"Vocês
ouviram o que foi dito: 'Olho por olho e dente por dente!' Eu, porém, lhes
digo: não se vinguem de quem fez o mal a vocês. Pelo contrário: se alguém lhe
dá um tapa na face direita, ofereça também a esquerda! Se alguém faz um
processo para tomar de você a túnica, deixe também o manto! Se alguém obriga
você a andar um quilômetro, caminhe dois quilômetros com ele! Dê a quem lhe
pedir, e não vire as costas a quem lhe pedir emprestado."
"Vocês
ouviram o que foi dito: 'Ame o seu próximo, e odeie o seu inimigo!' Eu, porém,
lhes digo: amem os seus inimigos, e rezem por aqueles que perseguem vocês!
Assim vocês se tornarão filhos do Pai que está no céu, porque ele faz o sol
nascer sobre maus e bons, e a chuva cair sobre justos e injustos. Pois, se
vocês amam somente aqueles que os amam, que recompensa vocês terão? Os
cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? E se vocês cumprimentam somente
seus irmãos, o que é que vocês fazem de extraordinário? Os pagãos não fazem a
mesma coisa? Portanto, sejam perfeitos como é perfeito o Pai de vocês que está
no céu" (Mt 5,38-48).
O comentário é
de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Amor sem
fronteiras
Continuamos
meditando sobre o Sermão da Montanha. Hoje Jesus nos fala sobre o modo de
proceder com o próximo. Nos domingos anteriores meditamos sobre sua proposta a
respeito de diversas situações: a ofensa, o adultério, o divórcio, os
juramentos, e hoje o Evangelho nos introduz num novo comportamento a respeito
da vingança.
O texto
inicia-se com uma frase que é um resumo da proposta da Nova Lei do Reino
anunciada por Jesus: “Eu, porém, lhes digo: não se vinguem de quem fez o mal a
vocês”.
Podemos pensar
qual é geralmente nosso modo de proceder quando uma pessoa ou um grupo nos faz
mal? Qual é nossa reação no imediato, e até considerada justa segundo os
critérios que nos rodeiam, e que geralmente fazem parte da nossa forma de agir?
Se recebermos
uma agressão, pessoal ou grupal, como é nosso proceder?
Diante do
ódio, do rancor ou da raiva que podemos sentir, Jesus está nos convidando a um
novo modo de proceder.
Não alimentar
vingança, não manter o rancor e responder às ofensas recebidas de uma forma
totalmente diferente de uma justiça aparentemente “justa”.
A justiça do
Reino é nova e até impensável se o Espírito Santo não alimenta nossas vidas e
nossas comunidades. Somos convidados a atuar com generosidade e gratuidade.
O Evangelho
abre a perspectiva do relacionamento humano para além das fronteiras que se
costumam construir.
Como afirma
Ellian Cuvillier: O Sermão da Montanha “ressoa como um convite a viver neste
mundo sob a luz da Boa Nova de Jesus Cristo que é confiança e gratuidade:
confiança em um Deus que vem ao meu encontro e que, em troca desta confiança,
não me pede mais nada. Pois, o que o SM nos ensina é que o Evangelho não é uma
moral (tu deves fazer isto ou aquilo para obter isto ou aquilo — lógica da
troca e da retribuição), mas a proclamação de uma Palavra que vem abrir para
uma nova compreensão de Deus, de nós mesmos e dos outros”. (Disponível na
entrevista realizada pelo IHU: O Sermão da Montanha: um convite à gratuidade e
à confiança )
Jesus nos diz:
“amem os seus inimigos, e rezem por aqueles que perseguem vocês!” Assim “nos
tornaremos filhos do Pai que está nos céus”.
O Pai é nosso
modelo e exemplo a seguir, a quem somos convidados a imitar e dessa forma
tornar-nos seus filhos e filhas.
Jesus assinala
uma característica do Pai: “quem faz o sol nascer sobre maus e bons, a chuva
cair sobre justos e injustos”. Destaca, assim, a generosidade do Pai. Ele doa
seus bens a toda pessoa além da sua condição, seja uma pessoa boa ou má, justa
ou injusta. Não faz distinção entre as pessoas. Na hora da sua benignidade, que
é contínua, não há limites; sua compaixão é infinita.
Seu coração é
uma contínua manifestação da bondade, de quem aguarda o filho que saiu da sua
casa, como narra a parábola do Evangelho de Lucas (Lc 15).
Ser filhos do
Pai convida-nos a atuar sem rancor e sem vingança, a ter os sentidos abertos às
diferentes realidades que nos rodeiam sem colocar limites nem fronteiras de
nenhum tipo.
Continuamente
escutamos as tristes situações de tantas e tantas pessoas que vivem sem poder
atravessar as fronteiras e os limites que são colocados ao seu redor. Situações
que procuram fechar os olhos e ouvidos a um estilo de vida egocêntrico e
individualista, oferecido continuamente com diferentes caras.
No seu caminho
de seguimento, Jesus propõe que nosso amor ao próximo não seja originado pelas
nossas classificações de pessoas, aquilo que ele é ou possui. Nossa
fraternidade e estima não pode ser desvirtuada pela categorização ou
agrupamento de pessoas. Somos chamados a ter um amor sem limites, que inclua todos
e todas por igual.
O modelo para
a vida cristã e as suas atitudes não é apresentado na sociedade vigente. Ser
cristão não é simplesmente ser como qualquer um, mas é ter outros valores e
outra visão. O fundamento desse modo de agir é o amor do Pai e a vida de Jesus.
"Amem os
seus inimigos, façam bem aos que lhes odeiam, abençoem aqueles que lhes
amaldiçoam, rezem pelos que lhes caluniam”. O Papa Francisco reflexiona sobre
este texto: “E estas não são ações que surgem espontaneamente”. Diante dos
adversários e dos inimigos, de fato, “a nossa atitude primeira e instintiva é
desqualificá-los, desacreditá-los, amaldiçoá-los; em muitos casos, procuramos
‘demonizá-los’ a fim de ter uma justificação ‘santa’ para nos livrarmos deles”.
E continua: “O
inimigo é alguém que devo amar. No coração de Deus não há inimigos, Deus tem
filhos. Nós erguemos muros, construímos barreiras e classificamos as pessoas.
Deus tem filhos, e não foi para se livrar deles que os quis”. “Nosso Pai –
explica o Bispo de Roma – não espera pelo momento em que formos bons para amar
o mundo; não espera pelo momento em que formos menos injustos, ou mesmo
perfeitos, para nos amar; ama-nos porque escolheu nos amar, ama-nos porque nos
deu o estatuto de filhos."(Francisco: “O vírus da polarização e da
inimizade está entre nós”)
Jesus se
posiciona contrariamente à prática das leis que não dignificam a pessoa, que a
separam em guetos dos justos e os injustos.
Somos nós que
classificamos as pessoas, que julgamos segundo nossos olhares egoístas e muitas
vezes insensíveis. Toda pessoa é amada por Deus.
O
relacionamento que propõe o Evangelho implica as duas partes. Como disse
Francisco na entrevista concedida ao jornal La Stampa: "Nunca tenham medo
da ternura". "Deus sempre abre as portas, nunca as fecha. Ele é o pai
que abre as portas. Quando os cristãos se esquecem da esperança e da ternura,
tornam-se uma Igreja fria, que não sabe para onde ir e se refreia nas
ideologias, nas atitudes mundanas. Enquanto a simplicidade de Deus te diz:
segue em frente, eu sou um Pai que te acaricia".
No final o
texto lido hoje especifica que é preciso “ser perfeitos como é perfeito o Pai
que está nos céu”. Ele é nosso modelo a seguir!
Como observa o
Papa Francisco “O amor incondicional do Pai para com todos foi, e é, uma verdadeira
exigência de conversão para o nosso pobre coração, que tende a julgar, dividir,
contrapor e condenar. Saber que Deus continua a amar mesmo quem o rejeita, é
uma fonte ilimitada de confiança e estímulo para a missão”.
Nesta semana
somos convidados a nos colocarmos diante do amor de Deus, que é um amor
inclusivo e nos faz partícipes desse amor.
Existimos
desde o Ilimitado
Nos impomos
limites e nos apequenamos,
mas vivemos em
comunhão com o Ilimitado.
Duvidamos de
nós e nos desvalorizamos,
mas vamos sob
o olhar da Bondade.
Nos dividimos
e nos enfrentamos,
mas todos
recebemos a vida desde A Unidade.
Nos
classificamos em perfeitos e deformados,
mas todos
somos habitados pela Beleza.
Tememos nossa
obscuridade e nos escondemos,
mas somos
iluminados pela Verdade.
Quem pode pôr
limites
ao amor de
Deus por nós?
Quem pode
por-nos limites
se somente
podemos ser no amor de Deus?
Benjamin
González Buelta