Roteiro Homilético 11: Pe. Franclim Pacheco Diocese de Aveiro
No domingo
passado, a página do evangelho ensinava-nos que Jesus envia os discípulos de
todos os tempos a «evangelizar», dizendo o que Ele dizia e fazendo o que Ele
fazia… deixando, assim, que Ele continue a dizer e a agir através deles.
«O que vos
digo à escuras… pregai-o sobre os telhados». Jesus quer transmitir-nos uma
certeza que está presente no seu coração: todos os homens têm necessidade
absoluta do evangelho. A revelação de Deus Pai que, através do Filho, chama
todos a serem felizes com a sua própria felicidade, era feita por Jesus a todos
mas depois ele explicava-a aos seus discípulos de maneira mais esmiuçada e num
longo caminho educativo.Tudo o que eles escutaram, apreenderam e viveram na
relação com Ele, é uma experiência tão rica que não pode permanecer dentro do
seu grupo, para uso e consumo próprio, mas todos os homens devem ser
participantes disso, todos devem sabê-lo, a mensagem de Jesus devem chegar a
todos. Para atingir este fim, os discípulos devem recorrer a todos os
expedientes, de todos os meios: desde a palavra escrita aos instrumentos mais
variados e poderosos de comunicação. Um anúncio público que não pode descuidar
nenhuma pessoa, nenhuma idade, nenhuma categoria. Um anúncio que proclame todas
as palavras de Jesus todos os aspectos da Revelação, sem atender aos gostos
pessoas de quem anuncia ou de quem escuta.
No texto
imediatamente anterior a este (vv. 16-25) Jesus anunciou abertamente as
perseguições contra os discípulos enviados em missão. Por isso, encoraja-os:
«Não temais». É um dos imperativos mais frequentes na Bíblia, sempre na boca de
Deus no seu contacto com uma pessoa ou um grupo. Ao homem habituado a conviver
com o medo, a deixar-se ficar prisioneiro do medo, Deus oferece a certeza da
sua presença.
Jesus retoma
insistentemente esta exortação divina e, neste caso, apresenta alguns motivos
para que os seus discípulos não temam. Em primeiro lugar, a palavra de Jesus,
mesmo confiada a poucos, irá desenvolver-se como a semente duma árvore (cf. Mt
13,31-32). O próprio Deus se encarregará de dar a conhecer e difundir a
revelação de Jesus: é este o sentido dos dois passivos (ser revelado, ser
conhecido, por Deus).
Em segundo
lugar, Jesus não promete aos discípulos poupá-los dos males que temem. Mas quer
abrir-lhes aos olhos: onde estão o verdadeiro bem e o verdadeiro mal? A vida
terrena não é o maior bem, tal como a morte não é o maior mal. O verdadeiro bem
é a vida eterna e o verdadeiro mal é ser privado de Deus. É este o sentido da
expressão «temei antes a Deus» (isto é, reconhecê-lo, amá-lo, fazer a sua
vontade). Deus é infinitamente mais poderoso que os perseguidores e é d’Ele que
depende o nosso destino definitivo, a vida eterna ou a ruína eterna.
«Todo aquele
que se declarar…». O martírio (= testemunho) é a forma mais elevada de anúncio.
Porém, nós podemos dar à nossa vida, todos os dias, a dimensão do «martírio»
quando realizamos todos os gestos na radicalidade do amor a Deus e ao próximo.
O terceiro
motivo sobre o qual Jesus assenta a exortação a pôr de parte o temor é o amor
paterno e providente de Deus por cada um dos seus filhos. Deus cuida de todas
as criaturas até mesmo do mais simples pássaro. Cada um dos seus filhos é
precioso a seus olhos, como são preciosos os seus sofrimentos e o seu
empenhamento em se manterem fiéis.