Roteiro Homilético 11: Pe. Franclim Pacheco Diocese de Aveiro
A parábola
contada por Jesus, se não for entendida, deixa-nos naturalmente um pouco
perplexos, pois parece ser um elogio à desonestidade.
A Palestina do tempo de Jesus,
principalmente na zona norte da Galileia, tinha grandes latifúndios
pertencentes a estrangeiros que, ao longo dos muitos séculos de dependência de
Israel, se foram assenhoreando dos terrenos. Também os soldados romanos, quando
se aposentavam, recebiam terrenos conquistados a outros povos como compensação
dos seus serviços. Como não viviam ali ou não percebiam de agricultura,
confiavam as suas terras a administradores.
O administrador geralmente era um
escravo de confiança ou um liberto (antigo escravo), pois os romanos
consideravam este ofício pouco digno para um cidadão do império. A ele o dono
da propriedade entregava toda a administração, desde a produção à venda dos
produtos. Não havia um pagamento fixo mas uma percentagem sobre o produto da
venda.
Na parábola ou história que Jesus
conta, a acusação não é de roubo, mas sim de má administração; o administrador
foi negligente nas suas funções, de modo que o dono da propriedade estava a ser
prejudicado, não tendo os ganhos que esperava ter.
O dono dum latifúndio toma
conhecimento que o seu administrador não é de confiança, exigindo-lhe as contas
antes de o despedir. A situação económica e social daquele homem vai mudar
radicalmente. Que irá fazer? Não tem forças para cavar e, quanto a mendigar, é
preferível a morte, como diz o livro do Eclesiástico (40,28). Só há uma saída
habilidosa para quem percebe do ofício…
Por vezes, os devedores atrasam-se
no pagamento ou foi-lhes adiantada a mercadoria. Também era tarefa do
administrador fazer empréstimos, naturalmente aumentando nos recibos; na altura
do reembolso, ele ficava com a diferença.
O administrador passa à acção:
convoca os devedores um a um. O primeiro deve cem barris, isto é, cerca de 3600 litros (a produção
de 140 oliveiras) e recebe um desconto de 50%. O segundo deve cem medidas de
trigo, isto é, 55 toneladas (a produção de 42 hectares de terreno)
e recebe um desconto de 20%. E são os próprios devedores a escrever o novo
recibo.
Seria de esperar que o patrão
ficasse indignado com esta acção do administrador, mas até o elogiou a sua
habilidade! É que, de facto, ele não foi prejudicado, tendo em conta o sistema
habitual. O administrador devia entregar uma certa quantia ao patrão. O que ia
além disso era o seu lucro que, por vezes, podia atingir somas elevadas. O que
o administrador fez foi simplesmente passar o seu lucro para os devedores, em
nada prejudicando o seu patrão. Preferiu perder o dinheiro e, desta forma,
ganhar amigos que o pudessem receber, ou como uma espécie de «ajudado»
permanente (o termo técnico é «cliente») ou, melhor ainda, como administrador.
É esta lição que Jesus aproveita
para as recomendações finais. O verdadeiro bem, oposto ao dinheiro que faltará
na hora da morte, recorda o tesouro nos céus (Lc 12,33). Jesus faz um
encorajamento a não esquecer o verdadeiro bem que espera o discípulo; para o
obter, porém, deve ser fiel no uso dos bens materiais, não os usando apenas em
proveito próprio, mas fazendo amigos com eles, ou seja, partilhando.
O final do
ensinamento de Jesus apela uma vez mais para a escolha fundamental de hoje que
se irá projectar num futuro: «Não podeis servir a Deus e ao dinheiro».
Pe. Franclim
Pacheco