18º Domingo do Tempo Comum - Ano B

18º Domingo do Tempo Comum - Ano B

Roteiro Homilético cnbbleste2.org.br

1ª LEITURA – Ex 16,2-4.12-15
a) Atitude da Comunidade
Vemos o povo de Deus que saiu da escravidão do Egito e caminha para a Terra Prometida. É Deus que os liberta através de Moisés. O texto de hoje mostra a falta de consciência da comunidade com relação a Deus e com relação à libertação. Eles fazem uma murmuração pesada, porque pervertem o ideal de libertação do êxodo. Transformam o Deus libertador num ídolo equiparado aos ídolos egípcios geradores de morte. Preferem vender-se de novo como escravos em troca de fartura de pão e umas panelas de carne, que certamente nunca existiram na situação de escravos que levavam no Egito! Além de murmurarem, ainda se fundamentam em mentiras. Chegaram a afirmar que Deus os conduziu para fazê-los morrer de fome no deserto.


b) A atitude de Deus
Apesar de tudo isso, Deus investe alto no seu povo. Ele não deixa seu povo retornar à escravidão em troca de pão. Promete-lhes carne de codornizes ao anoitecer e pão do céu ao amanhecer. Isto será uma prova de que Deus é Deus de vida e não ídolo de morte. Deus quer conduzir o seu povo para fora dos regimes totalitários egípcios, quer libertá-los das garras do faraó. Deus cumpriu o que prometeu. Alimentou o povo com carne de tarde e maná de manhã. Os israelitas se admiram diante do prodígio. Prodígios maiores fará Jesus, que nos alimentará da sua própria carne e do seu próprio sangue.

Qual é hoje nossa atitude, como comunidade, diante dos prodígios de Deus? Temos vontade de buscar uma falsa liberdade sem Deus?



2ª LEITURA – Ef 4,17. 20-24
Primeiro, o autor apela para o testemunho do Senhor. Parece que, em seguida, ele faz três exortações: não se comportem mais como os pagãos, deixem de lado a conduta passada, a do velho homem e, finalmente, revistam-se do novo homem, criado à imagem de Deus.

Como viviam os destinatários da carta? Eles vieram do paganismo. Seus pensamentos eram vazios, suas preocupações eram idolátricas, estavam na linha do ter, do poder e do prazer, viviam num esquema alienante de vida, que conduz ao egoísmo e à morte. Era a vida do velho homem corrompido por paixões enganadoras, uma vida de injustiça, exploração e pecado.

Qual deve ser o nosso comportamento?
Deve haver uma ruptura radical com o velho homem. Devemos renovar nossa maneira de ser e de pensar. Devemos viver conforme os ensinamentos catequéticos que recebemos sobre Jesus Cristo. Devemos revestir-nos do homem novo. No gesto do batismo, o batizando troca de roupa para simbolizar sua nova identidade de homem criado à imagem de Deus. Os objetivos dessa vida renovada são justiça e santidade. Verdadeira justiça é compromisso sério com o irmão e a comunidade. Santidade verdadeira é misturar-se com a vida dos injustiçados como sal da terra e luz do mundo sem perder o sabor cristão, nem tornar-se trevas. Santidade não é fugir para não se contaminar, mas enfrentar os desafios, dando testemunho. O que é ser homem velho? O que é revestir-se do homem novo?



EVANGELHO – Jo 6,24-35
O trecho de hoje é um discurso que se apresenta em forma de diálogo entre Jesus e o povo.

O povo – “Rabi, quando chegaste aqui?” Depois do milagre do pão o povo busca Jesus de todo jeito. É preciso encontrá-lo, pois ele está resolvendo o problema do povo! É um falso messianismo que invade a mente do povo, um messianismo que passa pelo estômago. Não entenderam o sinal do pão como partilha, solidariedade, como força dos pequenos. Querem a solução pronta vinda de cima. Quem só anda à procura de milagres ainda está longe da fé, está longe do compromisso; está ainda dominado pelo egoísmo.

Jesus – Jesus ensina que a saída libertadora para o povo está em trabalhar pelo alimento que dura para a vida eterna. Este alimento é o pão da partilha, é o próprio Jesus que entregará sua vida pelo povo. Esta é a grande obra do Pai.

O povo – o povo então pergunta: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?”

Jesus – Jesus responde que as obras de Deus, que o povo deve realizar, resumem-se em uma só: acreditar em Jesus.

O povo – Parece que o povo se esqueceu do milagre que Jesus acabara de fazer e questiona Jesus sobre sinais e obras, dizendo que Moisés deu o pão do céu para o povo. Será que Jesus é maior que Moisés?

Jesus – Jesus esclarece que quem deu o pão do céu não foi Moisés, mas é o Pai, que continua dando o verdadeiro pão do céu, que é Jesus, que vai dar a vida ao mundo.

O povo – Parece que o povo se acalmou e pede a Jesus este verdadeiro pão material, e Jesus continua esclarecendo que ele é o pão da vida.

Jesus – Jesus afirma, por fim, que quem acreditar nele não terá mais fome, não terá mais sede. Acreditar em Jesus é aderir ao seu projeto de vida através da partilha e da solidariedade. Quando o egoísmo for banido do coração do homem, o amor-partilha saciará a todos. Você comunga o projeto de Deus, quando você recebe o corpo de Cristo na Eucaristia?         






Roteiro Homilético 1 - Liturgia: Mensagem franciscanos.org

A vontade de Deus e o “Pão da Vida”
A liturgia de hoje é estruturada pela oposição tipológica entre o maná, o “pão do céu” do A.T. (tipo), e Jesus, o verdadeiro “pão do céu” do N.T. (antítipo), explicitação daquilo que significa o “sinal do pão” (cf. dom pass.). Como maná do A.T., também o pão multiplicado era apenas material, e quem o procura por seu valor material está perdendo o mais importante: neste ponto começa o evangelho de hoje.
Depois da multiplicação dos pães, vendo que o povo o entendera mal (6, 14-15) Jesus se tinha retirado para a montanha, sozinho, enquanto os discípulos atravessaram o lago. O povo tinha observado isso. Procuraram então Jesus perto do lugar onde tinha realizado o milagre, mas, não o encontrando, voltaram a Cafarnaum, em outros barcos (6,22-24). E aí encontraram Jesus (que tinha atravessado o lago andando sobre as on­das). Admiram sua presença, mas com a mesma superficialidade que os levou a ver no sinal do pão não um sinal, mas apenas a satisfação de sua fome: é o que Jesus lhes re­preende (6,26).
Inicia então um diálogo, em que o pessoal de Cafarnaum aparece como preocupa­do com a Lei, mas obtuso quanto à realidade de Deus. Perguntam o que devem fazer. Jesus lhes diz que a obra do Pai é que acreditem no Filho (10 6,28)! Então, pedem um sinal como o de Moisés (o maná). Jesus responde que o sinal não era de Moisés (relati­vização do sistema mosaico, do qual eles são os árduos defensores contra os cristãos, expulsos da sinagoga), mas de Deus. Este mesmo Deus dá agora mais do que um sinal; oferece a plenitude de sua obra: seu enviado, Jesus Cristo, que faz o homem viver verdadeiramente, por sua palavra.
A 1ª  leitura lembra o que é o maná: 1) um pão material e perecível (leia Ex 16,19-30, as regras de recolhimento diário e conservação do maná); 2) uma coisa dada por intermédio de Moisés (conforme Jo 6,32, os judeus parecem ter esquecido que Moisés fora apenas o intermediário); 3) algo que não se sabe o que é, pois o nome que lhe deram, “maná”, significa “Que é isso?” A isso, o evangelho opõe o pão do N.T.: 1) uma comida que não perece, mas que permanece para a vida eterna (6,27); 2) uma obra de Deus mesmo (6,32); 3) uma realidade bem determinada: é Jesus em pessoa, acolhido na fé (6,35).
Esse contraste é acentuado pelo salmo responsorial, que evoca a maravilha do pão que Deus “fez chover do céu” (o texto que os judeus citam para Jesus: Jo 6,31 = Sl 78[77],24), enquanto a aclamação ao evangelho opõe a isso a realidade que se mani­festa no N. T.; não só de pão é que se vive, mas, antes de tudo, da “palavra” que vem da boca do Altíssimo.
Entre os dois painéis dessa tipologia antitética fica prensada a 2ª leitura. Fala tam­bém da oposição entre o antigo e o novo. O antigo, aí, não é tanto o sistema da Lei judaica, mas o paganismo, do qual provém boa parte dos cristãos de Éfeso. Os pagãos não procuravam “obras de Deus” ultrapassadas, como os judeus. Simplesmente eram dirigidos por concupiscências. Seja como for, tanto o judeu apegado ao sistema mosaico quanto o pagão envolvido com ídolos falsos (e esse pagão vive no meio de nós) devem abrir o ouvido para Cristo, a palavra da verdade que vem de Deus.
A audiência dada a Cristo é que faz viver verdadeiramente: esta é a mensagem de hoje. Por isso, Jesus é chamado “o Pão da Vida”. Concretamente, temos em nós o judeu de Cafarnaum e o pagão de Éfeso; o homem que quer ficar em dia com mediante determinadas práticas religiosas e o ateu prático, que decide na vida tudo conforme seu proveito imediato. Nem uma nem outra coisa serve para realizar o sentido eterno de nossa vida. Não devemos querer ter a última palavra, mas entregar-nos ­àquele que traz o selo de garantia de Deus (10 6,27). Arriscar o caminho da vida que ele nos mostra em sua própria pessoa. Pois ele não apenas ensina, ele é palavra, fala  ­por sua maneira de ser. Jesus não ensina “coisas”, mas se apresenta a nós, e na medida em que temos comunhão com ele, imbuindo-nos de seu modo de ser, de seu espírito, ­vivemos realmente. Isso se manifestará na doação sem restrição, da qual ele nos deu o exemplo. A vida verdadeira, que não perece, é a vida dada como ele a deu.

As coisas que passam e as que não passam
O evangelho de hoje é o início do “sermão do Pão da Vida”, com o qual o evangelista João dá continuidade ao “sinal” da multiplicação dos pães narrado domingo passado. Nos próximos domingos, o tema continua.
Depois da multiplicação dos pães, Jesus volta a Cafarnaum (Jo 6, 24). Os conterrâneos querem saber como de repente ele está de volta, se não embarcou com os discípulos na noite anterior. Jesus lhes faz sentir que, apesar de terem presenciado o milagre do pão, não enxergaram aí um sinal daquilo que ele significa: a realidade de Deus oferecida ao mundo. Apenas se saciaram de pão. Não entenderam que a refeição era um sinal. Eram como um motorista que pensa que sinal vermelho é apenas enfeite…
Os judeus de Cafarnaum então perguntaram que esforço Deus espera deles – pois querem se esforçar para que Deus se veja obrigado a dar-lhes a salvação! Mas Jesus diz que o esforço que Deus espera deles é que acreditem naquele que ele enviou (6,29).
Percebem que Jesus está falando de si mesmo. Para acreditarem nele querem ver suas credenciais. No tempo de Moisés, seus antepassados comeram o maná, no deserto, como está escrito: “Deu-lhes pão do céu a comer” (6,31; cf. Sl 78 [77], 24). Responde Jesus que não foi Moisés quem deu o pão do céu, no passado, mas que agora o Pai está dando o verdadeiro pão do céu: aquele que desce do céu e que dá vida ao mundo. Ininteligentes como o motorista  que pensa que sinal vermelho é enfeite, ficam raciocinando no trilho do pão material, pensando no problema do sustento: “Dá-nos sempre esse pão”. Então Jesus diz abertamente o que significa a sua palavra ambígua e o sinal que ele realizou no dia anterior: “Eu sou o pão  da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim não terá mais sede”(6,35).
Quem conhece as Escrituras reconhece nestas palavras a proclamação registrada em Isaías, no tempo do exílio babilônico. Em meio à idolatria da Babilônia, o profeta orienta o coração dos exilados para o único Senhor, muito mais valioso que o sistema babilônico com seus deuses e ilusões. O que se consegue com os babilônios não vale nada, é mero engodo comercial, pão que não alimenta! Mas quem escuta a voz do Senhor recebe a sabedoria da vida, a Aliança duradoura com Deus, o cumprimento de suas promessas (Is 55,1-3). Assim, quem se alimenta com a palavra de Jesus recebe o “pão da vida”, quem se dirige a ele sofre nem fome nem sede.
Mas não interpretemos isso com falso materialismo, dizendo que as coisas materiais passam e as espirituais, permanecem. Depende do que se entende por esses termos! Se “espiritual” significa apenas erudição e brilho intelectual ou divagação etérea em doutrinas sublimes, então isso é o que passa! E se “material” significa dedicar-se ao pão dos pobres, isto é o que permanece! Pois é a vontade do Pai.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes





Roteiro Homilético 2 - Liturgia: Dehonianos de Portugal

Tema do 18º Domingo do Tempo Comum

A liturgia do 18º Domingo do Tempo Comum repete, no essencial, a mensagem das leituras do passado domingo. Assegura-nos que Deus está empenhado em oferecer ao seu Povo o alimento que dá a vida eterna e definitiva.
A primeira leitura dá-nos conta da preocupação de Deus em oferecer ao seu Povo, com solicitude e amor, o alimento que dá vida. A acção de Deus não vai, apenas, no sentido de satisfazer a fome física do seu Povo; mas pretende também (e principalmente) ajudar o Povo a crescer, a amadurecer, a superar mentalidades estreitas e egoístas, a sair do seu fechamento e a tomar consciência de outros valores.
No Evangelho, Jesus apresenta-Se como o “pão” da vida que desceu do céu para dar vida ao mundo. Aos que O seguem, Jesus pede que aceitem esse “pão” – isto é, que escutem as palavras que Ele diz, que as acolham no seu coração, que aceitem os seus valores, que adiram à sua proposta.
A segunda leitura diz-nos que a adesão a Jesus implica o deixar de ser homem velho e o passar a ser homem novo. Aquele que aceita Jesus como o “pão” que dá vida e adere a Ele, passa a ser uma outra pessoa. O encontro com Cristo deve significar, para qualquer homem, uma mudança radical, um jeito completamente diferente de se situar face a Deus, face aos irmãos, face a si próprio e face ao mundo.


LEITURA I – Ex 16,2-4.12-15

Leitura do Livro do Êxodo

Naqueles dias,
toda a comunidade dos filhos de Israel
começou a murmurar no deserto contra Moisés e Aarão.
Disseram-lhes os filhos de Israel:
«Antes tivéssemos morrido às mãos do Senhor na terra do Egipto,
quando estávamos sentados ao pé das panelas de carne
e comíamos pão até nos saciarmos.
Trouxestes-nos a este deserto,
para deixar morrer à fome toda esta multidão».
Então o Senhor disse a Moisés:
«Vou fazer que chova para vós pão do céu.
O povo sairá para apanhar a quantidade necessária para cada dia.
Vou assim pô-lo à prova,
para ver se segue ou não a minha lei.
Eu ouvi as murmurações dos filhos de Israel.
Vai dizer-lhes:
‘Ao cair da noite comereis carne
e de manhã saciar-vos-eis de pão.
Então reconhecereis que Eu sou o Senhor, vosso Deus’».
Nessa tarde apareceram codornizes,
que cobriram o acampamento,
e na manhã seguinte havia uma camada de orvalho
em volta do acampamento.
Quando essa camada de orvalho se evaporou,
apareceu à superfície do deserto uma substância granulosa,
fina como a geada sobre a terra.
Quando a viram, os filhos de Israel perguntaram uns aos outros:
«Man-hu?», quer dizer: «Que é isto?»,
pois não sabiam o que era.
Disse-lhes então Moisés:
«É o pão que o Senhor vos dá em alimento».

AMBIENTE

A secção de Ex 15,22-18,27 desenvolve um dos grandes temas do Pentateuco: a marcha pelo deserto. Aqui estamos, ainda, na primeira etapa dessa marcha – a que vai desde a passagem do mar, até ao Sinai.
Três dos episódios apresentados nesta secção tratam o tema da murmuração do Povo (cf. Ex 15,22-27; 16,1-21; 17,1-7). O esquema é simples e é sempre o mesmo: o Povo desconfia e murmura diante das dificuldades, subleva-se contra Moisés e chega a acusar Deus pelos desconfortos da caminhada; quando estão prestes a sofrer o castigo pela sua revolta, Moisés intercede diante do Jahwéh e o Senhor perdoa o pecado do Povo; finalmente, apesar do pecado, Jahwéh concede ao Povo os bens de que este sente necessidade. Os relatos apresentam-se sempre de uma forma dramática, com um crescendo de intensidade até ao desfecho final, que se apresenta sempre na forma de uma intervenção prodigiosa de Deus, em benefício do seu Povo.
Provavelmente, estes relatos têm por base elementos de carácter histórico (dificuldades reais sentidas pelos hebreus que saíram do Egipto com Moisés, no seu caminho para a Terra Prometida, através do deserto do Sinai) e que ficaram na memória colectiva; no entanto, os catequistas bíblicos estão mais interessados em fazer catequese, do que em apresentar uma reportagem jornalística da viagem (o episódio mistura uma catequese “jahwista”, do séc. X a.C. com uma catequese “sacerdotal”, do séc. VI a.C). A catequese apresentada pretende sempre avisar o Povo contra a tentação de procurar refúgio e segurança fora de Jahwéh… Aqui, Israel fala em regressar ao Egipto, onde eram escravos, mas tinham pão e carne em abundância: o Egipto representa a tentação que o Povo sentiu, em tantas situações da sua história, de voltar atrás, de abandonar os valores e a vida de Deus, de se instalar comodamente em esquemas à margem de Deus. O catequista jahwista garante ao seu Povo que Deus o acompanha sempre ao longo da sua caminhada e que só ele oferece a Israel vida em abundância.
O episódio que hoje nos é proposto – o episódio das codornizes e do maná – é situado no deserto de Sin, “que está entre Elim e o Sinai, no décimo quinto dia do segundo mês após a saída da terra do Egipto” (Ex 16,1). O deserto de Sin estende-se de Kadesh-Barnea para ocidente.
A história das codornizes tem por base um fenómeno que se observa, por vezes, na Península do Sinai: a migração em massa de codornizes que, depois de atravessar o mar, chegam ao Sinai muito cansadas da viagem, pousam junto das tendas dos beduínos e deixam-se apanhar com facilidade. A história do maná deve ter por base uma pequena árvore (“tamarix mannifera”) existente em certas zonas do Sinai que, após ser picada por um insecto, segrega uma substância resinosa e espessa que logo se coagula; os beduínos recolhem, ainda hoje, essa substância (que chamam “man”), derretem-na ao calor do sol e passam-na sobre o pão.
Vai ser com estes elementos – elementos que o Povo conheceu e que o impressionaram, ao longo da marcha pelo deserto – que os catequistas bíblicos vão “amassar” a catequese que nos transmitem no texto que nos é proposto.

MENSAGEM

1. O episódio começa com a murmuração do Povo “contra Moisés e contra Aarão” (vers. 2). Por estranho que pareça, Israel sente saudades do tempo em que passou no Egipto pois, apesar da escravidão, estava sentado “ao pé de panelas de carne” e comia “pão com fartura” (vers. 3). Ao longo da caminhada, vêm ao de cima as limitações e as deficiências de um grupo humano ainda com mentalidade de escravo, demasiado “verde” e sem maturidade, agarrado à mesquinhez, ao egoísmo, ao comodismo, que prefere a escravidão à liberdade. Por outro lado, é um Povo que ainda não aprendeu a confiar no seu Deus, a segui-lo de olhos fechados, a responder sem hesitações às suas propostas, a segui-l’O incondicionalmente no caminho da fé.
2. A resposta de Deus é “fazer chover pão do céu” (vers. 4) e dar ao Povo carne em abundância (vers. 12). O objectivo de Deus é, não só satisfazer as necessidades materiais do Povo, mas também revelar-Se como o Deus da bondade e do amor, que cuida do seu Povo, que está sempre ao seu lado ao longo da caminhada, que milagrosamente entrega de bandeja a Israel a possibilidade de satisfazer as suas necessidades mais básicas e de vencer as forças da morte que se ocultam nas areias do deserto. Dessa forma, o Povo pode fazer uma experiência de encontro e de comunhão com Deus, que se traduzirá em confiança, em amor, em entrega. O cuidado, a solicitude e o amor de Deus experimentados nesta “crise”, não só ajudarão o Povo a sobreviver, mas irão permitir-lhe, também, superar mentalidades estreitas e egoístas, fazendo-o ver mais além, alargar os horizontes, tornar-se mais adulto, mais consciente, mais responsável e mais santo. Israel aprende, assim, a confiar em Deus, a entregar-se nas suas mãos, a não duvidar do seu amor e fidelidade… Israel aprende, neste percurso, que Jahwéh é a rocha segura em quem se pode confiar nas crises e dramas da vida.
3. O facto de se dizer que Deus apenas dava ao Povo a quantidade de maná necessária “para cada dia” (vers. vers. 4) é uma bonita lição sobre desprendimento e confiança em Deus. Ensina o Povo a não acumular bens, a não viver para o “ter”, a libertar o coração da ganância e do desejo de possuir sempre mais, a não viver angustiado com o futuro e com o dia de amanhã; ensina, também, a confiar em Deus, a entregar-se serenamente nas suas mãos, a vê-l’O como verdadeira fonte de vida.

ACTUALIZAÇÃO

• Mais uma vez, a Palavra de Deus que nos é proposta dá-nos conta da preocupação de Deus em oferecer ao seu Povo, com solicitude e amor, o alimento que dá vida. A acção de Deus não vai, apenas, no sentido de satisfazer a fome física do seu Povo; mas pretende também (e principalmente) ajudar o Povo a crescer, a amadurecer, a superar mentalidades estreitas e egoístas, a sair do seu fechamento e a tomar consciência de outros valores. Para Deus, “alimentar” o Povo é ajudá-lo a descobrir os caminhos que conduzem à felicidade e à vida verdadeira. O Deus em quem nós acreditamos é o mesmo Deus que, no deserto, ofereceu a Israel a possibilidade de libertar-se de uma mentalidade de escravo e de descobrir o caminho para a vida nova da liberdade e da felicidade… Ele vai connosco ao longo da nossa caminhada pelo deserto da vida, vê as nossas necessidades, conhece os nossos limites, percebe a nossa tendência para o egoísmo e o comodismo e, em cada dia, aponta-nos caminhos novos, convida-nos a ir mais além, mostra-nos como podemos chegar à terra da liberdade e da vida verdadeira. Este texto fala-nos da solicitude e do amor com que Deus acompanha a nossa caminhada de todos os dias; convida-nos, também, a escutar esse Deus, a aceitar as propostas de vida que Ele faz e a confiar incondicionalmente n’Ele.

• As “saudades” que os israelitas sentem do Egipto, onde estavam “sentados junto de panelas de carne” e tinham “pão com fartura”, revelam a realidade de um Povo acomodado à escravidão, instalado tranquilamente numa vida sem perspectivas e sem saída, incapaz de arriscar, de enfrentar a novidade, de querer mais, de aceitar a liberdade que se constrói na luta e no risco. Esta mentalidade de escravidão continua, bem viva, no nosso mundo… É a mentalidade daqueles que vivem obcecados pelo “ter” e que são capazes de renunciar à sua dignidade para acumular bens materiais; é a mentalidade daqueles que trocam valores importantes pelos “cinco minutos de fama” e de exposição mediática; é a mentalidade daqueles que têm como único objectivo na vida a satisfação das suas necessidades mais básicas; é a mentalidade daqueles que se instalam comodamente nos seus esquemas cómodos, nos seus preconceitos e se recusam a ir mais além, a deixarem-se interpelar pela novidade e pelos desafios de Deus; é a mentalidade daqueles que vivem voltados para o passado, que idealizam o passado, recusando-se a enfrentar os desafios da história e a descobrir o que há de positivo e de desafiante nos novos tempos; é a mentalidade daqueles que se resignam à mediocridade e que não fazem nenhum esforço para que a sua vida faça sentido… A Palavra de Deus que nos é proposta diz-nos: o nosso Deus não Se conforma com a resignação, o comodismo, a instalação, a mediocridade que fazem de nós escravos e que nos impedem de chegar à vida verdadeira, plenamente vivida e assumida; Ele vem ao nosso encontro, desafia-nos a ir mais além, aponta-nos caminhos, convida-nos a crescer e a dar passos firmes e seguros em direcção à liberdade e à vida nova… E, durante o caminho, nunca estaremos sozinhos, pois Ele vai ao nosso lado.

• A ideia de que Deus dá ao seu Povo, dia a dia, o pão necessário para a subsistência (proibindo “juntar” mais do que o necessário para cada dia) pretende ajudar o Povo a libertar-se da tentação do “ter”, da ganância, da ambição desmedida. É um convite, também a nós, a não nos deixarmos dominar pelo desejo descontrolado de posse dos bens, a libertarmos o nosso coração da ganância que nos torna escravos das coisas materiais, a não vivermos obcecados e angustiados com o futuro, a não colocarmos na conta bancária a nossa segurança e a nossa esperança. Só Deus é a nossa segurança, só n’Ele devemos confiar, pois só Ele (e não os bens materiais) nos liberta e nos leva ao encontro da vida definitiva.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 77 (78)

Refrão: O Senhor deu-lhes o pão do céu.

Nós ouvimos e aprendemos,
os nossos pais nos contaram
os louvores do Senhor e o seu poder
e as maravilhas que Ele realizou.

Deus ordens às nuvens do alto
e abriu as portas do céu;
para alimento fez chover o maná,
deu-lhes o pão do céu.

O homem comeu o pão dos fortes!
Mandou-lhes comida com abundância
e introduziu-os na sua terra santa,
na montanha que a sua direita conquistou.


LEITURA II – Ef 4,17.20-24

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios

Irmãos:
Eis o que vos digo e aconselho em nome do Senhor:
Não torneis a proceder como os pagãos,
que vivem na futilidade dos seus pensamentos.
Não foi assim que aprendestes a conhecer a Cristo,
se é que d’Ele ouvistes pregar e sobre Ele fostes instruídos,
conforme a verdade que está em Jesus.
É necessário abandonar a vida de outrora
e pôr de parte o homem velho,
corrompido por desejos enganadores.
Renovai-vos pela transformação espiritual da vossa inteligência
e revesti-vos do homem novo, criado á imagem de Deus
na justiça e santidade verdadeiras.

AMBIENTE

Continuamos a ler a Carta aos Efésios, essa “carta circular” que Paulo escreve enquanto está na prisão (em Roma, durante os anos 61-63?) e que envia a várias comunidades cristãs da parte ocidental da Ásia Menor. É uma carta (já o dissemos atrás) onde Paulo apresenta, de forma extremamente serena e reflectida, uma teologia amadurecida, completa, bem elaborada, sobre as exigências da vida nova em Cristo.
A secção da Carta aos Efésios que vai de 4,1 a 6,20 (já o dissemos também no passado domingo) é um texto parenético, que tem por objectivo principal exortar os cristãos a viverem de forma coerente com o seu Baptismo e com o seu compromisso com Cristo. Depois de convidar os crentes a viverem na unidade do amor (cf. Ef 4,1-6) e de lhes apresentar uma reflexão sobre a comunidade, Corpo de Cristo formado por muitos membros (cf. Ef 4,7-13), Paulo exorta os cristãos a viverem de acordo com a sua condição de Homens Novos em Cristo (cf. 4,14-5,14). O texto que nos é hoje proposto como segunda leitura é parte dessa exortação.

MENSAGEM

O nosso texto é, fundamentalmente, um convite – feito com a veemência que Paulo usava sempre nas suas exortações – a deixar a vida antiga e os esquemas do passado, para abraçar definitivamente a vida nova que Cristo veio propor.
Paulo usa duas expressões opostas para definir a realidade do homem antes do encontro com Cristo e depois do encontro com Cristo. O homem que ainda não aderiu a Cristo é, para Paulo, o homem velho, cuja vida é marcada pela mediocridade, pela futilidade (vers. 17), pela corrupção, pela escravidão aos “desejos enganadores” (vers. 22). O homem que já encontrou Cristo e que aderiu à sua proposta é o homem novo, que vive na verdade (vers. 21), na justiça e na santidade verdadeiras (vers. 24).
O Baptismo – o momento da adesão a Cristo – é o momento decisivo da transformação do homem velho em homem novo. O próprio rito do Baptismo (o imergir na água significa o morrer para a vida antiga de pecado; o emergir da água significa o nascimento de um outro homem, purificado do egoísmo, do orgulho, da auto-suficiência, do pecado) sugere a transformação e a ressurreição do homem para uma vida nova – a vida em Cristo. A partir daí, o homem devia adoptar uma nova maneira de pensar e de agir, consequência do seu compromisso com Cristo e com a proposta de vida que Cristo veio apresentar.
Contudo, mesmo depois de ter optado por Cristo, o homem continua marcado pela sua condição de debilidade e de fragilidade… Essa condição faz com que, por vezes, sinta a tentação de regressar ao homem velho do egoísmo, do orgulho, do pecado… O crente, animado pelo Espírito é, portanto, chamado a renovar cada dia a sua adesão a Cristo e a construir a sua existência de forma coerente com os compromissos que assumiu no dia do seu Baptismo. O homem novo não é uma realidade adquirida de uma vez por todas, no dia em que se optou por Cristo; mas é uma realidade continuamente a fazer-se, que exige um trabalho contínuo e uma constante renovação.

ACTUALIZAÇÃO

• O cristão é, antes de mais, alguém que encontrou Cristo, que escutou o seu chamamento, que aderiu à sua proposta. A consequência dessa adesão é passar a viver de uma forma diferente, de acordo com valores diferentes, e com uma outra mentalidade. O encontro com Cristo deve significar, para qualquer homem, uma mudança radical, um jeito completamente diferente de se situar face a Deus, face aos irmãos, face a si próprio e face ao mundo. Antes de mais devemos tomar consciência de que também nós encontrámos Cristo, fomos chamados por Ele, aderimos à sua proposta e assumimos com Ele um compromisso. O momento do nosso Baptismo não foi um momento de folclore religioso ou uma ocasião para cumprir um rito cultural qualquer; mas foi um verdadeiro momento de encontro com Cristo, de compromisso com Ele e o início de uma caminhada que Deus nos chama a percorrer, com coerência, pela vida fora, até chegarmos ao homem novo.

• Paulo convida insistentemente os crentes a deixar a vida do homem velho… O homem velho é o homem dominado pelo egoísmo, pelo orgulho, que vive de coração fechado a Deus e aos irmãos, que vive instalado em esquemas de opressão e de injustiça, que gasta a vida a correr atrás dos deuses errados (o dinheiro, o poder, o êxito, a moda…), que se deixa dominar pela cobiça, pela corrupção, pela concupiscência, pela ira, pela maldade e se recusa a escutar a proposta libertadora que Deus lhe apresenta. Provavelmente, não nos revemos na totalidade deste quadro; mas não teremos momentos em que construímos a nossa vida à margem das propostas de Deus e em que negligenciamos os valores de Deus para abraçar outros valores que nos escravizam?

• Paulo apela a que os crentes vivam a vida do homem novo. O homem novo é o homem continuamente atento às propostas de Deus, que aceita integrar a família de Deus, que não se conforma com a maldade, a injustiça, a exploração, a opressão, que procura viver na verdade, no amor, na justiça, na partilha, no serviço, que pratica obras de bondade, de misericórdia, de humildade, que dia a dia dá testemunho, com alegria e simplicidade, dos valores de Deus. É este o meu “projecto” de vida? Os meus gestos e atitudes de cada dia manifestam a realidade de um homem novo, que vive em comunhão com Deus e no amor aos irmãos?

• Todos nós, no dia do nosso Baptismo, optámos pelo homem novo… É preciso, no entanto, termos consciência que a construção do homem novo nunca é um processo acabado… A monotonia, o cansaço, os problemas da vida, as influências do mundo, a nossa preguiça e o nosso comodismo levam-nos, muitas vezes, a instalarmo-nos na mediocridade, nas “meias tintas”, na não exigência, na acomodação; então, o homem velho espreita-nos a cada esquina e toma conta de nós… Precisamos de ter consciência de que em cada minuto que passa tudo começa outra vez; precisamos de renovar continuamente as nossas opções e o nosso compromisso, numa atenção constante ao chamamento de Deus. O cristão não cruza os braços considerando que já atingiu um nível satisfatório de perfeição; mas está sempre numa atitude de vigilância e de conversão, para poder responder adequadamente, em cada instante, aos desafios sempre novos de Deus.


ALELUIA – Mt 4,4b

Aleluia. Aleluia.

Nem só de pão vive o homem,
mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.


EVANGELHO – Jo 6,24-35

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo,
quando a multidão viu
que nem Jesus nem os seus discípulos estavam à beira do lago,
subiram todos para as barcas
e foram para Cafarnaum, à procura de Jesus.
Ao encontrá-l’O no outro lado do mar, disseram-Lhe:
«Mestre, quando chegaste aqui?»
Jesus respondeu-lhes:
«Em verdade, em verdade vos digo:
vós procurais-Me, não porque vistes milagres,
mas porque comestes dos pães e ficastes saciados.
Trabalhai, não tanto pela comida que se perde,
mas pelo alimento que dura até à vida eterna
e que o Filho do homem vos dará.
A Ele é que o Pai, o próprio Deus,
marcou com o seu selo».
Disseram-Lhe então:
«Que devemos nós fazer para praticar as obras de Deus?»
Respondeu-lhes Jesus:
«A obra de Deus
consiste em acreditar n’Aquele que Ele enviou».
Disseram-Lhe eles:
«Que milagres fazes Tu,
para que nós vejamos e acreditemos em Ti?
Que obra realizas?
No deserto os nossos pais comeram o maná,
conforme está escrito:
‘Deu-lhes a comer um pão que veio do céu’».
Jesus respondeu-lhes:
«Em verdade, em verdade vos digo:
Não foi Moisés que vos deu o pão do Céu;
meu Pai é que vos dá o verdadeiro pão do Céu.
O pão de Deus é o que desce do Céu
para dar a vida ao mundo».
Disseram-Lhe eles:
«Senhor, dá-nos sempre desse pão».
Jesus respondeu-lhes:
«Eu sou o pão da vida:
quem vem a Mim nunca mais terá fome,
quem acredita em Mim nunca mais terá sede».

AMBIENTE

No passado domingo, João contou-nos como Jesus alimentou a multidão com cinco pães e dois peixes, na “outra” margem do Lago de Tiberíades (cf. Jo 6,1-15). Ao “cair da tarde” desse dia, Jesus e os discípulos voltaram a Cafarnaum (cf. Jo 6,16-21).
O episódio que o Evangelho de hoje nos apresenta situa-nos em Cafarnaum, no “dia seguinte” ao episódio da multiplicação dos pães e dos peixes. Nessa manhã, a multidão que tinha sido alimentada pelos pães e pelos peixes multiplicados e que ainda estava do “outro lado” do lago apercebeu-se de que Jesus tinha regressado a Cafarnaum e dirigiu-se ao seu encontro.
A multidão encontra Jesus na sinagoga de Cafarnaum – uma cidade situada na margem ocidental do Lago e à volta da qual se desenrola uma parte significativa da actividade de Jesus na Galileia. Confrontado com a multidão, Jesus profere um discurso (cf. Jo 6,22-59) que explica o sentido do gesto precedente (a multiplicação dos pães e dos peixes).

MENSAGEM

A cena inicial (vers. 24) parece sugerir, à primeira vista, que a pregação de Jesus alcançou um êxito total: a multidão está entusiasmada, procura Jesus com afã e segue-O para todo o lado. Aparentemente, a missão de Jesus não podia correr melhor.
Contudo, Jesus percebe facilmente que a multidão está equivocada e que O procura pelas razões erradas. Na verdade, a multiplicação dos pães e dos peixes pretendeu ser, por parte de Jesus, uma lição sobre amor, partilha e serviço; mas a multidão não foi sensível ao significado profundo do gesto, ficou-se pelas aparências e só percebeu que Jesus podia oferecer-lhe, de forma gratuita, pão em abundância. Assim, o facto de a multidão procurar Jesus e Se dirigir ao seu encontro não significa que tenha aderido à sua proposta; significa, apenas, que viu em Jesus um modo fácil e barato de resolver os seus problemas materiais.
Na verdade, o gesto de repartir pela multidão os pães e os peixes gerou um perigoso equívoco. Jesus está consciente de que é preciso desfazer, quanto antes, esse mal-entendido. Por isso, nem sequer responde à pergunta inicial que Lhe põem (“Mestre, quando chegaste aqui?” – vers. 25); mas, mal se encontra diante da multidão, procura esclarecer coisas bem mais importantes do que a hora da sua chegada a Cafarnaum… As palavras que Jesus dirige àqueles que O rodeiam põem o problema da seguinte forma: eles não procuram Jesus, mas procuram a resolução dos seus problemas materiais (vers. 26). Trata-se de uma procura interesseira e egoísta, que é absolutamente contrária à mensagem que Jesus procurou passar-lhes. Depois de identificar o problema, Jesus deixa-lhes um aviso: é preciso esforçar-se por conseguir, não só o alimento que mata a fome física, mas sobretudo o alimento que sacia a fome de vida que todo o homem tem. A multidão, ao preocupar-se apenas com a procura do alimento material, está a esquecer o essencial – o alimento que dá vida definitiva. Esse alimento que dá a vida eterna é o próprio Jesus que o traz (vers. 27).
O que é preciso fazer para receber esse pão? – pergunta-se a multidão (vers. 28). A resposta de Jesus é clara: é preciso aderir a Jesus e ao seu projecto (vers. 28). Na cena da multiplicação dos pães, a multidão não aderiu ao projecto de Jesus (que falava de amor, de partilha, de serviço); apenas correu atrás do profeta milagreiro que distribuía pão e peixes gratuitamente e em abundância… Mas, para receber o alimento que dá vida eterna e definitiva, é preciso, que a multidão acolha as propostas de Jesus e aceite viver no amor que se faz dom, na partilha daquilo que se tem com os irmãos, no serviço simples e humilde aos outros homens. É acolhendo e interiorizando esse “pão” que se adquire a vida que não acaba.
Os interlocutores de Jesus não estão, no entanto, convencidos de que esse “pão” garanta a vida definitiva. Custa-lhes a aceitar que a vida eterna resulte do amor, do serviço, da partilha. O que é que garante, perguntam eles, que esse seja um caminho verdadeiro para a vida definitiva (vers. 30)? Qual a prova de que a realização plena do homem passe pelo dom da própria vida aos demais? Porque é que Jesus não realiza um gesto espectacular – como Moisés, que fez chover do céu o maná, não apenas para cinco mil pessoas, mas para todo o Povo e de forma continuada – para provar que a proposta que Ele faz é verdadeiramente uma proposta geradora de vida (vers. 31)?
Jesus responde pondo a questão da seguinte forma: o maná foi um dom de Deus para saciar a fome material do seu Povo; mas o maná não é esse “pão” que sacia a fome de vida eterna do homem. Só Deus dá aos homens, de forma contínua, a vida eterna; e esse dom do Pai não veio ao encontro dos homens através de Moisés, mas através de Jesus (vers. 32-33). Portanto, o importante não é testemunhar gestos espectaculares, que deslumbram e impressionam mas não mudam nada; mas é acolher a proposta que Jesus faz e vivê-la nos gestos simples de todos os dias.
A última frase do nosso texto identifica o próprio Jesus, já não com o “portador” do pão, mas como o próprio pão que Deus quer oferecer ao seu Povo para lhe saciar a fome e a sede de vida (vers. 35). “Comê-lo” será escutar a sua Palavra, acolher a sua proposta, assimilar os seus valores, interiorizar o seu jeito de viver, fazer da vida (como Jesus fez) um dom total de amor aos irmãos. Seguindo Jesus, acolhendo a sua proposta no coração e deixando que ela se transforme em gestos concretos de amor, de partilha, de serviço, o homem encontrará essa “qualidade” de vida que o leva à sua realização plena, à vida eterna.

ACTUALIZAÇÃO

• O caminho que percorremos nesta terra é sempre um caminho marcado pela procura da nossa realização, da nossa felicidade, da vida plena e verdadeira. Temos fome de vida, de amor, de felicidade, de justiça, de paz, de esperança, de transcendência e procuramos, de mil formas, saciar essa fome; mas continuamos sempre insatisfeitos, tropeçando na nossa finitude, em respostas parciais, em tentativas falhadas de realização, em esquemas equívocos, em falsas miragens de felicidade e de realização, em valores efémeros, em propostas que parecem sedutoras mas que só geram escravidão e dependência… Na verdade, o dinheiro, o poder, a realização profissional, o êxito, o reconhecimento social, os prazeres, os amigos são valores efémeros que não chegam para “encher” totalmente a nossa vida e para lhe dar um sentido pleno. Como podemos “encher” a nossa vida e dar-lhe pleno significado? Onde encontrar o “pão” que mata a nossa fome de vida?

• Jesus de Nazaré é o “pão de Deus que desce do céu para dar a vida ao mundo”. É esta a questão central que o Evangelho deste domingo nos propõe. É em Jesus e através de Jesus que Deus sacia a fome e a sede dos homens e lhes oferece a vida em plenitude. Isto leva-nos às seguintes questões: que lugar é que Jesus ocupa na nossa vida? Ele é, verdadeiramente, a coordenada fundamental à volta da qual construímos a nossa existência? Para nós, Jesus é uma figura do passado (embora tenha sido um homem excepcional) que a história absorveu e digeriu, ou é o Deus que continua vivo e a caminhar ao nosso lado, oferecendo-nos vida em plenitude? Ele é “mais uma” das nossas referências (ao lado de tantas outras) ou a nossa referência fundamental? Ele é alguém a quem adoramos, com respeito e à distância, ou o irmão que nos indica o caminho, que nos propõe valores, que condiciona a nossa atitude face a Deus, face aos irmãos e face ao mundo?

• O que é preciso fazer para ter acesso a esse “pão de Deus que desce do céu para dar a vida ao mundo”? De acordo com o Evangelho deste domingo, a resposta é clara: é preciso aderir (“acreditar”) a Jesus, o “pão” que o Pai enviou ao mundo para saciar a fome dos homens. Aderir a Jesus é escutar o seu chamamento, acolher a sua Palavra, assumir e interiorizar os seus valores, segui-l’O no caminho do amor, da partilha, do serviço, da entrega da vida a Deus e aos irmãos. Trata-se de uma adesão que deve ser consequente e traduzir-se em obras concretas. Não chegam declarações de boas intenções, ou actos institucionais que nos fazem constar dos livros de registo da nossa paróquia; aderir a Jesus é assumir o seu estilo de vida e fazer da própria vida um dom de amor, até à morte.

• No Evangelho deste domingo, Jesus mostra-Se profundamente incomodado quando constata que a multidão o procura pelas razões erradas e, sem preâmbulos, apressa-Se em desfazer os equívocos. Ele não quer, de forma nenhuma, que as pessoas O sigam por engano, ou iludidas. Há, aqui, um convite implícito a repensarmos as razões porque nos envolvemos com Cristo… É um equívoco procurar o Baptismo porque é uma tradição da nossa cultura; é um equívoco celebrar o matrimónio na Igreja porque, assim, a cerimónia é mais espectacular e proporciona fotografias mais bonitas; é um equívoco assumir tarefas na comunidade cristã para nos auto-promovermos ou para resolvermos os nossos problemas materiais; é um equívoco receber o sacramento da Ordem porque o sacerdócio nos proporciona uma vida cómoda e tranquila; é um equívoco praticarmos certos actos de piedade para que Jesus nos recompense, nos livre de desgraças, nos pague resolvendo algumas das nossas necessidades materiais… A nossa adesão a Jesus deve partir de uma profunda convicção de que só Ele é o “pão” que nos dá vida.

• A recusa de Jesus em realizar gestos espectaculares (como fazer o maná cair do céu), mostra que, normalmente, Deus não vem ao encontro do homem para lhe oferecer a sua vida em gestos portentosos, que deixam toda a gente espantada e que testemunham, de forma inequívoca, a sua presença no mundo; mas Deus actua na vida do homem de forma discreta, embora duradoura e permanente. Deus vem, todos os dias, ao encontro do homem e, sem forçar nem se impor, convida-o a escutar a Palavra de Jesus, propõe-lhe a adesão a Jesus e ao seu projecto, ensina-lhe os caminhos do amor, da partilha, do serviço. Convém que nos familiarizemos com os métodos de Deus, para o conseguirmos perceber e encontrar, no caminho da nossa vida.





UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909





Roteiro Homilético 3 - Liturgia: Vida Pastoral

Deu-lhes a comer o pão do céu

I. Introdução geral

Continuando com o tema do sinal do pão, a liturgia de hoje – e nos domingos seguintes – centra-se no discurso de Jesus sobre o “pão da vida” ou “pão do céu”.

Por meio do maná (pela manhã) e das codornizes (à tarde), Deus sustentava a vida do povo no deserto. Apesar da benevolência divina, o povo não mudava de atitude, não parava de murmurar e de preferir a antiga vida de escravidão à vida nova, com dignidade, dada por Deus. É bem adequada a exortação da carta aos Efésios para que os cristãos não tornem a proceder como antigamente, na futilidade de pensamentos: “foi bem outra coisa o que aprendestes de Cristo” (Ef 4,20).

II. Comentário dos textos bíblicos

Evangelho (Jo 6,24-35): Eu sou o pão da vida
A multidão está à procura de Jesus, movida não pelo que o sinal do pão aponta, mas pelo interesse pessoal de saciar a fome. Por isso, Jesus reprova a multidão, que não o busca por ele mesmo. Ele chama a atenção para que a multidão se empenhe mais pelo alimento que permanece, e não apenas pelo alimento perecível. Esse empenho deve ocupar a vida do cristão em sua totalidade. O verdadeiro alimento é Jesus, que dá a vida eterna àqueles que o buscam. Vida eterna significa uma existência reconciliada com Deus. Por isso, essa vida inicia-se já aqui na história.

Movida pelo interesse pessoal, a multidão pede a Jesus que realize a obra de Deus, mas não sabe a profundidade do pedido que faz. A obra que Deus quer realizar é que o ser humano busque a Jesus (v. 29), o caminho para Deus. E buscar a Deus significa abandonar-se incondicionalmente ao seu amor e à sua vontade. Por isso a multidão não compreende o alcance de seu pedido, já que se nega a fazer a vontade de Deus, que é crer naquele que ele enviou.

O pedido do sinal também revela a incapacidade de enxergar, porque viram o sinal, mas, como não têm fé, não viram a ação de Deus. E os sinais que a multidão pede devem superar os milagres realizados no antigo Israel, milagres que legitimam suas pretensões messiânicas. Para isso recordam o prodígio do êxodo, quando Moisés alimentou o povo no deserto com o maná. A isso Jesus responde, mostrando que o verdadeiro pão do céu quem dá é o Pai. E o pão do céu é o próprio Jesus, que veio dar a vida eterna. Esse sinal revela o messianismo de Jesus, a multidão não precisa então de outro sinal.

Contudo, a multidão continua sem compreender o sinal, porque pede a Jesus que lhe dê sempre desse pão. Não entendem o verdadeiro alcance de suas palavras. A resposta de Jesus é semelhante à que foi dada à samaritana (Jo 6,35): quem vai a Jesus nunca mais terá fome nem sede.

No deserto, o povo foi alimentado com o maná e teve a sede saciada com a água que saiu da rocha. Mas o povo morreu; isso mostra que aquelas realidades antigas eram apenas uma prefiguração de Jesus, o enviado de Deus, que oferece o verdadeiro alimento e sacia totalmente a sede que a criatura tem de seu Criador.

I leitura (Ex 16,2-4.12-15): Farei chover pão do céu para vós
A leitura afirma que “toda a comunidade dos israelitas murmurava” (v. 2). Isso significa que todos estavam de acordo sobre um ponto: era melhor ser escravo no Egito e ter o que comer do que ser livre e passar fome. A comunidade formava uma multidão interesseira. O povo rapidamente esqueceu que havia chorado sob os açoites dos feitores egípcios e que clamou a Deus, pedindo que o libertasse. Após a libertação, os israelitas lembravam-se do cheiro e do gosto dos temperos nos cozidos de carne, mas haviam esquecido as chicotadas dos feitores e o trabalho forçado. A que preço, anteriormente, comeram aquele alimento sem ter direito à vida e à dignidade, correndo risco de morte a cada instante.

Nas reclamações dos israelitas há uma acusação contra o Senhor: “Por que nos trouxe o Senhor a este deserto? Para matar de fome toda esta gente?” (v. 3). Conforme essas palavras, não há diferença entre Deus e o faraó, pois ambos armam ciladas para destruir o povo. No entanto, na literatura judaica, o faraó e o Egito simbolizam a ausência de respeito à vida e à dignidade humana, significam opressão e escravidão. Ambos são a negação da vida e do reino de Deus.

O faraó é o contrário de Deus e de seu projeto salvífico. O povo necessita mudar de mentalidade e de atitude. O Senhor não intenta matar Israel no deserto. Na dureza da vida no deserto, o povo é cuidado por Deus como os pais cuidam de seus bebês. Os israelitas foram levados ao deserto para fazer a experiência de serem amados e cuidados por Deus, já que no Egito tinham experimentado apenas o rigor da servidão. Os israelitas conheciam apenas o faraó como senhor, agora necessitavam saber quem era Deus. Eles foram alimentados e cuidados no deserto para que tivessem uma experiência diferente: “Assim sabereis que eu sou o Senhor vosso Deus” (v. 12).

II leitura (Ef 4,17.20-24): Aquele que desceu do céu
O apóstolo faz que os efésios se recordem do que eram antes de se converterem, ou seja, da maneira como viviam e de como os gentios ao redor deles ainda procedem. Na Bíblia, a vida é frequentemente comparada a uma jornada, e por isso o apóstolo diz que os cristãos não devem caminhar como antigamente o faziam e como ainda fazem os seus conterrâneos.

Os gentios se comportam com “vaidade” de mente, afirma o texto. A palavra “vaidade” nas Escrituras significa “vacuidade” e denota um mal no âmbito da moral. Na Bíblia, comumente esse termo é aplicado aos que adoram ídolos vãos, em contraposição a quem conhece o Deus vivo e verdadeiro. Para religiões tão diferentes, os comportamentos humanos igualmente devem ser muito diferentes; os efésios precisam saber disso e mudar de atitude.

O homem vão é aquele que caminha de acordo com os próprios interesses, mas coisa muito diferente foi ensinada aos cristãos. Cristo ensinou que a religião exige abandono total no curso da vida.

Com ironia sutil o texto diz: “se é que ouvistes falar de Cristo e nele fostes instruídos” (v. 21). Quem escuta atentamente as instruções de Cristo sabe qual é o verdadeiro propósito da “religião” (relacionamento com Deus). A respeito da conduta anterior ou dos hábitos de vida, os cristãos devem deixar de lado tudo o que pertence a uma natureza egoísta.

O Filho de Deus, que desceu do céu para conviver conosco, instrui-nos sobre o que agrada a Deus; ele nos deu essa instrução com a sua própria vida. Jesus nos mostrou como vive um verdadeiro filho de Deus. E isso não é algo que esteja além dos limites humanos. Mostrou que é possível ao ser humano tirar do foco os próprios interesses e identificar a própria vontade com a vontade de Deus.

III. Pistas para reflexão

Já que estamos iniciando o mês das vocações, é bom ressaltar o seguinte:

– Há pessoas que fazem da religião uma fonte de lucro ou de privilégios pessoais, usando-a para o conforto e prosperidade pessoais.

– Os hebreus eram escravos no Egito e lá recebiam apenas pão para a própria sobrevivência. Livres no deserto, queriam continuar no mesmo esquema: Deus teria de alimentá-los. Mas Deus queria ter com eles um relacionamento que não se baseasse na troca de favores.

– O Deus de Jesus Cristo é diferente do faraó e dos deuses antigos dos efésios, ele liberta da escravidão do pecado e do egoísmo. Deus é livre, não se deixa manipular em favor de interesses egoístas. Deus cuida dos seres humanos porque ele é bom.

– Hoje cresce o número de pessoas que buscam o sagrado porque querem ter um emprego, um companheiro, cursar uma universidade etc. Não buscam a Deus, mas milagres e curas. Os santos, no entanto, buscavam a Deus por ele mesmo, e não por causa do que lucrariam com a religião. Eles entenderam a instrução de Jesus e trabalharam pelo pão que não perece e que permanece até a vida eterna (Jo 6,27).

Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje – BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com






Roteiro Homilético 4 - Liturgia: Dom Henrique
Caríssimos em Cristo, no Domingo passado, deixamos o Senhor Jesus orando a sós no monte, após ter multiplicado os pães e despedido a multidão. Está no capítulo VI de São João: do monte, Jesus atravessa o mar da Galileia, caminhando sobre as águas. Ao chegar do outro lado, lá esta o povo a sua espera… Sigamos, as palavras do Senhor nesta perícope, pois elas nos falam de vida, falam-nos do Cristo nosso Deus!

Primeiramente, Cristo censura duramente o povo: procuram-no – como tantos hoje em dia – não porque viram o sinal que ele realizou! Mas, que sinal? Fez o povo sentar-se na relva, como o Pastor do Salmo 22 faz a ovelha descansar em verdes pastagens; prepara uma mesa para o fiel, multiplicando-lhe os pães, como Moisés no deserto… Ante tudo isto, amados em Cristo, o povo ainda pensou em Jesus como sendo o Profeta que Moisés prometera (cf. Dt ); mas, infelizmente, não passou disso. Daí a repreensão do Senhor: aqueles lá o procuravam simplesmente porque comeram pão, como hoje tantos o procuram para ganhar benefícios – e, assim, são enganados pelos charlatões de plantão! A prova de que o povo não compreendeu o sinal, é que ainda vai perguntar no Evangelho de hoje: “Que sinal realizas? Que obra fazes?” Como estes, lá com Jesus, se parecem conosco, tantas vezes cegos para os sinais do Senhor na nossa vida!

Observai, irmão! Notai como os judeus não conseguem compreender que o que Jesus quer deles é a fé na sua pessoa e na sua missão! Vede como eles pensam que podem agradar ao Senhor simplesmente com um fazer exterior, sem compromisso de amor que brota do coração: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” Fazer! De nós, Jesus quer muito mais do que um simples fazer! Eis a resposta do nosso Salvador: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou!” Resposta admirável: tua obra, cristão, já não é cumprir a Lei de Moisés; também não é fazer e fazer coisas, mas crer e amar a Jesus! Daí sim, tudo decorre, e também tuas boas obras, feitas por amor a Jesus e na fé em Jesus, serão aceitas pelo Senhor!

Diante da palavra do Cristo, os judeus duros de compreender, pedem a Jesus outro sinal! Não compreenderam o que ele fizera! E ainda citam Moisés, como que dizendo: Tu nos deste pão agora; Moisés nos deu o maná por quarenta anos! Aí, o nosso Salvador faz três revelações surpreendentes e consoladoras! Ei-las:

Primeiro: Aquele maná dado por Moisés não é o pão que vem do céu. É pão terreno mesmo, dado por Deus; pão que mata a fome do corpo, mas não enche de paz o coração; pão que alimenta esta vida, mas não dá a Vida divina, a Vida que dura para sempre! Aquele maná do deserto era apenas pálida imagem de um outro maná, de um outro pão que o Pai daria mais tarde.

E aqui vem a segunda revelação, surpreendente, consoladora: agora o Pai está dando o verdadeiro maná, o verdadeiro Pão do céu, que dá a vida divina ao mundo: Moisés não deu (no passado); meu Pai vos dá (agora, no presente)! Os judeus ficam perplexos, admirados; e pedem: Dá-nos desse pão! Pão que alimenta a fome de vida, de paz, de sentido, de eternidade!

Jesus faz, então, a terceira e desconcertante revelação: “Eu sou o Pão da vida!” Pronto: o pão verdadeiro é uma Pessoa, é ele mesmo! Os pães que ele multiplicara eram imagem dele mesmo, que se nos dá, que nos alimenta, que nos enche de vida: “Eu sou o Pão da vida! O Pão que desce do céu e dá a vida ao mundo! Quem vem a mim nunca mais terá fome de vida e de sentido de existência; quem crê em mim nunca mais terá sede no seu coração!”

Eis, meus caros! Corramos para Jesus! Seja ele nosso alimento! E dele nos alimentando, sejamos nele, novas criaturas, despojando-nos do homem velho, deixando o velho modo de pensar, que conduz não à Vida, mas ao nada, como diz o Apóstolo na segunda leitura! Se nos alimentamos de Cristo, se bebemos de sua santa palavra, como poderemos pensar como o mundo, agir como o mundo, viver como o mundo? Como ainda poderíamos consentir nas velhas paixões que nos escravizam?

Que alimentando-nos de Jesus, Pão bendito de nossa vida, nós atravessemos o deserto desta vida não como o povo de Israel, que murmurou e descreu, mas como verdadeiros cristãos, renovados pelo Senhor, despojados da velhice do pecado e saciados de vida eterna, vida que é o Cristo nosso Deus, bendito pelos séculos dos séculos. Amém.





Roteiro Homilético 5 - Liturgia: Dom Total

A VONTADE DE DEUS E O “PÃO DA VIDA” 
1ª`Leitura: (Ex 16,2-4.12-15) Deus sacia o povo com o maná, no deserto – O caminho de Israel pelo deserto é ambíguo. O povo é duro de cerviz e de coração, murmura contra o Senhor. No entanto, Deus é generoso e atende à reclamação do povo com “o pão que desce do céu”, como diz poeticamente o Sl 78[77] (salmo responsorial). Na realidade, o maná é um produto natural (resina de tamareira), mas, no contexto do Êxodo, era um sinal da incansável providência de Deus. * 16,2-4 cf. Ex 5,20-21; 14,11-12; 15,24; 17,2-3; Nm 11,4-9; Dt 8,3.16 * 16,15 cf. Sl 147,15-17[146,4-6]; Eclo 43,21[19].

2ª leitura: (Ef 4,17.20-24) Revestir-se com Jesus Cristo, o homem novo – Cristo é o homem novo; nele se plenifica a palavra de Gn 1,27: o homem é criado à imagem de Deus (Ef 4,24). Devemos despir-nos do homem velho, inautêntico, e revestir-nos com o novo, que vive para sempre a verdade e a santidade. * 4,17 cf. Rm 1,21 * 4,22-24 cf. Cl 2,6-7; 3,9-10; Gl 6,8; Ef 2,15; Fl 3,27; Rm 13,14.

Evangelho: (Jo 6,23-35) “Eu sou o pão da vida” – A pedagogia de Jesus, em Jo, é partir de uma realidade terrestre ambígua, para revelar-se a si mesmo como o dom de Deus, assinalado por esta realidade para quem quiser acreditar. A multidão viu no milagre do pão só fartura material, em vez de um “sinal” (6,26). Jesus chama a atenção para o alimento espiritual, que não perece (cf. a água que apaga a sede para sempre, Jo 4,14). O acesso a esse alimento é a fé no Enviado de Deus (6,29). – Os judeus pedem um sinal, como o de Moisés, que fez descer pão do céu. Resposta de Jesus: Moisés não deu o pão do céu. O pão do céu é o que desce do Pai e dá vida ao mundo. Os judeus, ainda pensando em termos materiais, pedem este pão que dispensa de trabalhar (6,34). Então, Jesus revela-se como o dom que vem de Deus para dar vida ao mundo. O cristão o reconhece como tal, pela fé. * 6,27 cf. Ex 15,20-21; Is 55,2-3; Mt 8,10; Jo 1,32-34 * 6,30-31 cf. Mt 12,38-39; 16,1-4; Sl 78[77],23-34; Sb 16,20-22; 1Cor 10,3-4 * 6,35 cf. Pr 9,5-6; Eclo 24,26-30[19-22]; Jo 4,10.14.

***   ***   ***

A liturgia do hoje é estruturada pela oposição tipológica entre o maná, o “pão do céu” do Antigo Testamento (tipo), e Jesus, o verdadeiro “pão do céu” do Novo Testamento (antítipo), explicitação daquilo que significa o “sinal do pão” (cf. domingo passado). Como o maná do Antigo Testamento, também o pão multiplicado era apenas material, e quem o procura por seu valor material está perdendo o mais importante: neste ponto começa o evangelho de hoje.

Depois da multiplicação dos pães, vendo que o povo o entendera mal (6,14-15) Jesus se tinha retirado para a montanha, sozinho, enquanto os discípulos atravessaram o lago. O povo tinha observado isso. Procuraram então Jesus perto do lugar onde tinha realizado o milagre, mas, não o encontrando, voltaram a Cafarnaum, em outros barcos (6,22-24). E aí encontraram Jesus (que tinha atravessado o lago andando sobre as ondas). Admiram sua presença, mas com a mesma superficialidade que os levou a ver no sinal do pão não um sinal, mas apenas a satisfação de sua fome: é o que Jesus lhes repreende (6,26).

Inicia então um diálogo, em que o pessoal de Cafarnaum aparece como preocupado com a Lei, mas obtuso quanto à realidade de Deus. Perguntam o que devem fazer. Jesus lhes diz que a obra do Pai é que acreditem no Filho (Jo 6,28)! Então, pedem um sinal como o de Moisés (o maná). Jesus responde que o sinal não era de Moisés (relativização do sistema mosaico, do qual eles são os árduos defensores contra os cristãos, expulsos da sinagoga), mas de Deus. Este mesmo Deus dá agora mais do que um sinal; oferece a plenitude de sua obra: seu enviado, Jesus Cristo, que faz o homem viver verdadeiramente, por sua palavra.

A 1ª leitura lembra o que é o maná: 1) um pão material e perecível (leia Ex 16,19-30, as regras de recolhimento diário e conservação do maná); 2) uma coisa dada por intermédio de Moisés (conforme Jo 6,32, os judeus parecem ter esquecido que Moisés fora apenas o intermediário); 3) algo que não se sabe o que é, pois o nome que lhe deram, “maná”, significa “Que é isso?” A isso, o evangelho opõe o pão do Novo Testamento: 1) uma comida que não perece, mas que permanece para a vida eterna (6,27); 2) uma obra de Deus mesmo (6,32); 3) uma realidade bem determinada: é Jesus em pessoa, acolhido na fé (6,35).

Esse contraste é acentuado pelo salmo responsorial, que evoca a maravilha do pão que Deus “fez chover do céu” (o texto que os judeus citam para Jesus: Jo 6,31 = Sl 78[77],24), enquanto a aclamação ao evangelho opõe a isso a realidade que se manifesta no Novo Testamento; não só de pão é que se vive, mas, antes de tudo, da “palavra” que vem da boca do Altíssimo.

Entre os dois painéis dessa tipologia antitética, fica prensada a 2ª leitura. Fala também da oposição entre o antigo e o novo. O antigo, aí, não é tanto o sistema da Lei judaica, mas o paganismo, do qual provém boa parte dos cristãos de Éfeso. Os pagãos não procuravam “obras de Deus” ultrapassadas, como os judeus. Simplesmente eram dirigidos por concupiscências. Seja como for, tanto o judeu apegado ao sistema mosaico quanto o pagão envolvido com ídolos falsos (e esse pagão vive no meio de nós) devem abrir o ouvido para Cristo, a palavra da verdade que vem de Deus.

A audiência dada a Cristo é que faz viver verdadeiramente: esta é a mensagem central de hoje. Por isso, Jesus é chamado “o Pão da Vida”. Concretamente, temos em nós o judeu de Cafarnaum e o pagão de Éfeso; o homem que quer ficar em dia com Deus mediante determinadas práticas religiosas e o ateu prático, que decide na vida tudo conforme seu proveito imediato. Nem uma nem outra coisa serve para realizar o sentido eterno de nossa vida. Não devemos querer ter a última palavra, mas entregar-nos àquele que traz o selo de garantia de Deus (Jo 6,27). Arriscar o caminho da vida que ele nos mostra em sua própria pessoa. Pois ele não apenas ensina, ele é palavra, fala por sua maneira de ser. Jesus não ensina “coisas”, mas se apresenta a nós, e na medida em que temos comunhão com ele, nos imbuindo de seu modo de ser, de seu espírito, vivemos realmente. Isso se manifestará na doação sem restrição, da qual ele nos deu o exemplo. A vida verdadeira, que não perece, é a vida dada como ele a deu.

AS COISAS QUE PASSAM E AS QUE NÃO PASSAM

O evangelho de hoje é o início do “sermão do Pão da Vida”, com o qual o evangelista João dá continuidade ao “sinal” da multiplicação dos pães narrado domingo passado. Nos próximos domingos, o tema continua.

Depois da multiplicação dos pães, Jesus volta a Cafarnaum (Jo 6,24). Os conterrâneos querem saber como de repente ele está de volta, se não embarcou com os discípulos na noite anterior. Jesus lhes faz sentir que, apesar de terem presenciado o milagre do pão, não enxergaram aí um sinal daquilo que ele significa: a realidade de Deus oferecida ao mundo. Apenas se saciaram de pão. Não entenderam que a refeição era um sinal. Eram como um motorista que pensa que sinal vermelho é apenas enfeite...

Os judeus de Cafarnaum então perguntam que esforço Deus espera deles – pois querem se esforçar para que Deus se veja obrigado a dar-lhes a salvação! Mas Jesus diz que o esforço que Deus espera deles é que acreditem naquele que ele enviou (6,29).

Percebem que Jesus está falando de si mesmo. Para acreditarem nele querem ver suas credenciais. No tempo de Moisés, seus antepassados comeram o maná, no deserto, como está escrito: “Deu-lhes pão do céu a comer” (6,31; cf. Sl 78[77],24). Responde Jesus que não foi Moisés quem deu o pão do céu, no passado, mas que agora o Pai está dando o verdadeiro pão do céu: aquele que desce do céu e que dá vida ao mundo. Ininteligentes como o motorista que pensa que sinal vermelho é enfeite, ficam raciocinando no trilho do pão material, pensando no problema do sustento: “Dá-nos sempre esse pão”. Então Jesus diz abertamente o que significam a sua palavra ambígua e o sinal que ele realizou no dia anterior: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim não terá mais sede” (6,35).

Percebem que Jesus está falando de si mesmo. Para acreditarem nele querem ver suas credenciais. No tempo de Moisés, seus antepassados comeram o maná, no deserto, como está escrito: “Deu-lhes pão do céu a comer” (6,31; cf. Sl 78[77],24). Responde Jesus que não foi Moisés quem deu o pão do céu, no passado, mas que agora o Pai está dando o verdadeiro pão do céu: aquele que desce do céu e que dá vida ao mundo. Ininteligentes como o motorista que pensa que sinal vermelho é enfeite, ficam raciocinando no trilho do pão material, pensando no problema do sustento: “Dá-nos sempre esse pão”. Então Jesus diz abertamente o que significam a sua palavra ambígua e o sinal que ele realizou no dia anterior: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim não terá mais sede” (6,35).

Percebem que Jesus está falando de si mesmo. Para acreditarem nele querem ver suas credenciais. No tempo de Moisés, seus antepassados comeram o maná, no deserto, como está escrito: “Deu-lhes pão do céu a comer” (6,31; cf. Sl 78[77],24). Responde Jesus que não foi Moisés quem deu o pão do céu, no passado, mas que agora o Pai está dando o verdadeiro pão do céu: aquele que desce do céu e que dá vida ao mundo. Ininteligentes como o motorista que pensa que sinal vermelho é enfeite, ficam raciocinando no trilho do pão material, pensando no problema do sustento: “Dá-nos sempre esse pão”. Então Jesus diz abertamente o que significam a sua palavra ambígua e o sinal que ele realizou no dia anterior: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim não terá mais sede” (6,35).

Percebem que Jesus está falando de si mesmo. Para acreditarem nele querem ver suas credenciais. No tempo de Moisés, seus antepassados comeram o maná, no deserto, como está escrito: “Deu-lhes pão do céu a comer” (6,31; cf. Sl 78[77],24). Responde Jesus que não foi Moisés quem deu o pão do céu, no passado, mas que agora o Pai está dando o verdadeiro pão do céu: aquele que desce do céu e que dá vida ao mundo. Ininteligentes como o motorista que pensa que sinal vermelho é enfeite, ficam raciocinando no trilho do pão material, pensando no problema do sustento: “Dá-nos sempre esse pão”. Então Jesus diz abertamente o que significam a sua palavra ambígua e o sinal que ele realizou no dia anterior: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim não terá mais sede” (6,35).

Quem conhece as Escrituras reconhece nestas palavras a proclamação registrada em Isaías, no tempo do exílio babilônico. Em meio à idolatria da Babilônia, o profeta orienta o coração dos exilados para o único Senhor, muito mais valioso que o sistema babilônico com seus deuses e ilusões. O que se consegue com os babilônios não vale nada, é mero engodo comercial, pão que não alimenta! Mas quem escuta a voz do Senhor recebe a sabedoria da vida, a Aliança duradoura com Deus, o cumprimento de suas promessas (Is 55,1-3). Assim, quem se alimenta com a palavra de Jesus recebe o “pão da vida”, quem se dirige a ele sofre nem fome nem sede.

Mas não interpretemos isso com falso materialismo, dizendo que as coisas materiais passam e as espirituais, permanecem. Depende do que se entende por esses termos! Se “espiritual” significa apenas erudição e brilho intelectual ou divagação etérea em doutrinas sublimes, então isso é o que passa! E se “material” significa dedicar-se ao pão dos pobres, isto é o que permanece! Pois é a vontade do Pai.

Mas não interpretemos isso com falso materialismo, dizendo que as coisas materiais passam e as espirituais, permanecem. Depende do que se entende por esses termos! Se “espiritual” significa apenas erudição e brilho intelectual ou divagação etérea em doutrinas sublimes, então isso é o que passa! E se “material” significa dedicar-se ao pão dos pobres, isto é o que permanece! Pois é a vontade do Pai.

(O Roteiro Homilético é elaborado pelo Pe. Johan Konings SJ – Teólogo, doutor em exegese bíblica, Professor da FAJE. Autor do livro "Liturgia Dominical", Vozes, Petrópolis, 2003. Entre outras obras, coordenou a tradução da "Bíblia Ecumênica" – TEB e a tradução da "Bíblia Sagrada" – CNBB. Konings é Colunista do Dom Total. A produção do Roteiro Homilético é de responsabilidade direta do Pe. Jaldemir Vitório SJ, Reitor e Professor da FAJE.)





Roteiro Homilético 6 - Liturgia: Pe. Françoá Costa

Presença

Que coisa desnorteadora quando sentimos a presença da ausência de alguém que queremos bem. Jesus Cristo quis poupar-nos desse sentimento tendo em conta o cumprimento da sua missão e as nossas reais necessidades e capacidades. Um cristão já não precisa fazer a pergunta que nós escutamos no Evangelho da Missa: “Mestre, quando chegaste aqui?” (Jo 6,25). Ao contraio, avisará a todos, como o fez Maria à sua irmã Marta: “O Mestre está aí e te chama” (Jo 11,28).

Vi certa vez um filme, um desenho animado, no qual se perguntava a uma criança: “Qual é a diferença entre o Crucifixo e a Eucaristia?” A criança respondeu então com muita sabedoria: “No Crucifixo parece que Jesus está, mas não está; na Eucaristia parece que ele não está, mas está”.

Parece que não está, mas está! A Igreja sempre acreditou que após as palavras da consagração n a Missa, toda a realidade do pão se muda, se converte no Corpo de Jesus Cristo; toda a realidade do vinho se transforma no sangue do Senhor Jesus. Esta verdade de fé é conhecida pelos católicos como transubstanciação. Neste sentido vale a pena trazer a colação as vigorosas palavras do Papa Paulo VI no texto do “Credo do Povo de Deus”, de 1968. Copio ao leitor as palavras do Papa que se referem à Missa e à transubstanciação (n. 24-25):

“Cremos que a Missa, celebrada pelo sacerdote, que representa a pessoa de Cristo, em virtude do poder recebido no sacramento da Ordem, e oferecida por ele em nome de Cristo e dos membros do seu Corpo Místico, é realmente o Sacrifício do Calvário, que se torna sacramentalmente presente em nossos altares. Cremos que, como o Pão e o Vinho consagrados pelo Senhor, na última ceia, se converteram no seu Corpo e Sangue, que logo iam ser oferecidos por nós na Cruz; assim também o Pão e o Vinho consagrados pelo sacerdote se convertem no Corpo e Sangue de Cristo que assiste gloriosamente no céu. Cremos ainda que a misteriosa presença do Senhor, debaixo daquelas espécies que continuam aparecendo aos nossos sentidos do mesmo modo que antes, é uma presença verdadeira, real e substancial(cf. Concílio de Trento, Sessão 13, Decreto sobre a Eucaristia).

“Neste sacramento, pois, Cristo não pode estar presente de outra maneira a não ser pela mudança de toda a substância do pão no seu Corpo, e pela mudança de toda a substância do vinho no seu Sangue, permanecendo apenas inalteradas as propriedades do pão e do vinho, que percebemos com os nossos sentidos. Esta mudança misteriosa é chamada pela Igreja com toda a exatidão e conveniência transubstanciação. Assim, qualquer interpretação de teólogos, buscando alguma inteligência deste mistério, para que concorde com a fé católica, deve colocar bem a salvo que na própria natureza das coisas, isto é, independentemente do nosso espírito, o pão e o vinho deixaram de existir depois da consagração, de sorte que o Corpo adorável e o Sangue do Senhor Jesus estão na verdade diante de nós, debaixo das espécies sacramentais do pão e do vinho(cf. ibid.; Paulo VI, Encíclica Mysterium Fidei), conforme o mesmo Senhor quis, para se dar a nós em alimento e para nos associar pela unidade do seu Corpo Místico(cf. Suma Teológica III, q. 73, a. 3)”.

Trata-se da voz autorizada de um Papa no encerramento do Ano da Fé de 1968. Bento XVI convocou a Igreja para um Ano da Fé a começar em outubro de 2012. Sem dúvida, será essa uma maravilhosa ocasião para que o Senhor renove a nossa fé e para que nós reafirmemos a nossa entrega a Deus, a nossa adesão a ele e a todas as verdades que ele revelou a nós. No dia de hoje, graças sejam dadas a Deus pela nossa fé no Santíssimo Sacramento da Eucaristia, vida da Igreja!

Pe. Françoá Costa





Roteiro Homilético 7 - Liturgia: Mons. José Maria Pereira

Pão da Vida Eterna

No Evangelho (Jo 6,24-35), depois do milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, Jesus se apresenta como o “Pão da Vida”.

Entusiasmado com o milagre, o povo procura Jesus. Vê-se que o povo não entendeu o sentido daquele gesto. Quando viram que não conseguiam encontrar nem a Jesus nem aos seus discípulos, subiram às barcas e foram a Cafarnaum.

Quando o encontraram novamente, Jesus disse-lhes: “Em verdade, em verdade, Eu vos digo: estais Me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos”(Jo 6,26). Comenta Santo Agostinho: “Buscais-me por motivos da carne, não do espírito. Quantos há que procuram Jesus, guiados unicamente pelos seus interesses materiais! Só se pode procurar Jesus por Jesus”.

Com uma valentia admirável, com um amor sem limites, Jesus expõe o dom inefável da Sagrada Eucaristia, em que se dá como alimento. Pouco importa que, ao terminar a revelação, muitos dos que o seguiram com fervor acabem por abandoná-Lo. O Senhor não recua: “Trabalhai não pelo alimento que perece, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará… Mas eles perguntaram: Que devemos fazer para realizar as obras de Deus? Jesus respondeu-lhes: A obra de Deus é que acrediteis naquele que Ele enviou” (Jo 6,27-29).

E, apesar de que muitos dos presentes tinham visto com os seus próprios olhos o prodígio do dia anterior, disseram-Lhe: “Que milagre fazes Tu, para que possamos ver e crer em Ti? Nossos pais comeram o Maná no deserto, como está na Escritura: Deu-Lhes a comer o Pão do Céu” (Jo 6, 30-31).

Jesus Cristo é o verdadeiro alimento que nos transforma e nos dá forças para realizarmos a nossa vocação cristã. Exorta vivamente o Beato João Paulo II: “Só mediante a Eucaristia é possível viver as virtudes heroicas do cristianismo: a caridade até o perdão dos inimigos, até o amor pelos que nos fazem sofrer, até a doação da própria vida pelo próximo; a castidade em qualquer idade e situação de vida; a paciência, especialmente na dor e quando estranhamos o silêncio de Deus nos dramas da história ou da nossa existência. Por isso, sede sempre almas eucarísticas para poderdes ser cristãos autênticos”.

A igreja vive da Eucaristia. O concílio Vaticano II afirmou que o sacrifício eucarístico é “fonte e centro de toda a vida cristã” (LG, 11). Com efeito, “na Santíssima Eucaristia, está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o Pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo” (PO, 5).

A Igreja vive de Jesus Eucarístico, por Ele é nutrida, por Ele é iluminada. A Eucaristia é mistério de fé e, ao mesmo tempo, mistério de luz. Sempre que a Igreja a celebra, os fiéis podem de certo modo reviver a experiência dos dois discípulos de Emaús: “Abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-no” (Lc 24,31).

Referindo-se à Eucaristia, ensinava São Josemaría Escrivá: “O maior louco que já houve e haverá é Ele (Jesus). É possível maior loucura do que entregar-se como Ele se entrega, e àqueles a quem se entrega?

Porque, na verdade, já teria sido loucura ficar como um Menino indefeso; mas, nesse caso até mesmo muitos malvados se enterneceriam, sem atrever-se a maltratá-Lo. Achou que era pouco: Quis aniquilar-se mais e dar-se mais. E fez-se comida, fez-se Pão.

Divino Louco! Como é que te tratam os homens?… E eu mesmo?” (Forja, 824).

Da Eucaristia brotam todas as graças e todos os frutos de vida eterna – para cada alma e para a humanidade – porque neste sacramento “está contido todo o bem espiritual da Igreja” (PO, 5).

Quando nos aproximamos da mesa da Comunhão, podemos dizer: “Senhor, espero em Ti; adoro-Te, amo-Te, aumenta-me a fé. Sê o apoio da minha debilidade, Tu, que ficaste na Eucaristia, inerme, para remediar a fraqueza das criaturas” (Forja, 832).

Façamos nosso (no bom sentido) o pedido do povo citado no Evangelho: “Senhor, dá-nos sempre desse pão” (Jo 6, 34).

O primeiro domingo de agosto é dedicado à vocação Sacerdotal.

Rezemos pelos padres! Rezemos ao Senhor para que continue enviando sacerdotes para a Igreja. Que Ele continue abençoando e plenificando a vida de todos os sacerdotes.


Mons. José Maria Pereira