26º Domingo do Tempo Comum - Ano B

26º Domingo do Tempo Comum - Ano B

Roteiro Homilético cnbbleste2.org.br
Por Dom Emanuel Messias de Oliveira

1ª LEITURA - Nm 11,25-29
O Contexto
O capítulo 11 do livro dos Números nos mostra o povo a caminho com suas queixas e reclamações. Moisés já está esgotado, à beira da estafa, sente-se sozinho e prefere a morte. É nesse contexto que Javé manda Moisés escolher 70 anciãos ou 70 representantes do povo para partilhar a liderança com eles. Assim, Moisés não ficará sozinho na direção desse povo exigente e rebelde.

O Senhor partilha o espírito profético de Moisés ( v. 25)
Para isso Javé desceu na nuvem sobre a tenda da reunião, ao redor da qual os 70 anciãos estavam. Aí o Senhor falou com Moisés e separou uma parte do espírito profético que Moisés possuía e a colocou nos 70 anciãos. Então todos começaram a profetizar, por um tempo.

Não se pode monopolizar o espírito (vv. 26-29)
Eldad e Medad estavam também na lista, mas não tinham ido à tenda, não estavam fazendo, portanto, parte da instituição dos 70. Mas o espírito pousa também sobre eles e começam igualmente a profetizar no meio do povo. Quem pode monopolizar o espírito de Javé? Josué pede a Moisés para proibi-los. E aqui vem o grande ensinamento de Moisés: “Tens ciúmes por mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor lhe concedesse o seu espírito!”. Este desejo profético de Moisés vai ser anunciado pelo profeta Joel (3,1-2) e vai realizar-se plenamente no Pentecostes cristão (cf. At 2).



2ª  LEITURA - Tg 5,1-6
Tiago condena os ricos com veemência profética. Suas palavras se aproximam das palavras do profeta Amós. Basta conferir Am 5,10-13 e 6,1-7.

Com que termos Tiago condena os ricos?  (vv.1-3)
Suas expressões são terríveis: “E, agora, vós, os ricos, chorai e gemei, por causa das desgraças que estão para cair sobre vós”. Os ricos vão ficar desesperados com as desgraças que cairão sobre eles. A traça e a ferrugem consumirão seus bens. O fogo lhes devorará a carne. O desmoronamento do império dos ricos servirá de testemunho contra eles no fim dos tempos. O v. 5b sintetiza a sorte dos latifundiários, comparando-os a bois de engorda: “engordando a vós mesmos no dia da matança”.

Por que tanta veemência? A riqueza é pecado?
O pressuposto é que a base da riqueza é imposta. Os ricos amontoaram egoisticamente, ao invés de partilhar. Com o v. 4 ficamos sabendo que estes ricos são latifundiários. Eles são injustos, pois eles retêm; eles roubam o salário dos seus ceifeiros. Eles ficam cada vez mais ricos à custa dos pobres, que ficam cada vez mais pobres. Esse salário lesado é que clama contra eles. Os protestos dos cortadores chegam aos ouvidos do Senhor dos exércitos. Eles não apenas retêm o salário violando a lei (cf. Dt 24,14). Não apenas acumulam para o luxo egoístico, mas também condenam os justos empobrecidos e lesados nos tribunais, subornando os juízes e deixando os justos, embora justos, sem defesa. Como ajudar os pobres para não morrerem de fome e como libertar os ricos da condenação eterna? Os pobres só podemos ajudá-los organizando-os; os ricos só se salvarão com a partilha.



EVANGELHO - Mc 9,38-43.45.47-48
O nome de Jesus não é monopólio da Igreja católica (vv. 38-40)
É curiosa a autoridade dos discípulos. Um homem expulsava demônios em nome de Jesus e os discípulos o proíbem. Eles se acham donos do nome de Jesus. Será por quê? Excesso de zelo ou elevado grau de ciúme? É discípulo de Jesus quem está associado a um grupo que traz o seu nome ou quem faz o que Jesus fazia? Os discípulos, um pouco antes, não conseguiam expulsar um demônio (cf. 9,14-29) por falta de oração. Em seguida, discutiam ambiciosamente quem seria o maior no grupo (cf. 9,33-37): quer dizer, os discípulos não tinham aprendido ainda quase nada do mestre, mas, mesmo assim, já se acham donos de Jesus. O ensinamento de Jesus ainda é atual: não podemos monopolizar o seu nome. Quem faz o que Jesus fez está ao lado dele. Oxalá todo o mundo pudesse se empenhar como Jesus o fez na libertação do ser humano.

Importância da partilha e da solidariedade (v. 41)
Jesus garante recompensa para quem der um copo de água aos discípulos, porque eles são de Cristo. O primeiro ensinamento é a partilha e ajuda, mesmo nas coisas mais insignificantes. O que vale um copo de água? O gesto de doar, partilhar, acolher é muito mais valioso que o conteúdo da doação. O segundo ensinamento está na motivação do gesto: “Pelo fato de vocês serem de Cristo”. O texto não fala serem de “Jesus”, mas de “Cristo”. Cristo = Messias: é uma referência à realização das promessas salvíficas de Deus anunciadas no Primeiro Testamento. O Cristo, Ungido ou Messias tinha essa missão libertadora. Usando a expressão “de Cristo” o evangelista quer fazer alusão à missão de Jesus. Jesus está a caminho de Jerusalém, onde dará a vida para a libertação dos homens. Essa é sua missão. Talvez estivesse atravessando a Samaria (cf. 9,30-10,1). Os samaritano negavam água a um judeu que, passando pela Samaria, estivesse se dirigindo a Jerusalém. Neste contexto dar um copo de água tem grande significado político e libertador: significa comprometer-se a cooperar com a missão libertadora de Jesus e seus discípulos.

É preciso cortar o mal pela raiz (vv. 42-48)
“Pequeninos” são os que creem.  “Escandalizar” significa conduzir alguém ao pecado, à perda da fé, ao descompromisso com o Messias libertador.

Jesus cita três membros do corpo (mão, pé e olho) com três sentenças simbólicas igualmente construídas, mostrando o contraste entre o entrar na vida, ou no Reino de Deus, e ser jogado na geena (= lugar onde se queima o lixo da cidade e onde o fogo estava sempre aceso, símbolo da destruição e do castigo futuro). Mão que executa as ações, pé que conduz e olho que cobiça eram a sede dos impulsos pecaminosos e da concupiscência. Com estas três sentenças, Jesus nos ensina a salvar nossa vida através do domínio da cobiça e da ganância. Ele nos ensina a romper, radicalmente, com tudo o que conduz ao pecado, ou seja, a cortar o mal pela raiz.



Roteiro Homilético 1 - Liturgia: Mensagem franciscanos.org

Ser discípulo sem rivalidade
Antes, Mc falou em acolher pequenos “em nome de Jesus”. Encadeando outras sentenças no mesmo item, passa agora ao assunto do exorcizar “em nome de Jesus” (associação verbal, muito comum na tradição oral dos primeiros cristãos) (evangelho).
Logo nos albores da comunidade cristã, milagreiros e exorcistas não cristãos, notando a força do “nome de Jesus” (cf. At 3,6.16; 4, 10), tentavam usar esse
nome em seus “trabalhos”. Mas os cristãos exigiam direitos autorais. Como resposta, Mc traz uma sentença de Jesus: “Quem não é contra nós, é por nós”. Resposta de bom senso e desapego évangélico, pois o importante é que o nome de Jesus seja honrado. Mas quem considera o grupo mais importante que o nome de Jesus fica indisposto. Não aceita que os dons cristãos floresçam fora da Igreja.
Jesus presta pouca atenção a esse tipo de objeções. Os que por ele foram reunidos não devem pensar que eles são os únicos em quem possa operar seu espírito. Ser reunido por Cristo é uma graça, mas não um monopólio. Pelo contrário, devemos desejar que seus beneficios sejam espalhados o mais amplamente possível. Já Moisés deu aos hebreus uma lição neste sentido. No momento da assembléia dos setenta anciãos que receberam “algo do espírito de Moisés”, dois tinham ficado no acampamento; porém, receberam também o espírito profético. Josué quer impedi-los, mas Moisés retruca: “Oxalá o povo todo recebesse assim o espírito” (1ª leitura).
Estas idéias escandalizam aqueles para quem o grupo é tudo. Ora, não a Igreja em si, mas Cristo e seu espírito são o mais importante. (Não se alegue o velho adágio: “Extra Ecclesiam nulla salus”, pronunciado contra os que abandonavam a Igreja.) Mas escandalizam-se também os que só conhecem aquela outra sentença de Jesus: “Quem não é comigo, é contra mim” (Mt 12,30 = Lc 11,23), pronunciada num contexto de inimizade (os escribas acusam Jesus de expulsar demônios pela força de Beelzebu); pois em tal contexto, é preciso escolher: quem não se coloca do lado de Jesus se coloca do outro. Mas isso nada tem a ver com o caso de alguém que recebe os dons do Cristo fora da Igreja.
Sempre no item do “nome”, Jesus promete recompensa pelo mínimo benefício feito a alguém “em nome de ser do Cristo” (9,41). E já que se estava falando também de “pequenos” (cf. v. 37), cabe dizer algo sobre o escândalo dado aos pequenos (9,42). E, continuando com o item “escândalo”: a gente tem que erradicar de sua vida as raízes do escândalo, as causas das fraquezas na fé, assim como se amputa uma mão quando ela põe o corpo em perigo (ou como se extrai um dente quando causa enxaqueca) (9,43-48).
O evangelho trata, portanto, de assuntos diversos. Ora, o conjunto da liturgia acentua o tema da ação de Deus fora da assembléia “oficial”. Este ponto deve reter a atenção da catequese litúrgica, e é muito importante em nosso ambiente, onde macumbistas e espíritas fazem “trabalhos” em nome de Jesus (e com sucesso). Existe uma mentalidade de combater o sincretismo religioso. Talvez seria mais evangélico ponderar – sem esconder os problemas – o bem que eventualmente façam e reconhecer que lá também Deus pode levar alguém a colocar em obra o seu amor. Tal atitude mostrará a face compreensiva da Igreja, procurando reconhecer em tudo o bem – e levaria menos pessoas a procurar a umbanda por não encontrar resposta humana num catolicismo formalizado e ríspido (11).
11. Pensando no diálogo em torno de problemas econômicos e ecológicos de nosso mundo, devemos pensar nas coisas boas que podem ser feitas “em nome de Jesus” mediante pensamentos que não nasceram no âmbito da cristandade.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes


Pensamento inclusivo
A cristandade tradicional caracterizava-se por atitudes exclusivistas. Só a Igreja católica estava certa… Dizia-se que quem morre fora da Igreja católica vai ao inferno. (Deveria ser mandado ao inferno quem fala assim…)
O evangelho conta um episódio que nos ensina o contrário. Os discípulos ficam nervosos porque alguém anda expulsando demônios no nome de Jesus, sem fazer parte do grupo deles. Naquele tempo, todo tipo de tratamento sugestivo estava na moda, como hoje. Visto que Jesus era o sucesso do momento, alguns que não eram de seu grupo usavam seu nome para expulsar uns demoniozinhos. Que mal havia nisso? Nenhum, mas os discípulos queriam direitos autorais!
A liturgia ilustra o problema com outro episódio. O povo de Israel andando pelo deserto, o Espírito desce sobre a assembléia dos anciãos. Mas dois não foram à assembléia e receberam o Espírito assim mesmo. Os outros reclamam. Então, Moisés responde: “Oxalá todo o povo de Deus profetizasse e Deus infundisse a todos o seu espírito” (1ª leitura).
Nem todos os cristãos são tão mesquinhos assim que pretendem reservar para a própria agremiação os dons de Deus. Desde o Humanismo, bem antes do Concílio Vaticano II, os educadores cristãos ensinavam que os pagãos Platão e Virgílio eram profetas, pois anunciaram coisas que, depois, se verificaram em Jesus. Houve até quem chamasse Karl Marx de profeta (com menos mérito, pois viveu bem depois de Jesus e repetiu muita coisa que Jesus e a Bíblia disseram antes dele…). As coisas boas que esses pagãos falaram não deixaram de ser um testemunho a favor de Jesus.
“Quem não é contra nós está em nosso favor” (Mc 9,40). Esta é a lição (Jesus disse também: “Quem não está comigo é contra mim”, Mt 12,30, mas isso, em caso de conflito e perseguição).
O nome de Jesus representa o Reino do Pai. O nome de Jesus se liga a uma realidade nova, a vontade de Deus. “Ninguém que faz milagres em meu nome poderá logo depois sair falando mal de mim” (Mc 9,39). Por tudo aquilo que ele disse e fez, pelo dom da própria vida, Jesus ligou a seu nome a nova realidade que se chama o “Reino de Deus”. Quem consegue usar o nome de Jesus como força positiva certamente colabora de alguma maneira com o Reino.
Não é preciso ser católico batizado para colaborar com os valores do evangelho. Os primeiros missionários no Brasil ficaram cheios de admiração porque os índios pagãos pareciam ter mais valores evangélicos que os colonos portugueses escravocratas. O testemunho do evangelho pode existir fora da comunidade cristã, e nós devemos alegrar-nos por causa disso.
Então, em vez de dizer que fora da Igreja não há salvação, vamos dizer: tudo o que salva expande o que esamos fazendo na Igreja. Pensamento inclusivo.

Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes



Roteiro Homilético 2 - Liturgia: Dehonianos de Portugal

Tema do 26º Domingo do Tempo Comum

A liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum apresenta várias sugestões para que os crentes possam purificar a sua opção e integrar, de forma plena e total, a comunidade do Reino. Uma das sugestões mais importantes (que a primeira leitura apresenta e que o Evangelho recupera) é a de que os crentes não pretendam ter o exclusivo do bem e da verdade, mas sejam capazes de reconhecer e aceitar a presença e a acção do Espírito de Deus através de tantas pessoas boas que não pertencem à instituição Igreja, mas que são sinais vivos do amor de Deus no meio do mundo.
A primeira leitura, recorrendo a um episódio da marcha do Povo de Deus pelo deserto, ensina que o Espírito de Deus sopra onde quer e sobre quem quer, sem estar limitado por regras, por interesses pessoais ou por privilégios de grupo. O verdadeiro crente é aquele que, como Moisés, reconhece a presença de Deus nos gestos proféticos que vê acontecer à sua volta.
No Evangelho temos uma instrução, através da qual Jesus procura ajudar os discípulos a situarem-se na órbita do Reino. Nesse sentido, convida-os a constituírem uma comunidade que, sem arrogância, sem ciúmes, sem presunção de posse exclusiva do bem e da verdade, procura acolher, apoiar e estimular todos aqueles que actuam em favor da libertação dos irmãos; convida-os também a não excluírem da dinâmica comunitária os pequenos e os pobres; convida-os ainda a arrancarem da própria vida todos os sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a opção pelo Reino.
A segunda leitura convida os crentes a não colocarem a sua confiança e a sua esperança nos bens materiais, pois eles são valores perecíveis e que não asseguram a vida plena para o homem. Mais: as injustiças cometidas por quem faz da acumulação dos bens materiais a finalidade da sua existência afastá-lo-ão da comunidade dos eleitos de Deus.


LEITURA I – Nm 11,25-29

Leitura do Livro dos Números

Naqueles dias,
o Senhor desceu na nuvem e falou com Moisés.
Tirou uma parte do Espírito que estava nele
e fê-lo poisar sobre setenta anciãos do povo.
Logo que o Espírito poisou sobre eles,
começaram a profetizar;
mas não continuaram a fazê-lo.
Tinham ficado no acampamento dois homens:
um deles chamava-se Eldad e o outro Medad.
O Espírito poisou também sobre eles,
pois contavam-se entre os inscritos,
embora não tivessem comparecido na tenda;
e começaram a profetizar no acampamento.
Um jovem correu a dizê-lo a Moisés:
«Eldad e Medad estão a profetizar no acampamento».
Então Josué, filho de Nun,
que estava ao serviço de Moisés desde a juventude,
tomou a palavra e disse:
«Moisés, meu senhor, proíbe-os».
Moisés, porém, respondeu-lhe:
«Estás com ciúmes por causa de mim?
Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta
e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles!»

AMBIENTE

O Livro dos Números (assim chamado na versão grega, pelo facto de o livro começar com uma lista de recenseamento onde são dados os números de membros de cada tribo do Povo de Deus) apresenta um conjunto de tradições – sem grande preocupação de coerência e de lógica – sobre a estadia no deserto dos hebreus libertados do Egipto. São tradições de origem diversa, que os teólogos das escolas jahwista, elohista e sacerdotal utilizaram com fins catequéticos.
No seu estado actual, o livro está dividido em três partes. A primeira narra os últimos dias da estadia do Povo de Deus no Sinai (cf. Nm 1,1-10,10); a segunda apresenta, em várias etapas, a caminhada do Povo pelo deserto, desde o Sinai à planície de Moab (cf. Nm 10,11-21,35); a terceira apresenta a comunidade dos filhos de Israel instalada na planície de Moab, preparando a sua entrada na Terra Prometida (cf. 11,1-36,13).
Mais do que uma crónica de viagem do Povo de Deus desde o Sinai, até às portas da Terra Prometida, o Livro dos Números é um livro de catequese. Pretende mostrar que a essência de Israel é ser um Povo reunido à volta de Jahwéh e da Aliança. Com algum idealismo, os autores do Livro dos Números vão descrevendo como, por acção de Jahwéh, esse grupo informe de nómadas libertado do Egipto foi ganhando progressivamente uma consciência nacional e religiosa, até chegar a formar a “assembleia santa de Deus”. Ao longo do percurso geográfico pelo deserto, Israel vai fazendo também uma caminhada espiritual, durante a qual se vai libertando da mentalidade de escravo, para adquirir uma cultura de liberdade e de maturidade. O autor mostra como, por acção de Deus (que está sempre presente no meio do Povo), Israel vai progressivamente amadurecendo, renovando-se, transformando-se, alargando os horizontes, tornando-se um Povo mais responsável, mais consciente, mais adulto e mais santo.
O episódio que hoje nos é proposto acontece pouco depois da partida do Sinai. Num lugar chamado Tabera (cf. Nm 11,3), o Povo revoltou-se por não ter comida em abundância e murmurou contra Jahwéh. Moisés, cansado e desiludido, queixou-se ao Senhor de não conseguir aguentar o fardo da condução deste Povo rebelde (cf. Nm 11,11-15); então, Jahwéh propôs a Moisés escolher setenta anciãos que, depois de ungidos pelo Espírito de Deus, ajudariam Moisés na tarefa de conduzir o Povo pelo deserto (cf. Nm 11,16-24). É precisamente neste ponto que começa o nosso texto.

MENSAGEM

Os “anciãos” (em hebraico: “tzequenîm”) são uma instituição no universo político e social de Israel. São os “cabeças de família” que formavam, em cada cidade, uma espécie de “conselho” e que presidiam à comunidade. O nosso texto faz remontar a Moisés e ao deserto a instituição dos anciãos. Na perspectiva do catequista bíblico, eles recebem o Espírito de Deus para colaborar na governação do Povo de Deus.
A forma como o nosso autor descreve o dom do Espírito é a seguinte: Deus tirou “uma parte” do Espírito que estava em Moisés e derramou-o sobre os setenta anciãos. Na perspectiva do autor, a explicação é esta: Moisés possuía a plenitude do Espírito enquanto dirigiu sozinho o Povo de Deus; porém, quando a responsabilidade da governação foi dividida com os setenta anciãos, também o Espírito que repousava em Moisés foi repartido por todos. A descrição, ainda que bizarra, dá a ideia, por um lado, da unidade do Espírito e, por outro, da partilha do mesmo Espírito por todos aqueles que Deus chama a uma missão.
A presença do Espírito de Deus nos anciãos manifesta-se na capacidade de profetizar. O “profetismo” de que aqui se fala não tem nada a ver com o “profetismo” dos grandes profetas pregadores e escritores que Israel conhecerá mais tarde; mas designa um estado de entusiasmo ou frenesim, de êxtase e delírio colectivo, destinados a criar um clima de fervor e de exaltação religiosa. Nesta altura, manifestações deste tipo são vistas como sinais da presença do Espírito de Deus.
A história tem, contudo, um epílogo inesperado: Eldad e Medad, dois anciãos que estariam na lista dos setenta escolhidos, mas que não estavam presentes no momento da recepção do Espírito, começaram também a profetizar. Josué crê que se trata de um abuso intolerável, que põe em causa as competências da hierarquia estabelecida e propõe a Moisés que lhe ponha cobro… A resposta de Moisés é a resposta de um homem livre, magnânimo, de espírito aberto, que não está preocupado com o controle dos mecanismos de poder, mas com a vida e a felicidade do seu Povo: “Estás com ciúmes por causa de mim? Quem me dera que todo o Povo fosse profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles” (vers. 29).
A resposta de Moisés será um anúncio profético do dia do Pentecostes, quando o Espírito de Deus se derramou sobre a totalidade do Povo da Nova Aliança (cf. Act 2,16-21).

ACTUALIZAÇÃO

• A comunidade do Povo de Deus é a comunidade do Espírito. O Espírito não é privilégio dos membros da hierarquia; mas está bem vivo e bem presente em todos aqueles que abrem o coração aos dons de Deus e que aceitam comprometer-se com Jesus e com o seu projecto de vida. Mesmo o irmão mais humilde, mais pobre, menos considerado da nossa comunidade possui o Espírito de Deus.

• O episódio ensina também que o Espírito de Deus é livre e actua onde quer e como quer. Não está limitado por fronteiras, nem por regras, nem por interesses pessoais, nem por privilégios de grupo. Nenhuma Igreja tem o monopólio do Espírito, nenhuma instituição pode controlá-lo ou acorrentá-lo. Por vezes, somos testemunhas da acção do Espírito no mundo através de pessoas que não pertencem à nossa instituição religiosa… Não temos que sentir-nos melindrados ou ciumentos se Deus age no mundo através de pessoas que não pertencem à nossa Igreja; temos é de reconhecer a presença de Deus nos gestos de amor, de paz, de justiça, de solidariedade, de partilha que todos os dias testemunhamos (mesmo naqueles que se dizem ateus) e agradecer ao nosso Deus a sua presença, a sua acção, o seu amor pelos homens e pelo mundo.

• A certeza de que ninguém tem o exclusivo do Espírito obriga-nos a pôr de lado qualquer atitude de fanatismo, de intransigência ou de intolerância face às perspectivas diferentes com que somos confrontados. Os preconceitos, os esquemas egoístas, as condenações à priori, os julgamentos apressados, podem fazer-nos perder os desafios que o Espírito, pela voz dos irmãos, nos apresenta.

• Moisés, o líder do processo de libertação que trouxe os hebreus da terra da escravidão para a Terra da liberdade, foi capaz de reconhecer a sua debilidade e a sua incapacidade de “fazer tudo” e aceitou a ajuda da comunidade. Não teve ciúmes, nem inveja, nem medo de perder o controle do processo, nem dificuldade em aceitar a partilha das tarefas que o Senhor lhe confiou. Com o seu exemplo, ele ensina os responsáveis das nossas comunidades a aceitar a ajuda dos irmãos, a partilhar com outros o peso da responsabilidade de conduzir a comunidade do Povo de Deus. Por vezes, temos a convicção de que só nós somos capazes de fazer as coisas bem e evitamos aceitar a ajuda dos outros; por vezes, sentimos que a intervenção de outras pessoas é uma ameaça ao nosso poder e rejeitamos qualquer ajuda; por vezes, queremos controlar o caminho da comunidade, porque não estamos dispostos a renunciar aos nossos sonhos, aos nossos projectos pessoais… Já pensámos que, quando não aceitamos partilhar responsabilidades, estamos a impedir os outros de crescer? Já pensámos que, quando somos nós a conduzir todo o processo, sem nos deixarmos confrontar com perspectivas diferentes, podemos estar a calar os desafios do Espírito?


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 18 (19)

Refrão: Os preceitos do Senhor alegram o coração.

A lei do Senhor é perfeita,
ela reconforta a alma.
As ordens do Senhor são firmes,
dão sabedoria aos simples.

O temor do Senhor é puro
e permanece eternamente;
Os juízos do Senhor são verdadeiros,
todos eles são rectos.

Embora o vosso servo se deixe guiar por eles
e os observe com cuidado,
quem pode, entretanto, reconhecer os seus erros?
Purificai-me dos que me são ocultos.

Preservai também do orgulho o vosso servo,
para que não tenha poder algum sobre mim:
então serei irrepreensível
e imune de culpa grave.


LEITURA II – Tg 5,1-6

Leitura da Epístola de São Tiago

Agora, vós, ó ricos, chorai e lamentai-vos,
por causa das desgraças que vão cair sobre vós.
As vossas riquezas estão apodrecidas
e as vossas vestes estão comidas pela traça.
O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se,
e a sua ferrugem vai dar testemunho contra vós
e devorar a vossa carne como fogo.
Acumulastes tesouros no fim dos tempos.
Privastes do salário os trabalhadores
que ceifaram as vossas terras.
O seu salário clama;
e os brados dos ceifeiros
chegaram aos ouvidos do Senhor do Universo.
Levastes na terra uma vida regalada e libertina,
cevastes os vossos corações para o dia da matança.
Condenastes e matastes o justo
e ele não vos resiste.

AMBIENTE

A Carta de Tiago termina com dois blocos de exortações onde o autor recorda aos seus interlocutores alguns dos aspectos que elencou anteriormente e que, na sua perspectiva, devem ser tidos em séria conta por parte de quem está interessado em viver a vida cristã autêntica. Para o autor, o acesso à vida plena depende das opções que o homem faz enquanto caminha nesta terra.
O primeiro bloco (cf. Tg 4,11-5,6) contém um elenco de atitudes negativas, que os crentes devem evitar a todo o custo: falar mal dos irmãos (cf. Tg 4,11-12), viver no orgulho e na auto-suficiência face a Deus (cf. Tg 4,13-17), viver para os bens materiais e praticar injustiças contra os pobres (cf. Tg 5,1-6). O segundo bloco (cf. Tg 5,7-20) contém uma lista de atitudes positivas que os crentes devem assumir enquanto esperam a vinda do Senhor: paciência, perseverança e firmeza no falar (cf. Tg 5,7-12), oração (cf. Tg 5,1-18) e preocupação em reconduzir ao bom caminho o irmão que anda afastado (cf. Tg 5,19-20).
O texto que nos é proposto é um grito profético de denúncia dos ricos, do seu orgulho e auto-suficiência, da sua obsessão pelos bens materiais. Este texto deve ser colocado no quadro geral de uma época de profundas desigualdades: ao lado de uma riqueza desmesurada e sem limites, vive e sofre a miséria mais aguda. A exploração do pobre e a violência contra os humildes eram, na época, fenómenos demasiado frequentes e que os cristãos conheciam bem.

MENSAGEM

A primeira parte do nosso texto (vers. 1-3) trata do problema da acumulação da riqueza. O autor, como numa visão profética, contempla o final dos tempos e descreve, com violência, a sorte que espera aqueles cujo objectivo principal na vida foi o acumular bens. Será que os bens, o poder, a consideração que eles gozaram neste mundo lhes servirá de alguma coisa, quando chegar o juízo final, o momento em que se joga o destino definitivo do homem?
Obviamente que não. Esses bens nos quais os ricos depositam agora toda a sua segurança e esperança perderão todo o valor (“as vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se…” – vers. 2-3a); ou, pior ainda, serão uma testemunha de acusação, que denunciará o amor descontrolado dos bens materiais, o orgulho e a auto-suficiência, as injustiças praticadas contra os pobres. O destino final dos bens perecíveis é a destruição; e quem tiver os bens materiais como o seu deus, a sua referência fundamental, não terá acesso à vida plena e eterna (vers. 3b.c).
Na segunda parte do nosso texto (vers. 4-6), o autor refere-se à origem desses bens acumulados pelos ricos. Para o autor, não há dúvidas nem meios-termos: a riqueza provém sempre da exploração dos pobres. Como exemplo, o autor cita o não pagamento dos salários devidos aos trabalhadores que ceifaram os campos dos ricos (vers. 4). Trata-se de um pecado que a Lei condena de forma veemente e que Deus castigará duramente (cf. Lv 19,13; Dt 24,15). Não pagar o salário ao trabalhador é condená-lo à morte, bem como a toda a sua família (vers. 6). Os luxos e os prazeres dos ricos vivem assim da morte dos pobres.
Naturalmente, Deus não pode pactuar com a injustiça e, por isso, não ficará indiferente ao sofrimento do pobre e do oprimido. O clamor dos injustiçados sobe da terra até junto de Deus e faz com que Deus actue. Com ironia mordaz, o autor compara o rico ao cevado que, engordando, apressa o dia da sua própria matança (vers. 5): os ricos, vivendo no luxo e nos prazeres à custa do sangue dos pobres, estão a preparar para si próprios um caminho de desgraça e de castigo.
A linguagem do autor da Carta de Tiago é violenta e colorida, bem ao gosto dos pregadores da época. Para além da veemência das palavras deve ficar, contudo, esta mensagem: quem vive para os bens materiais e coloca neles o sentido da sua existência, dificilmente terá disponibilidade para acolher os dons de Deus e para acolher essa vida plena que Deus quer oferecer aos homens. Por outro lado, Deus não tolera a exploração, a opressão do pobre; e quem conduzir a sua vida por caminhos de injustiça, não poderá fazer parte da família de Deus.

ACTUALIZAÇÃO

• O autor da Carta de Tiago critica os ricos, em primeiro lugar porque eles vivem apenas para acumular bens materiais, negligenciando os verdadeiros valores. Fazem do ouro e da prata os seus deuses e centram toda a sua existência em valores caducos e perecíveis. No final da sua existência vão perceber que gastaram a vida a correr atrás de algo que não dá felicidade nem conduz o homem à vida plena; a sua existência terá sido, então, um dramático equívoco. O “aviso” do autor da Carta de Tiago conserva uma espantosa actualidade… A acumulação de bens materiais tornou-se, para tantos homens do nosso tempo, o único objectivo da vida e o critério único para definir uma vida de sucesso. Contudo, aqueles que apostam tudo nos bens perecíveis facilmente constatam como essa opção não responde, em definitivo, à sua sede de felicidade e de vida plena. O ouro, a conta bancária, o carro de luxo, a casa de sonho, dão-nos satisfações imediatas e, talvez, um certo estatuto aos olhos do mundo; mas não saciam a nossa sede de vida eterna. Nós, os cristãos, somos chamados a testemunhar que a vida verdadeira brota dos valores eternos – esses valores que Deus nos propõe.

• O autor da Carta de Tiago critica os ricos, em segundo lugar, porque frequentemente a riqueza resulta da exploração e da injustiça. Acumular bens à custa da miséria e da exploração dos irmãos é, na perspectiva do autor do nosso texto, um crime abominável e que Deus não deixará impune. Não é cristão quem não paga o salário justo aos seus operários, mesmo que ofereça depois somas chorudas para a construção de uma igreja; não é cristão quem especula com os bens de primeira necessidade, mesmo que vá todos os domingos à missa e pertença a vários grupos paroquiais; não é cristão quem inventa esquemas para não pagar impostos, mesmo que seja muito amigo do padre da paróquia; não é cristão quem se aproveita da ignorância e da miséria para realizar negócios altamente rentáveis, mesmo que pense repartir com Deus os frutos das suas rapinas…

• Uma coisa deve ficar clara: Deus não apoia nunca quem vive fechado em si próprio, no açambarcamento egoísta desses bens que Deus nos concedeu para serem postos ao serviço de todos os homens; e qualquer crime cometido contra os pobres é um crime contra Deus, que afasta o homem da vida plena da comunhão com Deus.


ALELUIA – cf. Jo 17,17b.a

Aleluia. Aleluia.

A vossa palavra, Senhor, é a verdade;
santificai-nos na verdade.


EVANGELHO – Mc 9,38-43.45-47-48

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,
João disse a Jesus:
«Mestre,
nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome
e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco».
Jesus respondeu:
«Não o proibais;
porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome
e depois dizer mal de Mim.
Quem não é contra nós é por nós.
Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo,
em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa.
Se alguém escandalizar algum destes pequeninos
que crêem em Mim,
melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço
uma dessas mós movidas pró um jumento
e o lançassem ao mar.
Se a tua mão é para ti ocasião de escândalo, corta-a;
porque é melhor entrar mutilado na vida
do que ter as duas mãos e ir para a Geena,
para esse fogo que não se apaga.
E se o teu pé é para ti ocasião de escândalo, corta-o;
porque é melhor entrar coxo na vida
do que ter os dois pés e ser lançado na Geena.
E se um dos teus olhos é para ti ocasião de escândalo,
deita-o fora;
porque é melhor entrar no reino de Deus só com um dos olhos
do que ter os dois olhos e ser lançado na Geena,
onde o verme não morre e o fogo não se apaga».

AMBIENTE

Estamos ainda em Cafarnaum (cf. Mc 9,33), a cidade de pescadores situada junto do Lago de Tiberíades. Jesus está “em casa” rodeado pelos discípulos. A ida para Jerusalém está próxima e os discípulos estão conscientes de que se aproximam tempos decisivos para esse projecto em que estão envolvidos.
Apesar da sua opção inequívoca por Jesus, os discípulos continuam a dar mostras de não terem ainda conseguido absorver os valores do Reino. Para eles, o seguimento de Jesus é uma opção que deverá traduzir-se na concretização de determinados sonhos de poder, de grandeza e de prestígio… Por isso, sentem-se inquietos e ciumentos quando encontram algo que possa colocar em causa os seus interesses, a sua autoridade, os seus “privilégios”.
Jesus vai, com paciência, tentando formar os discípulos na lógica do Reino. O texto que a liturgia deste domingo nos propõe como Evangelho é mais uma instrução que Jesus dirige aos discípulos no sentido de lhes mostrar os valores que eles devem interiorizar, se quiserem integrar a comunidade messiânica.
Marcos juntou aqui uma série de “ditos” de Jesus, inicialmente independentes entre si e pronunciados em contextos diversos. Estes “ditos” apresentam, contudo, exigências várias que os discípulos de Jesus devem considerar e que, em última análise, definem a pertença ou a não pertença à comunidade do Reino.

MENSAGEM

Sendo o Evangelho deste domingo constituído por um conjunto de “ditos” de Jesus – originariamente independentes uns dos outros e versando questões diversas – temos vários temas a cruzar o nosso texto. O tema principal (uma vez que é também o tema da primeira leitura) aparece na primeira parte do Evangelho… Refere-se à necessidade de a comunidade cristã ser uma comunidade aberta, acolhedora, tolerante, capaz de aceitar como sinais de Deus os gestos libertadores que acontecem no mundo.
Nos primeiros versículos deste texto, João (desta vez o porta-voz do grupo) queixa-se pelo facto de terem encontrado alguém a “expulsar demónios” em nome de Jesus, embora não pertencesse ao grupo dos discípulos; considerando um abuso a utilização do nome de Jesus por parte de alguém que não fazia parte da comunidade messiânica, os discípulos procuraram impedi-l’O de actuar (vers. 38-41).
A atitude dos discípulos mostra, antes de mais, arrogância, sectarismo, intransigência, intolerância, ciúmes, mesquinhez, pretensão de monopolizar Jesus e a sua proposta, presunção de serem os donos exclusivos do bem e da verdade… Mas, por detrás da reacção dos discípulos, deve estar também uma grande preocupação com a concretização dos projectos pessoais de prestígio e grandeza que quase todos eles alimentavam. Pouco tempo antes, eles tinham estado a discutir uns com os outros acerca de quem seria o maior e de quem iria herdar os postos mais importantes no Reino que, com Jesus, ia nascer (cf. Mc 9,33-37); agora, eles estão inquietos e preocupados, porque apareceu alguém de fora do grupo que pretende actuar em nome de Jesus e que pode, num futuro próximo, disputar-lhes os lugares de relevo na estrutura política do Reino.
Jesus procura levar os discípulos a ultrapassar esta visão sectária e egoísta da missão. Na perspectiva de Jesus, quem luta pela justiça e faz obras em favor do homem, está do lado de Jesus e vive na dinâmica do Reino, mesmo que não esteja formalmente dentro da estrutura eclesial. A comunidade de Jesus não pode ser uma comunidade fechada, exclusivista, monopolizadora, que amua e sente ciúmes quando alguém de fora faz o bem; nem pode sentir-se atingida nos seus privilégios e direitos pelo facto de o Espírito de Deus actuar fora das fronteiras da Igreja… A comunidade de Jesus deve ser uma comunidade que põe, acima dos seus interesses, a preocupação com o bem do homem; e deve ser uma comunidade que sabe acolher, apoiar e estimular todos aqueles que actuam em favor da libertação dos irmãos.
Na segunda parte do nosso texto (vers. 42-48), temos outros “ditos” de Jesus que abordam outros temas. Constituem também indicações aos discípulos sobre as atitudes a assumir para integrar plenamente a comunidade do Reino. Nesses “ditos”, são usadas imagens fortes, expressivas, hiperbólicas, bem ao gosto dos pregadores da época, destinadas a impressionar profundamente os ouvintes. Não são expressões para traduzir à letra; mas são expressões que pretendem marcar a necessidade de fazer escolhas acertadas, de optar com radicalidade pelos valores do Reino.
O primeiro desses “ditos” é um aviso àqueles que “escandalizam” os “pequeninos” (vers. 42). Na nossa cultura, “escandalizar” é protagonizar um mau exemplo ou um facto revoltante que melindra ou fere a susceptibilidade daqueles que testemunham essa acção. Na linguagem de Marcos, no entanto, “escandalizar” tem um significado um tanto diferente… O verbo grego “scandalidzô” aqui utilizado define, em Marcos, a acção de desistir de seguir Jesus, de não ter coragem para assumir a proposta que Jesus veio fazer (cf. Mc 4,17; 8,35.38). Os “pequeninos” de que Jesus fala são os membros da comunidade que estão numa situação de dependência, de debilidade, de necessidade… Os membros da comunidade do Reino devem, portanto, abster-se de qualquer atitude que possa afastar alguém (especialmente os pequenos, os débeis, os pobres) da adesão a Jesus e ao caminho que Ele veio propor. Fazer algo que afaste uma dessas pessoas de Cristo e da comunidade é algo verdadeiramente inadmissível e impensável (a quem fizer isso, “melhor seria que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós movidas por um jumento e o lançassem ao mar” – vers- 42).
O segundo “dito” de Jesus (vers. 43-48) refere-se à absoluta necessidade de arrancar da própria vida todos os sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a opção por Cristo e pela sua proposta. Quando Jesus fala em cortar a mão (a mão é, nesta cultura, o órgão da acção, através do qual se concretizam os desejos que nascem no coração) ou de cortar o pé ou de arrancar o olho que é ocasião de pecado (o olho é, nesta cultura, o órgão que dá entrada aos desejos), está a sublinhar, com toda a veemência, a necessidade de actuar, lá onde as acções más do homem têm origem e eliminar na fonte as raízes do mal. Estando em jogo o destino último do homem, não se pode protelar ou adiar “cortes” importantes nas atitudes de egoísmo e de auto-suficiência que afastam os homens de Deus e da vida plena.
Há ainda, neste segundo “dito”, referências sucessivas a um castigo na “Geena”, “onde o verme não morre e o fogo não se apaga”, para aqueles que recusarem cortar com as atitudes e os sentimentos incompatíveis com o seguimento de Jesus. A palavra “Geena” vem do hebraico “Ge Hinnon” (“Vale do Hinnon”). Refere-se a um vale situado a sudoeste de Jerusalém, onde eram enterrados os mortos e onde, dia e noite, era queimado o lixo produzido pelos habitantes da cidade. Era considerado, portanto, um lugar maldito, impuro, tenebroso, que convinha evitar. Jesus usa aqui a imagem do “Ge Hinnon”, para falar de uma vida perdida, frustrada, destruída, maldita, sem sentido. Quem não for capaz de cortar com o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, é como se, em lugar de viver num lugar livre e feliz, estivesse condenado a viver no “Ge Hinnon”.

ACTUALIZAÇÃO

• O Evangelho deste domingo apresenta-nos um grupo de discípulos ainda muito atrasados na aprendizagem do “caminho do Reino”. Eles ainda raciocinam em termos de lógica do mundo e têm dificuldade em libertar-se dos seus interesses egoístas, dos seus esquemas pessoais, dos seus preconceitos, dos seus sonhos de grandeza e poder… Eles não querem entender que, para seguir Jesus, é preciso cortar com certos sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a radicalidade que a opção pelo Reino exige. As dificuldades que estes discípulos apresentam no sentido de responder a Jesus não nos são estranhas: também fazem parte da nossa vida e do caminho que, dia a dia, percorremos… Assim, a instrução que, neste texto, Jesus dirige aos seus discípulos serve-nos também a nós. As propostas de Jesus destinam-se aos discípulos de todas as épocas; pretendem ajudar-nos a purificar a nossa opção e a integrar, de forma plena, a comunidade do Reino.

• Antes de mais, Jesus mostra aos discípulos que a comunidade do Reino não pode ser uma seita arrogante, fechada, intolerante, fanática, que se arroga a posse exclusiva de Deus e das suas propostas. Tem de ser uma comunidade que sabe qual o seu papel e a sua missão, mas que reconhece que não tem o exclusivo do bem e da verdade e que é capaz de se alegrar com os gestos de bondade e de esperança que acontecem à sua volta, mesmo quando esses gestos resultam da acção de não crentes ou de pessoas que não pertencem à instituição Igreja. O verdadeiro discípulo não tem inveja do bem que outros fazem, não sente ciúmes se Deus actua através de outras pessoas, não pretende ter o monopólio da verdade nem ter o exclusivo de Jesus. O verdadeiro discípulo esforça-se, cada dia, por testemunhar os valores do Reino e alegra-se com os sinais da presença de Deus em tantos irmãos com outros percursos religiosos, que lutam por construir um mundo mais justo e mais fraterno.

• Os discípulos de que o Evangelho de hoje nos fala estão preocupados com a acção de alguém que não é do grupo, pois temem ver postos em causa os seus sonhos pessoais de poder e de grandeza. Por detrás dessa preocupação dos discípulos não está o bem do homem (aquilo que, em última análise, devia “mover” os membros da comunidade do Reino), mas a salvaguarda de certos interesses egoístas. Nas nossas comunidades cristãs ou religiosas, há pessoas capazes de gestos incríveis de doação, de entrega, de serviço aos irmãos; mas há também pessoas cuja principal preocupação é proteger o espaço que conquistaram e continuar a manter um estatuto de poder e de prestígio… Quando afastamos (com o pretexto de defender a pureza da fé, os interesses da moralidade, ou tranquilidade da comunidade) aqueles que desafiam a comunidade a purificar-se e a procurar novos caminhos para responder aos desafios de Deus, estaremos a proteger os interesses de Deus ou os nossos projectos, os nossos esquemas interesseiros, as nossas apostas pessoais?

• No nosso texto, Jesus exige dos discípulos o corte radical com os valores, os sentimentos, as atitudes que são incompatíveis com a opção pelo Reino. O discípulo de Jesus nunca está acomodado, instalado, conformado; mas está sempre atento e vigilante, procurando detectar e eliminar da sua existência tudo aquilo que lhe impede o acesso à vida plena. Naturalmente, a renúncia ao egoísmo, ao comodismo, ao orgulho, aos esquemas pessoais, à vontade de poder e de domínio, ao apelo do êxito, ao aplauso das multidões, é um processo difícil e doloroso; mas é também um processo libertador e gerador de vida nova. O que é que eu necessito, prioritariamente, de “cortar” da minha vida, para me identificar mais com Jesus, para merecer integrar a comunidade do Reino, para ser mais livre e mais feliz?

• O apelo de Jesus à sua comunidade no sentido de não “escandalizar” (afastar da comunidade do Reino) os pequenos, faz-nos pensar na forma como lidamos, enquanto pessoas e enquanto comunidades, com os pobres, os que falharam, os que têm atitudes moralmente reprováveis, aqueles que têm uma fé pouco consistente, aqueles que a vida marcou negativamente, aqueles que a sociedade marginaliza e rejeita… Eles encontram em nós a proposta libertadora que Cristo lhes faz, ou encontram em nós rejeição, injustiça, marginalização, mau exemplo? Quem vê o nosso testemunho tem razões para aderir a Cristo, ou para se afastar de Cristo?


ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 26º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 26º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. BILHETE DE EVANGELHO.
Quando Jesus chama, pede para deixar tudo para O seguir. Quando Jesus fala do Reino, anuncia um mundo totalmente novo. Quando Jesus pede para amar, propõe um regresso radical. Mas será necessário tempo aos seus discípulos para compreender tudo isso, e sobretudo para vivê-lo. Eles conhecerão hesitações, procurarão compromissos, porão condições. Ora, para Jesus, nada deve ser obstáculo à entrada no Reino de Deus. Jesus coloca o homem face à sua liberdade, ele deve escolher. Se ele escolheu o Reino, deve aceitar as suas exigências, que se resumem numa única palavra AMAR. O homem é convidado a amar com todo o seu ser: as suas mãos para partilhar, os seus pés para reencontrar, os seus olhos para olhar. Cabe ao homem fazer com que todo o seu ser responda à sua vontade de amar.

3. À ESCUTA DA PALAVRA.
“Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco»”. João quer delimitar as fronteiras do grupo dos discípulos, pôr em ordem, classificar os bons de um lado, os maus de outro, separar aqueles que estão “em regra” daqueles que estão à margem. Esta tentação de erguer barreiras entre os homens em nome de Deus é uma tentação mortal. É a tentação de todos aqueles que pretendem agir em nome de Deus, que se declaram, eles e apenas eles, detentores da Verdade e reivindicam serem eles os únicos verdadeiros fiéis de Deus. Todos os outros, que não pensam, que não agem como eles devem ser rejeitados, condenados. Essa tentação gera o fanatismo. Isso não é em vista do espírito! É uma realidade bem concreta no nosso mundo e também na história, antiga e actual, de praticamente todas as religiões. Mas Jesus conduz-nos para além disso. Sem dúvida diz Ele: “Eu sou a Verdade”, mas não reivindica qualquer poder. Recusa entrar no jogo de João: “Não impeçais este homem de expulsar os demónios em meu nome”. Porquê? Porque Jesus veio para reunir na unidade os filhos de Deus dispersos e, como dirá São Paulo, para destruir a barreira que separava os Judeus e os pagãos, para fazer a paz e reconciliar todos os homens com Deus e entre eles.

4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…
Com Maria, humilde serva… Para nos ajudar a amar sem orgulho, em quase início de mês de Outubro, mês do Rosário: peçamos o apoio e a intercessão de Maria. Ela que foi a humilde serva do Senhor, pode ensinar-nos a humildade, o serviço, a disponibilidade, o amor.


UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909



Roteiro Homilético 3 - Liturgia: Vida Pastoral

Por Celso Loraschi
 
Os dons de Deus não podem ser privatizados

Introdução geral

            Neste último domingo de setembro, celebramos o dia da Bíblia. Por meio da Bíblia, temos a oportunidade de conhecer a Deus e o seu plano de amor. Ele se revela na história humana. Concede seus dons com liberalidade para o bem de todos. Os dons de Deus não podem ser privatizados ou restritos a determinadas pessoas ou instituições. A primeira leitura relata um episódio de efusão do Espírito de Deus não somente sobre Moisés, o grande líder do êxodo, mas também sobre muitas outras pessoas, que começaram a profetizar. Diante disso, houve gente que tentou impedi-las. O Evangelho de Marcos conta como os discípulos tiveram a mesma reação ao constatar que outras pessoas faziam o bem em nome de Jesus sem pertencer ao grupo deles. Essas reações revelam a descabida pretensão de privatizar os dons de Deus. Também os bens materiais são dons de Deus que devem ser administrados de forma que proporcionem vida digna a todos. A segunda leitura denuncia veementemente a atitude dos ricos que privatizam esses bens e exploram os trabalhadores. Deus não deixará de ouvir o grito das pessoas injustiçadas e pedirá contas a quem retém os recursos que ele destinou a todos.

Comentário dos textos bíblicos

I leitura (Nm 11,25-29): A efusão do Espírito de Deus
            O povo de Israel encontra-se em caminhada pelo deserto, libertando-se da escravidão do Egito. Moisés foi chamado por Deus para liderar esse processo de conquista de uma terra de liberdade e vida. Esse chamado não significa a prática de um poder centralizado. Acima de tudo, é necessário garantir o projeto de Deus. Moisés é um dos protagonistas, mas não o único. A sociedade nova é construída com a participação do povo. Os setenta anciãos representam as lideranças necessárias para animar a organização social conforme a inspiração divina. Por isso, Deus lhes concede o seu Espírito, a fim de que cumpram sua missão com fidelidade. Eles exercem a profecia, isto é, falam e orientam o povo em nome de Deus.

            Os setenta anciãos estão na mesma tenda com Moisés. Pertencem, portanto, ao grupo íntimo do principal líder. A tenda de Moisés é o espaço oficial das decisões a serem tomadas sobre aquilo que diz respeito a todo o povo. Os anciãos são oficialmente delegados para exercer a função de instruir, orientar e julgar o povo. Mas eis que duas pessoas que não se encontravam na tenda de Moisés também recebem o mesmo dom do Espírito e começam a profetizar no meio do acampamento. O texto conservou o nome dos dois: Eldad, que significa “Deus é amigo”, e Medad, “Deus é amor”. Um jovem corre para informar o fato a Moisés, certamente preocupado com a autonomia dos dois novos profetas que cumprem sua missão sem uma delegação oficial. Josué, que será o substituto de Moisés na condução do povo, sugere-lhe que os proíba. O outro, no entanto, percebe que a tentativa de proibição da parte de Josué é motivada por ciúme. Por isso o corrige. Moisés não teme ser ofuscado em sua autoridade. O que importa é que os dons de Deus, distribuídos conforme sua vontade, sejam acolhidos e administrados para o bem de todos. Os dons divinos não obedecem aos interesses de instituições oficiais. Deus é soberano em suas decisões, e sua liberalidade é extraordinária. Oxalá todo o povo se deixe conduzir pelo Espírito de Deus!

Evangelho (Mc 9,38-43.45.47-48): Praticar o bem: alguém pode impedir?
            No domingo passado, refletimos sobre o texto do Evangelho de Marcos no qual os discípulos, após discutirem pelo caminho sobre qual deles seria o maior, recebem em casa uma instrução especial de Jesus. Tomando uma criança e colocando-a no meio deles, Jesus mostra qual é a atitude verdadeira que seus discípulos devem ter na vida: “Ocupar o último lugar e tornar-se servos uns dos outros”. O texto de hoje é a continuação desse episódio. No caminho, eles não apenas haviam discutido quem seria o maior, mas também tentaram impedir que alguém não pertencente ao grupo realizasse boas ações em nome de Jesus. É João quem, dessa vez, representa a todos: “Mestre, vimos alguém expulsando demônios em teu nome e o impedimos, porque não nos seguia”.

            Essa é mais uma atitude que revela o alto grau de imaturidade demonstrado pelos discípulos de Jesus. Eles também já haviam sido enviados por Jesus para pregar o evangelho e “expulsaram muitos demônios e curaram muitos enfermos” (Mc 6,12). Foi muito bonita essa experiência missionária, quando numerosas pessoas foram beneficiadas. Certamente se sentiram privilegiados por serem escolhidos por Jesus e enviados por ele para tão grande missão. O que não esperavam é que outras pessoas, além deles, pudessem realizar as mesmas obras. Ficaram aborrecidos e enciumados, como aconteceu com Josué, conforme ouvimos na primeira leitura. Moisés, cheio de sabedoria e de grande coração, corrigiu a atitude de Josué. Assim também Jesus, que veio ao mundo para salvar a todos, procura instruir os discípulos para que mudem de mentalidade e de atitude: “Não o impeçais… Quem não é contra nós está a nosso favor”. Com isso, Jesus está advertindo-os de que pode haver pessoas que, embora pertençam ao círculo íntimo dos discípulos, são contra ele; está pondo o projeto de vida para todos acima das pretensões pessoais.

Não se pode fazer uso do nome de Deus ou da religião para satisfazer interesses pessoais ou para disputas de poder. Essa atitude seria escândalo para os pequeninos, que olham para seus líderes esperando verdadeiro testemunho de fé e de amor. O escândalo existe quando alguém na comunidade pretende ser maior que os outros; ao invés de servir, quer ser servido. Jesus é enfático: melhor seria que essa pessoa se afogasse definitivamente no fundo do mar. E diz mais: é preciso cortar a mão que escandaliza, isto é, o mau agir; cortar o pé, que significa corrigir a direção ou a conduta errada na vida; arrancar o olho, ou seja, o modo de ver as coisas com cobiça, ciúme, inveja, ambição… Portanto, há necessidade de vigiar o modo de viver e exercer as funções comunitárias. É preciso extirpar tudo o que contradiz o evangelho e causa dano aos que querem entender e praticar verdadeiramente o que Jesus pede. A missão de promover a vida digna de todos constitui serviço abnegado e humilde, e não uma forma de projeção social, de exploração do sentimento religioso dos pequeninos ou de realização de outras intenções egoísticas.

II leitura (Tg 5,1-6): O grito dos injustiçados
            A realidade contemplada pelos autores da carta de Tiago, conforme se deduz desse texto, é de terrível injustiça social. Não sabemos se esses ricos exploradores fazem parte das comunidades cristãs. Provavelmente não, pois seria explícita contradição da fé que professam. Ou seriam aqueles cristãos cuja fé é morta, como já foi alertado anteriormente nessa mesma carta? Dizem que têm fé, mas não têm obras (2,14-17).

            O fato é que Tiago, com palavras duras e contundentes, denuncia a situação social em que os pobres estão sendo oprimidos. Percebe-se que os ricos são grandes proprietários de terras que se aproveitam da mão de obra dos pobres trabalhadores, pagando um salário irrisório (ou o retendo) e reduzindo-os à condição de escravos. A riqueza acumulada nas mãos desses senhores, fruto do suor e do sangue dos oprimidos, tornar-se-á motivo de sua própria condenação. Todo o seu ouro e prata, apesar de serem metais naturalmente consistentes, estão corroídos pela ferrugem. Os bens acumulados à custa de injustiça carregam a “ferrugem” da maldade. Eles serão usados como testemunhas contra os seus donos, pois o grito dos injustiçados sempre é acolhido por Deus, que é justo e verdadeiro.

Ao longo da Bíblia, encontramos frequentes alusões ao uso dos bens materiais. Desde o episódio do maná no deserto, pelo qual Deus alimentou o seu povo, é-nos dada a orientação de que não se pode acumular, pois o acúmulo apodrece (Ex 16,19). Os profetas condenaram a injustiça social como enorme ofensa a Deus, a ponto de ele rejeitar qualquer tipo de manifestação religiosa enquanto não houvesse conversão (Am 5,21-24; Is 58,6-9). Nos evangelhos, encontramos vários textos que se referem ao perigo da riqueza e da insensibilidade social: um exemplo é o do homem rico e do pobre Lázaro (Lc 16,19-31). Chama a atenção o fato de que a salvação ou a condenação estão ligadas ao modo pelo qual cada um administra os bens. Não podemos reter ou privatizar o que Deus concedeu para a vida de todos.

III. Pistas para reflexão

– A Bíblia nos revela a bondade e a generosidade de Deus. Ele concede os dons e carismas com liberalidade. Cada pessoa que os recebe deve pô-los a serviço da vida. Não podem ser considerados bens privativos, pois são de Deus. Não podem ser usados como motivo de vanglória pessoal, e sim como expressão da bondade divina. Todas as pessoas recebem dons para a alegria e a felicidade de todos, independentemente da instituição ou da tradição religiosa a que pertencem. Portanto, não tem sentido o ciúme ou a competição. O que importa é que todos os dons sejam aplicados verdadeiramente no projeto de “vida em abundância” para todas as pessoas. Assim, cada pessoa e cada religião, a política e a economia, a arte, a ciência e a tecnologia devem visar ao bem social. Pode-se refletir sobre os efeitos sociais de uma vida ou atividade (mão, pé e olho) orientada pela ética e pelo amor, diferente da que busca objetivos egoísticos…

– Os bens materiais são dons de Deus para a vida de todos os seus filhos e filhas. Ofendemos a Deus quando os administramos de forma egoísta. A privatização da riqueza nas mãos de poucos denuncia o sistema social injusto em que vivemos. “Perdemos a capacidade de sentir. Essa é uma das causas de nossa miséria” (Herbert de Souza, o Betinho). Jesus preveniu: “Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem… Ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem o caruncho correm…” (Mt 6,19-21). Podem-se levantar os desafios sociais que existem na paróquia e no município e incentivar nosso compromisso de cristãos na construção do mundo justo, fraterno e solidário…

Celso Loraschi
Mestre em Teologia Dogmática com Concentração em Estudos Bíblicos pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, São Paulo, professor de Evangelhos Sinóticos e Atos dos Apóstolos na Faculdade Católica de Santa Catarina (Facasc) e assessor do Cebi, SC. E-mail: loraschi@facasc.edu.br




Roteiro Homilético 4 - Liturgia: Dom Henrique

Hoje, a Palavra de Deus apresenta alguns elementos importantes que nos precisam ser continuamente recordados. Tanto a primeira leitura quanto o Evangelho, recordam-nos que Deus não é propriedade de ninguém. Ante o zelo mesquinho de João, Jesus afirma:

“Quem não é contra nós é a nosso favor”. É preciso compreender bem a afirmação do Senhor. Certamente, ele é o Caminho e a Verdade da humanidade; certamente ele fundou a Igreja, comunidade de seus discípulos; dotou essa Igreja do seu Espírito, de pastores e de toda uma estrutura visível. Esta Igreja de Cristo, nós cremos que permanece de modo pleno na Igreja católica. Isto significa que os elementos essenciais da Igreja de Cristo permanecem, por graça e fidelidade do Senhor, naquela Comunidade que ele fundou desde o início, a Igreja una, santa, católica e apostólica. Quais são esses elementos essenciais? A Palavra de Deus, pregada e interpretada segundo a Tradição apostólica, a Eucaristia como banquete e sacrifício, os sete sacramentos, o ministério de Pedro, presente nos seus sucessores, os Papas de Roma, o ministério episcopal, no qual se concretiza a sucessão apostólica, a caridade fraterna, os vários dons e carismas da comunidade, o sentido da missão de anunciar Jesus ao mundo como Senhor e Salvador, o martírio como testemunho máximo de Cristo, a presença materna da Virgem Maria e dos Santos, amigos de Cristo. A Igreja católica é, portanto, Igreja de Cristo, pertence a Cristo e, por graça de Cristo, conserva e conservará sempre, sem poder perder, estes elementos. Mas, isso não significa que a Igreja seja proprietária de Cristo. Aqui é preciso dizer claramente: a Igreja pertence a Cristo, mas Cristo não é propriedade da Igreja! De fato, na força do seu Espírito Santo, ele manifesta sua ação também fora da estrutura visível da Igreja católica. Pensemos nos nossos irmãos separados, de tradição protestante. Eles têm tantos elementos da Igreja de Cristo: a Palavra de Deus, a confissão de Jesus como Senhor e Salvador, tantos dons e carismas, o amor sincero a Jesus, a caridade fraterna, o ela missionário. Tudo isso deve ser, para nós, católicos, causa de alegria. Ainda que não estejam em comunhão plena com a Igreja de Cristo e falte-lhe elementos essenciais da Igreja de Cristo, eles não estão fora do caminho da salvação! Hoje, Jesus nos convida à tolerância e ao amor a esses irmãos.

Isto não significa de modo algum dizer que está tudo bem, que tanto faz ser católico como não ser, que o importante é a fé em Jesus e pronto. Não! É preciso recordar que a divisão na Igreja é um pecado grave e contraria o desejo de unidade que o Senhor deixou como testamento: “Pai, não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim: a fim de que sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,20s). É também absolutamente falso afirmar que as questões de doutrina não são importantes. O Novo Testamento está repleto de advertências contra os que ensinam doutrinas erradas e contrárias à fé dos apóstolos e são Paulo mesmo exorta a separar da Comunidade quem pregar um evangelho diferente do dele (cf. Gl 1,6-9). A busca de recompor a unidade visível da Igreja em torno de Cristo, com os mesmos pastores, os mesmos sacramentos e a mesma doutrina é dever de todos os cristãos! Mas, também é necessário deixar claro o dever que todos nós temos da tolerância respeitosa e amorosa para com os irmãos separados. Se nos entristece ouvi-los falar mal da Igreja – às vezes até caluniando-a e mentindo contra ela -, deve alegrar-nos ouvi-los falar bem de Cristo e pregar o Evangelho. Ainda mais: até para com os não-cristãos, como os espíritas, muçulmanos, budistas, adeptos da seicho-no-iê… temos o dever do respeito e da tolerância. Deles, o Senhor afirma no evangelho de hoje: “Quem vos der a beber um copo da água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa”. Então, que fique bem claro o dever da tolerância que nós, discípulos de Cristo, temos para com os demais.

Mas, a Palavra de Deus também fala hoje de radicalidade. Tolerância para com os outros; radicalidade para conosco, no nosso ser cristãos! Vejamos: (1) Radicalidade no respeito pela debilidade dos pequeninos e fracos na fé: “Se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço”. Deus nos livre de escandalizar, Deus nos livre de, por nossas atitudes, ser causa de tropeço para os irmãos mais fracos na fé! (2) Radicalidade para cortar o que em nós é escândalo, isto é, o que em nós leva ao pecado e ao afastamento de Cristo: “Se tua mão te leva a pecar, corta-a… Se teu pé te leva a pecar, corta-o… Se teu olho te leva a pecar, arranca-o!” Hoje, a tendência é arrancar o Evangelho para não termos que arrancar nada em nós, para não termos que nos incomodar nem mudar de vida! Jesus é claro: não entrará na vida quem sinceramente não combater aquilo que o faz tropeçar no caminho cristão. (3) Finalmente, a radicalidade de apoiar-se somente no Senhor e não nas nossas posses espirituais e materiais: espiritualmente, nunca pensar que somos proprietários do Senhor e da salvação e, materialmente, recordar que nossas riquezas apodrecem e nosso outro enferruja. São Tiago nos adverte duramente na segunda leitura de hoje: triste de quem é rico para si, desprezando os outros, mas não é rico para Deus!

Que o Senhor, pela sua graça, nos dê toda tolerância e toda intolerância. Toda tolerância com os irmãos e toda intolerância com o nosso pecado e as nossas manhas,! Que o Senhor nos converta, ele que é bendito para sempre. Amém.





Roteiro Homilético 5 - Liturgia: Dom Total

SER DISCÍPULO SEM RIVALIDADE
1ª leitura: (Nm 11,25-29) A profecia só depende da eleição; rejeição do falso zelo – A missão libertadora de Moisés apoiava-se no Espírito recebido de Deus (cf. Is 63,11). Também seus setenta assistentes (os “anciãos”) recebem este Espírito, mas não de modo permanente, “não continuaram” (11,25). Ora, havia dois eleitos para receber o Espírito, que não foram à Tenda do Encontro. Mesmo assim, receberam o Espírito, no próprio acampamento. Moisés, recusando o falso zelo dos que denunciam este fato, reconhece neles o dom de Deus e faz votos que todo o povo possa receber assim o Espírito. – Conforme Jl 3,1-2, tal efusão geral do Espírito é marca do tempo escatológico; At 2 a vê realizada no Pentecostes. * 11,25 cf. Nm 11,17; Dt 34,10; 1Sm 10,9-13; 19,20-24 * 11,28 cf. Mc 9,38-39 * 11,29 cf. Jl 3,1-2; At 2,4.16-18.

2ª leitura: (Tg 5,1-6): A riqueza dos ricos está podre – Ameaça aos ricos, que não querem repartir sua abundância com os necessitados, e isso, na proximidade dos “últimos dias” (a primeira Igreja acreditava firmemente na iminência da Parusia). São cegos: não enxergam a miséria dos pobres, nem os sinais do tempo! Também hoje, muitos cristãos amontoam dinheiro sem escrúpulos, deixando para mais tarde o momento de acertar seu débito com Deus... Deus julga sobre a caridade testemunhada ao mais pobre, aqui e agora (cf. Mt 25,31-46). ­* 5,1-3 cf. Lc 6,24-25; Mt 6,19-20; Eclo 29,13[10]; Pr 11,4.28 * 5,4-6 cf. Am 8,4-8; Dt 24,14-15; Eclo 34,25-26[21-22]; Lv 19,13; Ml 3,5.

Evangelho: (Mc 9,38-43.45.47-48) “Quem não é contra nós, é por nós” – (Continuação das instruções comunitárias: cf. dom. passado) – 9,40: quando se trata de publicar o nome de Jesus, qualquer ajuda é bem-vinda (cf. Fl 1,15) (não confundir esta palavra com a de Mt 12,30 = Lc 11,23, de outra tradição e situada num contexto bem diferente: quando se trata do poder do maligno, então sim, quem não está de nosso lado, está com o Maligno). Hoje atualizamos Mc 9,40 assim: o bem se pode fazer também fora da Igreja. Cf. 9,41: não se pergunta se os que dão um copo d’água aos que são do Cristo são cristãos eles mesmos; de qualquer modo, serão recompensados. – Em 9,42-50 continuam as instruções comunitárias: os “pequenos” não devem ser perturbados na sua simples fé, menos ainda ser seduzidos para o mal. * 9,38-40 cf. Lc 9,49-50; Nm 11,28; 1Cor 12,3 * 9,41 cf. Mt 10,42; 1Cor 3,23 * 9,42-48 cf. Mt 18,6-9; Lc 17,1-2 * 9,48 cf. Is 66,24.

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Antes, Mc falou em acolher pequenos “em nome de Jesus”. Encadeando outras sentenças no mesmo item, passa agora ao assunto do exorcizar “em nome de Jesus” (associação verbal, muito comum na tradição oral dos primeiros cristãos) (evangelho). Logo nos albores da comunidade cristã, milagreiros e exorcistas não cristãos, notando a força do “nome de Jesus” (cf. At 3,6.16; 4.10), tentavam usar esse nome em seus “trabalhos”. Mas os cristãos exigiam direitos autorais. Como resposta, Mc traz uma sentença de Jesus: “Quem não é contra nós, é por nós”. Resposta de bom senso e desapego evangélico, pois o importante é que o nome de Jesus seja honrado. Mas quem considera o grupo mais importante que o nome de Jesus fica indisposto. Não aceita que os dons cristãos floresçam fora da Igreja.

Jesus presta pouca atenção a esse tipo de objeções. Os que por ele foram reunidos não devem pensar que eles são os únicos em quem possa operar seu espírito. Ser reunido por Cristo é uma graça, mas não um monopólio. Pelo contrário, devemos desejar que seus benefícios sejam espalhados o mais amplamente possível. Já Moisés deu aos hebreus uma lição neste sentido. No momento da assembleia dos setenta anciãos que receberam “algo do espírito de Moisés”, dois tinham ficado no acampamento; porém, receberam também o espírito profético. Josué quer impedi-los, mas Moisés retruca: “Oxalá o povo todo recebesse assim o espírito” (1ª leitura).

Estas ideias escandalizam aqueles para quem o grupo é tudo. Ora, não a Igreja em si, mas Cristo e seu espírito são o mais importante. (Não se alegue o velho adágio: “Extra Ecclesiam nulla salus”, pronunciado contra os que abandonavam a Igreja.) Mas escandalizam-se também os que só conhecem aquela outra sentença de Jesus: “Quem não é comigo, é contra mim” (Mt 12,30 = Lc 11,23), pronunciada num contexto de inimizade (os escribas acusam Jesus de expulsar demônios pela força de Beelzebu); pois em tal contexto, é preciso escolher: quem não se coloca do lado de Jesus se coloca do outro. Mas isso nada tem a ver com o caso de alguém que recebe os dons do Cristo fora da Igreja.

Sempre no item do “nome”, Jesus promete recompensa pelo mínimo benefício feito a alguém “em nome de ser do Cristo” (9,41). E já que se estava falando também de “pequenos” (cf. v. 37), cabe dizer algo sobre o escândalo dado aos pequenos (9,42). E, continuando com o item “escândalo”: a gente tem que erradicar de sua vida as raízes do escândalo, as causas das fraquezas na fé, assim como se amputa uma mão quando ela põe o corpo em perigo (ou como se extrai um dente quando causa enxaqueca) (9,43-48).

O evangelho trata, portanto, de assuntos diversos. Ora, o conjunto da liturgia acentua o tema da ação de Deus fora da assembleia “oficial”. Este ponto deve reter a atenção da catequese litúrgica, e é muito importante em nosso ambiente, onde macumbeiros e espíritas fazem “trabalhos” em nome de Jesus (e com sucesso). Existe uma mentalidade de combater o sincretismo religioso. Talvez, seria mais evangélico ponderar – sem esconder os problemas – o bem que eventualmente façam e reconhecer que lá também Deus pode levar alguém a colocar em obra o seu amor. Tal atitude mostrará a face compreensiva da Igreja, procurando reconhecer em tudo o bem – e levaria menos pessoas a procurar a umbanda por não encontrar resposta humana num catolicismo formalizado e ríspido.

PENSAMENTO INCLUSIVO

A cristandade tradicional caracterizava-se por atitudes exclusivistas. Só a Igreja católica estava certa... Dizia-se que quem morre fora da Igreja católica vai ao inferno. (Deveria ser mandado ao inferno quem fala assim...).

O evangelho conta um episódio que nos ensina o contrário. Os discípulos ficam nervosos porque alguém anda expulsando demônios no nome de Jesus, sem fazer parte do grupo deles. Naquele tempo, todo tipo de tratamento sugestivo estava na moda, como hoje. Visto que Jesus era o sucesso do momento, alguns que não eram de seu grupo usavam seu nome para expulsar uns demoniozinhos. Que mal havia nisso? Nenhum, mas os discípulos queriam direitos autorais!

A liturgia ilustra o problema com outro episódio. O povo de Israel andando pelo deserto, o Espírito desce sobre a assembleia dos anciãos. Mas dois não foram à assembleia e receberam o Espírito assim mesmo. Os outros reclamam. Então Moisés responde: “Oxalá todo o povo de Deus profetizasse e Deus infundisse a todos o seu espírito” (1ª leitura).

Nem todos os cristãos são tão mesquinhos assim que pretendem reservar para a própria agremiação os dons de Deus. Desde o Humanismo, bem antes do Concílio Vaticano II, os educadores cristãos ensinavam que os pagãos Platão e Virgílio eram profetas, pois anunciaram coisas que, depois, se verificaram em Jesus. Houve até quem chamasse Karl Marx de profeta (com menos mérito, pois viveu bem depois de Jesus e repetiu muito coisa que Jesus e a Bíblia disseram antes dele...). As coisas boas que esses pagãos falaram não deixaram de ser um testemunho a favor de Jesus.

“Quem não é contra nós está em nosso favor” (Mc 9,40). Esta é a lição. (Jesus disse também: “Quem não está comigo é contra mim”, Mt 12,30, mas isso, em caso de conflito e perseguição.)

O nome de Jesus representa o Reino do Pai. O nome de Jesus se liga a uma realidade nova, a vontade de Deus. “Ninguém que faz milagres em meu nome poderá logo depois sair falando mal de mim” (Mc 9,39). Por tudo aquilo que ele disse e fez, pelo dom da própria vida, Jesus ligou a seu nome a nova realidade que se chama o “Reino de Deus”. Quem consegue usar o nome de Jesus como força positiva certamente colabora de alguma maneira com o Reino.

Não é preciso ser católico batizado para colaborar com os valores do evangelho. Os primeiros missionários no Brasil ficaram cheios de admiração porque os índios pagãos pareciam ter mais valores evangélicos que os colonos portugueses escravocratas. O testemunho do evangelho pode existir fora da comunidade cristã, e nós devemos alegrar-nos por causa disso.

Então, em vez de dizer que fora da Igreja não há salvação, vamos dizer: tudo o que salva expande o que estamos fazendo na Igreja. Pensamento inclusivo!

 O Roteiro Homilético é elaborado pelo Pe. Johan Konings SJ – Teólogo, doutor em exegese bíblica, Professor da FAJE. Autor do livro "Liturgia Dominical", Vozes, Petrópolis, 2003. Entre outras obras, coordenou a tradução da "Bíblia Ecumênica" – TEB e a tradução da "Bíblia Sagrada" – CNBB. Konings é Colunista do Dom Total. A produção do Roteiro Homilético é de responsabilidade direta do Pe. Jaldemir Vitório SJ, Reitor e Professor da FAJE.)





Roteiro Homilético 6 - Liturgia: Pe. Françoá Costa

Ocasiões de pecado



Se alguém ou alguma coisa “for para ti ocasião de queda, arranca-o” (Mc 9,47). Talvez hoje em dia se fale pouco das ocasiões de pecado e, contudo, elas não faltam nos nossos tempos. Às vezes até temos a impressão de que elas aumentaram. As circunstâncias externas, com efeito, às vezes incitam as pessoas ao pecado quer por causa das fraquezas morais quer porque elas despertam a concupiscência. As ocasiões, sem serem pecados, constituem momentos imediatos de tentações. Ao olhar para o nosso mundo, será fácil ver que as possibilidades de ser imoderado na comida e na bebida se encontram por todas as partes, a internet facilitou uma série de coisas que antes eram praticamente inacessíveis à maior parte das pessoas honestas, as roupas encurtaram-se ou apertaram-se visivelmente… Ocasiões de pecado? Sim. No entanto, dependendo da nossa educação e da nossa sensibilidade, elas poderiam ser ou ocasiões próximas de pecado ou ocasiões remotas.

O Catecismo Romano, precedente do atual Catecismo da Igreja Católica, falava o seguinte sobre tais ocasiões: é preciso ter “a precaução de evitar, para o futuro, tudo o que motivou qualquer pecado, ou que possa dar ocasião de ofender a Deus Nosso Pai” (IV, XIV,22,2). Atenção: fala-se da precaução, isto é, de cautela, de cuidado, de prudência para não aproximarmo-nos de situações que nos coloquem à beira de ofender ao nosso Pai-Deus.

Colocar-nos temerariamente, isto é, sem nenhuma causa justa, em ocasião de pecar é um pecado. Caso se tratasse de uma ocasião próxima de realizar uma ação gravemente pecaminosa, a ocasião mesma já seria gravemente imoral. Quem assim fizesse estaria demonstrando pouco amor a Deus, precário temor em ofendê-lo e certa vontade (talvez débil, porém real) de praticar aquilo do qual se aproxima arriscadamente. Jesus pede de cada um de nós uma decisão firme de estar com ele e de rejeitar tudo aquilo que dele nos separa. Nesse sentido, o Senhor fala tão fortemente de cortar a mão, cortar o pé e arrancar o olho (cf. Mc 9,43-47). Logicamente, não podemos cair no erro de interpretar essas expressões ao pé da letra. Coitado de Orígenes, famoso escritor da antiguidade, que entendeu mal essas passagens e se castrou! Mas como a mutilação é pecado, o pobre Orígenes até hoje, apesar das grandes virtudes que tinha, não pode ser canonizado. Outro motivo que veta o seu processo de canonização é o fato de que podem ser lidas muitas coisas estranhas à doutrina cristã nos textos de Orígenes. Nada de fundamentalismo bíblico! O que o Senhor Jesus quer nos dizer ao descrever essas coisas de maneira tão cruenta é que devemos evitar as ocasiões de pecado. Isto é, e de maneira positiva, que mantenhamos uma decisão firme de servir tão somente o Senhor nosso Deus.

Das situações remotas de pecado é praticamente impossível afastar-nos. Isso se comprova rapidamente ao sairmos às ruas das nossas cidades. Neste caso, o importante é que tenhamos a consciência de que devemos viver neste mundo amando-o sem ser mundanos. Também é importante que essas ocasiões sejam apenas remotas e nunca se transformem numa situação próxima de pecado.

Mas poderia dar-se o caso no qual tenhamos que colocar-nos numa situação próxima de pecado. É o caso de um crítico de cinema, o qual teria que assistir aos filmes e emitir um juízo; o crítico poderia colocar em uma situação próxima de ofender a Deus no campo da moral, por exemplo. Também uma pessoa que se dedica a uma tarefa intelectual, às vezes terá que ler alguns livros que vão claramente contra os seus princípios humano-cristãos; talvez um determinado professor tenha que colocar-se em perigo contra a fé. O que fazer?

A primeira coisa que há que dizer é que não podemos colocar-nos, sem causa grave, em ocasião de ofender a Deus. Se houver causa grave, será preciso então colocar todos os meios para que a ocasião próxima se transforme numa ocasião remota. No caso do pesquisador, por exemplo, ele terá que ler, ao mesmo tempo em que lê um livro contra fé, outro de reta doutrina que lhe sirva contra antídoto.

Pe. Françoá Costa


Roteiro Homilético 7 - Liturgia: Mons. José Maria Pereira

A Missão de Todos

O Evangelho (Mc 9,38-48) relata-nos que João aproximou-se de Jesus para dizer-lhe que tinham visto uma pessoa que expulsava os demônios em nome d’Ele. Como não era do grupo que acompanhava o Mestre, tinham-no proibido de fazê-lo.Jesus respondeu-lhes:”Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Estão com ciúme! Jesus reprova a intransigência e a mentalidade exclusivista e estreita dos discípulos, e abri-lhes o horizonte e o coração para um apostolado universal, variado e diversificado.

Diz Jesus: “Quem não é contra nós é a nosso favor.” E, para testemunhar que tudo aquilo que se faz em Seu nome tem sempre algum merecimento, acrescenta: “Se alguém vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa.” A mais insignificante obra de misericórdia feita por amor a Cristo terá a recompensa, ainda que seja feita por alguém que ainda não pertence à comunidade. E, se é feita em favor dos irmãos ou de quem, na Igreja, é representante do Senhor, Ele aceitará e recompensará como se fosse feita a Si mesmo (Mt 10, 40-42).

Nós, cristãos, não temos mentalidade de partido único, de quem condena formas apostólicas diferentes daquelas que, por formação e modo de ser, se sente chamado a realizar. A única condição -dentro da grande variedade de modos de levar Cristo às almas – é a unidade no essencial, naquilo que pertence ao núcleo fundamental da Igreja.

Quais os critérios para discernirmos se uma determinada associação mantém a comunhão com a Igreja? Entre os critérios, diz o Beato João Paulo II, encontra-se a primazia que se deve dar à vocação de cada cristão para a santidade, que tem como fruto principal a plenitude de vida cristã e a perfeição da caridade. Neste sentido, as associações de leigos estão chamadas a ser instrumento de santidade na Igreja.

Outro critério apontado pelo Papa é o apostolado, que deve antes de mais nada proclamar a verdade sobre Cristo, sobre a Igreja e sobre o homem, em filial obediência ao Magistério da Igreja que a interpreta autenticamente. Trata-se de uma participação no fim sobrenatural da Igreja, que tem como objetivo a salvação de todos os homens. Todos os cristãos participam desse único fim missionário…

Se somos cristãos verdadeiros, embora às vezes sejamos muito diferentes uns dos outros, nos sentiremos comprometidos a levar para Deus a sociedade em que vivemos e da qual fazemos parte. E nos será fácil aceitar modos de ser e de atuar bem diferentes dos nossos. Como nos alegramos de que o Senhor seja anunciado de formas tão diversas! Isto é o que realmente importa: que Cristo seja conhecido e amado.

O Evangelho (Boa Nova) deve chegar a todos os cantos da terra! E para o cumprimento desta tarefa, o Senhor conta com a colaboração de todos: homens e mulheres, sacerdotes e leigos, jovens e anciãos, solteiros e casados, religiosos… conforme tenham sido chamados por Deus, com iniciativas que nascem da riqueza da inteligência humana e do impulso sempre novo do Espírito Santo.

Todo cristão é chamado a dilatar o Reino de Cristo, e qualquer circunstância é boa para levar a cabo essa tarefa. Diz o Concílio Vaticano II: “onde quer que o Senhor abra uma porta à palavra para proclamar o mistério de Cristo a todos os homens, anuncie-se com confiança e sem cessar o Deus vivo e Jesus Cristo, enviado por Ele para a salvação de todos” (Decreto Ad Gentes,13).

“Conservemos a doce e reconfortante alegria de evangelizar, mesmo quando temos de semear entre lágrimas” (Papa Paulo VI, Evangelii Nuntiandi).

Nós, que recebemos o dom da fé, sentimos a necessidade de comunicá-la aos outros, fazendo-os participar do grande achado da nossa vida. Esta missão como se vê na vida dos primeiros cristãos, não é da competência exclusiva dos pastores de almas, mas tarefa de todos, de cada um segundo as suas circunstâncias particulares e a chamada que recebeu do Senhor.

É nesta direção que o Doc. de Aparecida nos aponta: “Conhecer a Jesus Cristo pela fé é nossa alegria; segui-Lo é uma graça, e transmitir este tesouro aos demais é uma tarefa que o Senhor nos confiou ao nos chamar e nos escolher” (A,18)

Celebramos hoje o DIA DA BÍBLIA.

A Palavra de Deus sempre nos oferece uma luz para as mais diversas situações de nossa vida. “Por isso, como discípulos e missionários de Jesus, queremos e devemos proclamar o Evangelho, que é o próprio Cristo. Os cristãos somos portadores de boas novas para a humanidade, não profetas de desventuras” (Doc. de Aparecida,30).

Mons. José Maria Pereira





Roteiro Homilético 8 - Liturgia: D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB presbíteros.org
Meus caros irmãos e irmãs,
No domingo passado refletimos sobre o texto do evangelho de São Marcos, onde os discípulos, após discutirem pelo caminho, sobre qual deles seria o maior, recebem, posteriormente, uma instrução especial de Jesus. Tomando uma criança e colocando-a no meio deles, Jesus mostra qual é a atitude verdadeira que seus discípulos devem ter na vida: Ocupar o último lugar e tornar-se servos uns dos outros (cf. Mc 9,30-37). O texto de hoje é a continuação deste episódio. No caminho, eles não apenas haviam discutido quem seria o maior, mas também tentaram impedir que alguém que não pertencia ao seu grupo realizasse boas ações em nome de Jesus. É João que, representando os demais apóstolos, confessa: “Mestre, vimos alguém que não nos segue, expulsando demônios em teu nome, e o impedimos porque não nos seguia” (Mc 9,38).

Dentro deste contexto, observa-se uma estreita unidade entre a primeira leitura (cf. Nm 11,25-29) com o texto do Evangelho.  Moisés havia dedicado totalmente ao serviço do seu povo, mas nos últimos anos da sua vida, foi dominado por um certo desânimo, devido aos muitos problemas.  Por isto, certa vez ele se queixou ao Senhor: “Porventura sou eu que concebi esse povo?  Eu sozinho não posso suportar a carga de um povo tão numeroso e indisciplinado” ( Nm 11,10-15).  O Senhor então respondeu a Moisés: “Escolhe 70 homens que estejam em condições de colaborar contigo, sobre eles farei descer o mesmo Espírito que se encontrava em ti” (Nm 11,16-18).  No dia marcado os 70 homens se reuniram na tenda, aonde Deus descia para falar com Moisés, receberam o Espírito e começaram a profetizar; isto é, foram tomados por um estado de exaltação coletiva e falavam em nome de Deus (v. 25).  Dois anciãos do povo, Eldad e Medad, muito embora não tivessem participado da cerimônia, receberam também o Espírito e se tornaram profetas, exatamente como os outros 70.  Diante disto, Josué se indignou e pediu a Moisés para que interviesse a fim de impedi-los de profetizar.  Moisés, cheio de sabedoria e de grande misericórdia, corrigiu a atitude de Josué.

No Evangelho temos algo semelhante, quando João afirma que havia proibido um homem de expulsar demônios em nome de Jesus, ao que o próprio Jesus responde: “Não o proibais, pois ninguém faz milagres em meu nome para depois falar mal de mim. Quem não é contra nós é a nosso favor” (Mc 9,39).  João, assim como Josué, está preocupado com aqueles que profetizam ou realizam boas obras fora do grupo dos escolhidos. Moisés e Jesus, no entanto, expressam a sua liberdade com relação a isso.

Jesus assumiu uma atitude de extrema tolerância em relação ao exorcista anônimo e não aprovou a proibição que lhe fora imposta.  Se o indivíduo, de fato, foi capaz de realizar um milagre, invocando o nome de Jesus, é porque, de alguma forma, estava em comunhão com ele.  Seria impensável que, logo em seguida, se pusesse a falar mal do Mestre e desmerecer sua obra.  Portanto, podia continuar livremente a fazer o bem em nome dele.

Jesus recrimina os discípulos, como Moisés faz com Josué, que quer impedir a profecia não autorizada. O dom do Espírito de Deus, a profecia e o poder do Espírito que age devem ser reconhecidos pelos discípulos. O episódio da incapacidade dos discípulos de curar um homem possuído pelo demônio (cf. Mc 9,17s), narrado no mesmo capítulo, mostra que não é a pertença ao círculo dos discípulos que habilita “expulsar demônios”, mas o dom de Deus e as disposições adequadas para acolher esse dom.

Essa é mais uma atitude que revela o grau de imaturidade em que se encontram os discípulos de Jesus. Eles também já haviam sido enviados pelo Mestre para pregar o Evangelho e “expulsar muitos demônios e curar muitos enfermos” (Mc 6,12).  Numerosas pessoas foram beneficiadas. Certamente sentiram-se privilegiados por serem escolhidos por Jesus e enviados por ele para tão grande missão. O que eles não esperavam é que outras pessoas, além deles, pudessem realizar as mesmas obras. Ficaram aborrecidos e enciumados, como aconteceu com Josué, conforme nos revela a primeira leitura.

Todas as pessoas recebem dons para alegria e felicidade de todos, independentemente da instituição ou da tradição religiosa a que pertencem. Portanto, não tem sentido o ciúme ou a competição. O que importa é que todos os dons sejam aplicados verdadeiramente para o projeto de “vida em abundância” para todos.

As palavras de Jesus: “Quem não é contra nós é por nós” (v. 40), sublinham o espírito de abertura e de acolhida da resposta de Jesus em relação à atitude anterior dos discípulos. Sem Jesus, os discípulos não podem fazer nada, mas o poder de Deus manifestado em Jesus não é posse exclusiva dos discípulos.

No texto do evangelho deste domingo temos ainda uma série de ensinamentos de Jesus a seus discípulos.   Um outro tema abordado está no escândalo:  “Ai daquele que fizer cair no pecado a um destes pequeninos…” (v. 42).  A palavra “escândalo”, na linguagem bíblica, tem dois significados fundamentais: o de “tropeço” e o de “obstáculo”.  Na primeira referência indica algo que é causa de queda, que leva para fora do caminho, que conduz ao pecado e à “geena”, que em muitas traduções traz também a palavra inferno.  A segunda expressão: “obstáculo”, indica algo que barra e impede o acesso; ou seja, aquilo que se opõe à fé e à entrada no reino de Deus.

Geena é o nome de um vale que fica a oeste de Jerusalém, onde crianças eram oferecidas em sacrifício a Moloc (cf. 2Rs 23,10; Jr 7,31; 19,5s).  Um local desconsagrado por Josias e que foi em seguida usado como lugar de queima do lixo. Um constante fogo queimava o lixo da cidade e uma fumaça mal cheirosa mantinha as pessoas afastadas.  Era um lugar desagradável, símbolo da ruína e da destruição para a qual caminha quem se entrega ao pecado.  Tornou-se assim o sinônimo do lugar de castigo.  A expressão “ir para geena”, em contraste com “entrar na vida”, significa a ruína espiritual, a destruição. O local onde o fogo nunca se apaga.

Essas analogias eram conhecidas no tempo de Jesus e eram frequentemente usadas pelos rabinos para advertir e inculcar nas pessoas uma seriedade de vida mais profunda, para sacudir a consciência de quem descuidava dos próprios deveres em relação a Deus e ao próximo.  E a temática do “escândalo aos pequeninos” é tão forte que Jesus diz que é melhor perder algo importante para si do que cair neste pecado. Evidentemente, esses versículos não podem ser entendidos literalmente. Não se trata de mutilar o próprio corpo para evitar o pecado. Trata-se, sim, de viver uma autêntica ascese, sabendo cuidar de si mesmo e retirando da vida aquilo que pode levar a romper a comunhão com Deus.

Contudo, o maior escândalo, por parte dos cristãos, consiste em não viver as exigências da fé e barrar o caminho a quem quer acolher Cristo em sua vida.  Se somos cristãos e não damos o exemplo, se não vivemos as exigências da fé, podemos ser também motivo de escândalo para as outras pessoas. Se professamos seguir o Evangelho e depois, na vida, somos injustos com o próximo, alheios frente a necessidade e a dor do nosso irmão, impedimos que as pessoas levem a sério a palavra de Jesus, que se convertam e creiam nele. Há muitos que estão alheios, e mesmo combatem a fé, em função do mau testemunho que nós, cristãos, damos.

Que o Senhor Jesus nos faça amputar da nossa vida toda atitude arrogante, que causa o mal e a desordem na nossa própria vida e na vida do nosso próximo, sobretudo dos mais pequeninos. Que saibamos experimentar cada dia as palavras do Evangelho e façamos uma honesta análise do nosso comportamento, se estamos ou não sendo motivos de escândalo para os outros.  Que saibamos extirpar tudo o que contradiz o Evangelho e causa dano aos que querem entender e praticar verdadeiramente os ensinamentos de Jesus.  Assim seja.

D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB

Roteiro Homilético 9 - Liturgia: Roteiro presbíteros.org

RITOS INICIAIS



Dan 3, 31.29.30.43.42

ANTÍFONA DE ENTRADA: Vós sois justo, Senhor, em tudo o que fizestes. Pecámos contra Vós, não observámos os vossos mandamentos. Mas para glória do vosso nome, mostrai-nos a vossa infinita misericórdia.



Introdução ao espírito da Celebração



O Senhor convida-nos hoje a reflectir sobre os que vivem em ambientes diversos dos nossos e que fazem todo o bem que podem. Lembremo-nos que o Espírito sopra onde quer e não os invejemos, pois isso seria fanatismo, talvez inconsciente. Por isso, deveremos estar abertos à luz de Deus, a fim de que nos ajude a discernir e a agir em situações que por vezes são difíceis ou delicadas.

Porque nem sempre temos julgado e actuado criteriosamente, peçamos perdão ao Senhor.



ORAÇÃO COLECTA: Senhor, que dais a maior prova do vosso poder quando perdoais e Vos compadeceis, infundi sobre nós a vossa graça, para que, correndo prontamente para os bens prometidos, nos tornemos um dia participantes da felicidade celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.





LITURGIA DA PALAVRA



Primeira Leitura



Monição: Deus actua livremente na distribuição dos Seus dons, para bem da comunidade. Assim aconteceu com a multiplicação do carisma profético na pessoa de setenta anciãos israelitas, no tempo de Moisés.



Números 11, 25-29

Naqueles dias, 25o Senhor desceu na nuvem e falou com Moisés. Tirou uma parte do Espírito que estava nele e fê-lo poisar sobre setenta anciãos do povo. Logo que o Espírito poisou sobre eles, começaram a profetizar; mas não continuaram a fazê-lo. 26Tinham ficado no acampamento dois homens: um deles chamava-se Eldad e o outro Medad. O Espírito poisou também sobre eles, pois contavam-se entre os inscritos, embora não tivessem comparecido na tenda; 27e começaram a profetizar no acampamento. Um jovem correu a dizê-lo a Moisés: «Eldad e Medad estão a profetizar no acampamento». 28Então Josué, filho de Nun, que estava ao serviço de Moisés desde a juventude, tomou a palavra e disse: «Moisés, meu senhor, proíbe-os». 29Moisés, porém, respondeu-lhe: «Estás com ciúmes por causa de mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles!»



Este texto, extraído da 2ª parte de Números, que trata da estância do povo em Cadés (10, 11 – 20, 21), foi seleccionado em função do Evangelho (Mc 9, 38-40), pela semelhança entre a atitude de Josué e a do Apóstolo João. A passagem deixa ver a grandeza de ânimo e a prudência no governo de Moisés, ao fazer participante do seu carisma 70 anciãos, dito duma forma simbólica: «Deus tomou uma parte do espírito de Moisés». E, quando Josué zela exageradamente a honra de Moisés, ao ver que Eldad e Meldad não actuavam na dependência imediata do caudilho, este não se mostra ciumento, resistindo à tentação de se tornar autoritário, absorvente e exclusivista; pelo contrário, zela mais as vantagens do seu povo do que o seu protagonismo e proeminência pessoal, por isso responde: «quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta» (v. 9).



Salmo Responsorial

Sl 18 (19), 8.10.12-13.14



Monição: Este salmo exprime o contentamento da comunidade cristã, ao contemplar a acção do Senhor em favor dos Seus filhos. É um hino de louvor e de acção de graças a Deus que nos criou e nos acompanha.



Refrão:         OS PRECEITOS DO SENHOR ALEGRAM O CORAÇÃO.



A lei do Senhor é perfeita,

ela reconforta a alma.

As ordens do Senhor são firmes,

dão a sabedoria aos simples.



O temor do Senhor é puro

e permanece eternamente;

os juízos do Senhor são verdadeiros,

todos eles são rectos.



Embora o vosso servo se deixe guiar por eles

e os observe com cuidado,

quem pode, entretanto, reconhecer os seus erros?

Purificai-me dos que me são ocultos.



Preservai também do orgulho o vosso servo,

para que não tenha poder algum sobre mim:

então serei irrepreensível

e imune de culpa grave.



Segunda Leitura



Monição: S. Tiago censura severamente os ricos assinalando duas situações: a dos que acumulam com sofreguidão as riquezas, julgando encontrar nelas a felicidade e ficam desiludidos; e a dos que se fazem ricos à custa dos outros por não lhes pagarem o que é justo. Aqui a justiça divina intervém, atenta à voz dos que são privados daquilo que lhes é devido.



Tiago 5, 1-6

1Agora, vós, ó ricos, chorai e lamentai-vos, por causa das desgraças que vão cair sobre vós. 2As vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça. 3O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se, e a sua ferrugem vai dar testemunho contra vós e devorar a vossa carne como fogo. Acumulastes tesouros no fim dos tempos. Privastes do salário os trabalhadores que ceifaram as vossas terras. 4O seu salário clama; e os brados dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do Universo. 5Levastes na terra uma vida regalada e libertina, cevastes os vossos corações para o dia da matança. 6Condenastes e matastes o justo e ele não vos resiste.



Esta tremenda objurgação de S. Tiago aos ricos vai provavelmente dirigida mesmo a alguns já convertidos ao cristianismo, mas que não acabariam de entender e viver a doutrina de Cristo acerca das riquezas (cf. Lc 6, 24.25; Mt 6, 20; 25, 14.16; Lc 12, 20-21; 16, 19-30).

4 «O seu salário clama; e brados dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor». Daqui vem a designação para certos pecados que bradam ao Céu; não pagar o salário a quem trabalha é um dos 4 pecados que na Escritura se diz que bradam ao Céu, juntamente com o homicídio voluntário, a sodomia e a opressão dos pobres, principalmente órfãos e viúvas (cf. Gn 4, 10; 18, 20-21; Ex 22, 21-23). A linguagem utilizada parece-nos demasiado violenta, mas seria o meio mais eficaz para sacudir almas empedernidas no pecado, para as levar à conversão através do cumprimento dos seus deveres de justiça.

5 O dia da matança, isto é, o dia do castigo divino (cf. Jer 12, 3; Sof 1, 7-9); outros entendem a matança como uma imagem da opressão dos explorados, como em Sir 34, 21-22.

6 Uma outra tradução possível, adoptada por nós, é esta: «Condenastes e destes a morte ao inocente, e Deus não vai opor-se?».



Aclamação ao Evangelho           

Jo 17, 17b.a



Monição: O Senhor é a verdade e somente n’Ele se pode encontrar. Se queremos realmente amar a Deus teremos de lutar pela verdade.



ALELUIA



A vossa palavra, Senhor, é a verdade; santificai-nos na verdade.





Evangelho



São Marcos 9, 38-48 (37-47 na Vulgata)

Naquele tempo, 38João disse a Jesus: «Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco». 39Jesus respondeu: «Não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim. 40Quem não é contra nós é por nós. 41Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa. 42Se alguém escandalizar algum destes pequeninos que crêem em Mim, melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós movidas por um jumento e o lançassem ao mar. 43Se a tua mão é para ti ocasião de escândalo, corta-a; porque é melhor entrar mutilado na vida do que ter as duas mãos e ir para a Geena, para esse fogo que não se apaga. (44) 45E se o teu pé é para ti ocasião de escândalo, corta-o; porque é melhor entrar coxo na vida do que ter os dois pés e ser lançado na Geena. (46) 47E se um dos teus olhos é para ti ocasião de escândalo, deita-o fora; porque é melhor entrar no reino de Deus só com um dos olhos do que ter os dois olhos e ser lançado na Geena, 48onde o verme não morre e o fogo não se apaga».



A leitura recolhe ensinamentos dispersos de Jesus. No trabalho de formação dos discípulos, depois da confissão de fé de Pedro (8, 29), é interessante notar como Jesus, na 2ª parte de Marcos, tem vindo pacientemente a corrigir o espírito daqueles homens sinceros, mas rudes, aproveitando todos os incidentes diários, em que estes falhavam (cf. 8, 33; 9, 12. 16-19.28-29.33-35). Desta vez, é também mais um dos do núcleo duro que tem de ser advertido, João, que mostra estreiteza de vistas e um exclusivismo incompatível com o espírito cristão; a lição de Jesus permanece para sempre actual: o que é bem é bem, embora seja outro, que não eu, eu a fazê-lo. A sentença «quem não é contra nós é por nós» não está em contradição com o que Jesus afirma em Lc 11, 23 e Mt 12, 30: «quem não está comigo está contra Mim», pois são contextos diversos. No da primeira sentença, trata-se de alguém que também trabalhava pela a causa de Deus e do bem, ao passo que o da segunda frase é o da luta de vida ou morte entre Jesus e o demónio, em que não pode haver meio termo: ou se está do lado de Jesus, ou do lado de Satanás (é que acusavam Jesus de ter um pacto com o maligno para fazer os milagres!).

41 Este versículo não tem mais ligação com o resto para além da ligação verbal: «em nome de» (que a tradução «por serdes de» não permite ver); é bem sabido que as palavras de Jesus se transmitiram agrupando-as muitas vezes de forma artificial (também estas palavras são como as cerejas).

42-48 Os versículos que se seguem sobre o escândalo constituem uma perícope diferente. A palavra «escândalo» designa um tropeço para fazer cair, algo que leva a pecar; e os «pequeninos que crêem em Mim» não parece que neste contexto sejam simplesmente os discípulos, como acontece noutras vezes, pois Jesus aqui está a dirigir-se precisamente a eles; serão os pequenos mais pequenos, «os pequeninos», isto é, os mais frágeis e indefesos, os menores de idade. A especial gravidade que há em escandalizar as crianças não provém apenas da sua inocência, mas sobretudo de elas se acharem mais vulneráveis e indefesas contra o mal. As palavras de Jesus são tremendamente sérias e de grande actualidade. Não nos parece que se deva fazer uma tradução restritiva de «escandalizar» por «fazer perder a fé», como faz a Sociedade Bíblica e Britânica («If anyone should cause one of these little ones to lose faith in me…»), não assim a Portuguesa («fazer cair em pecado»).

43-48 «Corta… deita fora…» Este cortar e deitar fora os membros do corpo tem que se entender em sentido figurado, mas sem diminuir em nada a força e a importância da expressão: Jesus proclama graficamente a grave obrigação de afastar e evitar a ocasião próxima de pecado, pois o bem da alma é superior a todos os bens materiais, mesmo os mais apreciados. «Geena», (em hebraico Ge-hinnon) é o vale a Sul e a Oeste de Jerusalém, fora das muralhas, que a partir de Jer 19, 6-7, veio a designar o lugar do castigo eterno (assim em 1 Henoc e 4 Esdras); no tempo de Jesus era uma lixeira da cidade a que se chegava o lume e onde sempre havia fogo a remoer; também Jesus usou frequentemente esta imagem para designar o Inferno, «onde o verme não morre e o fogo não se apaga» (v. 48; cf. Mt 25, 41.46). A expressão, para além de indicar a gravidade e a eternidade da pena, pouco pode dizer da sua natureza.



Sugestões para a homilia



A indignação originada pela inveja

A actuação do Espírito de Deus

A ausência de compreensão e partilha é escândalo

A indignação originada pela inveja

A primeira leitura lembra-nos os tempos em que Israel atravessava dificilmente o deserto, a caminho da terra prometida. Moisés sente-se atormentado com o descontentamento do seu povo. Dá-se então a multiplicação do carisma profético na pessoa dos setenta anciãos. Alguns, entre os quais Josué – íntimo de Moisés –, ficam indignados por também profetizarem aqueles que estão fora do círculo restrito dos que fazem parte da «estrutura». Pedem a Moisés que os faça calar. Com grandeza de alma, ele afirma que até quereria que Deus admitisse mais pessoas a esse dom.

Ainda hoje nas nossas comunidades existem pessoas que, por vezes inconscientemente, assumem esta mesma atitude. Querem fazer tudo sozinhas, entravam alguém que se insira nas suas preferências, não aceitam ajuda, não querem repartir encargos. Por isso começam a ficar esgotadas e, por fim, frustradas.

Tal atitude conduz ao fanatismo. Quem assim actua acaba por atacar todos os que não pensam de igual modo ou não pertencem ao mesmo grupo; esquecem o bem que os outros fazem ou podem fazer; não partilham ideias e propósitos; não aceitam ajudas.

A actuação do Espírito de Deus

Mas onde brotar o bem, o amor, a paz e a alegria, aí se manifesta a actuação de Deus.

Quem não aceita esta liberdade do Espírito agir onde quer, é fanático e acaba por se agitar, disputando tudo e todos.

O Evangelho narra a mesma situação: os discípulos reagem, manifestando ao Mestre a sua desilusão e irritabilidade ao verem que alguém não seguidor do grupo restrito de Jesus curava em Seu nome. Querem que o Mestre impeça a acção dessa pessoa. O Senhor condena a intransigência dos seus e define uma regra para todos os cristãos: quem quer que actue em favor do homem é dos nossos.

Norteados por tal princípio, não podemos aceitar o zelo mal entendido. Este, aparta pessoas e grupos. Devemos combater a inveja que não reconhece as boas obras dos outros. Fiquemos alegres com o bem que praticam; estimulemos todas as formas de bondade e rectidão que se manifestam nos demais, ainda que não pertençam à nossa religião, ao nosso grupo, à nossa comunidade.

A ausência de compreensão e partilha é escândalo

A comunidade deve evitar o escândalo, sobretudo aos mais pequenos, sendo que os mais pequenos são as pessoas mais débeis na fé e escandaloso o que as inibe de se moverem como seguidores de Cristo.

O escândalo pode vir de fora, por exemplo: na rejeição daqueles que erram na vida; dos atingidos por alguma doença que os faça envergonhar; da mãe solteira; daqueles que rotulamos de corruptos; dos divorciados. A sua ausência da comunidade é originada muitas vezes por se sentirem julgados, rejeitados e incompreendidos.

Há o escândalo que vem de dentro: proveniente da própria mão, do próprio pé, dos próprios olhos. Jesus aponta-nos comportamentos errados que, quando descobertos, temos o dever de corrigir fazendo os cortes necessários: devemos evitar o dedo apontado em atitude altiva de quem aplica a sua própria vontade; as mãos que arrancam a honra; os olhares invejosos, de desconfiança, de malícia; os pés que cheios de ressentimento levam à represália; os olhos que cheios de suspeição alimentam aversões e entravam a partilha dentro da própria comunidade evitando que os irmãos se falem.

A segunda leitura expressa o mesmo. Há também, infelizmente, cristãos que, como diz S. Tiago, amontoam riquezas, não repartem os seus bens com os pobres, exploram os seus servidores e se transformam em ocasião de escândalo para os que notam a sua actuação nada adequada à fé que dizem professar. Pior é quando não se mentalizam dessa condição nada condizente com discípulos de Cristo.

Mais que impedir que os outros «façam milagres», Jesus recorda-nos a necessidade de afastarmos o mal e de fazermos o bem.

Lembremo-nos: O simples copo de água dado em nome de Cristo terá a sua recompensa.



Fala o Santo Padre



«Cada pessoa é atraída pelo amor – que é o próprio Deus –

mas muitas vezes erra nos modos concretos de amar.»

No Evangelho deste domingo, Jesus anuncia pela segunda vez aos discípulos a sua paixão, morte e ressurreição (cf. Mc 9, 30-31). O evangelista Marcos põe em evidência o forte contraste entre a sua mentalidade e a dos doze Apóstolos, que não só não compreendem as palavras do Mestre e rejeitam categoricamente a ideia de que Ele vá ao encontro da morte (cf. Mc 8, 32), mas discutem entre si sobre quem deve ser considerado «o maior» (cf. Mc 9, 34). Jesus explica-lhes com paciência a sua lógica, a lógica do amor que se faz serviço até à entrega de si mesmo: «Se alguém quiser ser o primeiro, há-de ser o último de todos e o servo de todos» (Mc 9, 35).

Esta é a lógica do Cristianismo, que corresponde à verdade do homem criado à imagem de Deus, mas ao mesmo tempo contrasta com o seu egoísmo, consequência do pecado original. Cada pessoa humana é atraída pelo amor que afinal é o próprio Deus mas muitas vezes erra nos modos concretos de amar, e assim de uma tendência originalmente positiva mas maculada pelo pecado, podem derivar intenções e acções más. É o que nos recorda, na liturgia hodierna, também a Carta de São Tiago: «Onde há inveja e espírito faccioso também há perturbação e todo o género de obras más. Mas a sabedoria que vem do alto é, em primeiro lugar, pura; depois, é pacífica, indulgente, dócil, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem hipocrisia». E o Apóstolo conclui: «É com a paz que uma colheita de justiça é semeada pelos obreiros da paz» (3, 16-18). (…)



Papa Bento XVI, Castel Gandolfo, 24 de Setembro de 2006



LITURGIA EUCARÍSTICA



ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Deus de misericórdia infinita, aceitai esta nossa oblação e fazei que por ela se abra para nós a fonte de todas as bênçãos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



SANTO



Monição da Comunhão



Que Deus nosso Pai aceite a nossa boa vontade e nos ajude, através da comunhão do sagrado Corpo e Sangue do Senhor, a ter a coragem de saber cortar com tudo aquilo que em nós, ou por nosso intermédio, se possa tornar pedra de escândalo para os homens nossos irmãos.



Salmo 118, 9-5

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Senhor, lembrai-Vos da palavra que destes ao vosso servo. A consolação da minha amargura é a esperança na vossa promessa.



Ou

1 Jo 3, 16

Nisto conhecemos o amor de Deus: Ele deu a vida por nós também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos.



ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Fazei, Senhor, que este sacramento celeste renove a nossa alma e o nosso corpo, para que, unidos a Cristo neste memorial da sua morte, possamos tomar parte na sua herança gloriosa. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.





RITOS FINAIS



Monição final



Evitemos o dedo apontado em atitude arrogante de quem impõe a própria vontade; as mãos que roubam e os dedos que apontam; os olhares sobranceiros, invejosos ou maldosos que dividem e os pés que nos conduzem por caminhos de vingança.


Roteiro Homilético 10 - Liturgia: comentário exegético presbíteros.org