Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus 7
Roteiro Homilético 7: Dom Anselmo
Meus caros
irmãos e irmãs,
Iniciamos um
novo ano e a Igreja nos convida a confiá-lo à celeste proteção de Nossa
Senhora, que hoje a liturgia nos faz invocar com o seu título mais antigo e
importante, o de Mãe de Deus. Ainda
envolvidos pelo clima espiritual do Natal, no qual contemplamos o mistério do
nascimento de Cristo, celebramos, com estes mesmos sentimentos, a Virgem Maria.
O dogma que
declara verdade de fé que Maria é Mãe de Deus foi proclamado pelo Concílio de
Éfeso, no ano 431. Maria recebeu o nome de “Theotokos”, palavra grega que diz
exatamente “Mãe de Deus”.
Para este dia
a Liturgia da Palavra nos apresenta como primeira leitura a solene bênção que
os sacerdotes pronunciavam sobre os Israelitas nas grandes festas religiosas,
marcada precisamente pelo nome do Senhor, repetido três vezes, como que para
exprimir a plenitude e a força que deriva desta invocação: “O Senhor te abençoe
e te guarde! O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face, e se compadeça de ti! O
Senhor volte para ti o seu rosto e te dê a paz!” (Nm 6,24-26).
Este texto da
bênção litúrgica, de fato, evoca a riqueza de graça e de paz que Deus concede
ao homem. Trata-se de uma bênção dada por Deus através de Moisés, a Aarão e aos
seus filhos, ou seja, aos sacerdotes do povo de Israel. É um tríplice voto
cheio de luz que brota da repetição do nome de Deus e da imagem de seu rosto.
Cada repetição do santo nome de Deus está inserido dois verbos que indicam uma
ação do Senhor em favor de cada ser humano. A paz é, portanto, o ponto
culminante dessas seis ações em prol do homem, a quem Deus dirige o esplendor
da sua face. Esta bênção evoca a riqueza de graça e de paz que o Criador
concede a cada um de nós, sinal da Sua benevolência para conosco.
A palavra
bíblica “shalom”, que normalmente traduzimos por “paz”, indica um conjunto de
bens que Cristo Salvador, o Messias anunciado pelos profetas, trouxe para cada
um de nós. Por isso, reconhecemos Nele o Príncipe da paz. Ele se fez homem e
nasceu numa gruta em Belém para trazer a sua paz aos homens de boa vontade, aos
que o acolhem com fé e amor.
Neste primeiro
dia do ano pedimos ao Senhor que nos abençoe e nos conceda a paz. Todos nós
desejamos viver em paz, mas a paz verdadeira, a que é anunciada pelos anjos na
noite de Natal, é antes de tudo, dom divino que se deve implorar constantemente
e, ao mesmo tempo, compromisso que se deve levar em frente com paciência e
perseverança.
O texto
evangélico narra o nascimento de Jesus e as circunstâncias que o
acompanhara. Neste contexto está o
anúncio do anjo aos pastores daquela região e, ao mesmo tempo, indica a eles os
sinais para que possam reconhecer a criança.
Enfim, os pastores constatam a realidade do anúncio evangélico. Eles
fazem a experiência do encontro com Deus na pessoa um “recém-nascido deitado na
manjedoura” (Lc 2.16). É justamente desse menino que se irradia uma nova luz
que brilha na escuridão da noite. Agora, é Dele que nos vem a bênção.
E os pastores
passam a ser os anunciadores da boa nova anunciada pelo anjo (v. 17), e esta
novidade da mensagem dos pastores enche os ouvintes de admiração (v. 18). Esses pastores, considerados impuros e de
reputação duvidosa, são os primeiros a propagar o nascimento do Salvador.
A passagem do
Evangelho termina com uma menção à circuncisão de Jesus. Como de fato, Maria,
como qualquer mãe judia, leva seu filho até o templo para que se cumpra a lei
da circuncisão. Conforme a Lei de
Moisés, oito dias após o nascimento, o menino devia ser circuncidado, e nesse
momento lhe era dado o nome. O próprio Deus, através de seu Anjo, dissera a
Maria e também a José, que o nome a ser dado para a criança era “Jesus” (cf. Mt
1,21; Lc 1,31). Aquele nome que Deus já tinha estabelecido antes mesmo que o
menino fosse concebido, lhe é dado oficialmente no momento da circuncisão. E
isto marca definitivamente a identidade de Maria: ela é a mãe de Jesus, ou
seja, a mãe do Salvador.
O nome Jesus,
no hebraico, significa “Deus salva”. Jesus é o Verbo de Deus, o Filho de Deus,
por isso a Igreja deu a Maria o título de “Theotokos”, ou seja, Mãe de Deus,
porque Jesus Cristo é Deus. Certa vez, disse Filipe a Jesus: “Mostra-nos o Pai,
isso nos basta” (Jo 14,8). Ao que Jesus lhe respondeu: “Há tanto tempo estou
convosco Filipe e não me conheces?”. E o Senhor logo acrescentou: “Quem me vê, vê
o Pai” (Jo 14,9).
E o Evangelho
acrescenta também que Maria “conservava todas estas coisas, meditando-as no seu
coração” (Lc 2, 19). Como Ela, também a Igreja conserva e medita a Palavra de
Deus, confrontando-a com as diversas e mutáveis situações que encontra ao longo
do seu caminho. O título de “Mãe de
Deus”, a que hoje a liturgia dá relevo, ressalta a missão única da Virgem Santa
na história da salvação: missão que está na base do culto e da devoção que o
povo cristão lhe reserva.
Maria deu a
vida terrena ao Filho de Deus, continua a oferecer aos homens a vida divina,
que é o próprio Jesus. Por esta razão, Maria é considerada mãe de todos os
homens que nascem para a Graça e ao mesmo tempo é invocada como a Mãe da
Igreja. Nas bodas de Caná, Maria pronuncia
uma frase que pode ser considerada a solene ordem do seu coração para os seus
filhos: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,1-11). Este mandato de Maria aos serventes em Caná
da Galileia vale para todos os momentos da nossa vida cristã.
É no nome de
Maria, Mãe de Deus e dos homens, que desde o dia 1º de Janeiro de 1968 se
celebra em todo o mundo o Dia Mundial da Paz.
Ao olharmos Cristo, vindo sobre a terra para nos dar a sua paz, nós
celebramos no primeiro dia do ano o “Dia Mundial da Paz”.
Que a Virgem
de Nazaré, que hoje veneramos com o título de Mãe de Deus, nos ajude a
contemplar a face de Jesus, Príncipe da Paz (cf. Is 9,5). Que ela nos acompanhe
e nos proteja ao longo deste ano. E, com
a sua poderosa intercessão, possamos progredir no caminho do bem, da paz e da
concórdia. Assim seja.
D. Anselmo
Chagas de Paiva, OSB