Roteiro Homilético 4: Dom Henrique
Caríssimos irmãos
no Senhor, mais uma vez estamos reunidos para a santa Eucaristia dominical, na
qual encontramos o Ressuscitado, alimentamo-nos da sua palavra e nutrimo-nos do
seu Corpo sagrado. Com efeito, ele está conosco, ele nos fala, ele se dá a nós,
totalmente! Ouvir o Senhor, alimentar-se dele – pensem bem -, significa
abrir-se para ele porque nele cremos. É isto crer, meus caros: viver abertos de
verdade para o Senhor, deixando que ele plasme a nossa vida, ilumine os nossos
caminho, vá invadindo e transformando toda a nossa existência.
Se pensarmos
bem, é a uma atitude assim que a Palavra de Deus hoje nos convida. O Senhor
Deus nos diz: “Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo”; depois,
no Evangelho, insiste: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito!” Em
outras palavras: Sede como o vosso Deus, deixai-vos invadir por ele,
transformar por ele! Deixai que ele seja o lastro, o alicerce, o fundamento, o
rumo da vossa vida! Crer nele e deixar-se invadir por ele e ir assumindo seus
sentimentos, seus pensamentos, seus desígnios. Observai como na primeira
leitura o Senhor Deus afirma: “Eu sou o Senhor!” Se eu sou o Senhor para vós,
sede santos como eu, tende um coração como o meu: não guardes ódio no coração,
não te vingues, repreende o teu próximo com bom coração, ama de verdade o
próximo como a ti mesmo!
Compreendeis,
caríssimos? Não podemos dizer que Deus é o Senhor e, ao mesmo tempo, vivermos
do nosso modo, como se nós próprios fôssemos o nosso Deus! Alguém que viva do
seu modo,seguindo seus próprios critérios, alguém que se julgue o senhor do bem
e do mal e veja, analise, julgue e aja de acordo com seus próprios pensamentos,
gostos e prioridades, independente da vontade de Deus – e essa vontade de Deus
não é teórica, distante, mas nos aparece nas Escrituras interpretadas pela
Igreja com a autoridade de Cristo – alguém assim, mesmo que dissesse que
acredita, não crê de verdade, não exprime na vida que Deus é seu Senhor! Ah,
caríssimos, que há tantos crentes de nome e ateus de vida! Há tantos, como diz
o Apóstolo, “que se comportam como inimigos da cruz de Cristo. O seu fim será a
perdição; o seu deus, é o ventre; e sua glória, eles a põem na própria
ignomínia, já que só levam a peito as coisas da terra” (Fl 3,18-19). Viver na
vontade do Senhor, abertos ao Senhor, àquele Deus Santo que se manifestou como
Poder, Santidade, Sabedoria e Salvação na fraqueza, na maldição, na loucura e
na perdição da cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo!
A mesma ideia aparece na segunda leitura
de hoje: vede como São Paulo nos convida ter plena consciência de que não nos
pertencemos: “Irmãos, acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o
Espírito de Deus mora em vós?” Somos santuário de Deus, isto é, somos templo,
morada do seu Santo Espírito, aquele Espírito que Jesus morto e ressuscitado
derramou em nossos corações desde o nosso batismo. Então, como poderíamos viver
do nosso jeito? Como poderíamos seguir a lógica da moda, da maioria, do mundo
atual? Como poderíamos abraçar a louca e tola sabedoria do mundo atual? Que
palavras claras e escandalosas as do Apóstolo: “Ninguém se iluda: se algum de
vós pensa que é sábio nas coisas deste mundo, reconheça sua insensatez para se
tornar sábio de verdade; pois a sabedoria deste mundo é insensatez diante de
Deus!” O que significam tais palavras? É preciso deixar nossa lógica mundana
para abraçar a lógica de Deus; e esta lógica – nunca esqueçamos, nunca deixemos
de repetir – manifestar-se-á sempre e somente na cruz de Nosso Senhor Jesus
Cristo! Era isto que o nosso bendito Salvador dizia no Domingo passado e
continua a dizer neste hoje: a nossa religião tem que superar a dos escribas e
fariseus! Lembram de oito dias atrás? “Se a vossa justiça, isto é, se o vosso
modo de praticar a religião, de cumprir os preceitos, não for maior que a
justiça dos escribas e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus!” em
que nossa prática deve ser maior? No modo de viver a religião: um modo
interior, nascido do amor a Deus e aos irmãos; um amor que deixa de verdade
Deus entrar, habitar em nós como num templo, nos questionar, nos transformar;
uma prática da religião suscitada, sustentada, impulsionada, animada pelo Santo
Espírito! Observai, amados no Senhor, como Jesus chama atenção não
primeiramente para a letra do preceito, mas para o espírito, a intenção, a
motivação com a qual se realiza o preceito: “Ouvistes o que foi dito: olho por
olho, dente por dente” – é justo, era a medida da justiça da Lei de Moisés e
ainda hoje é a medida de todos os tribunais do mundo. Este preceito não é de
vingança; é de justiça: um olho por um olho, um dente por um dente! “Eu, porém,
vos digo: não só justiça, mas misericórdia, generosidade, porque vosso Deus é
assim!” “Ouvistes o que foi dito: amarás a quem te ama, não tens obrigação para
com teus inimigos. Eu, porém vos digo: amai a todos, amai sem esperar
recompensa, porque o coração do vosso Pai no céu é assim!” Abri-vos, pois,
irmãos meus, abri-vos para Deus, aquele Deus que vos deu tudo quando vos deu o
Filho Único, o Amado, até a morte e morte de cruz!
Caríssimos,
vivemos num mundo no qual o homem se colocou como o centro. Até mesmo na Igreja
há pessoas que pensam num cristianismo à medida do homem e do gosto das modas
atuais. Há cristãos, há teólogos que pensam assim: “Se fizermos como o mundo
espera, vamos atrair o mundo para a Igreja; se fizermos adaptações no
cristianismo e na Igreja ele se tornará atraente…” Não! É Cristo quem atrai, é
Cristo crucificado e ressuscitado o critério! Não se trata de atrair para a
Igreja, mas para o Jesus vivo e verdadeiro, com toda a sua verdade, com todo o
seu amor, com toda a sua exigência que nos liberta, nos tira de nós e nos dá a
vida em abundância! O resto é pensamento humano, vazio e estéril! Repito,
caríssimos: o centro é Cristo Jesus que nos leva ao Pai: é ele o critério, é
ele a medida, é ela a única verdade! Quando nos deixamos transformar por ele
somos livres de verdade e de verdade damos glória a Deus. Nunca esqueçais,
amado meus: “Tudo vos pertence, tudo é vosso, mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus”. A ele a glória
pelos séculos. Amém.