(cnbbleste2.org.br Dom Emanuel Messias de Oliveira)
1ª LEITURA -
Jr 20,10-13
Jeremias foi o
profeta que anunciou e presenciou o Exílio Babilônico no século VI (586 a .C.). Foi mais do que
todos os outros profetas perseguido, caluniado, maltratado, ameaçado de morte.
Sua vida de sofrimento se aproxima muito da do profeta de Nazaré, 600 anos
depois. Suas angústias e desabafos são registrados nas chamadas
"Confissões de Jeremias". A primeira leitura de hoje faz parte da
última "confissão" (Jr 20,7-18). O que nos dizem estes versículos de 10 a 13?
Primeiro:
Constatando arealidadede perseguição
O profeta
prevê a desgraça de todos, mas, ao mesmo tempo, se sente encurralado, vítima de
suas próprias atitudes proféticas. Sua fidelidade a Deus lhe compra brigas e
ameaças de todos os lados. Até seus amigos estão de olho para poder derrubá-lo.
Seus inimigos fazem falsas acusações, armam ciladas, tramam sua morte.
Segundo: A
certeza da proteção Divina
O profeta tem
uma confiança inabalável em Deus. Deus é para ele como um valente guerreiro.
Está do lado dele, como está sempre do lado do justo, apesar das aparências em
contrário. Ele sabe que seus perseguidores tropeçarão sem nada conseguir. Eles
serão cobertos de extrema vergonha e de inesquecível infâmia. A diferença entre
o santo e o pecador é esta: o santo no seu sofrimento não perde a confiança em
Deus, nem se afasta dele, antes, pelo contrário, transforma seu sofrimento em
oferta, em oração confiante, em momento de maior intimidade com seu Senhor.
Terceiro:
Oração confiante
O profeta vê a
Deus como seu advogado, a quem ele entrega sua causa. Deus é um advogado todo
poderoso. Conhece perfeitamente a causa e profundamente seu profeta. Ele sonda
os rins, quer dizer, a sua consciência. Deus conhece tudo e, por isso, pode
salvar o profeta de seus perseguidores. Jeremias deseja ver a vingança de Deus
contra seus adversários. Hoje, orientados pelo profeta de Nazaré, distinguimos
a pessoa dos seus males. Lutamos sim pelo fim das injustiças, mas quanto ao
injusto, colocamos o perdão na frente e desejamos sua mudança de vida, pois
também o injusto é filho de Deus, embora mal orientado.
Quarto:
convite ao louvor
O profeta,
tranquilizado pelo seu desabafo, e reabastecido pela sua prece confiante,
convida a todos para cantar e louvar ao Senhor. Sua confiança é tão profunda
que ele coloca já no passado a vitória futura da vida do pobre. Hinos e
cânticos se justificam, pois o Senhor "salvou das mãos dos malvados a vida
do pobre".
Você é capaz
de confiar profundamente em Deus diante dos sofrimentos e de cantar louvores ao
Altíssimo, apesar da dor?
2ª LEITURA -
Rm 5,12-15
O texto de
hoje é continuação imediata do texto do domingo passado, onde o apóstolo lembra
que, se Cristo por sua morte nos reconciliou, enquanto éramos pecadores, maior
esperança temos que ter agora de sermos salvos por sua vida. Aqui, Paulo vai
fazer um paralelo entre Adão e Cristo com o que eles trouxeram para a
humanidade. O velho Adão é, por contraste, figura de Jesus Cristo, que é visto
como Novo Adão. Quem é mais importante Adão ou Jesus? Se Adão é menos
importante e trouxe tanto mal para a humanidade, como podemos avaliar o bem que
Jesus trouxe, se ele é muito mais importante? Por isso São Paulo vai dizer que
onde abundou o pecado superabundou a graça. Se Adão trouxe a morte, Jesus
trouxe a abundância de vida.
O que Adão
trouxe?
Adão, o homem
velho, trouxe o pecado para o mundo e com o pecado a morte. Qual foi o pecado
de Adão? O pecado de Adão consiste no orgulho e no egoísmo, que geram uma vida
inautêntica e incoerente, distante de Deus. O pecado de Adão consiste na
prepotência, no atribuir a si o direito de decidir sobre o bem e o mal. “Sereis
como deuses”, diz a serpente. Adão quer ocupar o lugar de Deus; quer ser juiz
em causa própria. Ele é solidário com o mal. Por que dissemos "consiste”?
Exatamente para sublinhar que Adão está presente em cada um de nós, sempre que
solidários com o mal, gerando morte ao invés de gerarmos vida. São Paulo toca
no assunto da Lei para mostrar que antes da Lei já existia o pecado, e o pecado
continua depois da Lei. A Lei não é capaz de anular o pecado e trazer a vida. O
que a Lei traz é uma maior consciência do pecado.
O que Cristo
nos trouxe?
Jesus, o novo
Adão, recria o homem novo para a vida. A Lei não foi capaz de corrigir o mal
que Adão nos trouxe. A Lei apenas nos dá maior consciência do nosso pecado. Mas
Jesus supera Adão, supera a Lei, rompe com o círculo do pecado e traz vida nova
e autêntica para todos. A humanidade solidária em Adão mergulhou no pecado
sendo incapaz de se salvar, mesmo apelando para a Lei. Jesus, solidário com a
humanidade, trouxe com sua morte de cruz a possibilidade de salvação para
todos. Precisamos apenas acreditar em Jesus e ser solidários com ele.
Rejeitando o orgulho, a arrogância, a prepotência e o egoísmo, fontes de todo o
mal, busquemos a solidariedade no amor que Jesus nos trouxe. O amor autêntico
arranca a raiz do mal e faz nascer a vida plena. A graça que Deus nos dá em
Jesus Cristo é muito maior que o pecado gerado por Adão. Se acreditamos na
desgraça gerada pela falta de um só homem-Adão, maior fé devemos ter na graça
trazida por um só homem-Deus, Jesus com amor solidário. Nossa opção não pode
ser por Adão, mas por Jesus Cristo.
Quando, por
algum motivo, estivermos no baixo-astral - herança de morte do velho homem,
Adão - devemos nos perguntar: tem sentido esta tristeza, se acreditamos na
herança de vida concedida a nós gratuitamente pelo novo homem-Deus, Jesus
Cristo?
EVANGELHO - Mt
10,26-33
Nosso texto
pertence ao Discurso Apostólico ou discurso sobre a missão dos apóstolos. Um
pouco antes das exortações de hoje, Jesus previne seus discípulos sobre os
males que eles irão enfrentar. Eles serão enviados como ovelhas entre lobos (v.
16), serão entregues aos Sinédrios, serão flagelados (v. 17), serão odiados (v.
22). Numa palavra, os discípulos terão a mesma sorte do mestre (cf. v. 24). A
frase que comanda o texto de hoje é: "Não tenham medo". Ela aparece 3
vezes
a) "Não
tenham medo dos homens"
Jesus revelou
para seus discípulos o mistério do Reino. Muita verdade foi revelada, ou pelo
menos esclarecida, somente aos discípulos. "A vós foi dado conhecer os
mistérios do Reino dos céus, mas a eles não". Contudo a finalidade da
revelação em segredo é sem dúvida para uma divulgação posterior, pois eles
devem ser como uma lâmpada colocada sobre o candelabro para iluminar a todos
(cf. Mc 4,21). Os discípulos devem ser mensageiros da verdade e para isso devem
corajosamente enfrentar os donos da mentira, que não suportando a verdade,
certamente reagirão com perseguição e violência. A lâmpada do
discípulo-missionário não pode ficar escondida debaixo do alqueire, do caixote,
do banco, inventando, assim, uma religião intimista, de sacristia. O
discípulo-missionário tem que estar no meio do mundo, pois Jesus disse:
"Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo". O verdadeiro
discípulo-missionário não deve ter medo do confronto. Ele deve assumir o medo,
enfrentar a realidade hostil e proclamar a verdade, doa em quem doer.
Certamente doerá em si mesmo como doeu em Jesus.
b) "Não
tenham medo dos que matam o corpo"
Os
discípulos-missionários devem o temor-obediência a Deus e não aos homens. Os
homens podem fazer mal ao corpo, mas só Deus "pode arruinar a alma e o
corpo no inferno". Se quisermos retomar a segunda leitura, podemos
perguntar por quem optar? Pelo velho homem-Adão, ou pelo novo homem-Deus, Jesus
Cristo? A quem devemos obediência? Em quem devemos depositar nossa confiança?
Quem não teme a morte física, por causa do evangelho, ganha a vida.
c) Não tenham
medo do abandono deDeus
Jesus mostra
como Deus cuida de coisas insignificantes como pardais e o cabelo de nossas
cabeças. Ora, se Deus cuida, assim, de coisas insignificantes, muito mais
cuidado ele terá com seus discípulos-missionários. Veja que frase confortadora:
"Não tenham medo! Vocês valem mais do que muitos pardais". Causa
preocupação a frase anterior. "No entanto nenhum deles cai no chão sem o
consentimento do Pai". Quer dizer que o Pai pode consentir que um
discípulo-missionário chegue ao martírio por causa do evangelho? É claro que
pode, ele não consentiu na morte do seu próprio Filho? Só que como o Pai não
deixou seu Filho na morte, mas o ressuscitou, assim dará vida a seu
discípulo-missionário.
d) Você decide
Você pode
optar por Cristo, enfrentando perseguição e até mesmo a morte, ou renegá-lo;
ser a favor dele ou contra ele. Em contrapartida, a decisão final compete a
Cristo diante do tribunal do Pai. Se sua decisão foi por ele aqui na terra, ele
se declarará lá a seu favor. Tudo vai depender da sua solidariedade ou não
solidariedade com a causa de Jesus. Você decide! Mas, atenção! Decidir como o
velho Adão, como juiz de si mesmo, leva à ruína. Sua decisão deve ser a partir
da Boa Nova de Jesus Cristo.