11º Domingo Comum – Ano B

Roteiro Homilético cnbbleste2.org.br
11º Domingo Comum – Ano B
Por Dom Emanuel Messias de Oliveira

1ª LEITURA – Ez 17,22-24
A primeira deportação para a Babilônia aconteceu no ano 597 a.C e o profeta Ezequiel acompanhou a elite deportada. A segunda e mais conhecida aconteceu 10 anos depois, ou seja, no ano 587 a.C. com a total destruição de Jerusalém. O profeta quer animar o povo e alimentar a esperança de todos; para isso anuncia a volta, a restauração da cidade, do culto e da realeza. As imagens são agrícolas. O galho da copa do cedro é a dignidade real que será restaurada por Javé. Esse galho será replantado sobre um monte alto e elevado de Israel. É o monte Sião, onde está Jerusalém. Assim as promessas, feitas a Davi de sempre ter um descendente seu no trono de Israel, não serão interrompidas. Este galho crescerá e tornará um cedro majestoso, cheio de folhagens e frutos. Ali, todos os pássaros (todas as nações) farão seus ninhos. Todos haverão de reconhecer a soberania de Javé capaz de mudar a sorte dos exilados. Aqui, as árvores do campo também simbolizam as nações. Pois bem, Javé é capaz de podar a árvore alta (o Império Babilônico que havia destruído Jerusalém e exilado o povo) e de elevar a árvore baixa ( tirar o seu povo do exílio e trazê-lo de volta para a sua pátria). Ele é capaz de secar a árvore verde (o orgulho das nações poderosas). Javé é capaz até mesmo de fazer brotar a árvore seca, ou seja, ele é o Deus da vida e todas as nações tomarão consciência disso. O profeta com estas imagens mantém acesas as esperanças do povo.

        

2ª LEITURA -2Cor 5,6-10
A 2Cor é praticamente uma defesa que Paulo faz do seu ministério apostólico diante daqueles que o combatem ou não o entendem. No trecho de hoje, Paulo coloca o dilema: permanecer no corpo ou sair do corpo? Em outras palavras viver ou morrer? O problema era que, para alguns cristãos, os sofrimentos e tribulações, que Paulo padecia no corpo por causa do evangelho, não tinham valor algum. Para estes cristãos o que vale é o espírito; o corpo, portanto, poderia ser destinado ao prazer.

As respostas de Paulo:

a)  Com relação ao Dilema
Paulo prefere mil vezes morrer para ir logo ao encontro do Senhor ( Fl 1,23). Os santos não tem apego a este mundo. Eles sabem que o mundo é passageiro e aqui tudo é relativo. A vida verdadeira e definitiva, o verdadeiro prazer de viver se encontram junto de Cristo no céu. Aqui, a gente vive como num exílio, longe do Senhor, aqui, a gente caminha pela fé, não pela visão. No céu não haverá fé nem esperança. Estaremos de posse de tudo que esperamos. No lugar de crer nós veremos Deus face a face. Mas, enquanto estivermos aqui, morando no corpo, temos que ter muita confiança, muita fé e fazer muito esforço de agradar ao Senhor.

b) Com relação ao corpo
Paulo mostra sua importância. É através do corpo que damos nossas respostas de fé. Para estarmos amanhã com Cristo é preciso, no hoje da história, enquanto estamos no corpo, o domínio das paixões, o sacrifício de tudo que não edifica o corpo de Cristo, que é a Igreja. É preciso dedicar-se às boas obras e evitar o mal, é preciso trabalhar para o crescimento do Reino. Paulo termina dizendo que, quando morrermos, Cristo nos julgará. A recompensa de uma vida eterna com ele vai depender do que tivermos feito de bom ou de mal, enquanto estávamos no corpo.



EVANGELHO – Mc 4,26-34
As parábolas querem ajudar a superar a crise diante dos adversários de Jesus e de seus seguidores. O sucesso de Jesus começa a ser questionado; então, Jesus esclarece nas parábolas. Aqui o Reino é apresentado em 2 parábolas.

1ª - A semente que cresce sozinha.
É uma resposta ao nosso desânimo e um incentivo na nossa caminhada evangelizadora como discípulos missionários. No tempo de Jesus, os agricultores depois da semeadura só retornavam para a colheita. A semente por si mesma crescia e dava frutos. Quer dizer, ela traz dentro de si todo o seu potencial para crescer e dar frutos. A semente é a Palavra de Deus, ou o Reino implantado pela Palavra. Então o que é importante? Importante é semear sem desanimar, sem também atrapalhar com “muitos ingredientes”. O crescimento é lento,  mas contínuo. Depois é só colher. Como a colheita é imagem do julgamento e isso compete ao Pai, nossa missão é só semear com confiança, paciência e esperança.

2ª - É uma parábola de contraste: o grão de mostarda.
Ela é a menor de todas as sementes e a maior de todas as hortaliças. Na Palestina, há mostardeiras que cresciam mais ou menos a altura de um poste de cimento. Os pássaros (as nações) podem abrigar-se à sombra de seus ramos. É uma bela imagem do Reino de Deus, que é insignificante no início (começa com Jesus e 12 apóstolos), e, depois, vai crescendo e acolhendo povos e nações.

O significado das parábolas
Às vezes aparecem como se fossem um enigma (4,11-12), mas normalmente é uma forma clara de entender. No fundo diante da parábola é preciso tomar uma posição. E era só para aqueles que queriam entrar na dinâmica do Reino que Jesus dava maiores explicações.





Roteiro Homilético 1 - Liturgia: Mensagem franciscanos.org

O Reino de Deus em parábolas
O evangelho de hoje completa o “Sermão das Parábolas”, lido, no texto de Mt, nos 15°, 16° e 17° domingos do ano A. Acrescenta as parábolas da semente que cresce por si (própria de Mc) e do grão de mostarda (cf. Mt e Lc). Em Mt, as parábolas formam uma espécie de catequese (Mt 13,51-52). Em Mc, integram a revelação velada do Filho do Homem (4,10-12 e 33-34). Quando Jesus fala em parábolas e o povo não entende, realiza-se plenamente o que já foi a missão de Isaías: falar a um povo sem compreensão (Is 6,9-10). Aos discípulos, porém, ensina em particular, iniciando-os no “mistério do Reino” (4,11; cf. 4,34). Este esquema de Mc se explica a partir de seu contexto histórico: pelos meados do século I d.C., a grande maioria do povo ainda não se convertera, mas uns poucos “iniciados” continuam a pregação do evangelho de Jesus, aqueles que, depois da Ressurreição, entenderam o “segredo messiânico”: que Jesus foi o Filho do Homem padecente (cf. 24° dom.).
Jesus não pronunciou as parábolas para não ser entendido. Mc 4,33 aponta que Jesus procurou compreensão na medida em que o povo fosse capaz. O falar em parábolas é um meio didático que caracteriza Jesus de Nazaré. A parábola é linguagem figurativa, apresenta por uma imagem a realidade visada. Jesus mostra aos ouvintes o que acontece no seu dia-a-dia (na vida comercial, social, agreste etc.), para que eles conscientizem de que, de modo semelhante, está acontecendo o Reino no meio dele “É como quando um homem lança a semente no campo … ” (4,26). Pode-se considerar a parábola como um enigma apresentado de tal modo que a resposta logo aparece. Nós diríamos: “Qual é a semelhança entre o Reino de Deus e uma semente? É que ambos crescem por si mesmos, pois não se precisa puxar o caule para que o trigo cresça”.
Jesus procura entrar em diálogo com a convicção íntima do homem. Para implantar no coração dos ouvintes uma sementinha de sua experiência de Deus, ele apela para a experiência deles, embora num outro terreno. No caso: para fazer com que os ouvintes se desliguem de sua ideologia de um Reino de Deus vindo ostensivamente com as forças celestes e implantando um “império davídico” para Israel, mediante o zelo dos “zelotes” ou dos cumpridores da Lei (fariseus), Jesus apela para uma experiência da vida campestre: a semente cresce sem intervenção humana. Aí, coloca uma pulga atrás da orelha dos ouvintes. Eles ficam refletindo e, aos poucos, se sentirão convidados a participar da misteriosa e única experiência do Reino de Deus que Jesus mesmo tem como “filho de Deus”; ou, então, recusarão. A parábola, em última análise, nos coloca diante da opção de repartir a experiência de Jesus ou não.
De modo análogo podemos entender a outra parábola, a do grão de mostarda. Esta desfaz uma ideologia de falso universalismo a respeito do Reino, mostrando que o universalismo não está na grandeza visível, numérica, mas na força de crescimento invisível como a que está no grão de mostarda. Embora não se veja quase nada, Jesus revela que o Reino está acontecendo, e bem este Reino universal que é sugerido pelo próprio termo de comparação, o arbusto frondoso no qual se aninham os pássaros do céu (como Ezequiel descreveu o futuro reino de Israel restaurado; cf. 1ª  leitura). “Qual é a semelhança entre o Reino de Deus e um grão de mostarda? Ambos parecem quase nada no começo e se tomam muito grandes no fim”. Depois dessa, se pode optar: prefere-se um Reino de Deus que se anuncie com espalhafato, ou aquele que cresça organicamente a partir de uma pequena semente?
A 2ª  leitura dificilmente se integra no tema principal, mas sua mensagem toca o coração. Enquanto estamos neste corpo, diz Paulo, estamos exilados do Senhor. Podemos suspeitar que Paulo, escrevendo a gregos, se lembrou da alegoria da caverna, de Platão … ). Preferiria estar exilado do corpo, perto do Senhor (*). A liturgia de hoje oferece o apoio veterotestamentário desta idéia no canto da comunhão: Sl 27[26],4 e outros; por isso, seria muito adequado ler a 2ª  leitura depois da comunhão.
(*) A expressão de Paulo não fica livre do dualismo platônico, caro aos gregos. Mas a idéia fundamental, presente no fim da leitura, é profundamente bíblica: o importante não é estar fora ou dentro do corpo, mas agradar a Deus por nossa práxis (que é necessariamente “no corpo”), pois encontrá-lo-emos como juiz de nossa vida.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes

Não parece, mas o reino cresce
Muitos dentre nós estamos preocupados porque as comunidades eclesiais conscientes crescem tão devagarinho e às vezes até parecem diminuir. Então, demos um passo para trás, para enxergar melhor. Seiscentos anos antes de Jesus, o “povo eleito” que devia prestar culto ao Deus Único neste mundo foi tirado de sua terra e quase sumiu do mapa: Israel e seu rei foram levados para o exílio babilônico. Mas Deus fará crescer de novo um broto no cedro de  Israel e o povo se tornará novamente uma árvore frondosa (1ª leitura). No evangelho, Jesus usa a imagem do crescimento para falar do Reino de Deus. Estamos preocupados porque o Reino de Deus não se enxerga? Aos que o criticam porque seu anúncio do Reino  de Deus não se verifica por nenhum fenômeno extraordinário, Jesus responde: o agricultor não vê a semente crescer! O homem descansa ou se ocupa com outras coisas, e de repente a plantinha está aí. Ou veja a sementinha do mostardeiro, parece nada, mas cresce e se torna arbusto frondoso onde os passarinhos vão se abrigar. O mesmo acontece à pequena comunidade dos que buscam a vontade de Deus conforme a palavra de Cristo.
É essa a confiança que Jesus nos ensina. Jesus não é um homem de sucesso, de ibope. Ele lança uma sementinha, nada mais. E, de repente, a sementinha brota. O que parecia nada, torna-se fecundo, árvore frondosa.
No Calvário, o grão de trigo caiu na terra e morreu, para produzir muito fruto. Ressuscitou como árvore da vida. A Igreja dos primeiros cristãos foi esmagada pelas  perseguições, mas ressurgiu das catacumbas como a maior força religiosa e moral do Império Romano. Os bárbaros destruíram o Império, mataram os missionários cristãos, mas de seu martírio surgiu a sociedade cristã da Idade Média. E esta foi desmantelada pela Modernidade, mas a semente cresce por baixo, especialmente no povo que mais sofreu a Modernidade do que  dela se valeu. Nunca os pobres da América Latina foram tão ativos na comunidade de fé como hoje. E a árvore frondosa continua acolhendo passarinhos que chegam de todos os lados.
Mas o que mais importa não é a quantidade de novos galhos e sim a qualidade da semente, tão única e autêntica que nada a pode suprimir.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan Konings, SJ, Editora Vozes





Roteiro Homilético 2 - Liturgia: Dehonianos de Portugal

Tema do 11º Domingo do Tempo Comum

A liturgia do 11º Domingo do Tempo Comum convida-nos a olhar para a vida e para o mundo com confiança e esperança. Deus, fiel ao seu plano de salvação, continua, hoje como sempre, a conduzir a história humana para uma meta de vida plena e de felicidade sem fim.
Na primeira leitura, o profeta Ezequiel assegura ao Povo de Deus, exilado na Babilónia, que Deus não esqueceu a Aliança, nem as promessas que fez no passado. Apesar das vicissitudes, dos desastres e das crises que as voltas da história comportam, Israel deve continuar a confiar nesse Deus que é fiel e que não desistirá nunca de oferecer ao seu Povo um futuro de tranquilidade, de justiça e de paz sem fim.
O Evangelho apresenta uma catequese sobre o Reino de Deus – essa realidade nova que Jesus veio anunciar e propor. Trata-se de um projecto que, avaliado à luz da lógica humana, pode parecer condenado ao fracasso; mas ele encerra em si o dinamismo de Deus e acabará por chegar a todo o mundo e a todos os corações. Sem alarde, sem pressa, sem publicidade, a semente lançada por Jesus fará com que esta realidade velha que conhecemos vá, aos poucos, dando lugar ao novo céu e à nova terra que Deus quer oferecer a todos.
A segunda leitura recorda-nos que a vida nesta terra, marcada pela finitude e pela transitoriedade, deve ser vivida como uma peregrinação ao encontro de Deus, da vida definitiva. O cristão deve estar consciente de que o Reino de Deus (de que fala o Evangelho de hoje), embora já presente na nossa actual caminhada pela história, só atingirá a sua plena maturação no final dos tempos, quando todos os homens e mulheres se sentarem à mesa de Deus e receberem de Deus a vida que não acaba. É para aí que devemos tender, é essa a visão que deve animar a nossa caminhada.


LEITURA I – Ez 17, 22-24

Leitura da profecia de Ezequiel

Eis o que diz o Senhor Deus:
«Do cimo do cedro frondoso, dos seus ramos mais altos,
Eu próprio arrancarei um ramo novo
e vou plantá-lo num monte muito alto.
Na excelsa montanha de Israel o plantarei
e ele lançará ramos e dará frutos
e tornar-se-á um cedro majestoso.
Nele farão ninho todas as aves,
toda a espécie de pássaros habitará à sombra dos seus ramos.
E todas as árvores do campo hão-de saber
que Eu sou o Senhor;
humilho a árvore elevada e elevo a árvore modesta,
faço secar a árvore verde e reverdeço a árvore seca.
Eu, o Senhor, digo e faço».

AMBIENTE

No ano de 609 a. C., o faraó Necao derrotou o rei Josias e colocou no trono de Judá Joaquim, que durante algum tempo foi vassalo do Egipto. Contudo, em 605 a.C., Nabucodonosor derrotou as tropas assírias e egípcias em Carquemish, prosseguiu a sua campanha em direcção ao Egipto e assumiu o controlo da Síria e da Palestina. Joaquim ficou a pagar tributo aos babilónios. Quando, em 601, Nabucodonosor não conseguiu conquistar o Egipto, Joaquim julgou chegada a hora de se libertar do domínio babilónico. Contudo, Nabucodonosor reagiu sitiando Jerusalém, em 598 a. C., e Joaquim morreu durante o cerco, ou foi deportado para a Babilónia. Sucedeu-lhe Jeconias que, ao fim de três meses de resistência, se rendeu aos babilónios (597 a.C.).
Nabucodonosor instalou, então, no trono de Judá um tal Sedecias. Durante algum tempo, Judá manteve-se tranquilo, pagando pontualmente os tributos devidos aos babilónios; mas, ao fim de algum tempo, aproveitando a conjuntura política favorável, Sedecias aliou-se com os egípcios e deixou de pagar o tributo. Nabucodonosor enviou imediatamente um exército que cercou Jerusalém. Apesar do socorro de um exército egípcio, Jerusalém teve de se render aos babilónios. Sedecias, aproveitando as sombras da noite, tentou fugir da cidade; mas foi feito prisioneiro, viu os seus filhos serem assassinados e ele próprio foi levado prisioneiro para a Babilónia, onde acabou os seus dias.
Ezequiel, o “profeta da esperança”, exerceu o seu ministério na Babilónia no meio dos exilados judeus. O profeta fez parte de uma primeira “leva” de exilados que, em 597 a.C., chegou à Babilónia, após a derrota de Jeconias.
A primeira fase do ministério de Ezequiel decorreu entre 593 a.C. (data do seu chamamento à vocação profética) e 586 a.C. (data em que Jerusalém foi conquistada uma segunda vez pelos exércitos de Nabucodonosor e um novo grupo de exilados foi encaminhado para a Babilónia). Nesta fase, o profeta preocupou-se em destruir as falsas esperanças dos exilados (convencidos de que o exílio terminaria em breve e que iam poder regressar rapidamente à sua terra) e em denunciar a multiplicação das infidelidades a Jahwéh por parte desses membros do Povo judeu que escaparam ao primeiro exílio e que ficaram em Jerusalém.
É precisamente neste contexto que Ezequiel propõe “um enigma”, “uma parábola”, que nos é apresentada ao longo do capítulo 17 do seu livro. Fala de uma “águia” (provavelmente o rei Nabucodonosor), que “veio do Líbano comer a ponta do cedro. Apanhou o ramo mais elevado” (provavelmente o rei Jeconias) e levou-o para o país dos comerciantes (isto é, a Babilónia). Em seu lugar, plantou outra árvore (provavelmente Sedecias). Esta árvore, uma “videira”, não irá, contudo, prosperar, apesar das tentativas de aliança com o Egipto. Mais, será levado prisioneiro para a Babilónia e lá morrerá (Ez 17,10).
A mensagem deste “enigma” é óbvia: os exilados não devem alimentar ilusões ao ver as jogadas políticas de Sedecias, aliado com os egípcios. A política de Sedecias, em Jerusalém, não significará a liberdade dos exilados, mas, pelo contrário, conduzirá a uma nova catástrofe.
Estará então tudo terminado? Já não há esperança? Deus abandonou definitivamente o seu Povo e esqueceu as suas promessas de salvação?
É precisamente aqui que se encaixa o oráculo de salvação que a primeira leitura deste domingo nos apresenta: não, apesar das dramáticas circunstâncias do tempo presente, Deus não abandonou o seu Povo, mas irá construir com ele uma história nova, de salvação e de graça.

MENSAGEM

Deus não esqueceu a promessa feita, por intermédio do profeta Natan (cf. 2 Sm 7), e na qual assegurou a David a continuidade do seu trono. É verdade que a dinastia de David (o “ramo mais elevado” do “cedro” – Ez 17,3-4) foi arrancada; mas Deus não abandonou o seu Povo: Ele próprio vai tomar um “ramo novo”, plantá-lo na montanha de Israel, fazê-lo dar frutos e torná-lo uma árvore resistente e de grande porte (Ez 17,22-23) – ou seja, irá restabelecer a dinastia davídica em Jerusalém, assegurando ao seu Povo um futuro pleno de vida, de felicidade e de paz sem fim.
O texto sublinha, antes de mais, a presença omnipotente de Deus na história da humanidade. Ele preside à história humana, tem um projecto de salvação e conduz sempre a caminhada dos homens de acordo com o seu plano. O poder orgulhoso dos impérios humanos nada pode contra esse Deus que é o Senhor da história e que, com paciência e amor, vai concretizando o seu projecto.
Além disso, Ezequiel assegura aos exilados a “fidelidade” de Deus às suas promessas. Deus não falha, não esquece os seus compromissos, não abandona esse Povo com quem se comprometeu. Mesmo afogado na angústia e no sofrimento, mesmo mergulhado num horizonte de desespero, Israel tem de aprender a confiar nesse Deus que é sempre fiel às suas promessas e aos compromissos que assumiu com o seu Povo no âmbito da Aliança. Tudo pode cair, tudo pode falhar; só Deus não falha.
O nosso texto contém ainda uma indicação sobre a forma de actuar de Deus, sobre a “estranha” lógica de Deus: Ele toma aquilo que é pequeno aos olhos dos homens (“um ramo novo” – Ez 17,22) e, através dele, vence o orgulho e a prepotência, confunde os poderosos e exalta os humildes. Deus prefere os pequenos, os débeis, os pobres (aqueles que na sua humildade e simplicidade estão sempre disponíveis para acolher os desafios e os dons de Deus); e é através deles que concretiza os seus projectos de salvação e de graça.
Estes poucos versículos contêm um imenso capital de esperança, que deve alimentar e animar, hoje como ontem, a caminhada do Povo de Deus pela história.

ACTUALIZAÇÃO

¨ Essencialmente, o texto de Ezequiel que a liturgia deste domingo nos propõe garante que Deus conduz sempre a história humana de acordo com o seu projecto de salvação e mantém-se fiel às promessas feitas ao seu Povo. Esta “lição” não pode ser esquecida e essa certeza deve levar-nos a encarar os dramas e desafios do tempo actual com confiança e esperança. Não estamos abandonados à nossa sorte; Deus não desistiu desta humanidade que Ele ama e continua a querer salvar. É verdade que a hora actual que a humanidade atravessa está marcada por sombras e graves inquietações; mas também é verdade que Deus continua a acompanhar cada passo que damos e a apontar-nos caminhos de vida. A última palavra – uma palavra que não pode deixar de ser de salvação e de graça – será sempre de Deus. Ancorados nessa certeza, temos de vencer o medo e o pessimismo que, por vezes, nos paralisam e dar aos homens nossos irmãos um testemunho de esperança, de serena confiança.

¨ A referência – mil vezes repetida ao longo da Bíblia – à tal “estranha lógica” de Deus, que se serve do que é débil e frágil para concretizar os seus projectos de salvação, convida-nos a mudar os nossos critérios de avaliação e a nossa atitude face ao mundo e face aos que nos rodeiam. Por um lado, ensina-nos a valorizar aquilo e aquelas pessoas que o mundo, por vezes, marginaliza ou despreza; ensina-nos, por outro lado, que as grandes realizações de Deus não estão dependentes das grandes capacidades dos homens, mas antes da vontade amorosa de Deus; ensina-nos ainda que o fundamental, para sermos agentes de Deus, não é possuir brilhantes qualidades humanas, mas uma atitude de disponibilidade humilde que nos leve a acolher os apelos e desafios de Deus.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 91 (92)

Refrão: É bom louvar-Vos, Senhor.

É bom louvar o Senhor
e cantar salmos ao vosso nome, ó Altíssimo,
proclamar pela manhã a vossa bondade
e durante a noite a vossa fidelidade.

O justo florescerá como a palmeira,
crescerá como o cedro do Líbano;
plantado na casa do Senhor,
florescerá nos átrios do nosso Deus.

Mesmo na velhice dará o seu fruto,
cheio de seiva e de vigor,
para proclamar que o Senhor é justo:
n’Ele, que é o meu refúgio, não há iniquidade.


LEITURA II – 2 Cor 5, 6-10

Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios

Irmãos:
Nós estamos sempre cheios de confiança,
sabendo que, enquanto habitarmos neste corpo,
vivemos como exilados, longe do Senhor,
pois caminhamos à luz da fé e não da visão clara.
E com esta confiança, preferíamos exilar-nos do corpo,
para irmos habitar junto do Senhor.
Por isso nos empenhamos em ser-Lhe agradáveis,
quer continuemos a habitar no corpo,
quer tenhamos de sair dele.
Todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo,
para que receba cada qual o que tiver merecido,
enquanto esteve no corpo,
quer o bem, quer o mal.

AMBIENTE

Por volta de 56/57, chegam a Corinto missionários itinerantes que se apresentam como apóstolos e criticam Paulo, lançando a confusão na comunidade. Provavelmente, trata-se desses “judaizantes” que queriam impor aos pagãos convertidos as práticas da Lei de Moisés (embora também possam ser cristãos que condenam a severidade de Paulo e que apoiam o laxismo da vida dos coríntios). De qualquer forma, Paulo é informado de que a validade do seu ministério está a ser desafiada e dirige-se a toda a pressa para Corinto, disposto a enfrentar o problema. O confronto é violento e Paulo é gravemente injuriado por um membro da comunidade (cf. 2 Cor 2,5-11; 7,11). Na sequência, Paulo abandona Corinto e parte para Éfeso. Passado algum tempo, Paulo envia Tito a Corinto, a fim de tentar a reconciliação. Quando Tito regressa, traz notícias animadoras: o diferendo foi ultrapassado e os coríntios estão, outra vez, em comunhão com Paulo. É nessa altura que Paulo, aliviado e com o coração em paz, escreve esta Carta aos Coríntios, fazendo uma tranquila apologia do seu apostolado.
O texto que nos é proposto está incluído na primeira parte da Carta (2 Cor 1,3-7,16), onde Paulo reflecte e escreve sobre a grandeza e as dificuldades, os riscos e as compensações do ministério apostólico.
Na perícopa que vai de 4,16 a 5,10, Paulo defende a ideia de que, apesar de tudo, vale a pena acolher os desafios de Deus: no final do caminho percorrido nesta terra, espera-nos uma vida nova, uma vida plena e eterna. Para pintar o contraste entre a vida nesta terra e a vida futura, Paulo utiliza (cf. 2 Cor 5,1-4) a imagem da tenda que se monta e desmonta (que representa a vida transitória e corruptível desta terra) e da casa solidamente construída (que representa a vida plena e eterna).

MENSAGEM

A vida terrena, passageira e mortal é, para Paulo, um exílio “longe do Senhor” (vers. 6). Esse tempo de exílio neste mundo caracteriza-se por um conhecimento de Deus parcial: é o tempo da fé. Paulo – como todos os verdadeiros crentes – anseia pelo tempo “da visão” – isto é, pelo tempo do encontro face a face com Deus. Então, a vida caduca e transitória dará lugar a uma vida gloriosa e indestrutível.
Uma leitura simplista destes versículos poderia transmitir a ideia de que Paulo negligencia a vida terrena; contudo, essa ideia não é exacta… Para Paulo, a perspectiva dessa outra vida nova, plena e eterna, não significa um alhear-se das responsabilidades que temos, como crentes, enquanto caminhamos neste mundo finito e transitório. Aos crentes compete, enquanto “habitam este corpo” mortal, viver de acordo com as exigências de Deus, caminhar à luz da fé, assumir as suas responsabilidades enquanto discípulos comprometidos com Cristo e com o seu Reino. A perspectiva dessa vida plena que nos espera para além desta terra deve estar permanentemente no horizonte do crente que caminha pela história, fundamentar e iluminar o seu compromisso e a sua fidelidade a Jesus Cristo e ao Evangelho.
De resto, a preocupação de Paulo não é apresentar uma doutrina escatológica perfeitamente definida; mas é, sobretudo, lembrar aos cristãos a sua condição de peregrinos, que “não têm morada permanente” nesta terra: o destino final de cada homem ou mulher é o encontro com o Senhor, a vida plena e definitiva.

ACTUALIZAÇÃO

¨ A cultura actual é uma cultura do provisório, que dá prioridade ao que é efémero sobre as realidades perenes com a marca da eternidade: propõe que se viva ao sabor do imediato e do momento, e subalterniza as opções definitivas e os valores duradouros. É também uma cultura do bem-estar material: ao seduzir os homens com o brilho dos bens perecíveis, ao potenciar o reinado do “ter” sobre o “ser”, escraviza o homem e relativiza a sua busca de eternidade. É ainda uma cultura da facilidade, que ensina a evitar tudo o que exige esforço, sofrimento e luta: produz pessoas incapazes de lutar por objectivos exigentes e por realizar projectos que exijam esforço, fidelidade, compromisso, sacrifício. Neste contexto, a palavra de Paulo aos cristãos de Corinto soa a desafio profético: é necessário que tenhamos sempre diante dos olhos a nossa condição de “peregrinos” nesta terra e que aprendamos a dar valor àquilo que tem a marca da eternidade. É nos valores duradouros – e não nos valores efémeros e passageiros – que encontramos a vida plena. O fim último da nossa existência não está nesta terra; o nosso horizonte e as nossas apostas devem apontar sempre para o mais além, para a vida plena e definitiva.

¨ Contudo, o facto de vivermos a olhar para o mais além não pode levar-nos a ignorar as realidades terrenas e os compromissos com a construção da cidade dos homens. O Reino de Deus – que atingirá a sua plena maturação quando tivermos ultrapassado o transitório e o efémero da vida presente – começa a ser construído nesta terra e exige o nosso compromisso pleno com a construção de um mundo mais justo, mais fraterno, mais verdadeiro. Não há comunhão com Cristo se nos demitimos das nossas responsabilidades em testemunhar os gestos e os valores de Cristo.


ALELUIA

Aleluia. Aleluia.

A semente é a palavra de Deus e o semeador é Cristo:
quem O encontrar permanecerá para sempre.


EVANGELHO – Mc 4, 26-34

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,
disse Jesus à multidão:
«O reino de Deus é como um homem
que lançou a semente à terra.
Dorme e levanta-se, noite e dia,
enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como.
A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga,
por fim o trigo maduro na espiga.
E quando o trigo o permite, logo mete a foice,
porque já chegou o tempo da colheita».
Jesus dizia ainda:
«A que havemos de comparar o reino de Deus?
Em que parábola o havemos de apresentar?
É como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra,
é a menor de todas as sementes que há sobre a terra;
mas, depois de semeado, começa a crescer,
e torna-se a maior de todas as plantas da horta,
estendendo de tal forma os seus ramos
que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra».
Jesus pregava-lhes a palavra de Deus
com muitas parábolas como estas,
conforme eram capazes de entender.
E não lhes falava senão em parábolas;
mas, em particular, tudo explicava aos seus discípulos.

AMBIENTE

Na primeira parte do Evangelho segundo Marcos (cf. Mc 1,14-8,30), Jesus é apresentado como o Messias que proclama o Reino de Deus. Marcos procura aí demonstrar como Jesus, com palavras e gestos, anuncia um mundo novo (o “Reino de Deus”), livre do egoísmo, da opressão, da injustiça e de tudo o que escraviza os homens e os impede de ter acesso à vida verdadeira.
Estamos na Galileia, nos primeiros tempos do anúncio do Reino. Uma grande multidão segue Jesus, a fim de escutar os seus ensinamentos (cf. Mc 3,7.20.32; 4,1). Para fazer chegar a todos a sua proposta, Jesus precisará de utilizar uma linguagem acessível, viva, questionadora, concreta, desafiadora, evocadora, pedagógica, que pudesse semear no coração dos ouvintes a consciência dessa nova e revolucionária realidade que Ele queria propor. É neste contexto que nos aparecem as “parábolas”.
As “parábolas” são uma linguagem habitual na literatura dos povos do Médio Oriente: o génio oriental gosta mais de falar e instruir através de imagens, de comparações, de alegorias, do que através de um discurso mais lógico, mais frio, mais racional. De resto, a linguagem parabólica tem várias vantagens em relação a um discurso mais racional e expositivo. Que vantagens?
Em primeiro lugar, é uma excelente arma de controvérsia. A linguagem figurada permite levar o interlocutor a admitir certos pontos que, de outro modo, nunca mereceriam a sua concordância. A parábola é, pois, um bom instrumento de diálogo, sobretudo em contextos polémicos (como era, quase sempre, o contexto em que Jesus pregava).
Em segundo lugar, a imagem ou comparação que caracteriza a linguagem parabólica é muito mais rica em força de comunicação e em poder de evocação, do que a simples exposição teórica. Talvez seja uma linguagem mais vaga e imprecisa, do ponto de vista racional; mas é mais profunda, mais carregada de sentido, mais evocadora e, por isso, “mexe” mais com os ouvintes.
Em terceiro lugar, porque a linguagem parabólica – muito mais do que outro tipo de linguagem – espicaça a curiosidade e incita à busca. Na sua simplicidade, torna-se um verdadeiro método pedagógico, que leva as pessoas a pensar por si, a medir os prós e os contras, a tirar conclusões, a interiorizar soluções e a integrá-las na própria vida. É uma linguagem que, mais do que injectar nas pessoas soluções feitas, as leva a reflectir e a tirar daí as devidas consequências. Trata-se, pois, de linguagem altamente subversiva: ensina o povo a pensar, a ser crítico, a descobrir onde está a verdade. Ora, isso é altamente incómodo para os defensores do mundo velho e da ordem estabelecida.
Uma linguagem tão sugestiva não podia ser ignorada por Jesus no seu anúncio do “Reino de Deus”. É neste contexto que devemos entender as duas parábolas que o Evangelho deste domingo nos apresenta.

MENSAGEM

A primeira parábola (vers. 26-29) é a do grão que germina e cresce por si só. A parábola refere a intervenção do agricultor apenas no acto de semear e no acto de ceifar. Cala, de propósito, qualquer menção às demais acções do agricultor: arar a terra, regar a semente, tirar as ervas que a impedem de crescer… Ao narrador interessa apenas que, entre a sementeira e a colheita, a semente vá crescendo e amadurecendo, sem que o homem intervenha para impedir ou acelerar o processo. A questão essencial não é o que o agricultor faz, mas o dinamismo vital da semente. O resultado final não depende dos esforços e da habilidade do homem, mas sim do dinamismo da semente que foi lançada à terra. Desta forma, o narrador ensina que o Reino de Deus (a semente) é uma iniciativa divina: é Deus quem actua no silêncio da noite, no tumulto do dia ou na turbulência da história para que o Reino aconteça; e nenhum obstáculo poderá frustrar o seu plano. Provavelmente, a parábola é dirigida contra todas as posturas que pretendiam forçar a vinda do Reino – a dos zelotas que queriam instaurar o Reino através da violência das armas, a dos fariseus que pretendiam forçar o aparecimento do Reino com a obediência a uma disciplina legal, a dos apocalípticos que faziam cálculos precisos sobre a data da irrupção do Reino. Não adianta forçar o tempo ou os resultados: é Deus que dirige a marcha da história e que fará com que o Reino aconteça, de acordo com o seu tempo e o seu projecto. Desta forma, a parábola convida à serenidade e à confiança nesse Deus que não dorme nem se demite e que não deixará de realizar, a seu tempo e de acordo com a sua lógica, o seu plano para os homens e para o mundo.
A segunda parábola (vers. 30-32) é a do grão de mostarda. O narrador pretende, fundamentalmente, pôr em relevo o contraste entre a pequenez da semente (a semente da mostarda negra tem um diâmetro aproximado de 1,6 milímetros e era a semente mais pequena, no entendimento popular palestino; a tradição judaica celebrava com provérbios a sua pequenez) e a grandeza da árvore (nas margens do lago da Galileia alcançava uma altura de 2 a 4 metros). A comparação serve para dizer que a semente do Reino lançada pelo anúncio de Jesus pode parecer uma realidade pequena e insignificante, mas está destinada a atingir todos os cantos do mundo, encarnando em cada pessoa, em cada povo, em cada sociedade, em cada cultura. O Reino de Deus, ainda que tenha inícios modestos ou que se apresente com sinais de debilidade e pequenez aos olhos do mundo, tem uma força irresistível, pois encerra em si o dinamismo de Deus. Além disso, a parábola retoma um tema que já havíamos encontrado na primeira leitura: Deus serve-Se de algo que é pequeno e insignificante aos olhos do mundo para concretizar os seus projectos de salvação e de graça em favor dos homens.
A parábola é um convite à esperança, à confiança e à paciência. Nos factos aparentemente irrelevantes, na simplicidade e normalidade de cada dia, na insignificância dos meios, esconde-se o dinamismo de Deus que actua na história e que oferece aos homens caminhos de salvação e de vida plena.

ACTUALIZAÇÃO

¨ Antes de mais, o Evangelho deste domingo garante-nos que Deus tem em marcha um projecto destinado a oferecer aos homens a vida e a salvação. Pode parecer que a nossa história caminha entregue ao acaso ou aos caprichos dos líderes; pode parecer que a história humana entrou em derrapagem e que, no final do caminho, nos espera o abismo; mas é Deus que conduz a história, que lhe imprime o seu dinamismo, que está presente em todos os passos do nosso caminho. Deus caminha connosco e, garantidamente, leva-nos pela mão ao encontro de um final feliz. Num tempo histórico como o nosso, marcado por “sombras”, por crises e por graves inquietações, este é um dos testemunhos mais importantes que podemos, como crentes, oferecer aos nossos irmãos escravizados pelo desespero e pelo medo.

¨ O projecto de salvação que Deus tem para a humanidade revela-se no anúncio do Reino, feito por Jesus de Nazaré. Nas suas palavras, nos seus gestos, Jesus propôs um caminho novo, uma nova realidade; lançou a semente da transformação dos corações, das mentes e das vontades, de forma a que a vida dos homens e das sociedades se construa de acordo com os esquemas de Deus. Essa semente não foi lançada em vão: está entre nós e cresce por acção de Deus. Resta-nos acolher essa semente e deixar que Deus realize a sua acção. Resta-nos também, como discípulos de Jesus, continuar a lançar essa semente do Reino, a fim de que ela encontre lugar no coração de cada homem e de cada mulher.

¨ Os que, continuando a missão de Jesus, anunciam a Palavra (que lançam a semente) não devem preocupar-se com a forma como ela cresce e se desenvolve. Devem, apenas, confiar na eficácia da Palavra anunciada, conformar-se com o tempo e o ritmo de Deus, confiar na acção de Deus e no dinamismo intrínseco da Palavra semeada. Isso equivale a respeitar o crescimento de cada pessoa, o seu processo de maturação, a sua busca de caminhos de vida e de plenitude. Não nos compete exigir que os outros caminhem ao nosso ritmo, que pensem como nós, que passem pelas mesmas experiências e exigências que para nós são válidas. Há que respeitar a consciência e o ritmo de caminhada de cada homem ou mulher – como Deus sempre faz.

¨ A referência à pequenez da semente (segunda parábola) convida-nos – como já o havia feito a primeira leitura deste domingo – a rever os nossos critérios de actuação e a nossa forma de olhar o mundo e os nossos irmãos. Por vezes, é naquilo que é pequeno, débil e aparentemente insignificante que Deus Se revela. Deus está nos pequenos, nos humildes, nos pobres, nos que renunciaram a esquemas de triunfalismo e de ostentação; e é deles que Deus Se serve para transformar o mundo. Atitudes de arrogância, de ambição desmedida, de poder a qualquer custo, não são sinais do Reino. Sempre que nos deixamos levar por tentações de grandeza, de orgulho, de prepotência, de vaidade, estamos a frustrar o projecto de Deus, a impedir que o Reino de Deus se torne realidade no mundo e nas nossas vidas.


A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 11º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.


UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
scj.lu@netcabo.pt – www.dehonianos.org






Roteiro Homilético 3 - Liturgia: Vida Pastoral

Por Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj
   
“Nos átrios de meu Deus florescerão”

 INTRODUÇÃO GERAL

As leituras de hoje tratam do agir soberano de Deus sem a dependência da intervenção humana. Primeiramente, isso é assegurado a Israel no momento da maior crise de fé do povo da aliança: o exílio da Babilônia. Quando o povo pensou que tudo estava perdido, porque não havia nenhuma possibilidade humana de solucionar o problema do retorno à terra prometida, Deus enviou o profeta Ezequiel para reanimar a esperança nas promessas divinas.

Um resto de gente humilde e desprezada permanecerá fiel. A palavra do profeta compara esse resto a um raminho que Deus cortará da copa do grande cedro e o transplantará no alto de um monte elevado. Ele crescerá e ramificará a ponto de aves de toda espécie fazerem ninho em seus ramos (Ez 17,22-23). Trata-se de profecia messiânica: Deus mesmo providenciará a solução, enviando o Salvador.

Desse modo Deus age no mundo para instaurar seu Reino, deixando de lado os grandes e poderosos e se servindo de humildes, pobres, desprezados e pequeninos, como o raminho cortado da copa ou a semente lançada no campo. Dessa imagem se serviu Jesus para falar sobre o Reino, uma realidade que não se impõe pelo poder, como os grandes impérios mundiais, mas como realidade oculta, semeada nos corações humildes e, entretanto, com força de expansão inimaginável. O Reino se impõe por intermédio dos simples e apesar das forças contrárias, porque é agir soberano de Deus na história.

 COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

Evangelho (Mc 4,26-34): O Reino de Deus é como a menor das sementes
No trecho do evangelho de hoje, temos duas pequenas parábolas por meio das quais Jesus nos esclarece sobre o Reino de Deus.

Na parábola da semente que cresce sozinha, Jesus mostra que o Reino tem uma força intrínseca, independente da ação humana. Isso já tinha sido entrevisto no Antigo Testamento, após o fracasso da monarquia. Desde então, o Reino de Deus passou a ser entendido como um reino futuro do final dos tempos, como uma ação escatológica própria de Deus e independente da ação humana. O Novo Testamento afirma que esse Reino tem início com Jesus e não se restringe ao aspecto geográfico; ao contrário, é formado por todos os que aceitam Jesus como Senhor, Caminho, Verdade e Vida.

Exceto pelo fato de ter sido semeada pelo agricultor, a semente cresce e se desenvolve sem a intervenção humana: “Pois por si mesma a terra frutifica primeiramente a erva, depois a espiga, depois o trigo pleno na espiga” (v. 28). Assim é o Reino de Deus na história, que, com base em acontecimentos aparentemente insignificantes aos olhos do mundo, provoca significativas transformações irrevogáveis.

Na segunda parábola, afirma-se que o Reino, aparentemente insignificante nos tempos de Jesus, se estenderá pelo mundo inteiro. O objetivo da narrativa está em explicitar a diferença entre a pequenez da semente e a exuberância da planta no final. Não se deve perder o foco da homilia, mencionando coisas insignificantes como opiniões de pesquisadores sobre que tipo de mostarda seria.

Trata-se de uma parábola sobre o crescimento do Reino. No primeiro momento, Jesus nos apresenta o Reino como algo que começa pequenino, semelhante a uma semente minúscula, e se desenvolve como um vegetal na época da colheita. Em um segundo momento, o Reino nos é apresentado como algo que atrai as pessoas, à semelhança de pássaros que surgem em bandos, procurando abrigo.

Há, na parábola, um contraste entre a insignificância aparente do ministério de Jesus e o desenvolvimento do Reino de Deus a partir desse ministério. O mesmo se pode concluir da atuação dos cristãos na história. Essa parábola ilustra a presença do Reino na história e a expectativa que devemos ter da plena revelação do Reino no futuro.

I leitura (Ez 17,22-24): À sua sombra as aves farão ninhos
Os descendentes do rei Davi quebraram a aliança com Deus e grande parte de Judá foi levada para o exílio na Babilônia. Mas Deus é sempre fiel e preparou outra descendência de Davi, por meio da qual as promessas divinas seriam levadas ao pleno cumprimento.

A metáfora de uma árvore é aqui apresentada para assegurar a plena realização das promessas divinas no Reino do Messias. Do raminho cortado da copa, Deus fará uma grande árvore e a plantará num alto monte.

Naquela época, Nabucodonosor orgulhava-se de ter instaurado o grande império da Babilônia, e os exilados de Judá não viam como Deus poderia manter suas promessas. É exatamente nesse cenário histórico que entra o profeta, para assegurar que o próprio Deus está comprometido com a revitalização e a restauração da descendência de Davi. Os projetos ambiciosos dos poderosos deste mundo fracassarão, mas a ação de Deus na história é eficaz e irreversível. Quem pode arrancar o que Deus vai plantar?

O estabelecimento do Reino do Messias deverá mostrar mais claramente às nações do mundo (todas as árvores do campo) que Deus é o rei de toda a terra. O texto da profecia termina com a chamada inversão escatológica; à semelhança do Magnificat de Maria, Deus rebaixará o alto e exaltará o baixo, eis o julgamento dos poderes do mundo.

II leitura (2Cor 5,6-10): Dar frutos agradáveis ao Senhor
O texto se inicia mencionando a confiança do apóstolo. O termo traduzido por confiança, no idioma original da epístola, significa ter ousadia, ser audaz. O apóstolo está confiante, apesar de estar encarnado neste mundo e ausente da morada definitiva.

O apóstolo nos exorta a não nos apegar a esta vida, a este mundo. Seria preferível morrer para estar com Cristo, mas, seja lá o que aconteça, devemos nos esforçar para ser agradáveis ao Senhor. É necessário produzir frutos. O sentido mais adequado do v. 9 é: “Contudo, quer estejamos na presença do Senhor, quer vivamos exilados dele, o que nos interessa é agradar a Deus”. Estar exilado do Senhor é estar vivendo ainda neste mundo.

Todos nós seremos julgados pelo Pai, ou seja, teremos de prestar contas da administração de nossos dons e projetos de vida àquele que é fonte de nossa existência e de toda dádiva. Por isso, estar na vida presente é um risco não porque Deus seja um juiz implacável, mas porque não somos fonte de nossa própria existência: nós a recebemos de Deus, com tudo que ela tem de bom e com todas as ferramentas para transformar a nós mesmos e ao mundo. A vida aqui neste mundo exige que produzamos frutos agradáveis a Deus.

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

Nas parábolas, Jesus não dá uma definição sistemática do Reino. Na primeira destas parábolas de hoje, temos a exposição de como o Reino se expande com uma força que não depende dos seres humanos, mas do próprio Deus. A parábola descreve a força interna do Reino. Na segunda parábola, encontramos a visão externa do Reino. Seu crescimento seria espetacular, desde um pequeno grupo insignificante – como é a semente da mostarda – até chegar a ser uma árvore exuberante.

A homilia deverá enfatizar que o Reino é uma realidade que não se pode ignorar. Deve esclarecer que o Reino não é sinônimo de Igreja, como muitos grupos atribuem. A Igreja está a serviço da expansão dele.

O Reino não se identifica com nenhuma instituição. É a irrupção da presença de Deus na história, uma transformação e conquista não violenta, a partir do interior dos corações, as quais mudam tanto o modo de o ser humano se relacionar com Deus quanto as relações sociais, que deverão se basear nos critérios divinos, a justiça e o direito.

Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje – BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com






Roteiro Homilético 4 - Liturgia: Dom Henrique

Ez 17,22-24
Sl 91
2Cor 5,6-10
Mc 4,26-34

Ação de Deus
Haverá um tempo de colheita
Englobará todos os povos

Tão simples o evangelho de hoje; tão doce, tão cheio de sabedoria! Estejamos atentos, porque o Senhor nos falado Reino de Deus, Reino que começa aqui, experimentado quando nos abrimos para o anúncio de Jesus; Reino que será pleno na glória, quando cada um de nós e toda a humanidade, com a sua história, entrar, um dia, na plenitude do coração da Trindade santa.

O que nos diz o Senhor? Diz-nos que o Reino de Deus não é daquelas coisas vistosas, midiáticas, de sucesso humano. O Reino vem de modo humilde e se manifesta nas coisas pequenas… Pequenas como um grãozinho jogado na terra, como uma semente de mostarda, como um brotinho frágil e sem aparente valor… Quantas vezes buscamos os sinais da força de Deus na força humana, nos grandes eventos, nas realidades grandiloqüentes. Não, na é aí que se encontra o Reino. O Reino é como o próprio Jesus: aquele brotinho, retirado da ponta da grande árvore da dinastia de Davi… aquele brotinho pobre, da carpintaria de Nazaré, donde nada que prestasse poderia vir… Ah, irmãos! Os modos de Deus, a lógica de Deus, o jeito de Deus! Como tudo é tão diverso de nossas expectativas!

Outra lição de hoje: o Reino vem aos poucos. Inaugurado e plantado definitivamente no chão deste mundo pelo nosso Jesus, ele irá crescendo como a semente, como o grão de mostarda, aos poucos. Somos tão impacientes, gostaríamos tanto que Deus respeitasse nossos prazos. Mas, não! Se os pensamentos do Senhor não são os nossos, tampouco seus tempos são iguais aos da gente! Atentos, irmãos, porque somente perseverará na paciência aquele que souber adequar-se aos tempos de Deus. E Deus contempla o tempo na perspectiva da eternidade e não das nossas pressas… Assim vai o Reino, brotando humildemente na história e no coração do mundo, de um modo que somente quem reza e contempla pode perceber…

Ainda uma outra lição do Senhor: Nós, filhos de um mundo tão pragmático e auto-suficiente, temos tanta dificuldade em perceber a ação de Deus. Coitados que somos! Pensamos que nós é que fazemos, que nós é que somos os sujeitos últimos do mundo e da história! Presunçosa ilusão! É Deus quem, humilde, forte e fielmente, faz o Reino desenvolver-se na potência do Espírito. Que diz o Senhor? “O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece!” Que imagem doce, bela, delicada… Nós, com a graça de Deus, vamos plantando o Reino que Cristo trouxe. Como plantamo-lo? Plantamos quando nos abrimos à graça, plantamos com nosso exemplo, plantamos com nossa palavra, plantamos com nossa ação… Mas, cuidado! É o próprio Deus, com a energia do Santo Espírito, quem faz o Reino crescer: é obra dele, não nossa. São Paulo não nos dizia? Um é o que planta, outro, o que rega, mas é Deus quem faz crescer… É assim, caríssimos, que, num mundo aparentemente esquecido por Deus, Deus vai agindo, tomando nossas pobres sementes e fazendo-as desabrochar no seu Reino, vigor, paciência e suavidade…

Um dia, diz Jesus, chegará o momento da colheita. Haverá um fim na história humana, caríssimos e, então,“todos deveremos comparecer às claras ante o tribunal de Cristo, para cada um receber a devida recompensa – prêmio ou castigo – do que tiver feito na sua vida corporal”. Não adiante querer esquecer, de nada serve fingir que não sabemos: aqui estamos de passagem, aqui, vamos semeando o Reino que Jesus trouxe e que Deus mesmo faz crescer; mas, a colheita definitiva não será nesta vida, pois o Reino que começa no tempo, haverá de espraiar-se na eternidade; o Reino que deve fecundar a história somente será pleno e definitivo na glória. Quanta é grande a tentação, hoje em dia, de nos ocuparmos com tantas futilidades, esquecendo que aqui estamos de passagem e somente lá é que permaneceremos para sempre! Como seríamos mais livres, equilibrados, seremos, se recordássemos essa realidade. Como teríamos o cuidado de viver de tal modo, que não perdêssemos o Reino. Sim, caros, porque é possível ficar fora do Reino! Não entrará no Reino quem não permitir que o Reino entre em si. Em certo sentido, não somos nós quem entramos no Reino, mas o Reino que entra em nós! Abrir-se para o Reino, é abrir-se para o Cristo Jesus! Abramo-nos para ele e ele nos abrirá o sue Reino!

Uma última lição de Jesus para nós, hoje: o seu sonho é que todos entrem no seu Reino, naquela casa do Pai, na qual há muitas moradas! É por isso que, na primeira leitura, pousarão todos os pássaros à sombra da ramagem da árvore que é o Messias, e as aves aí farão ninhos. O mesmo Jesus diz do Reino, comparado ao pequeno grão de mostarda que germina e se torna arvora frondosa. Eis, caríssimos, o Senhor nos ama a todos, nos deseja a todos, nos chama a todos! Se lhe dermos ouvidos, se aprendermos o compasso do seu coração, experimentaremos a alegria do Reino já nesta vida, com provações, e, um dia, haveremos de saboreá-lo por toda a eternidade! – Senhor Jesus, dá-nos, pois, a graça de abrir as portas do nosso coração e do coração do mundo para o Reino do Pai que anunciaste e inauguraste! Venha o Reino na potência do teu Espírito que habita em nós e no coração da Igreja! E que através de nós, ele se faça sempre mais presente no mundo. Amém.

D. Henrique Soares




Roteiro Homilético 5 - Liturgia: Dom Total

O REINO DE DEUS EM PARÁBOLAS
1ª leitura: (Ez 17,22-24) O ramo do cedro que se torna arbusto – Ez 17,1-21 é um oráculo contra o rei de Judá. Realizou-se a ameaça: a deportação da elite de Judá para a Babilônia (597 e 586 a.C.). 17,22-24 complementam o primeiro oráculo com um oráculo de salvação. Se a copa e o tronco do cedro foram levados à Babilônia (deportação da elite e do rei; 17,3-5), Deus mesmo, o único salvador, tomará um ramo do cedro para plantá-lo na montanha de Israel (17,22-24: volta dos exilados); crescerá até tornar-se um belo arbusto, em cujos ramos se instalarão os passarinhos (17,23; cf. evangelho). * Cf. Is 2,2-4; Sl 113 [112],7-13; Lc 1,51-53; Mt 13,31-32; Mc 4,30-32; Lc 13,18-19.

2ª leitura: (2Cor 5,6-10) O desejo de morar junto ao Senhor – Paulo continua sua meditação sobre sua existência à luz da morte, que é concebida como o fim do exílio neste corpo, como a destinação final de uma peregrinação pelo mundo, em que o corpo é uma “tenda provisória” (5,1). Mas, no fim desta peregrinação, teremos de prestar contas de nossas obras. – Paulo vive com a morte diante dos olhos. Não a esconde, como faz a nossa sociedade. E nisto exatamente consiste a tensão dinamizante de sua vida. * Cf. 1Cor 13,12; Rm 5,1-5; 8,20-24; Fl 1,21-23; 2Tm 4,8.

Evangelho: (Mc 4,26-34) As parábolas; o Reino que cresce como uma semente – No ano A (15º dom. do T.C.) ouvimos a primeira das “parábolas do Reino”, colecionadas em Mt 13 (cf. Mc 4 e Lc 8): a parábola do semeador. Hoje, ouvimos outras parábolas do mesmo conjunto: o Reino de Deus é um mistério, um acontecimento do qual não podemos determinar os parâmetros, assim como uma semente cresce por si mesma, até que chegue a hora da colheita (escatológica). É como a minúscula sementinha da mostarda tornando-se um generoso arbusto, onde se aninham os pássaros (cf. Ez 17,23; 1ª leitura). A própria pregação de Jesus é o início deste Reino; esconde-se por trás de parábolas, mas os continuadores dessa pregação são “iniciados” neste mistério (4,34b). * 4,26-29 cf. Jl 4,13; Ap 14,15-16 * 4,30-32 cf. Mt 13,31-32; Lc 13,18-19 * 4,33-34 cf. Mt 13,34-35.

***   ***   ***

O evangelho de hoje completa o “Sermão das Parábolas”, lido, no texto de Mt, nos 15º, 16º e 17º domingos do ano A. Acrescenta as parábolas da semente que cresce por si (própria de Mc) e do grão de mostarda (cf. Mt e Lc). Em Mt, as parábolas formam uma espécie de catequese (Mt 13,51-52). Em Mc, integram a revelação velada do Filho do Homem (4,10-12 e 33-34). Quando Jesus fala em parábolas e o povo não entende, realiza-se plenamente o que já foi a missão de Isaías: falar a um povo sem compreensão (Is 6,9-10). Aos discípulos, porém, ensina em particular, iniciando-os no “mistério do Reino” (4,11; cf. 4,34). Este esquema de Mc se explica a partir de seu contexto histórico: pelos meados do século I d.C., a grande maioria do povo ainda não se convertera, mas uns poucos “iniciados” continuam a pregação do evangelho de Jesus, aqueles que, depois da Ressurreição, entenderam o “segredo messiânico”: que Jesus foi o Filho do Homem padecente (cf. 24º dom.).

Jesus não pronunciou as parábolas para não ser entendido. Mc 4,33 aponta que Jesus procurou compreensão na medida em que o povo fosse capaz. O falar em parábolas é um meio didático que caracteriza Jesus de Nazaré. A parábola é linguagem figurativa, apresenta por uma imagem a realidade visada. Jesus mostra aos ouvintes o que acontece no seu dia-a-dia (na vida comercial, social, agreste etc.), para que eles se conscientizem de que, de modo semelhante, está acontecendo o Reino no meio deles: “É como quando um homem lança a semente no campo...” (4,26). Pode-se considerar a parábola como um enigma apresentado de tal modo que a resposta logo aparece. Nós diríamos: “Qual é a semelhança entre o Reino de Deus e uma semente? É que ambos crescem por si mesmos, pois não se precisa puxar o caule para que o trigo cresça”.

Jesus procura entrar em diálogo com a convicção íntima do homem. Para implantar no coração dos ouvintes uma sementinha de sua experiência de Deus, ele apela para a experiência deles, embora num outro terreno. No caso: para fazer com que os ouvintes se desliguem de sua ideologia de um Reino de Deus vindo ostensivamente com as forças celestes e implantando um “império davídico” para Israel, mediante o zelo dos “zelotes” ou dos cumpridores da Lei (fariseus), Jesus apela para uma experiência da vida campestre: a semente cresce sem intervenção humana. Aí, coloca uma pulga atrás da orelha dos ouvintes. Eles ficam refletindo e, aos poucos, se sentirão convidados a participar da misteriosa e única experiência do Reino de Deus que Jesus mesmo tem como “filho de Deus”; ou, então, recusarão. A parábola, em última análise, nos coloca diante da opção de repartir a experiência de Jesus ou não.

De modo análogo podemos entender a outra parábola, a do grão de mostarda. Esta desfaz uma ideologia de falso universalismo a respeito do Reino, mostrando que o universalismo não está na grandeza visível, numérica, mas na força de crescimento invisível como a que está no grão de mostarda. Embora não se veja quase nada, Jesus revela que o Reino está acontecendo, e bem este Reino universal que é sugerido pelo próprio termo de comparação, o arbusto frondoso no qual se aninham os pássaros do céu (como Ezequiel descreveu o futuro reino de Israel restaurado; cf. 1ª leitura). “Qual é a semelhança entre o Reino de Deus e um grão de mostarda? Ambos parecem quase nada no começo e se tornam muito grandes no fim”. Depois dessa, se pode optar: prefere-se um Reino de Deus que se anuncie com espalhafato, ou aquele que cresça organicamente a partir de uma pequena semente?

A 2ª leitura dificilmente se integra no tema principal, mas sua mensagem toca o coração. Enquanto estamos neste corpo, diz Paulo, estamos exilados do Senhor podemos suspeitar que Paulo, escrevendo a gregos, se lembrou da alegoria da caverna, de Platão...). Preferiria estar exilado do corpo, perto do Senhor. A liturgia de hoje oferece o apoio veterotestamentário desta ideia no canto da comunhão: Sl 27[26],4 e outros; por isso, seria muito adequado ler a 2ª leitura depois da comunhão.

NÃO PARECE, MAS O REINO CRESCE

 Muitos dentre nós estamos preocupados porque as comunidades eclesiais conscientes crescem tão devagarinho e às vezes até parecem diminuir. Então, demos um passo para trás, para enxergar melhor. Seiscentos anos antes de Jesus, o “povo eleito” que devia prestar culto ao Deus Único neste mundo foi tirado de sua terra quase sumiu do mapa: Israel e seu rei foram levados para o exílio babilônico. Mas Deus fará crescer de novo um broto no cedro de Israel e o povo se tornará novamente uma árvore frondosa (1ª leitura). No evangelho, Jesus usa a mesma imagem do crescimento para falar do Reino de Deus. Estamos preocupados porque o Reino de Deus não se enxerga? Aos que o criticam porque seu anúncio do Reino de Deus não se verifica por nenhum fenômeno extraordinário, Jesus responde: o agricultor não vê a semente crescer! O homem descansa ou se ocupa com outras coisas, e de repente a plantinha está aí. Ou veja a sementinha do mostardeiro, parece nada, mas cresce e se torna arbusto frondoso aonde os passarinhos vão se abrigar. O mesmo acontece à pequena comunidade dos que buscam a vontade de Deus conforma a palavra de Cristo.

É essa a confiança que Jesus nos ensina. Jesus não é um homem de sucesso, de ibope. Ele lança uma sementinha, nada mais. E, de repente, a sementinha brota. O que parecia nada, torna-se fecundo, árvore frondosa.

No Calvário, o grão de trigo caiu na terra e morreu, para produzir muito fruto. Ressuscitou como árvore da vida. A Igreja dos primeiros cristãos foi esmagada pelas perseguições, mas ressurgiu das catacumbas como a maior força religiosa e moral do Império Romano. Os bárbaros destruíram o Império, mataram os missionários cristãos, mas de seu martírio surgiu a sociedade cristã da Idade Média. E esta foi desmantelada pela Modernidade, mas a semente cresce por baixo, especialmente no povo que mais sofreu a Modernidade do que dela se valeu. Nunca os pobres da América Latina foram tão ativos na comunidade de fé quanto hoje. E a árvore frondosa continua acolhendo passarinhos que chegam de todos os lados.

Mas o que mais importa não é a quantidade de novos galhos e sim a qualidade da semente, tão única e autêntica que nada a pode suprimir.

(O Roteiro Homilético é elaborado pelo Pe. Johan Konings SJ – Teólogo, doutor em exegese bíblica, Professor da FAJE. Autor do livro "Liturgia Dominical", Vozes, Petrópolis, 2003. Entre outras obras, coordenou a tradução da "Bíblia Ecumênica" – TEB e a tradução da "Bíblia Sagrada" – CNBB. Konings é Colunista do Dom Total.)





Roteiro Homilético 6 - Liturgia: Pe. Françoá Costa

Apostolado de filhos de Deus



Você sabe como é um grande jogo de futebol. Antes do jogo, há uma concentração para os atletas e uma preparação psicológica para os torcedores. A televisão dá notícias da situação histórica das duas equipes: pontos ganhos e pontos perdidos, titulares que vão começar jogando e reservas que vão para o banco.

De repente, as equipes entram em campo. Muitas palmas, rojões, bandeiras se agitam e a emoção toma conta de todos. Começa a partida. Bola na trave, a torcida vibra, grita, pula. Alguém aproveita o rebote, enche o pé… é gooool! Um mar humano se levanta e delira, agitando as mãos e gritando em coro. O artilheiro dá cambalhotas, cai de joelhos, jogadores se abraçam. É festa! Uma grande “celebração”, num rito solene de alegria expressado por todos os gestos. Caso seja o fim de campeonato, pode haver alguém atravessando o estádio de joelhos com as mãos erguidas para o céu, o povão invadindo o gramado e carregando os heróis.

Quanta emoção! Tudo aqui é esplendor, é festa. Parece bastante diferente do que acontece com a semente lançada à terra, comparada ao Reino de Deus, que o Senhor nos conta hoje. No entanto, apesar de a semente não crescer com um espetáculo comparado a um jogo de futebol, nós, apóstolos do Reino de Deus precisamos ter um entusiasmo semelhante para anunciá-Lo. Fá-lo-emos com grande alegria, com todo o entusiasmo, pois sabemos que essa semente vai crescer e produzir muitos frutos, frutos abundantes, frutos de vida eterna.

São Jerônimo explicava a parábola do grão que germina dizendo que a semente simboliza o Verbo da vida, Jesus Cristo; a terra, os corações dos homens. A semente cai na terra. O dormir do semeador é comparado à morte de Jesus Cristo, pois depois da morte de Cristo o número de fiéis cresce cada vez mais entre adversidades e bonanças.

A semente de mostarda, que tem um diâmetro aproximado de 1,6 milímetros, resultava numa árvore que às margens do lago da Galileia media entre 2 a 4 metros. Os primeiros cristãos começaram a lançar a semente do Reino de Deus. Curioso! Enquanto mais perseguidos, mais aumentava o número de cristãos. Tanto é assim que Tertuliano, um advogado que se converteu ao cristianismo no ano 197 e que depois passou a ser catequista na Igreja, dizia que “o sangue dos mártires é a semente de novos cristãos”. Hoje como outrora, não somos a maioria da população, mas continuamos chamados a conquistar o mundo para Cristo.

Olhemos mais uma vez para os nossos irmãos da aurora do cristianismo, agora através da epístola a Diogneto, um dos primeiros escritos cristãos: “Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. Com efeito, não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e a especulação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento humano. Pelo contrário, vivendo em casas gregas e bárbaras, conforme a sorte de cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, a cada pátria é estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os recém-nascidos. Põe a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem as leis estabelecidas, as com sua vida ultrapassam as leis; amam a todos e são perseguidos por todos; são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são mortos e, deste modo, lhes é dada a vida; são pobres e enriquecem a muitos; carecem de tudo e tem abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo, tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a vida. Pelos judeus são combatidos como estrangeiros, pelos gregos são perseguidos, a aqueles que os odeiam não saberiam dizer o motivo do ódio”.

Talvez o que impede sermos apóstolos entusiasmados da Boa-Nova seja o nosso comodismo: já têm muitas pessoas falando de Jesus, eu… para quê? Minha mãe já reza bastante, desse jeito todo o mundo se converterá, inclusive eu. Meu irmão já vai à Missa todos os domingos, para que irei eu?

Também a falta de fé impede a evangelização que devemos, como cristãos, realizar. Muitos católicos vivem aburguesados, estão tranquilos por falta de fé. Se a fé fosse viva, se a caridade ardesse em seus corações quereriam conquistar todos para Deus, fazendo apostolado com a sua vida e com a sua palavra de fogo em todos os ambientes dessa nossa sociedade.

A falta de estratégia as vezes nos deixa na inatividade: conversas vulgares, sempre as mesmas (além das piadas malsonantes, vocabulário baixo). É preciso saber elevar o nível, fazer-nos amigos de nossos conhecidos, atrai-los através da mansidão. Mãe, um segredo: não se consegue a conversão dos filhos aos gritos. Jovem, você não conseguirá a conversão daquele seu amigo sem rezar e sem se sacrificar por ele. É preciso viver a caridade através dos serviços que prestamos; fazer com que eles, através da nossa amizade, abram o coração; enfim, precisamos fazer um apostolado de amizade, esse dá certo em qualquer ambiente: no trabalho, na escola, na faculdade, nas fábricas, nos laboratórios etc. Como apóstolos dos tempos modernos, o que precisamos é ter uma grande confiança no Senhor. Com fé, esperança e caridade, seguiremos avante, por Cristo e com Cristo.

Pe. Françoá Costa





Roteiro Homilético 7 - Liturgia: Mons. José Maria Pereira

O Grão de Mostarda

As duas Parábolas de Jesus, a Semente e o Grão de Mostarda (Mc 4, 26-34), mostram que o Reino de Deus não é obra dos homens, é obra de Deus e que a comunidade cristã deve ter confiança total na ação de Deus.

“O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra, mas depois brota e torna-se maior do que todas as hortaliças, e estende ramos tão grandes, que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra” (Mc 4, 31-32).

Importa, pois, que o ser humano seja a terra boa, colaborando com a graça de Deus.

O Senhor escolheu um punhado de homens para instaurar o seu reinado no mundo. A maioria deles eram humildes pescadores, de pouca cultura, cheios de defeitos e sem meios materiais: “o que é fraco no mundo, Deus o escolheu para confundir os fortes” (1 Cor 1, 27). Considerando humanamente, é incompreensível que esses homens tivessem chegado a difundir a doutrina de Cristo por toda a terra, em tempo tão curto e tendo que enfrentar tantos obstáculos e contradições.

Com a parábola do grão de mostarda -comenta São João Crisóstomo-, o Senhor moveu-os à fé e fez-lhe ver que a pregação do Evangelho se propagaria apesar de todas as dificuldades.

Nós também somos esse grão de mostarda em relação à tarefa que o Senhor nos confia no meio do mundo. Não devemos esquecer a desproporção entre os meios ao nosso alcance- os nossos poucos talentos- e a vastidão do apostolado que devemos realizar; mas também não podemos esquecer que sempre teremos a ajuda do Senhor. Surgirão dificuldades, e então seremos mais conscientes da nossa insignificância e não teremos outro remédio senão confiar mais no Mestre e no caráter sobrenatural da obra que nos encomenda.

Ensina São Josemaria Escrivá: “Nas horas de luta e contradição, quando talvez “os bons” encham de obstáculos o teu caminho, levanta o teu coração de apóstolo; ouve Jesus que fala do grão de mostarda e do fermento. E sentirás a alegria de contemplar a vitória futura: aves do céu à sombra do teu apostolado, agora incipiente; e toda a massa fermentada” (Caminho, 695).

Se não perdermos de vista a nossa pouca valia e a ajuda da graça, permaneceremos sempre firmes às expectativas do Senhor em relação a cada um de nós. Com Ele, podemos tudo.

As parábolas da semente e do grão de mostarda, ainda que sejam um apelo à humanidade, único terreno apto para o desenvolvimento do Reino de Deus, são também um convite a um são otimismo, baseado na eficácia infalível da ação divina.

Mesmo quando os homens estão pervertidos, ao ponto de negar a Deus e de O considerar “morto”, vivendo como se não existisse, Ele está sempre presente e atuante na história humana e continua a espalhar a semente do Seu Reino.

A própria Igreja, que colabora nesta sementeira, não vê, a maior parte das vezes, os seus frutos; mas é certo que um dia amadurecerão as espigas. Porém, é preciso esperar com paciência a hora marcada por Deus, como o lavrador, sem inquietação, espera que passe o inverno e que o grão germine. E se isto serve para a Igreja, deve servir também para cada um em particular, porque no coração do homem se desenvolve, ocultamente, o Reino de Deus e a santidade. Por isso, não deve haver lugar para desânimos, se, depois de esmerados esforços, um se encontra fraco e defeituoso. É preciso perseverar no esforço, mas confiando apenas em Deus, porque somente Ele pode tornar eficaz a ação do homem.

O anúncio do Evangelho, feito na maioria das vezes entre os companheiros de trabalho ou entre os vizinhos, significou nos primeiros tempos uma mudança radical de vida e a salvação eterna para famílias inteiras.

Que o Senhor nos dê forças para sermos cristãos autênticos vivendo a fé que professamos, em todos os momentos e situações da vida. Serão ocasiões para mostrarmos o nosso amor a Deus, deixando de lado os respeitos humanos, a opinião do ambiente, etc; “pois Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de sabedoria. Não te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor…”(2 Tm 1 ,7-8).

Somos convidados a continuar semeando com fé e confiança. A força vital de Deus age, garantindo o sucesso da colheita, da Missão. Os frutos não dependem de quem semeou, mas da força da semente. O crescimento do Reino depende da ação gratuita de Deus.

Deus vale-se do pouco para as suas obras.

Nunca nos faltará também a sua ajuda.

E também nós encontraremos na Cruz o poder e a valentia de que necessitamos.

Mons. José Maria Pereira



Roteiro Homilético 8 - Liturgia: Exegese presbíteros.org

EPÍSTOLA (2 Cor 5, 6-10)

(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)

   PELA FÉ: Estando, pois, confiantes e sabendo que residentes no corpo vivemos ausentes do Senhor (6), porque por fé estamos andando, não por visão (7). Audentes igitur semper  et scientes quoniam dum sumus in corpore peregrinamur a Domino per fidem enim ambulamus et non per speciem. CONFIANTES [tharrountes<2292> =audentes] é o particípio presente do verbo tharreö com o significado de ter confiança, se atrever como no versículo 8 e com o significado de confiança ou ter confiança em alguma pessoa como em 2 Cor 7, 16: Regozijo-me de em tudo poder confiar em vós. Também falar audazmente como em Hb 13, 6: E assim ousemos [tharrountes] dizer: O SENHOR é o meu ajudador. Finalmente, vemos em 2 Cor 10, 1: Quando presente entre vós, sou humilde, mas ausente, ousado [tharrö]/ para convosco. Temos, pois, optado pela confiança. RESIDENTES [endëmountes<1736>=sumus]. Do verbo endëmeö temos endëmos, como pessoa que habita entre os de sua terra e que não viajou ao exterior. Daí  estar em casa, e logicamente viver no corpo [en tö sömati] que será o oposto a pros ton Kyrion [unir-se e ao Senhor no céu (2 Cor 6, 9).  VIVEMOS AUSENTES [ekdëmoumen<1553>= peregrinamur] É o presente do indicativo do verbo ekdëmeö, de significado emigrar, ir ao estrangeiro, viver em terra estranha, estar exilado, que  aparece nos escritos paulinos junto com ek tou sömatos [fora do corpo] (2 Cor 5, 8), como se o corpo fosse o natural habitáculo do Espírito;  ou apo tou Kyriou [fora do Senhor] (que vemos neste versículo). Ambos os termos são opostos: um com o prefixo en [dentro] e outro com ek [fora] e a palavra demos [povo]. A maioria traduz as duas palavras por presentes e ausentes. Na TEB a tradução é: habitar no corpo e fora de nossa morada. A razão é que vivemos [estamos andando] ou caminhamos pela fé e não temos ainda a visão própria da bem-aventurança.

        É PREFERÍVEL MORRER: Estamos confiantes, portanto, e nos alegramos mais, estando ausentes do corpo e presentes diante do Senhor (8). Audemus autem et bonam volunotatem habemus magis peregrinari a corpore et praesentes esse ad Deum. NOS ALEGRAMOS [eudokoumen<2106>=habemus bonam voluntatem]. O verbo eudokeö tem como significado primordial considerar bom, agradar, como em Lc 12, 32: Não temais, ó pequeno rebanho, porque o vosso Pai agradou dar-vos o reino. Mas também um segundo significado é comprazer-se, estar satisfeito, como em Mt 3, 17: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. É neste sentido que podemos traduzir que nos alegramos mais, se ausentes do corpo [abandonado o corpo] estivéssemos presentes diante do Senhor. De um modo mais explícito, vemos este mesmo sentimento paulino em Fp 1, 23: De ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Podemos dizer que Teresa de Jesus magnificamente dá estribilho a estas palavras de Paulo em sua letrinha : “Vivo sin vivir en mí,y tan alta vida espero, que muero porque no muero”.

AGRADÁVEIS A DEUS: Por isso também aspiramos, quer presentes, quer ausentes, para lhe sermos agradáveis (9). Et ideo contendimus sive absentes sive praesentes placere illi. A tradução menos literal e mais inteligível é dada por SBP: Contudo, quer estejamos na presença do Senhor, quer vivamos exilados dele, o que nos interessa é agradar a Deus. ASPIRAMOS [filotimeomai <5389>=contendere]: o verbo grego em voz média indica considerar uma honra, ambicionar, aspirar como em Rm 15, 20: Desta maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristo foi nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio. Com o significado de procurar em 1 Ts 4, 11: Procureis viver quietos, e tratar dos vossos próprios negócios. É, pois, um esforço que aspira a um objetivo considerado como bem apetecível. E esse objetivo é o fim de toda vida cristã: agradar a Deus. AGRADÁVEL [euarestos<2101>=placere]: o latim traduz por um infinitivo o que no texto grego é um adjetivo de forma que ser aceitável é traduzido por agradar. É o conselho que Paulo dá aos efésios: Procurem sempre aquilo que mais agrada ao Senhor (Ef 5, 10). E por isso, na sua opção de viver ou encontrar-se com o Senhor, Paulo escolhe a vontade divina como a melhor opção de sua vida. Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei então o que devo escolher (Fp 1, 21-22)

O TRIBUNAL: Porque  a todos nós é necessário apresentarmos perante o tribunal do Cristo, para receber cada um as merecidas [consequências] do corpo segundo as que praticou, quer de bom quer de mal (10). Omnes enim nos manifestari oportet ante tribunal Christi ut referat unusquisque propria corporis prout gessit sive bonum sive malum. TRIBUNAL [bëma<968>=tribunal]: degrau, um passo, extensão de um pé, como em At 7, 5: E não lhe deu nela herança, nem ainda o espaço de um pé [bëma]. Mas especialmente Bëma é a cadeira do juiz  ou tribunal de justiça: Estando ele [Pilatos] assentado no tribunal, sua mulher mandou-lhe dizer: Não entres na questão desse justo. É o significado que Paulo usa em Rm 14, 10: Todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo. É o mesmo tribunal que Paulo apresenta neste versículo. Cristo é o primeiro juiz de nossa existência do qual nós temos sido durante a vida do corpo, que Paulo diz como coisas MERECIDAS não tanto dos merecimentos, mas das deficiências também. Destas atuações devemos dar conta, tanto do bem feito como do mal causado. O juízo particular no fim da vida determinará o nosso eterno destino. Assim o cremos e o aclamamos no Credo no qual o juízo é universal no  fim do mundo, que ratificará a sentença dada pessoalmente no fim de cada vida.





EVANGELHO (Mc 4, 26-34)



1ª parte: A SEMENTE COM VIDA PRÓPRIA



(Pe Ignácio, dos padres escolápios)



Começa de novo o tempo comum. Marcos mostra Jesus como Mestre do Reino ensinando às multidões desde a barca de Pedro (4, 1). Seu ensino é na base das parábolas ou exemplos. A parábola é uma narração que, sob o aspecto de uma comparação,  está destinada a ilustrar o sentido de um ensino religioso. Quando todos os detalhes têm um sentido e significado real, a parábola se transforma em alegoria. Como em Jo 10, 1-16, no caso do bom pastor. No AT as parábolas são escassas [um exemplo é 2 Sm 12, 1-4 em que Natã dá a conhecer seu crime a Davi] Porém no NT Jesus usa frequentemente as parábolas especialmente como parte de seu ensino do Reino dos Céus, para iluminar certos aspectos do mesmo. No dia de hoje temos duas pequenas parábolas, a primeira própria  de Marcos e a segunda compartida por Mateus (13, 21+) e Lucas (13, 18). Na parábola da semente, Jesus indica que o Reino tem uma força intrínseca que independe dos trabalhadores. Na segunda que o Reino, minúsculo nos tempos de Jesus, expandir-se-á de modo a se estender pelo mundo inteiro. Vejamos versículo por versículo as palavras de Jesus.

O REINO DE DEUS: E dizia: assim é o Reino de Deus, como se um homem lançasse a semente sobre a terra (26). Et dicebat sic est regnum Dei quemadmodum si homo iaciat sementem. Que significa Reino de Deus? No AT Jahvé, o Deus de Israel, era o verdadeiro rei e seu reino abrangia todo o Universo. Os juízes eram praticamente os seus representantes. Por isso, o seu profeta Samuel, último juiz, escutou estas palavras: Não é a ti que te rejeitam, mas a mim, porque não querem mais que eu reine sobre eles (I Sam 8, 7). A partir de Davi o reino de Deus tem como representante um rei humano, mas a experiência terminou em fracasso, e o reino de Deus acabou por ser um reino futuro escatológico como final dos tempos e transcendente, como sendo Deus mesmo o que seria ou escolheria o novo rei. Esse reino está chegando e tem seu representante na pessoa de Jesus e dos apóstolos. Nada tem de material ou geográfico, e é formado pelos que aceitam Jesus como Senhor, caminho, verdade e vida. Por isso dirá Jesus que o reino está dentro de vocês. A Igreja fundada por Jesus é a parte visível desse reino, que não é como os do mundo, mas tem sua base em servir e não em ser servido (Lc 22, 27). O oposto do amor, que é serviço no reino, é o amor ao dinheiro ou mammona (Mt 6, 24), de modo que podemos afirmar que o dinheiro é o verdadeiro deus deste mundo. A primeira comparação que revela como atua o Reino é esta parábola de Jesus, facilmente entendida como tipo, e que finalmente veremos como protótipo nas observações.

O CRESCIMENTO: E durma e se levante noite e dia; e a semente germine e cresça de um modo que ele não tem conhecido (27). Et dormiat et exsurgat nocte ac die et semen germinet et increscat dum nescit ille. É importante unir este versículo ao anterior para obter o sentido completo da parábola. O agricultor faz sua vida independente e a semente nasce e cresce sem ter nada que ver com o agricultor fora o fato de ser semeada por ele no início. Deste modo Paulo pode afirmar: Eu plantei, Apolo regou; mas era Deus quem fazia crescer. Aquele que planta nada é; aquele que rega nada é; mas importa somente Deus, que dá o crescimento (1 Cor 3, 6-7). Assim, na continuação dirá Jesus: Pois por si mesma a terra frutifica primeiramente a erva, depois a espiga, depois o trigo pleno na espiga (28). Ultro enim terra fructificat primum herbam deinde spicam deinde plenum frumentum in spica. O latim ultro expressa a boa vontade, sem coação; o trigo é chamado de pleno e o latim traduz com bom critério como sendo o fruto total ou final.

A COLHEITA: Quando, porém, tiver aparecido o fruto, rapidamente ele [o agricultor] envia a foice porque tem aparecido a ceifa (29). Et cum se produxerit fructus statim mittit falcem quoniam adest messis. Não há nada a comentar a não ser o trabalho do agricultor, que como vemos se reduz a semear e ceifar. A terra e a semente fazem o resto.



SEGUNDA PARÁBOLA: A MOSTARDA.

(Lugares paralelos: Mt 13, 31-32; Lc 13, 18-19)



A OUTRA COMPARAÇÃO: E dizia: a que compararíamos o Reino de Deus, ou em que parábola o assemelharíamos?(30). Et dicebat cui adsimilabimus regnum Dei aut cui parabolae conparabimus illud. Parece que Jesus medita antes de afirmar ou escolher uma comparação apropriada. Seu estilo é de chamar a atenção dos ouvintes, um simples recurso oratório que indica por outra parte uma memória viva dos ouvintes e não uma posterior reconstrução. É possível que estas palavras formem parte do método de ensino de Jesus.

A MOSTARDA: Assim como a semente da mostarda, a qual quando sendo semeada na  terra é a menor de todas as sementes sobre a terra (31).  Sicut granum sinapis quod cum seminatum fuerit in terra minus est omnibus seminibus quae sunt in terra. A mostarda é uma planta da família da couve ou repolho, de grandes folhas, flores amarelas e pequenas sementes, que tem duas espécies principais: branca e preta. A branca chega até atingir 1,2 m de altura e a preta pode chegar até 3m e 4 m de altura. A negra é comum nas margens do lago de Tiberíades e seu tronco se torna lenhoso. Por isso os árabes falam de árvores de mostarda. Esta variedade só cresce ao longo do lago e nas margens do Jordão. Os pintassilgos, gulosos de suas sementes chegam em bandos para pousar nos seus galhos e comer os grãos. As sementes não são as menores entre as conhecidas, mas parece que eram modelo, na época, de coisas insignificantes. O nome grego é sinapis e passou às línguas vernáculas porque a semente era usada junto com o mosto de uva para formar o mustum ardens [mosto ardente]. A mais comum é a branca não tão ardente como a preta, precisamente por sua maior facilidade em recolher os frutos. E quando está semeada surge e se torna maior do que todas as hortaliças e produz galhos grandes de modo que podem, sob sua sombra, as aves do céu habitar (32). Et cum seminatum fuerit ascendit et fit maius omnibus holeribus et facit ramos magnos ita ut possint sub umbra eius aves caeli habitare. Temos visto como chegam até 3 ou 4 m de altura, suficientes para aninhar os pássaros em seus galhos. O verbo  kataskenoô<2681> significa descansar, estabelecer-se, como temos visto anteriormente.

A RAZÃO DAS PARÁBOLAS: E com muitas parábolas semelhantes falava a eles a palavra do modo que podiam ouvir (33). Et talibus multis parabolis loquebatur eis verbum prout poterant audire. Vamos traduzir o último versículo que completa este para depois intentar a interpretação. Pois fora de comparação [parábola] não falava a eles; em particular, porém, aos discípulos explicava todas as coisas (34). Sine parabola autem non loquebatur eis seorsum autem discipulis suis disserebat omnia. Temos aqui uma discriminação feita sem saber a razão do por que foi escolhida por Jesus. Os discípulos tinham ocasião de saber o significado verdadeiro das comparações, por vezes não muito claras para o ouvinte geral. O caso mais evidente é o do semeador e os diversos terrenos em que a semente cai. O público em geral podia ficar com a ideia de que a semente da palavra era recebida de formas mui diversas pelos ouvintes, mas a razão destas diferenças só era explicada aos que, interessados, perguntaram junto aos doze pela explicação da mesma (Mc 4, 13-20). O encontro com a palavra é um dom de Deus, mas a resposta à mesma depende da vontade e do interesse de cada um. A explicação correspondente sempre a receberá quem esteja interessado em saber a verdade.

PISTAS: 1) Nas parábolas, Jesus geralmente não define o Reino, mas só alguns atributos do mesmo. Na primeira destas parábolas do dia de hoje temos a exposição de como o Reino se expande com uma força que não depende dos homens, mas do próprio Deus. Poderíamos dizer que descreve a força interna do Reino.

2) Na segunda parábola encontramos a visão externa do Reino. Seu crescimento seria espetacular desde um pequeno grupo insignificante como é a semente da mostarda que se parece com a cabeça de um alfinete, até uma árvore que nada tem a invejar os carrascais da Palestina.

3) Uma certeza é evidente: o Reino é uma realidade que não se pode ignorar. Em que consiste? Jesus não revela sua essência, mas devido ao nome estamos inclinados a afirmar que o Reino como nova instituição é uma irrupção da presença de Deus na História humana, que seria uma revolução e uma conquista, não violenta, mas interior do homem, e que deveria mudar a religião em primeiro lugar e as relações sociais em segundo termo. Numa época em que revoluções externas e lutas pelo poder estavam unidas a uma teocracia religiosa era perigoso anunciar a natureza verdadeira do Reino. Daí que só as externas qualidades do Reino tenham sido descritas e de modo a não levantar reações violentas. O reino sofrerá violências, mas não será o violentador (Mt 11, 12).

4) Se quisermos apurar as coisas, poderíamos atribuir ao Reino uma universalidade que não tinha a Antiga Aliança. Mas isto é esticar as coisas além do estado natural das coisas e da narração de hoje no evangelho de Marcos.

Roteiro Homilético 9 - Liturgia: Roteiro presbíteros.org

RITOS INICIAIS



Sl 26, 7.9

ANTÍFONA DE ENTRADA: Ouvi, Senhor, a voz da minha súplica. Vós sois o meu refúgio: não me abandoneis, meu Deus, meu Salvador.



Introdução ao espírito da Celebração



Estamos em tempo de crise. Todos apelam a que não se cruzem os braços.

O Reino de Deus também viverá em crise?

O Profeta Ezequiel, 17, 22-24 diz-nos: «Do cimo do grande cedro, dos seus ramos mais altos, o Senhor Deus vai colher um ramo novo, vai plantá-lo num monte muito alto. Abato a árvore elevada e elevo a árvore abatida, faço que seque a árvore verde e reverdesça a árvore seca. Eu, o Senhor, o afirmei e o hei-de realizar.» Tudo depende do Senhor mas Ele espera a nossa colaboração.

São Paulo (2.º Coríntios, 5, 6-10) recorda-nos que seremos julgados por Deus após esta vida. Mais uma vez somos alertados para o dever de trabalhar no Reino de Deus.

Em São Marcos, 4, 26-34 o Reino de Deus é comparado à semente que é lançada à terra. Também nós faremos tudo para que a semente produza cem por um?



ORAÇÃO COLECTA: Deus misericordioso, fortaleza dos que esperam em Vós, atendei propício as nossas súplicas; e, como sem Vós nada pode a fraqueza humana, concedei-nos sempre o auxílio da vossa graça, para que as nossas vontades e acções Vos sejam agradáveis no cumprimento fiel dos vossos mandamentos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



LITURGIA DA PALAVRA



Primeira Leitura



Monição: De um ramo novo, de cedro muito alto, pode surgir outro cedro ainda mais alto. Deus o fará mas conta connosco.



Ezequiel, 17, 22-24

22Eis o que diz o Senhor Deus: «Do cimo do grande cedro, dos seus ramos mais altos, Eu próprio vou colher um ramo novo, vou plantá-lo num monte muito alto. 23Na elevada montanha de Israel o hei-de plantar. Ele há-de lançar ramos e dar frutos e tornar-se-á um cedro majestoso. Nele farão ninho todas as aves, toda a espécie de pássaros habitará à sombra dos seus ramos. 24E todas as árvores do campo hão-de saber que Eu sou o Senhor; abato a árvore elevada e elevo a arvore abatida, faço que seque a árvore verde e reverdesça a árvore seca. Eu, o Senhor, o afirmei e o hei-de realizar.»



O Profeta Ezequiel, após a denúncia das infidelidades do seu povo sujeito ao duro castigo do exílio babilónico, fala agora em nome do Senhor Deus, anunciando a restauração final do povo exilado, como obra do próprio Deus. De um simples ramo – outra forma de referir o resto de Israel – Ele fará surgir um cedro majestoso, a dar frutos, e em cujos ramos «farão ninho todas as aves» (v. 23), numa visão universalista escatológica, que preanuncia a universalidade do Reino de Deus, que Jesus descreve na parábola do grão de mostarda do Evangelho de hoje.



Salmo Responsorial

 Salmo 91 (92) 2-3. 13-14. 15-16. (R. cf. 2a)



Monição: Se o homem confia no Senhor, florescerá como a palmeira e crescerá como o cedro do Líbano.



Refrão:         É BOM LOUVAR-VOS SENHOR



É bom louvar o Senhor

e cantar salmos ao vosso nome, ó Altíssimo,

proclamar pela manhã a vossa bondade

e durante a noite a vossa fidelidade.



O justo florescerá como a palmeira,

crescerá como o cedro do Líbano;

plantado na casa do Senhor,

florescerá nos átrios do nosso Deus.



Mesmo na velhice dará o seu fruto,    

cheio de seiva e de vigor,

para proclamar que o Senhor é justo:

n’Ele, que é o meu refúgio, não há iniquidade.





Segunda Leitura



Monição: Estou neste mundo de passagem. Caminhamos para a eternidade onde cada um receberá o que tiver feito pelo Reino de Deus.



2 Coríntios 5, 6-10

Meus irmãos: 6Nós estamos sempre cheios de confiança, sabendo que, enquanto habitarmos neste corpo, vivemos como que exilados, longe do Senhor, 7pois caminhamos pela fé e não vemos claramente. 8E, com a mesma confiança, preferíamos exilar-nos do corpo, para habitarmos junto do Senhor. 9Por isso nos empenhamos em Lhe ser agradáveis, quer continuemos a habitar no corpo, quer tenhamos de afastar-nos dele. 10Todos nós devemos aparecer a descoberto perante o tribunal de Cristo, a fim de cada qual receber a sua paga, pelas obras feitas durante a vida corporal, conforme as tiver praticado, boas ou más.



Na primeira parte da 2ª Carta aos Coríntios (cap. 1 a 7), S. Paulo, depois de fazer a sua defesa perante as acusações dos adversários, faz a apologia do seu ministério apostólico; e, no meio de tribulações sem conta (4, 7-12), é a fé em Jesus ressuscitado e a esperança no Céu que o leva a não desfalecer (4, 13 – 5, 10). O desejo de se «exilar do corpo», isto é, de deixar esta vida terrena, «para habitar junto do Senhor» no Céu (v. 8) leva-o ao empenho em lutar por Lhe agradar (v. 9). E não deixa de aproveitar a ocasião para expor aos fiéis uma verdade de fé fundamental que nos responsabiliza, a saber, que todos havemos de ser julgados por Deus no fim desta vida. É a este mesmo «tribunal de Cristo» (v. 10) que se refere o nº 1022 do Catecismo da Igreja Católica: «Cada homem recebe, na sua alma imortal, a retribuição eterna logo depois da sua morte, num juízo particular que põe a sua vida na referência de Cristo, quer através duma purificação, quer para entrar imediatamente na felicidade do Céu, quer para se condenar imediatamente para sempre». Chamamos a atenção para o modelo antropológico grego que S. Paulo aqui adopta; como bom comunicador, costuma lançar mão da linguagem que mais se presta a ser bem compreendido pelos destinatários.



Aclamação ao Evangelho       



Monição: Quando falha a sementeira, a culpa nunca é de Cristo mas de cada um de nós.



ALELUIA

 A semente é a Palavra de Deus, Cristo é o semeador;

todo aquele que O encontra, encontra a vida eterna.





Evangelho



São Marcos 4, 26-34

Naquele tempo, 26dizia Jesus às multidões: «O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. 27Dorme e levanta-se, de noite e de dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como. 28A terra produz por si, primeiro o pé, depois a espiga, por fim o trigo maduro na espiga. 29E, mal o trigo o permite, logo ele mete a foice; a seara está pronta. 30Jesus dizia também: «A que havemos de comparar o Reino de Deus? Em que parábola o havemos de apresentar? 31É como o grão de mostarda que, ao ser semeado no terreno, é a menor de todas as sementes que há na terra. 32Mas, depois de semeado, começa a crescer, torna-se a maior de todas as plantas da horta e deita ramos tão grandes que as aves do céu vêm abrigar-se à sua sombra.» 33Jesus pregava-lhes a palavra Deus com muitas parábolas destas, conforme eram capazes entender. 34E não lhes falava senão por meio de parábolas, e, em particular, tudo explicava aos discípulos.



Após a interrupção com o tempo da Quaresma e da Páscoa, retomamos hoje a sequência da leitura do evangelista do ano, S. Marcos, com duas parábolas do Reino de Deus no final do cap. 4, a saber, a do germinar e crescer da semente e a do grão de mostarda. A primeira (vv. 26-29) é uma das poucas passagens exclusivas de S. Marcos; ela apresenta o processo do desenvolvimento da semente, deveras misterioso sobretudo para os antigos, pois tudo acontece sem que o semeador saiba como e sem que ele intervenha de qualquer modo: «Dorme e levanta-se, de noite e de dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como» (v. 27). O Reino de Deus cresce não pela virtude, preocupação ou mérito do pregador, mas pela sua energia interna, pela força da graça de Deus que actua onde, como e quando quer. São Paulo dirá aos Coríntios, ufanos em grupos à volta dos diversos pregadores do Evangelho: «Eu plantei, Apolo regou, mas foi Deus quem deu o crescimento. Assim, nem o que planta nem o que rega é alguma coisa, mas só Deus, que faz crescer» (1 Cor 3, 6-7). Também se pode fazer uma leitura espiritual (lectio divina) da parábola aplicando-a à acção da graça na alma: Deus faz que brotem dentro de nós, sem sabermos como, santas inspirações, boas resoluções, fidelidade, maior entrega… Ele realiza em nós e à nossa volta aquilo que nem sequer podíamos sonhar, desde que lancemos a semente e não estorvemos a obra de Deus.

30-32 A pergunta retórica com que a parábola do grão de mostarda é introduzida – «a que havemos de comparar o Reino de Deus? – é um recurso bem semítico destinado a atrair a atenção dos ouvintes. O grão de mostarda era a semente mais pequena então conhecida, que pode em pouco tempo vir a dar uma planta de cerca de três metros. Esta parábola põe em evidência a desproporção entre a insignificância dos começos do Reino de Deus e a sua vasta e rápida expansão. O livro de Actos dos Apóstolos sublinha constantemente o crescimento progressivo da Igreja; por sua vez, em S. Lucas, Jesus anima-nos a não temer a insignificância dos começos: «Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino» (Lc 12, 32).



Sugestões para a homilia

1. Eu, O Senhor o afirmei e o hei-de realizar (Ezequiel, 17, 24)

Quem acredita em Deus olha para o passado e por ele compreende o futuro.

Ezequiel nasceu em 620 antes de Cristo, em Jerusalém, na época do rei Josias. Em 597 os judeus são deportados para Babilónia e Ezequiel também.

O sofrimento dos exilados era muito grande; sobretudo porque se encontravam longe da pátria, de Jerusalém e do Templo. O Salmo 137 é uma autêntica balada dos exilados, traduzindo a amargura e a saudade do povo, a quem os dominadores pediam «cânticos de alegria» (Salmo 137) «Junto aos rios da Babilónia nos sentámos a chorar, recordando-nos de Jerusalém… Os que nos levaram para ali cativos pediam-nos um cântico…» – «Cantai-nos um cântico de Jerusalém…» – «Como poderíamos nós cantar um cântico do Senhor, estando numa terra estranha? Se me esquecer de ti, Jerusalém, fique ressequida a minha mão direita! Pegue-se-me a língua ao paladar… se não fizer de Jerusalém a minha suprema alegria»!

Atenção ao pequeno pormenor que vem a seguir: «A tentação da dúvida e do desespero ameaçava profundamente os Judeus. Muitos pensavam: o nosso Deus abandonou o seu povo; os deuses pagãos levaram a melhor sobre o Deus de Israel!». Isto não era verdade. Deus nunca abandona os que O amam. Apenas os coloca em provações. Tudo o que relatámos parece repetir-se. Os povos do mundo inteiro quase ignoram Deus para confiar apenas nas leis dos governantes e na técnica.

A humanidade estará de regresso a Deus? A parábola do filho pródigo é sempre actual… Voltemos ao convívio íntimo com Deus, e seremos salvos.

2. «O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra». Como ajudá-la a crescer e a dar fruto?

O processo de desenvolvimento da semente é um facto misterioso. O Reino de Deus cresce não por virtude ou mérito dos apóstolos, mas com a força da graça de Deus. São Paulo dirá aos Coríntios (1 Cor 3, 6-7): «Eu plantei, Apolo regou, mas foi Deus quem deu o crescimento». Assim, nem o que planta, nem o que rega é alguma coisa, mas só Deus faz crescer».

Mas o plantar e regar é ou não imperativo e imprescindível?

Claro que sim. Jesus fundou a Igreja e conta com os leigos, os sacerdotes e os Bispos, para que o Reino de Deus se dilate. A formação dos leigos, sacerdotes e Bispos deve ser integral.

Basta que falhe alguma das partes para que a acção de cada pessoa seja um fracasso.

Qualidades humanas, cultura intelectual, e vida de santidade são dados inseparáveis. As pessoas muito activas mas onde falta a vida de oração, de frequência dos sacramentos, Eucaristia e comunhão diária, confissão frequente, direcção espiritual, meditação, exame diário de consciência, recitação diária da Liturgia das Horas, reza diária do Terço, outras práticas de devoção a Nossa Senhora, devoção ao Anjo da Guarda, a São José, etc, fazem muito barulho mas não conseguem levedar o meio em que vivem.

Estamos convencidos de que em primeiro lugar está a santidade e só depois a acção?

Corremos todos o risco de muita operosidade e pouca santidade.

Rezemos, façamos sacrifícios, transformemos o trabalho em oração, mantenhamos a união com Deus ao longo do dia e Deus fará o resto.

Para terminar, reparemos nestas palavras de São Lucas, 13, 32: «Não temais pequeno rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino».

Não devemos esquecer este pormenor. No mistério da conversão e santificação de cada cristão também conta o respeito de Deus pela liberdade de cada pessoa. Ninguém se converte contra sua vontade.



LITURGIA EUCARÍSTICA



ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Senhor nosso Deus, que pelo pão e o vinho apresentados ao vosso altar dais ao homem o alimento que o sustenta e o sacramento que o renova, fazei que nunca falte este auxílio ao nosso corpo e à nossa alma. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.



SANTO

Monição da Comunhão



A semente recebida no Baptismo deve ser acompanhada da Eucaristia.



Sl 26, 4

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Uma só coisa peço ao Senhor, por ela anseio: habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida.



ou

Jo 17, 11

Pai santo, guarda no teu nome os que Me deste, para que sejam em nós confirmados na unidade, diz o Senhor.



ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Fazei, Senhor, que a sagrada comunhão nos vossos mistérios, sinal da nossa união convosco, realize a unidade na vossa Igreja. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.





RITOS FINAIS



Monição final



Cuidado! Se não és apóstolo no Reino dos Céus, és apóstata.



HOMILIAS FERIAIS



11ª SEMANA



2ª Feira, 18-VI: Uma nova mentalidade.

2 Cor 6, 1-10 / Mt 5, 38-42

Ouvistes que foi dito aos antigos: olho por olho, dente por dente. Pois eu digo-vos: não resistais ao malvado.

Jesus pede uma nova mentalidade no relacionamento com as outras pessoas. É altura de acabar com a lei de Talião. Agora deve prevalecer o amor ao próximo, que exige capacidade de humilhação, desprendimento do próprio eu, espírito de serviço desinteressado, ajuda aos mais necessitados.

É também ocasião de darmos um bom exemplo: pela constância nas tribulações, nas adversidades, nos açoites… pela ciência e pela paciência, pela bondade, pela palavra da verdade e pela força de Deus (cf Leit)



3ª Feira, 19-VI: A riqueza da caridade.

2 Cor 8, 1-9 / Mt 5, 43-48

Ele (Jesus), que era rico, fez-se pobre por vossa causa, para que vos tornásseis ricos pela sua pobreza.

S. Paulo reconhece que os fiéis de Corinto são ricos em tudo: na fé, na eloquência, na doutrina, nas atenções e na caridade (cf Leit).

Precisamos descobrir o tesouro do amor aos inimigos, aqueles que nos incomodam: «No sermão da montanha, o Senhor lembra o preceito: ‘Não matarás’, e acrescenta-lhe a proibição da ira, do ódio e da vingança. Mais ainda: Cristo exige que o seu discípulo ofereça a outra face, que ame os seus inimigos (Ev)» (CIC, 2262). Este amor é uma consequência do amor que Deus semeia nos nossos corações.



4ª Feira,20-VI: Sementeira com generosidade e alegria.

2 Cor 9, 6-11 / Mt 6, 1-6. 16-18

Quem semeia pouco, também colherá pouco, e quem semeia com largueza colherá com largueza.

Com esta imagem da sementeira, S. Paulo anima-nos a semear com generosidade e alegria: «Deus ama quem dá com alegria» (Leit). Mas não esqueçamos que a semente é fornecida por Deus (cf Leit).

Essa mesma generosidade na sementeira há-de notar-se nas formas de penitência interior: «A penitência interior do cristão pode ter expressões muito variadas. A Escritura e os Padres insistem sobretudo em três: o jejum, a oração e a esmola (Ev), que exprimem a conversão, em relação a si mesmo, a Deus e aos outros» (CIC, 1434).



5ª Feira,21-VI: O pão nosso de cada dia.

2 Cor 11, 1-11 / Mt 6, 7-15

Orai, pois, deste modo: Pai nosso… o pão nosso de cada dia nos dai hoje.

Ao pedirmos o pão nosso de cada dia reconhecemos que toda a nossa existência depende de Deus. Pedimos, em primeiro lugar, o necessário para resolver as necessidades de cada dia; e, depois, o que é necessário para a salvação da alma.

O pão nosso «tomado à letra (sobre-substancial), designa directamente o Pão da vida, o corpo de Cristo, ‘remédio de imortalidade’, sem o qual não temos a vida em nós… A Eucaristia é o nosso pão de cada dia… E também são pão de cada dia as leituras que em cada dia ouvimos na igreja» (CIC, 2837).

Celebração e Homilia:          ADRIANO TEIXEIRA
Nota Exegética:                     GERALDO MORUJÃO
Homilias Feriais:                   NUNO ROMÃO
Sugestão Musical:                 DUARTE NUNO ROCHA