nosso povo
anda muito oprimido pelas doenças físicas, mas sobretudo pelas doenças da
sociedade: a exploração, o empobrecimento dos trabalhadores etc. Deus é sua
última esperança. O povo entenderá o que Jesus pregou (justiça, amor etc.) como
boa-nova à medida que se; realize algum sinal disso em sua vida (alívio de
sofrimento pessoal e social). Um desafio para nós.
Jesus chama
seus colaboradores do meio do povo. Ora, na Igreja, como tradicionalmente a
conhecemos, os anunciadores tornaram-se um grupo separado, um clero, uma casta,
enquanto Jesus se dirigiu a simples pescadores que trabalhavam ali na beira do
lago. Ensinou-lhes uma outra maneira de pescar: pescar gente. Onde estão hoje
os pescadores de homens, agricultores de fiéis, operários do Reino – chamados
do meio do povo? Por que só os intelectuais podem ser chamados, para, munidos
de prolongados estudos, ocuparem “cargos”eclesiásticos, à distância do povo?
Não é ruim estudar; oxalá os pescadores e operários também pudessem fazer. Mas
importa observar que a evangelização, o anúncio do Reino, puxar gente para a
comunidade de Jesus, não é tarefa reservada a gente com diploma. E a Igreja
como um todo deve voltar a uma simplicidade que possibilite que pessoas do povo
levem o anúncio aos seus irmãos e assumam a responsabilidade que isso implica.