Roteiro Homilético 9: Padre Françoá Costa
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Quando se
pensa seriamente na vida, percebemos, não necessariamente através de profundos
raciocínios, de que vale a pena aproveitar o hoje da nossa existência fazendo o
bem. O que acontecerá amanhã? Ninguém pode me assegurar uma resposta.
O passado já
não nos pertence. Aquilo que fizemos de bem, ficou para trás, ainda que perdure
o mérito; aquilo que tenhamos feito mal, também ficou para trás e também
perdura o demérito da situação concreta. Não obstante, podemos aproveitar a
experiência de vida alcançada, seja com ocasião de um bem realizado, seja com
ocasião de um mal executado. Existe um ditado que diz que “errar é humano”, há
uma segunda versão que diz que “errar uma vez é humano, errar duas vezes é
burrice”. É possível unir os dois num só: “errar é algo muito humano, não
importa quantas vezes; burrice é não querer sair do erro”. São Josemaría
Escrivá, ao começar um novo ano, em vez de dizer o famoso ditado “ano novo,
vida nova”, como bom conhecedor da natureza humana que era, fazia uma pequena
alteração no ditado popular: “ano novo, luta nova”. O que é inteligente e
bonito é querer sair do erro! A permanência do frescor da luta é uma maravilha
da graça. Para quê? Para amar mais a Deus, para ser melhores, para servir mais.
Esse é o nosso caminho… Durante toda a vida! E nem importa tanto se temos
tantas ou quantas vitórias, o mais importante é continuar lutando.
Serei melhor
no futuro? Deixarei esse ou aquele vício? Conseguirei essa ou aquela virtude?
Meditarei melhor a Palavra de Deus? Conseguirei estar mais disponível para os
meus irmãos? Suportarei melhor determinada pessoa? Serei mais rico ou mais
pobre? Conseguirei levar a cabo aquele projeto evangelizador? … As perguntas
poderiam multiplicar-se. O futuro, no entanto, está nas mãos de Deus.
O importante é
continuar lutando. Chega um momento na vida interior em que essa verdade faz-se
cada vez mais patente. No começo do nosso encontro com Deus, as coisas pareciam
mais fáceis: alegrias e consolações interiores, força de vontade para extirpar
os maus hábitos, a convicção diáfana de que acertamos o caminho, o desejo de
servir a todos, a posta em prática de uma tarefa evangelizadora que alcançava o
maior número possível de pessoas. Com o passar dos anos, quiçá nós percebemos
que os frutos foram escassos e, talvez, nesse momento, pôde ter vindo o
desânimo: tantos anos lutando contra um determinado defeito, poucas pessoas se
aproximaram de Deus, ainda existe o egoísmo e os defeitos dos membros da
Igreja. O que o diabo quer é que desanimemos!
O nosso
desânimo é vitória para o demônio. E nós não podemos conceder-lhe essa vitória.
O desanimo poderia ser o começo de uma enfermidade que, de mal a pior, vai
esfriando a alma a tal ponto de colocá-la numa situação de desespero que
poderia levar ao abandono da própria salvação eterna.
É muito
importante que tenhamos presente essas palavras do Senhor que nos estimulam a
seguir adiante: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e
todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com
o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia
basta o seu cuidado” (Mt 6,33-34). O que devemos buscar em primeiro lugar? O
Reino de Deus. Esse reino inclui a glória de Deus e todo o bem que uma pessoa
pode desejar para si e para os demais. Buscar o Reino também significa não
preocupar-se com o dia de amanhã. Como? E a previsão das coisas? O Senhor diz
que não nos preocupemos, mas não proíbe ocupar-nos. Claro que se pode ter certa
previsão das coisas e atuar em consequência; não podemos, no entanto, ser
consumidos pelas dificuldades da vida. Nem a nossa perfeição cristã deve
preocupar-nos: vamos ocupar-nos em buscar a santidade, mas não nos
preocuparemos, não vamos estar alienados com o tema. Não aconteça que ao buscar
os bens de Deus nos esqueçamos do autor desses bens.
A vida cristã
implica normalidade. Trata-se de que vivamos o hoje do nosso serviço a Deus, o
hoje da nossa luta e o hoje do nosso serviço aos demais. O amanhã pertence a
Deus que, desde a sua eternidade, não contempla passado e futuro, mas os une na
sua visão clara do hoje eterno. Deus quis que fôssemos livres para amar, e para
amar hoje. O que eu vou fazer no dia de hoje para viver melhor a caridade, para
estar mais serviçal e generoso, para dar glória a Deus, para buscar a
santidade, para dar alegria aos outros e para levá-los ao encontro com Deus? É
isso o que importa! Hoje!