12° Domingo do Tempo Comum, Ano A 5

Roteiro Homilético 5: Franciscanos.org
Intrépida profissão de fé
Para ser povo sacerdotal e profético (tema de domingo passado), a Igreja deverá enfrentar a sorte dos profetas; pois morrer ou ser rejeitado pelos próprios destinatários da mensagem é uma constante na vida dos profetas. É o que ocorreu a Jeremias, embora tivesse certeza de que, em última instância, Deus estava com ele (Jr 20,10.13,1ª leitura; o salmo responsorial fala no mesmo sentido). A Igreja conhecerá perseguições, mas não deve ter medo: na tentação, Deus estará com ela. É um tema preferido de Mt, que forma a moldura de seu evangelho: “Emanuel, Deus conosco” (1,23) – “Estarei convosco até o fim do mundo” (28,20). Quando a Igreja cumprir sua missão profética, não deverá recear os que matam o corpo, pois Deus cuida até de um par de pardais (evangelho). Não estão os cabelos de nossa cabeça contados?
Por outro lado, quem confessar o Cristo diante dos homens, Cristo o confessará diante de Deus (dará um palavrinha de recomendação). Mas, quem se envergonhar por causa do Cristo, o Filho do Homem terá vergonha dele também diante do Pai. Isso aí não é uma espécie de revanche de Jesus, mas a mais pura lógica: ele veio para ser o servo e profeta da justiça, da vontade salvadora do Pai. Ele nos associou a sua obra (cf dom. passado). Então, se nós o renegamos, que fazemos da missão que ele nos confiou? Como poderíamos ainda ter parte com ele? Se ele não pode contar com nossa adesão – ainda que frágil -, nós também não podemos contar com ele, pois somos seus amigos, e amizade é recíproca por natureza.
A primeira Igreja era muito severa quanto à desistência da fé, a “apostasia”. Tinha consciência de que não se pode ser amigo pela metade, fiel um dia, outro não. Os que vacilavam eram severamente censurados e, se recaíssem, excomungados, entregues ao juízo de Deus. Por não termos bem presente a origem de nossa fé, nós já não somos mais tão exigentes; mas a amizade com Jesus continua exigente de per si, independentemente de nossa atmosfera sócio-religiosa.
A 2ª leitura – um tema à parte – será explicada no 1° dom. da Quaresma. Continua a meditação sobre a revelação da graça de Deus, que é o tema central de Rm. Na leitura de hoje, este tema chega ao auge: onde abundou o pecado, aí superabundou a graça. Tudo quanto foi lido nos domingos anteriores sobre a fé na salvação gratuita de Deus era preparação para ouvir as palavras do Apóstolo hoje: o pecado estragou tudo, não podíamos mais nada por nós mesmos, mas a graça de Deus superou tudo isso: “Se pela falta de um só todos morreram, com quanta maior profusão a graça de Deus e o dom gratuito de um só homem, Jesus Cristo, se derramaram sobre todos”.
Assim, o espírito fundamental deste domingo é de profundo reconhecimento e gratidão pela graça de Deus, manifestada no dom da vida de Jesus Cristo. Este reconhecimento nos leva a uma convicta profissão de que Jesus é o Salvador de nossa vida. E, apesar da ameaça ou escárnio que este testemunho encontra, sabemos que ele está conosco. Vivemos numa sociedade na qual testemunhar Cristo significa testemunhar a justiça, contra os que fazem do lucro seu ídolo. Desistir de testemunhar a justiça é apostasia, é ceder à idolatria. O cristão sabe que Deus deu seu Filho por ele, por mera graça.
Por isso, empenha-se para que a graça, encarnada em estruturas de justiça, afaste a desgraça dos ídolos do poder. Professa sua fé mediante a prática da transformação social em nome de Cristo e de seu Reino.
Perseguição e firmeza
Inúmeros são os que foram perseguidos e até morreram por terem defendido a justiça e a solidariedade. Quem é o profeta, é perseguido, mas, se permanece fiel à sua missão, Deus não o abandona. Quem luta  por Deus pode contar com ele (1ª leitura).
Jesus enviou seus discípulos para anunciar e implantar o Reino de Deus (cf. dom. passado). No evangelho de hoje, ensina-lhes a firmeza profética. Ensina-lhes a não ter medo daqueles que matam o corpo, mas a viver em temor diante d’Aquele que tem poder para destruir corpo e alma no inferno, o
Juiz supremo!
Há uma relação de representatividade entre Jesus e o Pai. Quem for testemunha fiel de Cristo, será por ele recomendado a Deus. Isso era válido no tempo em que o evangelho foi escrito, quando se apresentavam as perseguições e as deserções. Continua válido hoje. Se Cristo nos associa à sua obra e nós lhe somos fiéis, podemos confiar que Deus mesmo não nos deixa afundar; Jesus se responsabiliza por nós. Mas, se deixarmos de dar nosso testemunho e cedermos diante dos ídolos (poder, lucro etc), espera-nos a sorte dos ídolos: o vazio, o nada… É uma questão de opção.
Proclamar o Reino em solidariedade com Cristo significa, hoje, empenho pela justiça. Empenho colocado à prova por forças externas (perseguições, matanças de agentes pastorais sindicais) e internas (desânimo, acomodação etc.). No nosso engajamento, podemos confiar em Deus e sua providência; e por causa de Deus podemos confiar em nosso engajamento, permanecer firmes naquilo que assumimos, mesmo correndo perigo de vida – pois é melhor morrer do que desistir do sentido de nossa vida. É melhor morrer em solidariedade com Cristo, do que viver separado dele.

A mensagem principal deste evangelho, todavia, talvez não seja exortação que ele nos proporciona, mas a posição central de Jesus que ele nos ensina. É segundo nossa fé professa em Jesus ou segundo nossa negação dele que Deus nos julga. Isso não é ambição desmedida de Jesus, mas mero realismo. O caminho de Jesus nos mostra e a respeito do qual ele pede nosso testemunho, é o caminho da vida. Não podemos, diante do mundo, professar o contrário, pois então negamos diante de Deus o caminho de vida que, em Jesus, ele nos proporciona. Em outros termos, é uma questão que diz respeito a Deus, referência última do nosso viver.