4° Domingo do Tempo Comum, Ano A 12

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Roteiro Homilético 12: Ordem do Carmo Portugual
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 5,1-12)

Naquele tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos e Ele começou a ensiná-los, dizendo: «Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. Bem-aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa».

Mensagem

Estes primeiros versículos do capítulo 5 (Mt 5,1-12) servem ao mesmo tempo como introdução e resumo do Sermão da Montanha. Apresentam-nos um retrato das qualidades do verdadeiro discípulo, do que, no seguimento de Jesus, procura viver os valores do Reino de Deus. Basta uma leitura superficial para ver que a proposta de Jesus está na contra-mão da proposta do tempo tanto de Jesus como de hoje. Embora com uma linguagem menos contundente do que Lucas (Lc 6, 20-26), o texto de Mateus deixa claro que o seguimento de Jesus exige uma mudança radical na nossa maneira de pensar e viver.

Vejamos, de forma muito resumida, cada uma das categorias que as bem-aventuranças, apresentam.

Os “pobres em espírito” são aqueles que aceitam renunciar, livremente, aos bens, ao próprio orgulho e auto-suficiência, para se colocarem, incondicionalmente, nas mãos de Deus, para servirem os irmãos e partilharem tudo com eles.

Os “mansos” não são os fracos, os que suportam passivamente as injustiças, os que se conformam com as violências orquestradas pelos poderosos, mas são aqueles que recusam a violência, que são tolerantes e pacíficos, embora sejam, muitas vezes, vítimas dos abusos e prepotências dos injustos. A sua atitude pacífica e tolerante torná-los-á membros de pleno direito do Reino.

Os “que choram” são aqueles que vivem na aflição, na dor, no sofrimento provocados pela injustiça, pela miséria, pelo egoísmo; a chegada do Reino vai fazer com que a sua triste situação se mude em consolação e alegria.

A quarta bem-aventurança proclama felizes “os que têm fome e sede de justiça”. Provavelmente, a justiça deve entender-se, aqui, em sentido bíblico, isto é, no sentido da fidelidade total aos compromissos assumidos para com Deus e para com os irmãos. Jesus dá-lhes a esperança de verem essa sede de fidelidade saciada, no Reino que vai chegar.

Os “misericordiosos” são aqueles que têm um coração capaz de compadecer-se, de amar sem limites, que se deixam tocar pelos sofrimentos e alegrias dos outros homens e mulheres, que são capazes de ir ao encontro dos irmãos e estender-lhes a mão, mesmo quando eles falharam.

Os “puros de coração” são aqueles que têm um coração honesto e leal, que não pactua com a duplicidade e o engano.

Os “que constroem a paz” são aqueles que se recusam a aceitar que a violência e a lei do mais forte rejam as relações humanas; são aqueles que procuram ser – às vezes com o risco da própria vida – instrumentos de reconciliação entre os homens.

Os “que são perseguidos por causa da justiça” são aqueles que lutam pela instauração do Reino e são desautorizados, humilhados, agredidos, marginalizados por parte daqueles que praticam a injustiça, que fomentam a opressão, que constroem a morte. Jesus garante-lhes: o mal não vos poderá vencer; e, no final do caminho, espera-vos o triunfo, a vida plena.

Na última “bem-aventurança”, o evangelista dirige-se, em jeito de exortação, aos membros da sua comunidade que têm a experiência de ser perseguidos por causa de Jesus e convida-os a resistir ao sofrimento e à adversidade. Esta última exortação é, na prática, uma aplicação concreta da oitava “bem-aventurança”.

Em conclusão. Um primeiro elemento que chama a atenção é o facto de que a primeira e a última bem-aventurança estão com o verbo no presente: o Reino já é dos pobres em espírito e dos perseguidos por causa da justiça. Na verdade, trata-se das mesmas pessoas, pois os que buscam a justiça são “pobres em espírito”. Eles já vivem na dependência total de Deus, pois só com Ele esses valores podem vigorar. Mas quem luta pela justiça será perseguido e quem não se empenha nessa luta jamais poderá ser “pobre em espírito”.

As outras bem-aventuranças traçam as características de quem é pobre em espírito. É aflito, por causa das injustiças e do sofrimento dos outros. É manso, não no sentido de passivo, mas porque não é movido pelo ódio e violência. Tem fome da Justiça do Reino, não a dos homens, que tantas vezes não passa de uma legitimação oficial da exploração e do privilégio. Tem coração compassivo, como o próprio Pai do Céu, e é “puro de coração”, sem ídolos e falsos valores. Promove a paz, não “a paz que o mundo dá” (Jo 14, 27), mas o “shalom”, a paz que nasce do projecto de Deus, quando existe a justiça do Reino.

Continua válido para todos nós, como indivíduos e como comunidades, o desafio de estar “na contra-mão, com Jesus” (Carlos Mesters). Não somente na contra-mão da sociedade, mas com uma proposta de construção de uma sociedade fundamentada nos princípios do Sermão da Montanha. No mundo onde estas metas e princípios são chamados da “ladainha dos perdedores”, cabe aos cristãos descobrir meios práticos de concretização desta utopia, a utopia de Deus, que impelia Jesus a doar a sua vida! O mundo é o palco da nossa missão (Jo 16, 18).

Palavra para o caminho

Jesus diz: Bem-aventurados os pobres de espírito, bem-aventurados os aflitos, os mansos, quem tem fome e sede de justiça, os misericordiosos, bem-aventurados os puros de coração, os pacificadores, os que sofrem perseguição por causa da justiça (cf. Mt 5, 3-10). Na realidade, o Bem-Aventurado por excelência é somente Ele, Jesus.

Com efeito, Ele é o verdadeiro pobre de espírito, o aflito, o manso, aquele que tem fome e sede de justiça, o misericordioso, o puro de coração, o pacificador; Ele sofre perseguição por causa da justiça. As Bem-Aventuranças revelam-nos a fisionomia espiritual de Jesus e assim exprimem o seu mistério, o mistério da Morte e da Ressurreição, da Paixão e da alegria da Ressurreição. Este mistério, que é mistério da verdadeira bem-aventurança, convida-nos ao seguimento de Jesus e, deste modo, ao caminho que conduz a ela. Na medida em que aceitamos a sua proposta e nos colocamos no seu seguimento cada qual nas suas próprias circunstâncias também nós podemos participar das Bem-Aventuranças. Juntamente com Ele, o impossível torna-se possível e até um camelo pode passar pelo fundo de uma agulha (cf. Mc 10, 25); com a sua ajuda, somente com a sua ajuda podemos tornar-nos perfeitos como é perfeito o Pai celeste (cf. Mt 5, 48) (Bento XVI).