Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus Ano A

Roteiro Homilético 1: Mensagem
(cnbbleste2.org.br Dom Emanuel Messias de Oliveira)
Hoje é a Oitava do Santo Natal. É um antiqüíssimo costume da Igreja de Roma, voltar seu coração e sua mente, neste dia, para Aquela de quem nasceu o Salvador do mundo. O Evangelho de São Mateus afirma que os magos, ao entrarem onde estava a Sagrada Família, “viram o Menino com Maria, sua Mãe e, prostrando-se, o homenagearam” (2,11). Trata-se da homenagem solene e ritual prestada aos reis orientais. E, no Oriente, a Mãe do rei, chamada gebirah, exercia um papel importantíssimo. Pois, eis aqui, na cena do Evangelho, o Rei dos judeus, o Rei-Messias, o Rei que é Deus, e sua Rainha-Mãe, sua gebirah, a Virgem Maria! Agradecida pelo seu “sim” ao plano de Deus, a Igreja chama-a, desde os primórdios da fé cristã, de “Mãe de Deus”, isto é, “Mãe de Deus-Filho feito homem”! Com isto, nós confessamos que o Menino nascido da Virgem é Deus verdadeiro e perfeito, uma Pessoa divina com a natureza divina completa e uma verdadeira natureza humana. Ele, Filho do eterno Pai, fez-se realmente, como homem, filho de Maria Virgem, sem deixar de ser Deus! Na Virgem Santíssima, que trouxe em seu seio a segunda Pessoa da Trindade Santa, o divino e o humano se encontraram para sempre, os céus e a terra se abraçaram para nunca mais se deixarem!
                Ao recordar a Maternidade Divina de Nossa Senhora, a Igreja recorda também as condições maravilhosas dessa maternidade: ela aconteceu de modo virginal! Com efeito, a Mãe do Senhor concebeu virginalmente, virginalmente deu à luz e virgem permaneceu para sempre! A Virgem não somente concebeu, mas também virginalmente deu à luz um filho – eis a profecia de Isaías (cf. 7,14). A Igreja canta esse mistério com palavras admiráveis: “Na sarça que Moisés via arder sem se consumir, admiramos o sinal da vossa incomparável virgindade, ó Mãe de Deus!” e ainda, pensando na porta selada, pela qual somente o Senhor passaria, como profetizou Ezequiel (cf. 44,2), a Igreja exclama: “A porta eterna do Templo eternamente fechado feliz e pronta se abre somente ao Rei esperado!”. Aqui silencia a imaginação humana, pois que pertence ao segredo de Deus o modo como, Virgem, Nossa Senhora concebeu e ainda como, virginalmente, deu à luz! Uma coisa é certa: sua virgindade perpétua quer nos mostrar o quanto esse Menino todo vindo de Deus é um novo começo, um novo início para toda a criação e toda a humanidade! Além do mais, revela o quanto Maria Virgem foi integralmente de Deus, de corpo e alma. Num mundo que endeusa o sexo e exalta de modo abusivo a sensualidade, a Santíssima Virgem nos aponta outros valores e revela a beleza da virgindade e da castidade como expressão do ser humano vivendo livre, debaixo do senhorio de Cristo, no seu corpo, no seu afeto e na sua alma! Quanto mais alguém vive totalmente para o Senhor, mais fecundo se torna em sua vida e mais traz Jesus ao mundo, como testemunha do Reino dos céus. Por isso a saudação que a Igreja hoje dirige à Virgem Maria: “Salve, ó Santa Mãe de Deus, vós destes à luz o Rei que governa o céu e a terra pelos séculos eternos!”
                Hoje também, oitavo dia do nascimento do Fruto do ventre da Virgem, a Igreja recorda a circuncisão do Menino. Ele, circuncidado, passou a fazer parte do Povo de Israel. Assim, cumpriu-se a promessa que Deus fizera a Abraão, nosso Pai. Da sua descendência o Senhor fizera surgir um Salvador para todas as nações: “Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou o seu filho, nascido de uma Mulher, nascido sob a Lei!”. Circuncidado, o Menino recebeu o nome de Jesus, que significa “o Senhor salva”. Seu nome revela sua identidade, sua missão e a causa da nossa alegria! Ele é a salvação que Deus nos concede, ele é a nossa Paz, pois nos reconcilia com Deus e nos abre as portas dos céus. Por isso mesmo, os cristãos hoje, juntamente com toda a humanidade, celebram o Dia da Paz. Para nós, essa Paz tem um nome, tem um rosto, tem um sorriso. Podemos encontrar tudo isso naquele que veio de Maria, a Virgem! Somente abrindo-se para ele, o mundo encontrará a verdadeira paz!
                Confiemos, pois, os dias do novo Ano civil que está começando, a este Menino, o Príncipe da Paz. Que o seu nome repouse sobre nós, como uma bênção! Certamente, neste ano choraremos e sorriremos, venceremos e fracassaremos, cairemos e nos ergueremos... Não importa! Importa, sim, que estejamos com o Senhor, ele, que estará sempre conosco. Ele foi apelidado – não esqueçamos – de Emanuel, Deus-conosco! Que este ano seja, como se colocavam nos antigos documentos, “Ano da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo!”
                Estamos iniciando o Ano Novo profundamente feridos e perplexos com a tragédia da Ásia. Escapa-nos o porquê de tanta dor, sofrimento e morte. Mas, teimamos em acreditar que há um Deus no céu, que, em Cristo, esse Deus fez-se presente como amor, como companhia, como ternura e consolo para toda a humanidade. Cremos que, neste Menino que nasceu e cresceu e chorou e sofreu e morreu, Deus faz-se, para sempre, solidário conosco. Queremos recordar cada morto e cada sobrevivente dessa tragédia; queremos recordar aqueles montes de cadáveres em decomposição, sem tempo para uma sepultura digna; queremos dizer que tudo isso é muito triste, é absurdamente incompreensível! Mas, queremos também colocar tudo isso nas mãos desse Menininho; também ele pobre, também ele perseguido, também ele sem abrigo, também ele sofredor até a morte de cruz, até o silêncio da sepultura, para dar sentido às nossas dores e vencer a nossa morte. Nesse Menino crucificado, a dor humana não se explica, mas encontra consolo; nesse Emanuel, nós sabemos que Deus está conosco, mesmo quando parece se calar ante uma tragédia como a que estamos assistindo!
                Coloquemos, pois, os dias de nossa vida nas mãos do Salvador. E, como penhor de que nossas preces serão ouvidas, supliquemos à Mãe de Deus toda Santa: “À vossa proteção recorremos, ó Santa Mãe de Deus! Protegei os pobres, ajudai os fracos, consolai os tristes, rogai pela Igreja, protegei o clero, ajudai-nos todos, sede nossa salvação! Santa Maria, sois a Mãe dos homens, sois a Mãe do Cristo que nos fez irmãos! Rogai pela Igreja, pela humanidade e fazei que, enfim, tenhamos paz e salvação!”

Caríssimos em Cristo, certamente o pensamento mais presente neste hoje é o do início do Ano que iniciamos. Precisamente por este motivo, a primeira leitura da Missa invocou a bênção e a paz sobre nós: “O Senhor te abençoe e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e se compadeça de ti! O Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!” Três vezes foi pronunciado o nome do Senhor! Começamos bem o ano de 2006! Mas, nunca esqueçamos quem é este Senhor: é o Menino que nos nasceu, o Filho que nos foi dado e que, precisamente, hoje, oito dias após o seu admirável nascimento, recebeu o nome de Jesus, que significa Deus salva! Eis: em Jesus, Deus nos salva com a verdadeira paz, paz que brota da comunhão com o Senhor! Que ele inunde com sua doce paz os dias do novo Ano, criança como o Menino de Belém!
           Mas, hoje, é também a Oitava do Santo Natal, dia no qual a Igreja volta-se para a Virgem que gerou em seu seio e deu à luz o verdadeiro Deus feito homem. Chegou a plenitude dos tempos e “Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher”, aquela mesma que os pastores encontraram velando o “recém-nascido deitado na manjedoura”. Somos gratos à Virgem Santa e, contemplando o seu filhinho, reconhecemos nele o Deus perfeito e a proclamamos verdadeiramente Mãe de Deus: “Salve, ó Santa Mãe de Deus! Vós destes à luz o Rei que governa o céu e a terra pelos séculos eternos!’ – assim canta a Igreja hoje, saudando a Toda Santa Virgem Maria. Nossos irmãos orientais, de rito bizantino, no Natal, cantam assim: “Ó Cristo, que podemos oferecer-vos como dom por vos terdes manifestado sobre a terra na nossa humanidade? Com efeito, cada uma das vossas criaturas exprime a sua ação de graças, e a vós traz: os Anjos, o seu cântico; o céu, uma estrela; os Magos, os seus dons; os Pastores, a admiração; a terra, uma gruta; o deserto, uma manjedoura; e nós, uma Virgem Mãe!” Eis, pois, caríssimos irmãos, nossa presente ao Salvador: a mais bela flor de nossa raça, o mais belo membro da Igreja, a Virgem Maria!
          Comprometamo-nos, então, a viver os dias do Novo Ano com as mesmas atitudes de Nossa Senhora! Primeiro, uma atitude de fé: ela escutou a Palavra, ela creu de todo o coração. Foi mulher totalmente aberta ao seu Senhor. Que neste 2006, saibamos, também nós, viver de fé; mesmo quando tudo parecer escuro, mesmo nos dias difíceis, mesmos nos momentos de pranto e nossa inteligência não conseguir compreender nem nossa vista conseguir enxergar os passos do Senhor. Em segundo lugar, uma atitude de disponibilidade à missão. Nossa Senhor não se furtou ao convite do Senhor, não se acomodou numa vida centrada nos seus próprios interesses: fez-se serva, fez-se disponível, fez-se ministra do plano salvífico do Senhor em nosso favor. Do mesmo modo, saibamos nós discernir o que o Senhor nos vai pedir e, sem medo, sem mesquinho fechamento, digamos-lhe “sim”, mesmo quando tal resposta for difícil e sofrida! Mas, tudo isso será impossível sem uma terceira atitude que devemos aprender da Mãe de Deus: aquela de escuta silenciosa e contemplativa. O Evangelho nos dá conta que Maria “guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração!” Eis! A Virgem rezava, a Virgem pensava nos acontecimentos à luz de Deus, na presença silenciosa do Senhor, procurando entender o sentido profundo das coisas. Somente quem faz assim pode ver sempre Deus em todas as coisas e em todas as circunstâncias...

           Caríssimos, certamente, haveremos de sorrir e chorar nestes dias do novo ano. Que lágrimas e sorrisos, vitórias e derrotas, abraços e separações, sejam vividos na luz do Senhor, do Menino que brilhou como luz nas nossas trevas e que, nele, encontremos sempre a paz. Para tanto, valha-nos, cada dia deste 2006, as preces da Toda Santa Mãe de Deus! Amém.