Roteiro
Homilético cnbbleste2.org.br
11º Domingo Comum – Ano B
Por Dom Emanuel Messias de Oliveira
1ª LEITURA – Ez 17,22-24
A primeira deportação para a Babilônia
aconteceu no ano 597 a.C e o profeta Ezequiel acompanhou a elite deportada. A
segunda e mais conhecida aconteceu 10 anos depois, ou seja, no ano 587 a.C. com
a total destruição de Jerusalém. O profeta quer animar o povo e alimentar a
esperança de todos; para isso anuncia a volta, a restauração da cidade, do
culto e da realeza. As imagens são agrícolas. O galho da copa do cedro é a
dignidade real que será restaurada por Javé. Esse galho será replantado sobre
um monte alto e elevado de Israel. É o monte Sião, onde está Jerusalém. Assim
as promessas, feitas a Davi de sempre ter um descendente seu no trono de
Israel, não serão interrompidas. Este galho crescerá e tornará um cedro
majestoso, cheio de folhagens e frutos. Ali, todos os pássaros (todas as
nações) farão seus ninhos. Todos haverão de reconhecer a soberania de Javé
capaz de mudar a sorte dos exilados. Aqui, as árvores do campo também
simbolizam as nações. Pois bem, Javé é capaz de podar a árvore alta (o Império
Babilônico que havia destruído Jerusalém e exilado o povo) e de elevar a árvore
baixa ( tirar o seu povo do exílio e trazê-lo de volta para a sua pátria). Ele
é capaz de secar a árvore verde (o orgulho das nações poderosas). Javé é capaz
até mesmo de fazer brotar a árvore seca, ou seja, ele é o Deus da vida e todas
as nações tomarão consciência disso. O profeta com estas imagens mantém acesas
as esperanças do povo.
2ª LEITURA -2Cor 5,6-10
A 2Cor é praticamente uma defesa que
Paulo faz do seu ministério apostólico diante daqueles que o combatem ou não o
entendem. No trecho de hoje, Paulo coloca o dilema: permanecer no corpo ou sair
do corpo? Em outras palavras viver ou morrer? O problema era que, para alguns
cristãos, os sofrimentos e tribulações, que Paulo padecia no corpo por causa do
evangelho, não tinham valor algum. Para estes cristãos o que vale é o espírito;
o corpo, portanto, poderia ser destinado ao prazer.
As respostas de Paulo:
a)
Com relação ao Dilema
Paulo prefere mil vezes morrer para ir
logo ao encontro do Senhor ( Fl 1,23). Os santos não tem apego a este mundo.
Eles sabem que o mundo é passageiro e aqui tudo é relativo. A vida verdadeira e
definitiva, o verdadeiro prazer de viver se encontram junto de Cristo no céu.
Aqui, a gente vive como num exílio, longe do Senhor, aqui, a gente caminha pela
fé, não pela visão. No céu não haverá fé nem esperança. Estaremos de posse de
tudo que esperamos. No lugar de crer nós veremos Deus face a face. Mas,
enquanto estivermos aqui, morando no corpo, temos que ter muita confiança,
muita fé e fazer muito esforço de agradar ao Senhor.
b) Com relação ao corpo
Paulo mostra sua importância. É através
do corpo que damos nossas respostas de fé. Para estarmos amanhã com Cristo é
preciso, no hoje da história, enquanto estamos no corpo, o domínio das paixões,
o sacrifício de tudo que não edifica o corpo de Cristo, que é a Igreja. É
preciso dedicar-se às boas obras e evitar o mal, é preciso trabalhar para o
crescimento do Reino. Paulo termina dizendo que, quando morrermos, Cristo nos
julgará. A recompensa de uma vida eterna com ele vai depender do que tivermos
feito de bom ou de mal, enquanto estávamos no corpo.
EVANGELHO – Mc 4,26-34
As parábolas querem ajudar a superar a
crise diante dos adversários de Jesus e de seus seguidores. O sucesso de Jesus
começa a ser questionado; então, Jesus esclarece nas parábolas. Aqui o Reino é
apresentado em 2 parábolas.
1ª - A semente que cresce sozinha.
É uma resposta ao nosso desânimo e um
incentivo na nossa caminhada evangelizadora como discípulos missionários. No
tempo de Jesus, os agricultores depois da semeadura só retornavam para a
colheita. A semente por si mesma crescia e dava frutos. Quer dizer, ela traz
dentro de si todo o seu potencial para crescer e dar frutos. A semente é a
Palavra de Deus, ou o Reino implantado pela Palavra. Então o que é importante?
Importante é semear sem desanimar, sem também atrapalhar com “muitos
ingredientes”. O crescimento é lento,
mas contínuo. Depois é só colher. Como a colheita é imagem do julgamento
e isso compete ao Pai, nossa missão é só semear com confiança, paciência e
esperança.
2ª - É uma parábola de contraste: o grão
de mostarda.
Ela é a menor de todas as sementes e a
maior de todas as hortaliças. Na Palestina, há mostardeiras que cresciam mais
ou menos a altura de um poste de cimento. Os pássaros (as nações) podem
abrigar-se à sombra de seus ramos. É uma bela imagem do Reino de Deus, que é
insignificante no início (começa com Jesus e 12 apóstolos), e, depois, vai
crescendo e acolhendo povos e nações.
O significado das parábolas
Às vezes aparecem como se fossem um
enigma (4,11-12), mas normalmente é uma forma clara de entender. No fundo
diante da parábola é preciso tomar uma posição. E era só para aqueles que
queriam entrar na dinâmica do Reino que Jesus dava maiores explicações.
Roteiro
Homilético 1 - Liturgia: Mensagem franciscanos.org
O Reino de Deus em parábolas
O evangelho de hoje completa o “Sermão
das Parábolas”, lido, no texto de Mt, nos 15°, 16° e 17° domingos do ano A.
Acrescenta as parábolas da semente que cresce por si (própria de Mc) e do grão
de mostarda (cf. Mt e Lc). Em Mt, as parábolas formam uma espécie de catequese
(Mt 13,51-52). Em Mc, integram a revelação velada do Filho do Homem (4,10-12 e
33-34). Quando Jesus fala em parábolas e o povo não entende, realiza-se
plenamente o que já foi a missão de Isaías: falar a um povo sem compreensão (Is
6,9-10). Aos discípulos, porém, ensina em particular, iniciando-os no “mistério
do Reino” (4,11; cf. 4,34). Este esquema de Mc se explica a partir de seu
contexto histórico: pelos meados do século I d.C., a grande maioria do povo ainda
não se convertera, mas uns poucos “iniciados” continuam a pregação do evangelho
de Jesus, aqueles que, depois da Ressurreição, entenderam o “segredo
messiânico”: que Jesus foi o Filho do Homem padecente (cf. 24° dom.).
Jesus não pronunciou as parábolas para
não ser entendido. Mc 4,33 aponta que Jesus procurou compreensão na medida em
que o povo fosse capaz. O falar em parábolas é um meio didático que caracteriza
Jesus de Nazaré. A parábola é linguagem figurativa, apresenta por uma imagem a
realidade visada. Jesus mostra aos ouvintes o que acontece no seu dia-a-dia (na
vida comercial, social, agreste etc.), para que eles conscientizem de que, de
modo semelhante, está acontecendo o Reino no meio dele “É como quando um homem
lança a semente no campo … ” (4,26). Pode-se considerar a parábola como um
enigma apresentado de tal modo que a resposta logo aparece. Nós diríamos: “Qual
é a semelhança entre o Reino de Deus e uma semente? É que ambos crescem por si
mesmos, pois não se precisa puxar o caule para que o trigo cresça”.
Jesus procura entrar em diálogo com a
convicção íntima do homem. Para implantar no coração dos ouvintes uma
sementinha de sua experiência de Deus, ele apela para a experiência deles,
embora num outro terreno. No caso: para fazer com que os ouvintes se desliguem
de sua ideologia de um Reino de Deus vindo ostensivamente com as forças
celestes e implantando um “império davídico” para Israel, mediante o zelo dos
“zelotes” ou dos cumpridores da Lei (fariseus), Jesus apela para uma
experiência da vida campestre: a semente cresce sem intervenção humana. Aí,
coloca uma pulga atrás da orelha dos ouvintes. Eles ficam refletindo e, aos
poucos, se sentirão convidados a participar da misteriosa e única experiência
do Reino de Deus que Jesus mesmo tem como “filho de Deus”; ou, então,
recusarão. A parábola, em última análise, nos coloca diante da opção de
repartir a experiência de Jesus ou não.
De modo análogo podemos entender a outra
parábola, a do grão de mostarda. Esta desfaz uma ideologia de falso universalismo
a respeito do Reino, mostrando que o universalismo não está na grandeza
visível, numérica, mas na força de crescimento invisível como a que está no
grão de mostarda. Embora não se veja quase nada, Jesus revela que o Reino está
acontecendo, e bem este Reino universal que é sugerido pelo próprio termo de
comparação, o arbusto frondoso no qual se aninham os pássaros do céu (como
Ezequiel descreveu o futuro reino de Israel restaurado; cf. 1ª leitura). “Qual é a semelhança entre o Reino
de Deus e um grão de mostarda? Ambos parecem quase nada no começo e se tomam
muito grandes no fim”. Depois dessa, se pode optar: prefere-se um Reino de Deus
que se anuncie com espalhafato, ou aquele que cresça organicamente a partir de
uma pequena semente?
A 2ª
leitura dificilmente se integra no tema principal, mas sua mensagem toca
o coração. Enquanto estamos neste corpo, diz Paulo, estamos exilados do Senhor.
Podemos suspeitar que Paulo, escrevendo a gregos, se lembrou da alegoria da
caverna, de Platão … ). Preferiria estar exilado do corpo, perto do Senhor (*).
A liturgia de hoje oferece o apoio veterotestamentário desta idéia no canto da
comunhão: Sl 27[26],4 e outros; por isso, seria muito adequado ler a 2ª leitura depois da comunhão.
(*) A expressão de Paulo não fica livre
do dualismo platônico, caro aos gregos. Mas a idéia fundamental, presente no
fim da leitura, é profundamente bíblica: o importante não é estar fora ou
dentro do corpo, mas agradar a Deus por nossa práxis (que é necessariamente “no
corpo”), pois encontrá-lo-emos como juiz de nossa vida.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan
Konings, SJ, Editora Vozes
Não parece, mas o reino cresce
Muitos dentre nós estamos preocupados
porque as comunidades eclesiais conscientes crescem tão devagarinho e às vezes
até parecem diminuir. Então, demos um passo para trás, para enxergar melhor.
Seiscentos anos antes de Jesus, o “povo eleito” que devia prestar culto ao Deus
Único neste mundo foi tirado de sua terra e quase sumiu do mapa: Israel e seu
rei foram levados para o exílio babilônico. Mas Deus fará crescer de novo um
broto no cedro de Israel e o povo se
tornará novamente uma árvore frondosa (1ª leitura). No evangelho, Jesus usa a
imagem do crescimento para falar do Reino de Deus. Estamos preocupados porque o
Reino de Deus não se enxerga? Aos que o criticam porque seu anúncio do
Reino de Deus não se verifica por nenhum
fenômeno extraordinário, Jesus responde: o agricultor não vê a semente crescer!
O homem descansa ou se ocupa com outras coisas, e de repente a plantinha está
aí. Ou veja a sementinha do mostardeiro, parece nada, mas cresce e se torna
arbusto frondoso onde os passarinhos vão se abrigar. O mesmo acontece à pequena
comunidade dos que buscam a vontade de Deus conforme a palavra de Cristo.
É essa a confiança que Jesus nos ensina.
Jesus não é um homem de sucesso, de ibope. Ele lança uma sementinha, nada mais.
E, de repente, a sementinha brota. O que
parecia nada, torna-se fecundo, árvore frondosa.
No Calvário, o grão de trigo caiu na
terra e morreu, para produzir muito fruto. Ressuscitou como árvore da vida. A
Igreja dos primeiros cristãos foi esmagada pelas perseguições, mas ressurgiu das catacumbas
como a maior força religiosa e moral do Império Romano. Os bárbaros destruíram
o Império, mataram os missionários cristãos, mas de seu martírio surgiu a
sociedade cristã da Idade Média. E esta foi desmantelada pela Modernidade, mas
a semente cresce por baixo, especialmente no povo que mais sofreu a Modernidade
do que dela se valeu. Nunca os pobres da
América Latina foram tão ativos na comunidade de fé como hoje. E a árvore
frondosa continua acolhendo passarinhos que chegam de todos os lados.
Mas o que mais importa não é a
quantidade de novos galhos e sim a qualidade da semente, tão única e autêntica
que nada a pode suprimir.
Do livro “Liturgia Dominical”, de Johan
Konings, SJ, Editora Vozes
Roteiro
Homilético 2 - Liturgia: Dehonianos de Portugal
Tema do 11º Domingo do Tempo Comum
A liturgia do 11º Domingo do Tempo Comum
convida-nos a olhar para a vida e para o mundo com confiança e esperança. Deus,
fiel ao seu plano de salvação, continua, hoje como sempre, a conduzir a
história humana para uma meta de vida plena e de felicidade sem fim.
Na primeira leitura, o profeta Ezequiel
assegura ao Povo de Deus, exilado na Babilónia, que Deus não esqueceu a
Aliança, nem as promessas que fez no passado. Apesar das vicissitudes, dos
desastres e das crises que as voltas da história comportam, Israel deve
continuar a confiar nesse Deus que é fiel e que não desistirá nunca de oferecer
ao seu Povo um futuro de tranquilidade, de justiça e de paz sem fim.
O Evangelho apresenta uma catequese
sobre o Reino de Deus – essa realidade nova que Jesus veio anunciar e propor.
Trata-se de um projecto que, avaliado à luz da lógica humana, pode parecer
condenado ao fracasso; mas ele encerra em si o dinamismo de Deus e acabará por
chegar a todo o mundo e a todos os corações. Sem alarde, sem pressa, sem
publicidade, a semente lançada por Jesus fará com que esta realidade velha que
conhecemos vá, aos poucos, dando lugar ao novo céu e à nova terra que Deus quer
oferecer a todos.
A segunda leitura recorda-nos que a vida
nesta terra, marcada pela finitude e pela transitoriedade, deve ser vivida como
uma peregrinação ao encontro de Deus, da vida definitiva. O cristão deve estar
consciente de que o Reino de Deus (de que fala o Evangelho de hoje), embora já
presente na nossa actual caminhada pela história, só atingirá a sua plena
maturação no final dos tempos, quando todos os homens e mulheres se sentarem à
mesa de Deus e receberem de Deus a vida que não acaba. É para aí que devemos
tender, é essa a visão que deve animar a nossa caminhada.
LEITURA I – Ez 17, 22-24
Leitura da profecia de Ezequiel
Eis o que diz o Senhor Deus:
«Do cimo do cedro frondoso, dos seus
ramos mais altos,
Eu próprio arrancarei um ramo novo
e vou plantá-lo num monte muito alto.
Na excelsa montanha de Israel o
plantarei
e ele lançará ramos e dará frutos
e tornar-se-á um cedro majestoso.
Nele farão ninho todas as aves,
toda a espécie de pássaros habitará à
sombra dos seus ramos.
E todas as árvores do campo hão-de saber
que Eu sou o Senhor;
humilho a árvore elevada e elevo a
árvore modesta,
faço secar a árvore verde e reverdeço a
árvore seca.
Eu, o Senhor, digo e faço».
AMBIENTE
No ano de 609 a. C., o faraó Necao
derrotou o rei Josias e colocou no trono de Judá Joaquim, que durante algum
tempo foi vassalo do Egipto. Contudo, em 605 a.C., Nabucodonosor derrotou as
tropas assírias e egípcias em Carquemish, prosseguiu a sua campanha em direcção
ao Egipto e assumiu o controlo da Síria e da Palestina. Joaquim ficou a pagar
tributo aos babilónios. Quando, em 601, Nabucodonosor não conseguiu conquistar
o Egipto, Joaquim julgou chegada a hora de se libertar do domínio babilónico.
Contudo, Nabucodonosor reagiu sitiando Jerusalém, em 598 a. C., e Joaquim
morreu durante o cerco, ou foi deportado para a Babilónia. Sucedeu-lhe Jeconias
que, ao fim de três meses de resistência, se rendeu aos babilónios (597 a.C.).
Nabucodonosor instalou, então, no trono
de Judá um tal Sedecias. Durante algum tempo, Judá manteve-se tranquilo,
pagando pontualmente os tributos devidos aos babilónios; mas, ao fim de algum
tempo, aproveitando a conjuntura política favorável, Sedecias aliou-se com os
egípcios e deixou de pagar o tributo. Nabucodonosor enviou imediatamente um
exército que cercou Jerusalém. Apesar do socorro de um exército egípcio,
Jerusalém teve de se render aos babilónios. Sedecias, aproveitando as sombras
da noite, tentou fugir da cidade; mas foi feito prisioneiro, viu os seus filhos
serem assassinados e ele próprio foi levado prisioneiro para a Babilónia, onde
acabou os seus dias.
Ezequiel, o “profeta da esperança”,
exerceu o seu ministério na Babilónia no meio dos exilados judeus. O profeta
fez parte de uma primeira “leva” de exilados que, em 597 a.C., chegou à
Babilónia, após a derrota de Jeconias.
A primeira fase do ministério de
Ezequiel decorreu entre 593 a.C. (data do seu chamamento à vocação profética) e
586 a.C. (data em que Jerusalém foi conquistada uma segunda vez pelos exércitos
de Nabucodonosor e um novo grupo de exilados foi encaminhado para a Babilónia).
Nesta fase, o profeta preocupou-se em destruir as falsas esperanças dos
exilados (convencidos de que o exílio terminaria em breve e que iam poder
regressar rapidamente à sua terra) e em denunciar a multiplicação das
infidelidades a Jahwéh por parte desses membros do Povo judeu que escaparam ao
primeiro exílio e que ficaram em Jerusalém.
É precisamente neste contexto que
Ezequiel propõe “um enigma”, “uma parábola”, que nos é apresentada ao longo do
capítulo 17 do seu livro. Fala de uma “águia” (provavelmente o rei
Nabucodonosor), que “veio do Líbano comer a ponta do cedro. Apanhou o ramo mais
elevado” (provavelmente o rei Jeconias) e levou-o para o país dos comerciantes
(isto é, a Babilónia). Em seu lugar, plantou outra árvore (provavelmente
Sedecias). Esta árvore, uma “videira”, não irá, contudo, prosperar, apesar das
tentativas de aliança com o Egipto. Mais, será levado prisioneiro para a
Babilónia e lá morrerá (Ez 17,10).
A mensagem deste “enigma” é óbvia: os
exilados não devem alimentar ilusões ao ver as jogadas políticas de Sedecias,
aliado com os egípcios. A política de Sedecias, em Jerusalém, não significará a
liberdade dos exilados, mas, pelo contrário, conduzirá a uma nova catástrofe.
Estará então tudo terminado? Já não há
esperança? Deus abandonou definitivamente o seu Povo e esqueceu as suas
promessas de salvação?
É precisamente aqui que se encaixa o
oráculo de salvação que a primeira leitura deste domingo nos apresenta: não,
apesar das dramáticas circunstâncias do tempo presente, Deus não abandonou o
seu Povo, mas irá construir com ele uma história nova, de salvação e de graça.
MENSAGEM
Deus não esqueceu a promessa feita, por
intermédio do profeta Natan (cf. 2 Sm 7), e na qual assegurou a David a
continuidade do seu trono. É verdade que a dinastia de David (o “ramo mais
elevado” do “cedro” – Ez 17,3-4) foi arrancada; mas Deus não abandonou o seu
Povo: Ele próprio vai tomar um “ramo novo”, plantá-lo na montanha de Israel,
fazê-lo dar frutos e torná-lo uma árvore resistente e de grande porte (Ez
17,22-23) – ou seja, irá restabelecer a dinastia davídica em Jerusalém,
assegurando ao seu Povo um futuro pleno de vida, de felicidade e de paz sem
fim.
O texto sublinha, antes de mais, a
presença omnipotente de Deus na história da humanidade. Ele preside à história
humana, tem um projecto de salvação e conduz sempre a caminhada dos homens de
acordo com o seu plano. O poder orgulhoso dos impérios humanos nada pode contra
esse Deus que é o Senhor da história e que, com paciência e amor, vai
concretizando o seu projecto.
Além disso, Ezequiel assegura aos
exilados a “fidelidade” de Deus às suas promessas. Deus não falha, não esquece
os seus compromissos, não abandona esse Povo com quem se comprometeu. Mesmo
afogado na angústia e no sofrimento, mesmo mergulhado num horizonte de
desespero, Israel tem de aprender a confiar nesse Deus que é sempre fiel às
suas promessas e aos compromissos que assumiu com o seu Povo no âmbito da
Aliança. Tudo pode cair, tudo pode falhar; só Deus não falha.
O nosso texto contém ainda uma indicação
sobre a forma de actuar de Deus, sobre a “estranha” lógica de Deus: Ele toma
aquilo que é pequeno aos olhos dos homens (“um ramo novo” – Ez 17,22) e,
através dele, vence o orgulho e a prepotência, confunde os poderosos e exalta
os humildes. Deus prefere os pequenos, os débeis, os pobres (aqueles que na sua
humildade e simplicidade estão sempre disponíveis para acolher os desafios e os
dons de Deus); e é através deles que concretiza os seus projectos de salvação e
de graça.
Estes poucos versículos contêm um imenso
capital de esperança, que deve alimentar e animar, hoje como ontem, a caminhada
do Povo de Deus pela história.
ACTUALIZAÇÃO
¨ Essencialmente, o texto de Ezequiel
que a liturgia deste domingo nos propõe garante que Deus conduz sempre a
história humana de acordo com o seu projecto de salvação e mantém-se fiel às
promessas feitas ao seu Povo. Esta “lição” não pode ser esquecida e essa
certeza deve levar-nos a encarar os dramas e desafios do tempo actual com
confiança e esperança. Não estamos abandonados à nossa sorte; Deus não desistiu
desta humanidade que Ele ama e continua a querer salvar. É verdade que a hora
actual que a humanidade atravessa está marcada por sombras e graves
inquietações; mas também é verdade que Deus continua a acompanhar cada passo
que damos e a apontar-nos caminhos de vida. A última palavra – uma palavra que
não pode deixar de ser de salvação e de graça – será sempre de Deus. Ancorados
nessa certeza, temos de vencer o medo e o pessimismo que, por vezes, nos
paralisam e dar aos homens nossos irmãos um testemunho de esperança, de serena
confiança.
¨ A referência – mil vezes repetida ao
longo da Bíblia – à tal “estranha lógica” de Deus, que se serve do que é débil
e frágil para concretizar os seus projectos de salvação, convida-nos a mudar os
nossos critérios de avaliação e a nossa atitude face ao mundo e face aos que
nos rodeiam. Por um lado, ensina-nos a valorizar aquilo e aquelas pessoas que o
mundo, por vezes, marginaliza ou despreza; ensina-nos, por outro lado, que as
grandes realizações de Deus não estão dependentes das grandes capacidades dos
homens, mas antes da vontade amorosa de Deus; ensina-nos ainda que o
fundamental, para sermos agentes de Deus, não é possuir brilhantes qualidades
humanas, mas uma atitude de disponibilidade humilde que nos leve a acolher os
apelos e desafios de Deus.
SALMO RESPONSORIAL – Salmo 91 (92)
Refrão: É bom louvar-Vos, Senhor.
É bom louvar o Senhor
e cantar salmos ao vosso nome, ó
Altíssimo,
proclamar pela manhã a vossa bondade
e durante a noite a vossa fidelidade.
O justo florescerá como a palmeira,
crescerá como o cedro do Líbano;
plantado na casa do Senhor,
florescerá nos átrios do nosso Deus.
Mesmo na velhice dará o seu fruto,
cheio de seiva e de vigor,
para proclamar que o Senhor é justo:
n’Ele, que é o meu refúgio, não há
iniquidade.
LEITURA II – 2 Cor 5, 6-10
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo
São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Nós estamos sempre cheios de confiança,
sabendo que, enquanto habitarmos neste
corpo,
vivemos como exilados, longe do Senhor,
pois caminhamos à luz da fé e não da
visão clara.
E com esta confiança, preferíamos
exilar-nos do corpo,
para irmos habitar junto do Senhor.
Por isso nos empenhamos em ser-Lhe
agradáveis,
quer continuemos a habitar no corpo,
quer tenhamos de sair dele.
Todos nós devemos comparecer perante o
tribunal de Cristo,
para que receba cada qual o que tiver
merecido,
enquanto esteve no corpo,
quer o bem, quer o mal.
AMBIENTE
Por volta de 56/57, chegam a Corinto
missionários itinerantes que se apresentam como apóstolos e criticam Paulo,
lançando a confusão na comunidade. Provavelmente, trata-se desses “judaizantes”
que queriam impor aos pagãos convertidos as práticas da Lei de Moisés (embora
também possam ser cristãos que condenam a severidade de Paulo e que apoiam o
laxismo da vida dos coríntios). De qualquer forma, Paulo é informado de que a
validade do seu ministério está a ser desafiada e dirige-se a toda a pressa
para Corinto, disposto a enfrentar o problema. O confronto é violento e Paulo é
gravemente injuriado por um membro da comunidade (cf. 2 Cor 2,5-11; 7,11). Na
sequência, Paulo abandona Corinto e parte para Éfeso. Passado algum tempo,
Paulo envia Tito a Corinto, a fim de tentar a reconciliação. Quando Tito
regressa, traz notícias animadoras: o diferendo foi ultrapassado e os coríntios
estão, outra vez, em comunhão com Paulo. É nessa altura que Paulo, aliviado e
com o coração em paz, escreve esta Carta aos Coríntios, fazendo uma tranquila
apologia do seu apostolado.
O texto que nos é proposto está incluído
na primeira parte da Carta (2 Cor 1,3-7,16), onde Paulo reflecte e escreve
sobre a grandeza e as dificuldades, os riscos e as compensações do ministério
apostólico.
Na perícopa que vai de 4,16 a 5,10,
Paulo defende a ideia de que, apesar de tudo, vale a pena acolher os desafios
de Deus: no final do caminho percorrido nesta terra, espera-nos uma vida nova,
uma vida plena e eterna. Para pintar o contraste entre a vida nesta terra e a
vida futura, Paulo utiliza (cf. 2 Cor 5,1-4) a imagem da tenda que se monta e
desmonta (que representa a vida transitória e corruptível desta terra) e da
casa solidamente construída (que representa a vida plena e eterna).
MENSAGEM
A vida terrena, passageira e mortal é,
para Paulo, um exílio “longe do Senhor” (vers. 6). Esse tempo de exílio neste
mundo caracteriza-se por um conhecimento de Deus parcial: é o tempo da fé.
Paulo – como todos os verdadeiros crentes – anseia pelo tempo “da visão” – isto
é, pelo tempo do encontro face a face com Deus. Então, a vida caduca e
transitória dará lugar a uma vida gloriosa e indestrutível.
Uma leitura simplista destes versículos
poderia transmitir a ideia de que Paulo negligencia a vida terrena; contudo,
essa ideia não é exacta… Para Paulo, a perspectiva dessa outra vida nova, plena
e eterna, não significa um alhear-se das responsabilidades que temos, como
crentes, enquanto caminhamos neste mundo finito e transitório. Aos crentes
compete, enquanto “habitam este corpo” mortal, viver de acordo com as
exigências de Deus, caminhar à luz da fé, assumir as suas responsabilidades
enquanto discípulos comprometidos com Cristo e com o seu Reino. A perspectiva
dessa vida plena que nos espera para além desta terra deve estar
permanentemente no horizonte do crente que caminha pela história, fundamentar e
iluminar o seu compromisso e a sua fidelidade a Jesus Cristo e ao Evangelho.
De resto, a preocupação de Paulo não é
apresentar uma doutrina escatológica perfeitamente definida; mas é, sobretudo,
lembrar aos cristãos a sua condição de peregrinos, que “não têm morada
permanente” nesta terra: o destino final de cada homem ou mulher é o encontro
com o Senhor, a vida plena e definitiva.
ACTUALIZAÇÃO
¨ A cultura actual é uma cultura do
provisório, que dá prioridade ao que é efémero sobre as realidades perenes com
a marca da eternidade: propõe que se viva ao sabor do imediato e do momento, e
subalterniza as opções definitivas e os valores duradouros. É também uma cultura
do bem-estar material: ao seduzir os homens com o brilho dos bens perecíveis,
ao potenciar o reinado do “ter” sobre o “ser”, escraviza o homem e relativiza a
sua busca de eternidade. É ainda uma cultura da facilidade, que ensina a evitar
tudo o que exige esforço, sofrimento e luta: produz pessoas incapazes de lutar
por objectivos exigentes e por realizar projectos que exijam esforço,
fidelidade, compromisso, sacrifício. Neste contexto, a palavra de Paulo aos
cristãos de Corinto soa a desafio profético: é necessário que tenhamos sempre
diante dos olhos a nossa condição de “peregrinos” nesta terra e que aprendamos
a dar valor àquilo que tem a marca da eternidade. É nos valores duradouros – e
não nos valores efémeros e passageiros – que encontramos a vida plena. O fim
último da nossa existência não está nesta terra; o nosso horizonte e as nossas
apostas devem apontar sempre para o mais além, para a vida plena e definitiva.
¨ Contudo, o facto de vivermos a olhar
para o mais além não pode levar-nos a ignorar as realidades terrenas e os
compromissos com a construção da cidade dos homens. O Reino de Deus – que
atingirá a sua plena maturação quando tivermos ultrapassado o transitório e o
efémero da vida presente – começa a ser construído nesta terra e exige o nosso
compromisso pleno com a construção de um mundo mais justo, mais fraterno, mais
verdadeiro. Não há comunhão com Cristo se nos demitimos das nossas
responsabilidades em testemunhar os gestos e os valores de Cristo.
ALELUIA
Aleluia. Aleluia.
A semente é a palavra de Deus e o
semeador é Cristo:
quem O encontrar permanecerá para
sempre.
EVANGELHO – Mc 4, 26-34
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
segundo São Marcos
Naquele tempo,
disse Jesus à multidão:
«O reino de Deus é como um homem
que lançou a semente à terra.
Dorme e levanta-se, noite e dia,
enquanto a semente germina e cresce, sem
ele saber como.
A terra produz por si, primeiro a
planta, depois a espiga,
por fim o trigo maduro na espiga.
E quando o trigo o permite, logo mete a
foice,
porque já chegou o tempo da colheita».
Jesus dizia ainda:
«A que havemos de comparar o reino de
Deus?
Em que parábola o havemos de apresentar?
É como um grão de mostarda, que, ao ser
semeado na terra,
é a menor de todas as sementes que há
sobre a terra;
mas, depois de semeado, começa a
crescer,
e torna-se a maior de todas as plantas
da horta,
estendendo de tal forma os seus ramos
que as aves do céu podem abrigar-se à
sua sombra».
Jesus pregava-lhes a palavra de Deus
com muitas parábolas como estas,
conforme eram capazes de entender.
E não lhes falava senão em parábolas;
mas, em particular, tudo explicava aos
seus discípulos.
AMBIENTE
Na primeira parte do Evangelho segundo
Marcos (cf. Mc 1,14-8,30), Jesus é apresentado como o Messias que proclama o
Reino de Deus. Marcos procura aí demonstrar como Jesus, com palavras e gestos,
anuncia um mundo novo (o “Reino de Deus”), livre do egoísmo, da opressão, da
injustiça e de tudo o que escraviza os homens e os impede de ter acesso à vida
verdadeira.
Estamos na Galileia, nos primeiros
tempos do anúncio do Reino. Uma grande multidão segue Jesus, a fim de escutar
os seus ensinamentos (cf. Mc 3,7.20.32; 4,1). Para fazer chegar a todos a sua
proposta, Jesus precisará de utilizar uma linguagem acessível, viva,
questionadora, concreta, desafiadora, evocadora, pedagógica, que pudesse semear
no coração dos ouvintes a consciência dessa nova e revolucionária realidade que
Ele queria propor. É neste contexto que nos aparecem as “parábolas”.
As “parábolas” são uma linguagem habitual
na literatura dos povos do Médio Oriente: o génio oriental gosta mais de falar
e instruir através de imagens, de comparações, de alegorias, do que através de
um discurso mais lógico, mais frio, mais racional. De resto, a linguagem
parabólica tem várias vantagens em relação a um discurso mais racional e
expositivo. Que vantagens?
Em primeiro lugar, é uma excelente arma
de controvérsia. A linguagem figurada permite levar o interlocutor a admitir
certos pontos que, de outro modo, nunca mereceriam a sua concordância. A
parábola é, pois, um bom instrumento de diálogo, sobretudo em contextos
polémicos (como era, quase sempre, o contexto em que Jesus pregava).
Em segundo lugar, a imagem ou comparação
que caracteriza a linguagem parabólica é muito mais rica em força de
comunicação e em poder de evocação, do que a simples exposição teórica. Talvez
seja uma linguagem mais vaga e imprecisa, do ponto de vista racional; mas é
mais profunda, mais carregada de sentido, mais evocadora e, por isso, “mexe”
mais com os ouvintes.
Em terceiro lugar, porque a linguagem
parabólica – muito mais do que outro tipo de linguagem – espicaça a curiosidade
e incita à busca. Na sua simplicidade, torna-se um verdadeiro método
pedagógico, que leva as pessoas a pensar por si, a medir os prós e os contras,
a tirar conclusões, a interiorizar soluções e a integrá-las na própria vida. É
uma linguagem que, mais do que injectar nas pessoas soluções feitas, as leva a
reflectir e a tirar daí as devidas consequências. Trata-se, pois, de linguagem
altamente subversiva: ensina o povo a pensar, a ser crítico, a descobrir onde
está a verdade. Ora, isso é altamente incómodo para os defensores do mundo
velho e da ordem estabelecida.
Uma linguagem tão sugestiva não podia
ser ignorada por Jesus no seu anúncio do “Reino de Deus”. É neste contexto que
devemos entender as duas parábolas que o Evangelho deste domingo nos apresenta.
MENSAGEM
A primeira parábola (vers. 26-29) é a do
grão que germina e cresce por si só. A parábola refere a intervenção do
agricultor apenas no acto de semear e no acto de ceifar. Cala, de propósito,
qualquer menção às demais acções do agricultor: arar a terra, regar a semente,
tirar as ervas que a impedem de crescer… Ao narrador interessa apenas que,
entre a sementeira e a colheita, a semente vá crescendo e amadurecendo, sem que
o homem intervenha para impedir ou acelerar o processo. A questão essencial não
é o que o agricultor faz, mas o dinamismo vital da semente. O resultado final
não depende dos esforços e da habilidade do homem, mas sim do dinamismo da
semente que foi lançada à terra. Desta forma, o narrador ensina que o Reino de
Deus (a semente) é uma iniciativa divina: é Deus quem actua no silêncio da
noite, no tumulto do dia ou na turbulência da história para que o Reino
aconteça; e nenhum obstáculo poderá frustrar o seu plano. Provavelmente, a
parábola é dirigida contra todas as posturas que pretendiam forçar a vinda do
Reino – a dos zelotas que queriam instaurar o Reino através da violência das
armas, a dos fariseus que pretendiam forçar o aparecimento do Reino com a
obediência a uma disciplina legal, a dos apocalípticos que faziam cálculos
precisos sobre a data da irrupção do Reino. Não adianta forçar o tempo ou os
resultados: é Deus que dirige a marcha da história e que fará com que o Reino
aconteça, de acordo com o seu tempo e o seu projecto. Desta forma, a parábola
convida à serenidade e à confiança nesse Deus que não dorme nem se demite e que
não deixará de realizar, a seu tempo e de acordo com a sua lógica, o seu plano
para os homens e para o mundo.
A segunda parábola (vers. 30-32) é a do
grão de mostarda. O narrador pretende, fundamentalmente, pôr em relevo o
contraste entre a pequenez da semente (a semente da mostarda negra tem um
diâmetro aproximado de 1,6 milímetros e era a semente mais pequena, no
entendimento popular palestino; a tradição judaica celebrava com provérbios a
sua pequenez) e a grandeza da árvore (nas margens do lago da Galileia alcançava
uma altura de 2 a 4 metros). A comparação serve para dizer que a semente do
Reino lançada pelo anúncio de Jesus pode parecer uma realidade pequena e
insignificante, mas está destinada a atingir todos os cantos do mundo,
encarnando em cada pessoa, em cada povo, em cada sociedade, em cada cultura. O
Reino de Deus, ainda que tenha inícios modestos ou que se apresente com sinais
de debilidade e pequenez aos olhos do mundo, tem uma força irresistível, pois encerra
em si o dinamismo de Deus. Além disso, a parábola retoma um tema que já
havíamos encontrado na primeira leitura: Deus serve-Se de algo que é pequeno e
insignificante aos olhos do mundo para concretizar os seus projectos de
salvação e de graça em favor dos homens.
A parábola é um convite à esperança, à
confiança e à paciência. Nos factos aparentemente irrelevantes, na simplicidade
e normalidade de cada dia, na insignificância dos meios, esconde-se o dinamismo
de Deus que actua na história e que oferece aos homens caminhos de salvação e
de vida plena.
ACTUALIZAÇÃO
¨ Antes de mais, o Evangelho deste
domingo garante-nos que Deus tem em marcha um projecto destinado a oferecer aos
homens a vida e a salvação. Pode parecer que a nossa história caminha entregue
ao acaso ou aos caprichos dos líderes; pode parecer que a história humana
entrou em derrapagem e que, no final do caminho, nos espera o abismo; mas é
Deus que conduz a história, que lhe imprime o seu dinamismo, que está presente
em todos os passos do nosso caminho. Deus caminha connosco e, garantidamente,
leva-nos pela mão ao encontro de um final feliz. Num tempo histórico como o
nosso, marcado por “sombras”, por crises e por graves inquietações, este é um
dos testemunhos mais importantes que podemos, como crentes, oferecer aos nossos
irmãos escravizados pelo desespero e pelo medo.
¨ O projecto de salvação que Deus tem
para a humanidade revela-se no anúncio do Reino, feito por Jesus de Nazaré. Nas
suas palavras, nos seus gestos, Jesus propôs um caminho novo, uma nova
realidade; lançou a semente da transformação dos corações, das mentes e das
vontades, de forma a que a vida dos homens e das sociedades se construa de
acordo com os esquemas de Deus. Essa semente não foi lançada em vão: está entre
nós e cresce por acção de Deus. Resta-nos acolher essa semente e deixar que
Deus realize a sua acção. Resta-nos também, como discípulos de Jesus, continuar
a lançar essa semente do Reino, a fim de que ela encontre lugar no coração de
cada homem e de cada mulher.
¨ Os que, continuando a missão de Jesus,
anunciam a Palavra (que lançam a semente) não devem preocupar-se com a forma
como ela cresce e se desenvolve. Devem, apenas, confiar na eficácia da Palavra
anunciada, conformar-se com o tempo e o ritmo de Deus, confiar na acção de Deus
e no dinamismo intrínseco da Palavra semeada. Isso equivale a respeitar o
crescimento de cada pessoa, o seu processo de maturação, a sua busca de
caminhos de vida e de plenitude. Não nos compete exigir que os outros caminhem
ao nosso ritmo, que pensem como nós, que passem pelas mesmas experiências e
exigências que para nós são válidas. Há que respeitar a consciência e o ritmo
de caminhada de cada homem ou mulher – como Deus sempre faz.
¨ A referência à pequenez da semente
(segunda parábola) convida-nos – como já o havia feito a primeira leitura deste
domingo – a rever os nossos critérios de actuação e a nossa forma de olhar o
mundo e os nossos irmãos. Por vezes, é naquilo que é pequeno, débil e
aparentemente insignificante que Deus Se revela. Deus está nos pequenos, nos
humildes, nos pobres, nos que renunciaram a esquemas de triunfalismo e de
ostentação; e é deles que Deus Se serve para transformar o mundo. Atitudes de
arrogância, de ambição desmedida, de poder a qualquer custo, não são sinais do
Reino. Sempre que nos deixamos levar por tentações de grandeza, de orgulho, de
prepotência, de vaidade, estamos a frustrar o projecto de Deus, a impedir que o
Reino de Deus se torne realidade no mundo e nas nossas vidas.
A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao
11º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo.
Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia
da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num
grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa…
Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A
PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa,
P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do
Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA
– Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909
scj.lu@netcabo.pt – www.dehonianos.org
Roteiro
Homilético 3 - Liturgia: Vida Pastoral
Por Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj
“Nos átrios de meu Deus florescerão”
INTRODUÇÃO GERAL
As leituras de hoje tratam do agir
soberano de Deus sem a dependência da intervenção humana. Primeiramente, isso é
assegurado a Israel no momento da maior crise de fé do povo da aliança: o
exílio da Babilônia. Quando o povo pensou que tudo estava perdido, porque não
havia nenhuma possibilidade humana de solucionar o problema do retorno à terra
prometida, Deus enviou o profeta Ezequiel para reanimar a esperança nas
promessas divinas.
Um resto de gente humilde e desprezada
permanecerá fiel. A palavra do profeta compara esse resto a um raminho que Deus
cortará da copa do grande cedro e o transplantará no alto de um monte elevado.
Ele crescerá e ramificará a ponto de aves de toda espécie fazerem ninho em seus
ramos (Ez 17,22-23). Trata-se de profecia messiânica: Deus mesmo providenciará
a solução, enviando o Salvador.
Desse modo Deus age no mundo para
instaurar seu Reino, deixando de lado os grandes e poderosos e se servindo de
humildes, pobres, desprezados e pequeninos, como o raminho cortado da copa ou a
semente lançada no campo. Dessa imagem se serviu Jesus para falar sobre o
Reino, uma realidade que não se impõe pelo poder, como os grandes impérios
mundiais, mas como realidade oculta, semeada nos corações humildes e,
entretanto, com força de expansão inimaginável. O Reino se impõe por intermédio
dos simples e apesar das forças contrárias, porque é agir soberano de Deus na
história.
COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
Evangelho (Mc 4,26-34): O Reino de Deus
é como a menor das sementes
No trecho do evangelho de hoje, temos
duas pequenas parábolas por meio das quais Jesus nos esclarece sobre o Reino de
Deus.
Na parábola da semente que cresce
sozinha, Jesus mostra que o Reino tem uma força intrínseca, independente da
ação humana. Isso já tinha sido entrevisto no Antigo Testamento, após o
fracasso da monarquia. Desde então, o Reino de Deus passou a ser entendido como
um reino futuro do final dos tempos, como uma ação escatológica própria de Deus
e independente da ação humana. O Novo Testamento afirma que esse Reino tem
início com Jesus e não se restringe ao aspecto geográfico; ao contrário, é
formado por todos os que aceitam Jesus como Senhor, Caminho, Verdade e Vida.
Exceto pelo fato de ter sido semeada
pelo agricultor, a semente cresce e se desenvolve sem a intervenção humana:
“Pois por si mesma a terra frutifica primeiramente a erva, depois a espiga,
depois o trigo pleno na espiga” (v. 28). Assim é o Reino de Deus na história,
que, com base em acontecimentos aparentemente insignificantes aos olhos do
mundo, provoca significativas transformações irrevogáveis.
Na segunda parábola, afirma-se que o
Reino, aparentemente insignificante nos tempos de Jesus, se estenderá pelo
mundo inteiro. O objetivo da narrativa está em explicitar a diferença entre a
pequenez da semente e a exuberância da planta no final. Não se deve perder o
foco da homilia, mencionando coisas insignificantes como opiniões de
pesquisadores sobre que tipo de mostarda seria.
Trata-se de uma parábola sobre o
crescimento do Reino. No primeiro momento, Jesus nos apresenta o Reino como
algo que começa pequenino, semelhante a uma semente minúscula, e se desenvolve
como um vegetal na época da colheita. Em um segundo momento, o Reino nos é
apresentado como algo que atrai as pessoas, à semelhança de pássaros que surgem
em bandos, procurando abrigo.
Há, na parábola, um contraste entre a
insignificância aparente do ministério de Jesus e o desenvolvimento do Reino de
Deus a partir desse ministério. O mesmo se pode concluir da atuação dos
cristãos na história. Essa parábola ilustra a presença do Reino na história e a
expectativa que devemos ter da plena revelação do Reino no futuro.
I leitura (Ez 17,22-24): À sua sombra as
aves farão ninhos
Os descendentes do rei Davi quebraram a
aliança com Deus e grande parte de Judá foi levada para o exílio na Babilônia.
Mas Deus é sempre fiel e preparou outra descendência de Davi, por meio da qual
as promessas divinas seriam levadas ao pleno cumprimento.
A metáfora de uma árvore é aqui
apresentada para assegurar a plena realização das promessas divinas no Reino do
Messias. Do raminho cortado da copa, Deus fará uma grande árvore e a plantará
num alto monte.
Naquela época, Nabucodonosor
orgulhava-se de ter instaurado o grande império da Babilônia, e os exilados de
Judá não viam como Deus poderia manter suas promessas. É exatamente nesse
cenário histórico que entra o profeta, para assegurar que o próprio Deus está
comprometido com a revitalização e a restauração da descendência de Davi. Os
projetos ambiciosos dos poderosos deste mundo fracassarão, mas a ação de Deus
na história é eficaz e irreversível. Quem pode arrancar o que Deus vai plantar?
O estabelecimento do Reino do Messias
deverá mostrar mais claramente às nações do mundo (todas as árvores do campo)
que Deus é o rei de toda a terra. O texto da profecia termina com a chamada
inversão escatológica; à semelhança do Magnificat de Maria, Deus rebaixará o
alto e exaltará o baixo, eis o julgamento dos poderes do mundo.
II leitura (2Cor 5,6-10): Dar frutos
agradáveis ao Senhor
O texto se inicia mencionando a
confiança do apóstolo. O termo traduzido por confiança, no idioma original da
epístola, significa ter ousadia, ser audaz. O apóstolo está confiante, apesar
de estar encarnado neste mundo e ausente da morada definitiva.
O apóstolo nos exorta a não nos apegar a
esta vida, a este mundo. Seria preferível morrer para estar com Cristo, mas,
seja lá o que aconteça, devemos nos esforçar para ser agradáveis ao Senhor. É
necessário produzir frutos. O sentido mais adequado do v. 9 é: “Contudo, quer
estejamos na presença do Senhor, quer vivamos exilados dele, o que nos
interessa é agradar a Deus”. Estar exilado do Senhor é estar vivendo ainda
neste mundo.
Todos nós seremos julgados pelo Pai, ou
seja, teremos de prestar contas da administração de nossos dons e projetos de
vida àquele que é fonte de nossa existência e de toda dádiva. Por isso, estar
na vida presente é um risco não porque Deus seja um juiz implacável, mas porque
não somos fonte de nossa própria existência: nós a recebemos de Deus, com tudo
que ela tem de bom e com todas as ferramentas para transformar a nós mesmos e
ao mundo. A vida aqui neste mundo exige que produzamos frutos agradáveis a
Deus.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
Nas parábolas, Jesus não dá uma
definição sistemática do Reino. Na primeira destas parábolas de hoje, temos a
exposição de como o Reino se expande com uma força que não depende dos seres
humanos, mas do próprio Deus. A parábola descreve a força interna do Reino. Na
segunda parábola, encontramos a visão externa do Reino. Seu crescimento seria
espetacular, desde um pequeno grupo insignificante – como é a semente da
mostarda – até chegar a ser uma árvore exuberante.
A homilia deverá enfatizar que o Reino é
uma realidade que não se pode ignorar. Deve esclarecer que o Reino não é
sinônimo de Igreja, como muitos grupos atribuem. A Igreja está a serviço da
expansão dele.
O Reino não se identifica com nenhuma
instituição. É a irrupção da presença de Deus na história, uma transformação e
conquista não violenta, a partir do interior dos corações, as quais mudam tanto
o modo de o ser humano se relacionar com Deus quanto as relações sociais, que
deverão se basear nos critérios divinos, a justiça e o direito.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj
Graduada em Filosofia pela Universidade
Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia
(Faje – BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e
lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de
Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia
apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com
Roteiro
Homilético 4 - Liturgia: Dom Henrique
Ez 17,22-24
Sl 91
2Cor 5,6-10
Mc 4,26-34
Ação de Deus
Haverá um tempo de colheita
Englobará todos os povos
Tão simples o evangelho de hoje; tão
doce, tão cheio de sabedoria! Estejamos atentos, porque o Senhor nos falado
Reino de Deus, Reino que começa aqui, experimentado quando nos abrimos para o
anúncio de Jesus; Reino que será pleno na glória, quando cada um de nós e toda
a humanidade, com a sua história, entrar, um dia, na plenitude do coração da
Trindade santa.
O que nos diz o Senhor? Diz-nos que o
Reino de Deus não é daquelas coisas vistosas, midiáticas, de sucesso humano. O
Reino vem de modo humilde e se manifesta nas coisas pequenas… Pequenas como um
grãozinho jogado na terra, como uma semente de mostarda, como um brotinho
frágil e sem aparente valor… Quantas vezes buscamos os sinais da força de Deus
na força humana, nos grandes eventos, nas realidades grandiloqüentes. Não, na é
aí que se encontra o Reino. O Reino é como o próprio Jesus: aquele brotinho,
retirado da ponta da grande árvore da dinastia de Davi… aquele brotinho pobre,
da carpintaria de Nazaré, donde nada que prestasse poderia vir… Ah, irmãos! Os
modos de Deus, a lógica de Deus, o jeito de Deus! Como tudo é tão diverso de
nossas expectativas!
Outra lição de hoje: o Reino vem aos
poucos. Inaugurado e plantado definitivamente no chão deste mundo pelo nosso
Jesus, ele irá crescendo como a semente, como o grão de mostarda, aos poucos.
Somos tão impacientes, gostaríamos tanto que Deus respeitasse nossos prazos.
Mas, não! Se os pensamentos do Senhor não são os nossos, tampouco seus tempos
são iguais aos da gente! Atentos, irmãos, porque somente perseverará na
paciência aquele que souber adequar-se aos tempos de Deus. E Deus contempla o
tempo na perspectiva da eternidade e não das nossas pressas… Assim vai o Reino,
brotando humildemente na história e no coração do mundo, de um modo que somente
quem reza e contempla pode perceber…
Ainda uma outra lição do Senhor: Nós,
filhos de um mundo tão pragmático e auto-suficiente, temos tanta dificuldade em
perceber a ação de Deus. Coitados que somos! Pensamos que nós é que fazemos,
que nós é que somos os sujeitos últimos do mundo e da história! Presunçosa
ilusão! É Deus quem, humilde, forte e fielmente, faz o Reino desenvolver-se na
potência do Espírito. Que diz o Senhor? “O Reino de Deus é como quando alguém espalha
a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai
germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece!” Que imagem doce,
bela, delicada… Nós, com a graça de Deus, vamos plantando o Reino que Cristo
trouxe. Como plantamo-lo? Plantamos quando nos abrimos à graça, plantamos com
nosso exemplo, plantamos com nossa palavra, plantamos com nossa ação… Mas,
cuidado! É o próprio Deus, com a energia do Santo Espírito, quem faz o Reino
crescer: é obra dele, não nossa. São Paulo não nos dizia? Um é o que planta,
outro, o que rega, mas é Deus quem faz crescer… É assim, caríssimos, que, num
mundo aparentemente esquecido por Deus, Deus vai agindo, tomando nossas pobres
sementes e fazendo-as desabrochar no seu Reino, vigor, paciência e suavidade…
Um dia, diz Jesus, chegará o momento da
colheita. Haverá um fim na história humana, caríssimos e, então,“todos
deveremos comparecer às claras ante o tribunal de Cristo, para cada um receber
a devida recompensa – prêmio ou castigo – do que tiver feito na sua vida
corporal”. Não adiante querer esquecer, de nada serve fingir que não sabemos:
aqui estamos de passagem, aqui, vamos semeando o Reino que Jesus trouxe e que
Deus mesmo faz crescer; mas, a colheita definitiva não será nesta vida, pois o Reino
que começa no tempo, haverá de espraiar-se na eternidade; o Reino que deve
fecundar a história somente será pleno e definitivo na glória. Quanta é grande
a tentação, hoje em dia, de nos ocuparmos com tantas futilidades, esquecendo
que aqui estamos de passagem e somente lá é que permaneceremos para sempre!
Como seríamos mais livres, equilibrados, seremos, se recordássemos essa
realidade. Como teríamos o cuidado de viver de tal modo, que não perdêssemos o
Reino. Sim, caros, porque é possível ficar fora do Reino! Não entrará no Reino
quem não permitir que o Reino entre em si. Em certo sentido, não somos nós quem
entramos no Reino, mas o Reino que entra em nós! Abrir-se para o Reino, é
abrir-se para o Cristo Jesus! Abramo-nos para ele e ele nos abrirá o sue Reino!
Uma última lição de Jesus para nós,
hoje: o seu sonho é que todos entrem no seu Reino, naquela casa do Pai, na qual
há muitas moradas! É por isso que, na primeira leitura, pousarão todos os
pássaros à sombra da ramagem da árvore que é o Messias, e as aves aí farão
ninhos. O mesmo Jesus diz do Reino, comparado ao pequeno grão de mostarda que
germina e se torna arvora frondosa. Eis, caríssimos, o Senhor nos ama a todos,
nos deseja a todos, nos chama a todos! Se lhe dermos ouvidos, se aprendermos o
compasso do seu coração, experimentaremos a alegria do Reino já nesta vida, com
provações, e, um dia, haveremos de saboreá-lo por toda a eternidade! – Senhor
Jesus, dá-nos, pois, a graça de abrir as portas do nosso coração e do coração
do mundo para o Reino do Pai que anunciaste e inauguraste! Venha o Reino na
potência do teu Espírito que habita em nós e no coração da Igreja! E que
através de nós, ele se faça sempre mais presente no mundo. Amém.
D. Henrique Soares
Roteiro
Homilético 5 - Liturgia: Dom Total
O REINO DE DEUS EM PARÁBOLAS
1ª leitura: (Ez 17,22-24) O ramo do
cedro que se torna arbusto – Ez 17,1-21 é um oráculo contra o rei de Judá.
Realizou-se a ameaça: a deportação da elite de Judá para a Babilônia (597 e 586
a.C.). 17,22-24 complementam o primeiro oráculo com um oráculo de salvação. Se a
copa e o tronco do cedro foram levados à Babilônia (deportação da elite e do
rei; 17,3-5), Deus mesmo, o único salvador, tomará um ramo do cedro para
plantá-lo na montanha de Israel (17,22-24: volta dos exilados); crescerá até
tornar-se um belo arbusto, em cujos ramos se instalarão os passarinhos (17,23;
cf. evangelho). * Cf. Is 2,2-4; Sl 113 [112],7-13; Lc 1,51-53; Mt 13,31-32; Mc
4,30-32; Lc 13,18-19.
2ª leitura: (2Cor 5,6-10) O desejo de
morar junto ao Senhor – Paulo continua sua meditação sobre sua existência à luz
da morte, que é concebida como o fim do exílio neste corpo, como a destinação
final de uma peregrinação pelo mundo, em que o corpo é uma “tenda provisória”
(5,1). Mas, no fim desta peregrinação, teremos de prestar contas de nossas
obras. – Paulo vive com a morte diante dos olhos. Não a esconde, como faz a
nossa sociedade. E nisto exatamente consiste a tensão dinamizante de sua vida.
* Cf. 1Cor 13,12; Rm 5,1-5; 8,20-24; Fl 1,21-23; 2Tm 4,8.
Evangelho: (Mc 4,26-34) As parábolas; o
Reino que cresce como uma semente – No ano A (15º dom. do T.C.) ouvimos a
primeira das “parábolas do Reino”, colecionadas em Mt 13 (cf. Mc 4 e Lc 8): a
parábola do semeador. Hoje, ouvimos outras parábolas do mesmo conjunto: o Reino
de Deus é um mistério, um acontecimento do qual não podemos determinar os
parâmetros, assim como uma semente cresce por si mesma, até que chegue a hora
da colheita (escatológica). É como a minúscula sementinha da mostarda
tornando-se um generoso arbusto, onde se aninham os pássaros (cf. Ez 17,23; 1ª
leitura). A própria pregação de Jesus é o início deste Reino; esconde-se por
trás de parábolas, mas os continuadores dessa pregação são “iniciados” neste
mistério (4,34b). * 4,26-29 cf. Jl 4,13; Ap 14,15-16 * 4,30-32 cf. Mt 13,31-32;
Lc 13,18-19 * 4,33-34 cf. Mt 13,34-35.
***
*** ***
O evangelho de hoje completa o “Sermão
das Parábolas”, lido, no texto de Mt, nos 15º, 16º e 17º domingos do ano A.
Acrescenta as parábolas da semente que cresce por si (própria de Mc) e do grão
de mostarda (cf. Mt e Lc). Em Mt, as parábolas formam uma espécie de catequese
(Mt 13,51-52). Em Mc, integram a revelação velada do Filho do Homem (4,10-12 e
33-34). Quando Jesus fala em parábolas e o povo não entende, realiza-se
plenamente o que já foi a missão de Isaías: falar a um povo sem compreensão (Is
6,9-10). Aos discípulos, porém, ensina em particular, iniciando-os no “mistério
do Reino” (4,11; cf. 4,34). Este esquema de Mc se explica a partir de seu
contexto histórico: pelos meados do século I d.C., a grande maioria do povo
ainda não se convertera, mas uns poucos “iniciados” continuam a pregação do
evangelho de Jesus, aqueles que, depois da Ressurreição, entenderam o “segredo
messiânico”: que Jesus foi o Filho do Homem padecente (cf. 24º dom.).
Jesus não pronunciou as parábolas para
não ser entendido. Mc 4,33 aponta que Jesus procurou compreensão na medida em
que o povo fosse capaz. O falar em parábolas é um meio didático que caracteriza
Jesus de Nazaré. A parábola é linguagem figurativa, apresenta por uma imagem a
realidade visada. Jesus mostra aos ouvintes o que acontece no seu dia-a-dia (na
vida comercial, social, agreste etc.), para que eles se conscientizem de que,
de modo semelhante, está acontecendo o Reino no meio deles: “É como quando um homem
lança a semente no campo...” (4,26). Pode-se considerar a parábola como um
enigma apresentado de tal modo que a resposta logo aparece. Nós diríamos: “Qual
é a semelhança entre o Reino de Deus e uma semente? É que ambos crescem por si
mesmos, pois não se precisa puxar o caule para que o trigo cresça”.
Jesus procura entrar em diálogo com a
convicção íntima do homem. Para implantar no coração dos ouvintes uma
sementinha de sua experiência de Deus, ele apela para a experiência deles,
embora num outro terreno. No caso: para fazer com que os ouvintes se desliguem
de sua ideologia de um Reino de Deus vindo ostensivamente com as forças
celestes e implantando um “império davídico” para Israel, mediante o zelo dos
“zelotes” ou dos cumpridores da Lei (fariseus), Jesus apela para uma
experiência da vida campestre: a semente cresce sem intervenção humana. Aí,
coloca uma pulga atrás da orelha dos ouvintes. Eles ficam refletindo e, aos
poucos, se sentirão convidados a participar da misteriosa e única experiência
do Reino de Deus que Jesus mesmo tem como “filho de Deus”; ou, então,
recusarão. A parábola, em última análise, nos coloca diante da opção de
repartir a experiência de Jesus ou não.
De modo análogo podemos entender a outra
parábola, a do grão de mostarda. Esta desfaz uma ideologia de falso
universalismo a respeito do Reino, mostrando que o universalismo não está na
grandeza visível, numérica, mas na força de crescimento invisível como a que
está no grão de mostarda. Embora não se veja quase nada, Jesus revela que o
Reino está acontecendo, e bem este Reino universal que é sugerido pelo próprio
termo de comparação, o arbusto frondoso no qual se aninham os pássaros do céu
(como Ezequiel descreveu o futuro reino de Israel restaurado; cf. 1ª leitura).
“Qual é a semelhança entre o Reino de Deus e um grão de mostarda? Ambos parecem
quase nada no começo e se tornam muito grandes no fim”. Depois dessa, se pode
optar: prefere-se um Reino de Deus que se anuncie com espalhafato, ou aquele
que cresça organicamente a partir de uma pequena semente?
A 2ª leitura dificilmente se integra no
tema principal, mas sua mensagem toca o coração. Enquanto estamos neste corpo,
diz Paulo, estamos exilados do Senhor podemos suspeitar que Paulo, escrevendo a
gregos, se lembrou da alegoria da caverna, de Platão...). Preferiria estar
exilado do corpo, perto do Senhor. A liturgia de hoje oferece o apoio
veterotestamentário desta ideia no canto da comunhão: Sl 27[26],4 e outros; por
isso, seria muito adequado ler a 2ª leitura depois da comunhão.
NÃO PARECE, MAS O REINO CRESCE
Muitos dentre nós estamos preocupados porque
as comunidades eclesiais conscientes crescem tão devagarinho e às vezes até
parecem diminuir. Então, demos um passo para trás, para enxergar melhor.
Seiscentos anos antes de Jesus, o “povo eleito” que devia prestar culto ao Deus
Único neste mundo foi tirado de sua terra quase sumiu do mapa: Israel e seu rei
foram levados para o exílio babilônico. Mas Deus fará crescer de novo um broto
no cedro de Israel e o povo se tornará novamente uma árvore frondosa (1ª
leitura). No evangelho, Jesus usa a mesma imagem do crescimento para falar do
Reino de Deus. Estamos preocupados porque o Reino de Deus não se enxerga? Aos
que o criticam porque seu anúncio do Reino de Deus não se verifica por nenhum
fenômeno extraordinário, Jesus responde: o agricultor não vê a semente crescer!
O homem descansa ou se ocupa com outras coisas, e de repente a plantinha está
aí. Ou veja a sementinha do mostardeiro, parece nada, mas cresce e se torna
arbusto frondoso aonde os passarinhos vão se abrigar. O mesmo acontece à
pequena comunidade dos que buscam a vontade de Deus conforma a palavra de
Cristo.
É essa a confiança que Jesus nos ensina.
Jesus não é um homem de sucesso, de ibope. Ele lança uma sementinha, nada mais.
E, de repente, a sementinha brota. O que parecia nada, torna-se fecundo, árvore
frondosa.
No Calvário, o grão de trigo caiu na
terra e morreu, para produzir muito fruto. Ressuscitou como árvore da vida. A
Igreja dos primeiros cristãos foi esmagada pelas perseguições, mas ressurgiu
das catacumbas como a maior força religiosa e moral do Império Romano. Os
bárbaros destruíram o Império, mataram os missionários cristãos, mas de seu
martírio surgiu a sociedade cristã da Idade Média. E esta foi desmantelada pela
Modernidade, mas a semente cresce por baixo, especialmente no povo que mais
sofreu a Modernidade do que dela se valeu. Nunca os pobres da América Latina
foram tão ativos na comunidade de fé quanto hoje. E a árvore frondosa continua
acolhendo passarinhos que chegam de todos os lados.
Mas o que mais importa não é a
quantidade de novos galhos e sim a qualidade da semente, tão única e autêntica
que nada a pode suprimir.
(O Roteiro Homilético é elaborado pelo
Pe. Johan Konings SJ – Teólogo, doutor em exegese bíblica, Professor da FAJE.
Autor do livro "Liturgia Dominical", Vozes, Petrópolis, 2003. Entre
outras obras, coordenou a tradução da "Bíblia Ecumênica" – TEB e a
tradução da "Bíblia Sagrada" – CNBB. Konings é Colunista do Dom
Total.)
Roteiro
Homilético 6 - Liturgia: Pe. Françoá Costa
Apostolado de filhos de Deus
Você sabe como é um grande jogo de
futebol. Antes do jogo, há uma concentração para os atletas e uma preparação
psicológica para os torcedores. A televisão dá notícias da situação histórica
das duas equipes: pontos ganhos e pontos perdidos, titulares que vão começar
jogando e reservas que vão para o banco.
De repente, as equipes entram em campo.
Muitas palmas, rojões, bandeiras se agitam e a emoção toma conta de todos.
Começa a partida. Bola na trave, a torcida vibra, grita, pula. Alguém aproveita
o rebote, enche o pé… é gooool! Um mar humano se levanta e delira, agitando as
mãos e gritando em coro. O artilheiro dá cambalhotas, cai de joelhos, jogadores
se abraçam. É festa! Uma grande “celebração”, num rito solene de alegria
expressado por todos os gestos. Caso seja o fim de campeonato, pode haver
alguém atravessando o estádio de joelhos com as mãos erguidas para o céu, o
povão invadindo o gramado e carregando os heróis.
Quanta emoção! Tudo aqui é esplendor, é
festa. Parece bastante diferente do que acontece com a semente lançada à terra,
comparada ao Reino de Deus, que o Senhor nos conta hoje. No entanto, apesar de
a semente não crescer com um espetáculo comparado a um jogo de futebol, nós,
apóstolos do Reino de Deus precisamos ter um entusiasmo semelhante para
anunciá-Lo. Fá-lo-emos com grande alegria, com todo o entusiasmo, pois sabemos
que essa semente vai crescer e produzir muitos frutos, frutos abundantes,
frutos de vida eterna.
São Jerônimo explicava a parábola do
grão que germina dizendo que a semente simboliza o Verbo da vida, Jesus Cristo;
a terra, os corações dos homens. A semente cai na terra. O dormir do semeador é
comparado à morte de Jesus Cristo, pois depois da morte de Cristo o número de
fiéis cresce cada vez mais entre adversidades e bonanças.
A semente de mostarda, que tem um
diâmetro aproximado de 1,6 milímetros, resultava numa árvore que às margens do
lago da Galileia media entre 2 a 4 metros. Os primeiros cristãos começaram a
lançar a semente do Reino de Deus. Curioso! Enquanto mais perseguidos, mais
aumentava o número de cristãos. Tanto é assim que Tertuliano, um advogado que
se converteu ao cristianismo no ano 197 e que depois passou a ser catequista na
Igreja, dizia que “o sangue dos mártires é a semente de novos cristãos”. Hoje
como outrora, não somos a maioria da população, mas continuamos chamados a
conquistar o mundo para Cristo.
Olhemos mais uma vez para os nossos
irmãos da aurora do cristianismo, agora através da epístola a Diogneto, um dos
primeiros escritos cristãos: “Os cristãos, de fato, não se distinguem dos
outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes. Com efeito,
não moram em cidades próprias, nem falam língua estranha, nem têm algum modo
especial de viver. Sua doutrina não foi inventada por eles, graças ao talento e
a especulação de homens curiosos, nem professam, como outros, algum ensinamento
humano. Pelo contrário, vivendo em casas gregas e bárbaras, conforme a sorte de
cada um, e adaptando-se aos costumes do lugar quanto à roupa, ao alimento e ao
resto, testemunham um modo de vida admirável e, sem dúvida, paradoxal. Vivem na
sua pátria, mas como forasteiros; participam de tudo como cristãos e suportam
tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, a cada pátria é
estrangeira. Casam-se como todos e geram filhos, mas não abandonam os
recém-nascidos. Põe a mesa em comum, mas não o leito; estão na carne, mas não
vivem segundo a carne; moram na terra, mas têm sua cidadania no céu; obedecem
as leis estabelecidas, as com sua vida ultrapassam as leis; amam a todos e são
perseguidos por todos; são desconhecidos e, apesar disso, condenados; são
mortos e, deste modo, lhes é dada a vida; são pobres e enriquecem a muitos;
carecem de tudo e tem abundância de tudo; são desprezados e, no desprezo,
tornam-se glorificados; são amaldiçoados e, depois, proclamados justos; são
injuriados, e bendizem; são maltratados, e honram; fazem o bem, e são punidos
como malfeitores; são condenados, e se alegram como se recebessem a vida. Pelos
judeus são combatidos como estrangeiros, pelos gregos são perseguidos, a
aqueles que os odeiam não saberiam dizer o motivo do ódio”.
Talvez o que impede sermos apóstolos
entusiasmados da Boa-Nova seja o nosso comodismo: já têm muitas pessoas falando
de Jesus, eu… para quê? Minha mãe já reza bastante, desse jeito todo o mundo se
converterá, inclusive eu. Meu irmão já vai à Missa todos os domingos, para que
irei eu?
Também a falta de fé impede a
evangelização que devemos, como cristãos, realizar. Muitos católicos vivem
aburguesados, estão tranquilos por falta de fé. Se a fé fosse viva, se a
caridade ardesse em seus corações quereriam conquistar todos para Deus, fazendo
apostolado com a sua vida e com a sua palavra de fogo em todos os ambientes
dessa nossa sociedade.
A falta de estratégia as vezes nos deixa
na inatividade: conversas vulgares, sempre as mesmas (além das piadas
malsonantes, vocabulário baixo). É preciso saber elevar o nível, fazer-nos
amigos de nossos conhecidos, atrai-los através da mansidão. Mãe, um segredo:
não se consegue a conversão dos filhos aos gritos. Jovem, você não conseguirá a
conversão daquele seu amigo sem rezar e sem se sacrificar por ele. É preciso
viver a caridade através dos serviços que prestamos; fazer com que eles,
através da nossa amizade, abram o coração; enfim, precisamos fazer um
apostolado de amizade, esse dá certo em qualquer ambiente: no trabalho, na
escola, na faculdade, nas fábricas, nos laboratórios etc. Como apóstolos dos
tempos modernos, o que precisamos é ter uma grande confiança no Senhor. Com fé,
esperança e caridade, seguiremos avante, por Cristo e com Cristo.
Pe. Françoá Costa
Roteiro
Homilético 7 - Liturgia: Mons. José Maria Pereira
O Grão de Mostarda
As duas Parábolas de Jesus, a Semente e
o Grão de Mostarda (Mc 4, 26-34), mostram que o Reino de Deus não é obra dos
homens, é obra de Deus e que a comunidade cristã deve ter confiança total na
ação de Deus.
“O Reino de Deus é como um grão de
mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra,
mas depois brota e torna-se maior do que todas as hortaliças, e estende ramos
tão grandes, que os pássaros do céu podem abrigar-se à sua sombra” (Mc 4,
31-32).
Importa, pois, que o ser humano seja a
terra boa, colaborando com a graça de Deus.
O Senhor escolheu um punhado de homens
para instaurar o seu reinado no mundo. A maioria deles eram humildes
pescadores, de pouca cultura, cheios de defeitos e sem meios materiais: “o que
é fraco no mundo, Deus o escolheu para confundir os fortes” (1 Cor 1, 27).
Considerando humanamente, é incompreensível que esses homens tivessem chegado a
difundir a doutrina de Cristo por toda a terra, em tempo tão curto e tendo que
enfrentar tantos obstáculos e contradições.
Com a parábola do grão de mostarda
-comenta São João Crisóstomo-, o Senhor moveu-os à fé e fez-lhe ver que a
pregação do Evangelho se propagaria apesar de todas as dificuldades.
Nós também somos esse grão de mostarda
em relação à tarefa que o Senhor nos confia no meio do mundo. Não devemos
esquecer a desproporção entre os meios ao nosso alcance- os nossos poucos
talentos- e a vastidão do apostolado que devemos realizar; mas também não
podemos esquecer que sempre teremos a ajuda do Senhor. Surgirão dificuldades, e
então seremos mais conscientes da nossa insignificância e não teremos outro
remédio senão confiar mais no Mestre e no caráter sobrenatural da obra que nos
encomenda.
Ensina São Josemaria Escrivá: “Nas horas
de luta e contradição, quando talvez “os bons” encham de obstáculos o teu
caminho, levanta o teu coração de apóstolo; ouve Jesus que fala do grão de
mostarda e do fermento. E sentirás a alegria de contemplar a vitória futura:
aves do céu à sombra do teu apostolado, agora incipiente; e toda a massa
fermentada” (Caminho, 695).
Se não perdermos de vista a nossa pouca
valia e a ajuda da graça, permaneceremos sempre firmes às expectativas do
Senhor em relação a cada um de nós. Com Ele, podemos tudo.
As parábolas da semente e do grão de
mostarda, ainda que sejam um apelo à humanidade, único terreno apto para o
desenvolvimento do Reino de Deus, são também um convite a um são otimismo,
baseado na eficácia infalível da ação divina.
Mesmo quando os homens estão
pervertidos, ao ponto de negar a Deus e de O considerar “morto”, vivendo como
se não existisse, Ele está sempre presente e atuante na história humana e
continua a espalhar a semente do Seu Reino.
A própria Igreja, que colabora nesta
sementeira, não vê, a maior parte das vezes, os seus frutos; mas é certo que um
dia amadurecerão as espigas. Porém, é preciso esperar com paciência a hora
marcada por Deus, como o lavrador, sem inquietação, espera que passe o inverno
e que o grão germine. E se isto serve para a Igreja, deve servir também para
cada um em particular, porque no coração do homem se desenvolve, ocultamente, o
Reino de Deus e a santidade. Por isso, não deve haver lugar para desânimos, se,
depois de esmerados esforços, um se encontra fraco e defeituoso. É preciso
perseverar no esforço, mas confiando apenas em Deus, porque somente Ele pode
tornar eficaz a ação do homem.
O anúncio do Evangelho, feito na maioria
das vezes entre os companheiros de trabalho ou entre os vizinhos, significou
nos primeiros tempos uma mudança radical de vida e a salvação eterna para
famílias inteiras.
Que o Senhor nos dê forças para sermos
cristãos autênticos vivendo a fé que professamos, em todos os momentos e
situações da vida. Serão ocasiões para mostrarmos o nosso amor a Deus, deixando
de lado os respeitos humanos, a opinião do ambiente, etc; “pois Deus não nos
deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de sabedoria. Não te
envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor…”(2 Tm 1 ,7-8).
Somos convidados a continuar semeando
com fé e confiança. A força vital de Deus age, garantindo o sucesso da
colheita, da Missão. Os frutos não dependem de quem semeou, mas da força da
semente. O crescimento do Reino depende da ação gratuita de Deus.
Deus vale-se do pouco para as suas
obras.
Nunca nos faltará também a sua ajuda.
E também nós encontraremos na Cruz o
poder e a valentia de que necessitamos.
Mons. José Maria Pereira
Roteiro
Homilético 8 - Liturgia: Exegese presbíteros.org
EPÍSTOLA (2 Cor 5, 6-10)
(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)
PELA FÉ: Estando, pois, confiantes e sabendo que residentes no corpo
vivemos ausentes do Senhor (6), porque por fé estamos andando, não por visão
(7). Audentes igitur semper et scientes
quoniam dum sumus in corpore peregrinamur a Domino per fidem enim ambulamus et
non per speciem. CONFIANTES [tharrountes<2292> =audentes] é o particípio
presente do verbo tharreö com o significado de ter confiança, se atrever como
no versículo 8 e com o significado de confiança ou ter confiança em alguma
pessoa como em 2 Cor 7, 16: Regozijo-me de em tudo poder confiar em vós. Também
falar audazmente como em Hb 13, 6: E assim ousemos [tharrountes] dizer: O
SENHOR é o meu ajudador. Finalmente, vemos em 2 Cor 10, 1: Quando presente
entre vós, sou humilde, mas ausente, ousado [tharrö]/ para convosco. Temos,
pois, optado pela confiança. RESIDENTES [endëmountes<1736>=sumus]. Do
verbo endëmeö temos endëmos, como pessoa que habita entre os de sua terra e que
não viajou ao exterior. Daí estar em
casa, e logicamente viver no corpo [en tö sömati] que será o oposto a pros ton
Kyrion [unir-se e ao Senhor no céu (2 Cor 6, 9). VIVEMOS AUSENTES [ekdëmoumen<1553>=
peregrinamur] É o presente do indicativo do verbo ekdëmeö, de significado
emigrar, ir ao estrangeiro, viver em terra estranha, estar exilado, que aparece nos escritos paulinos junto com ek
tou sömatos [fora do corpo] (2 Cor 5, 8), como se o corpo fosse o natural
habitáculo do Espírito; ou apo tou
Kyriou [fora do Senhor] (que vemos neste versículo). Ambos os termos são
opostos: um com o prefixo en [dentro] e outro com ek [fora] e a palavra demos
[povo]. A maioria traduz as duas palavras por presentes e ausentes. Na TEB a
tradução é: habitar no corpo e fora de nossa morada. A razão é que vivemos
[estamos andando] ou caminhamos pela fé e não temos ainda a visão própria da
bem-aventurança.
É PREFERÍVEL MORRER: Estamos confiantes, portanto, e nos alegramos mais,
estando ausentes do corpo e presentes diante do Senhor (8). Audemus autem et
bonam volunotatem habemus magis peregrinari a corpore et praesentes esse ad
Deum. NOS ALEGRAMOS [eudokoumen<2106>=habemus bonam voluntatem]. O verbo
eudokeö tem como significado primordial considerar bom, agradar, como em Lc 12,
32: Não temais, ó pequeno rebanho, porque o vosso Pai agradou dar-vos o reino.
Mas também um segundo significado é comprazer-se, estar satisfeito, como em Mt
3, 17: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo. É neste sentido que
podemos traduzir que nos alegramos mais, se ausentes do corpo [abandonado o
corpo] estivéssemos presentes diante do Senhor. De um modo mais explícito,
vemos este mesmo sentimento paulino em Fp 1, 23: De ambos os lados estou em
aperto, tendo desejo de partir, e estar com Cristo, porque isto é ainda muito
melhor. Podemos dizer que Teresa de Jesus magnificamente dá estribilho a estas
palavras de Paulo em sua letrinha : “Vivo sin vivir en mí,y tan alta vida
espero, que muero porque no muero”.
AGRADÁVEIS A DEUS: Por isso também
aspiramos, quer presentes, quer ausentes, para lhe sermos agradáveis (9). Et
ideo contendimus sive absentes sive praesentes placere illi. A tradução menos
literal e mais inteligível é dada por SBP: Contudo, quer estejamos na presença
do Senhor, quer vivamos exilados dele, o que nos interessa é agradar a Deus.
ASPIRAMOS [filotimeomai <5389>=contendere]: o verbo grego em voz média
indica considerar uma honra, ambicionar, aspirar como em Rm 15, 20: Desta
maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristo foi nomeado, para
não edificar sobre fundamento alheio. Com o significado de procurar em 1 Ts 4,
11: Procureis viver quietos, e tratar dos vossos próprios negócios. É, pois, um
esforço que aspira a um objetivo considerado como bem apetecível. E esse
objetivo é o fim de toda vida cristã: agradar a Deus. AGRADÁVEL
[euarestos<2101>=placere]: o latim traduz por um infinitivo o que no
texto grego é um adjetivo de forma que ser aceitável é traduzido por agradar. É
o conselho que Paulo dá aos efésios: Procurem sempre aquilo que mais agrada ao
Senhor (Ef 5, 10). E por isso, na sua opção de viver ou encontrar-se com o
Senhor, Paulo escolhe a vontade divina como a melhor opção de sua vida. Porque
para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der
fruto da minha obra, não sei então o que devo escolher (Fp 1, 21-22)
O TRIBUNAL: Porque a todos nós é necessário apresentarmos
perante o tribunal do Cristo, para receber cada um as merecidas [consequências]
do corpo segundo as que praticou, quer de bom quer de mal (10). Omnes enim nos
manifestari oportet ante tribunal Christi ut referat unusquisque propria
corporis prout gessit sive bonum sive malum. TRIBUNAL
[bëma<968>=tribunal]: degrau, um passo, extensão de um pé, como em At 7,
5: E não lhe deu nela herança, nem ainda o espaço de um pé [bëma]. Mas
especialmente Bëma é a cadeira do juiz
ou tribunal de justiça: Estando ele [Pilatos] assentado no tribunal, sua
mulher mandou-lhe dizer: Não entres na questão desse justo. É o significado que
Paulo usa em Rm 14, 10: Todos havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo.
É o mesmo tribunal que Paulo apresenta neste versículo. Cristo é o primeiro
juiz de nossa existência do qual nós temos sido durante a vida do corpo, que
Paulo diz como coisas MERECIDAS não tanto dos merecimentos, mas das
deficiências também. Destas atuações devemos dar conta, tanto do bem feito como
do mal causado. O juízo particular no fim da vida determinará o nosso eterno
destino. Assim o cremos e o aclamamos no Credo no qual o juízo é universal
no fim do mundo, que ratificará a sentença
dada pessoalmente no fim de cada vida.
EVANGELHO (Mc 4, 26-34)
1ª parte: A SEMENTE COM VIDA PRÓPRIA
(Pe Ignácio, dos padres escolápios)
Começa de novo o tempo comum. Marcos
mostra Jesus como Mestre do Reino ensinando às multidões desde a barca de Pedro
(4, 1). Seu ensino é na base das parábolas ou exemplos. A parábola é uma
narração que, sob o aspecto de uma comparação,
está destinada a ilustrar o sentido de um ensino religioso. Quando todos
os detalhes têm um sentido e significado real, a parábola se transforma em
alegoria. Como em Jo 10, 1-16, no caso do bom pastor. No AT as parábolas são
escassas [um exemplo é 2 Sm 12, 1-4 em que Natã dá a conhecer seu crime a Davi]
Porém no NT Jesus usa frequentemente as parábolas especialmente como parte de
seu ensino do Reino dos Céus, para iluminar certos aspectos do mesmo. No dia de
hoje temos duas pequenas parábolas, a primeira própria de Marcos e a segunda compartida por Mateus
(13, 21+) e Lucas (13, 18). Na parábola da semente, Jesus indica que o Reino
tem uma força intrínseca que independe dos trabalhadores. Na segunda que o
Reino, minúsculo nos tempos de Jesus, expandir-se-á de modo a se estender pelo
mundo inteiro. Vejamos versículo por versículo as palavras de Jesus.
O REINO DE DEUS: E dizia: assim é o
Reino de Deus, como se um homem lançasse a semente sobre a terra (26). Et
dicebat sic est regnum Dei quemadmodum si homo iaciat sementem. Que significa
Reino de Deus? No AT Jahvé, o Deus de Israel, era o verdadeiro rei e seu reino
abrangia todo o Universo. Os juízes eram praticamente os seus representantes.
Por isso, o seu profeta Samuel, último juiz, escutou estas palavras: Não é a ti
que te rejeitam, mas a mim, porque não querem mais que eu reine sobre eles (I
Sam 8, 7). A partir de Davi o reino de Deus tem como representante um rei
humano, mas a experiência terminou em fracasso, e o reino de Deus acabou por
ser um reino futuro escatológico como final dos tempos e transcendente, como
sendo Deus mesmo o que seria ou escolheria o novo rei. Esse reino está chegando
e tem seu representante na pessoa de Jesus e dos apóstolos. Nada tem de
material ou geográfico, e é formado pelos que aceitam Jesus como Senhor,
caminho, verdade e vida. Por isso dirá Jesus que o reino está dentro de vocês.
A Igreja fundada por Jesus é a parte visível desse reino, que não é como os do
mundo, mas tem sua base em servir e não em ser servido (Lc 22, 27). O oposto do
amor, que é serviço no reino, é o amor ao dinheiro ou mammona (Mt 6, 24), de
modo que podemos afirmar que o dinheiro é o verdadeiro deus deste mundo. A
primeira comparação que revela como atua o Reino é esta parábola de Jesus,
facilmente entendida como tipo, e que finalmente veremos como protótipo nas
observações.
O CRESCIMENTO: E durma e se levante
noite e dia; e a semente germine e cresça de um modo que ele não tem conhecido
(27). Et dormiat et exsurgat nocte ac die et semen germinet
et increscat dum nescit ille. É importante unir este versículo ao anterior para
obter o sentido completo da parábola. O agricultor faz sua vida independente e
a semente nasce e cresce sem ter nada que ver com o agricultor fora o fato de
ser semeada por ele no início. Deste modo Paulo pode afirmar: Eu plantei, Apolo
regou; mas era Deus quem fazia crescer. Aquele que planta nada é; aquele que
rega nada é; mas importa somente Deus, que dá o crescimento (1 Cor 3, 6-7).
Assim, na continuação dirá Jesus: Pois por si mesma a terra frutifica primeiramente
a erva, depois a espiga, depois o trigo pleno na espiga (28). Ultro enim terra
fructificat primum herbam deinde spicam deinde plenum frumentum in spica. O
latim ultro expressa a boa vontade, sem coação; o trigo é chamado de pleno e o
latim traduz com bom critério como sendo o fruto total ou final.
A COLHEITA: Quando, porém, tiver
aparecido o fruto, rapidamente ele [o agricultor] envia a foice porque tem
aparecido a ceifa (29). Et cum se produxerit fructus statim mittit falcem
quoniam adest messis. Não há nada a comentar a não ser o trabalho do
agricultor, que como vemos se reduz a semear e ceifar. A terra e a semente
fazem o resto.
SEGUNDA PARÁBOLA: A MOSTARDA.
(Lugares paralelos: Mt 13, 31-32; Lc 13,
18-19)
A OUTRA COMPARAÇÃO: E dizia: a que
compararíamos o Reino de Deus, ou em que parábola o assemelharíamos?(30). Et
dicebat cui adsimilabimus regnum Dei aut cui parabolae conparabimus illud.
Parece que Jesus medita antes de afirmar ou escolher uma comparação apropriada.
Seu estilo é de chamar a atenção dos ouvintes, um simples recurso oratório que
indica por outra parte uma memória viva dos ouvintes e não uma posterior
reconstrução. É possível que estas palavras formem parte do método de ensino de
Jesus.
A MOSTARDA: Assim como a semente da
mostarda, a qual quando sendo semeada na
terra é a menor de todas as sementes sobre a terra (31). Sicut granum sinapis quod cum seminatum
fuerit in terra minus est omnibus seminibus quae sunt in terra. A mostarda é
uma planta da família da couve ou repolho, de grandes folhas, flores amarelas e
pequenas sementes, que tem duas espécies principais: branca e preta. A branca
chega até atingir 1,2 m de altura e a preta pode chegar até 3m e 4 m de altura.
A negra é comum nas margens do lago de Tiberíades e seu tronco se torna
lenhoso. Por isso os árabes falam de árvores de mostarda. Esta variedade só
cresce ao longo do lago e nas margens do Jordão. Os pintassilgos, gulosos de
suas sementes chegam em bandos para pousar nos seus galhos e comer os grãos. As
sementes não são as menores entre as conhecidas, mas parece que eram modelo, na
época, de coisas insignificantes. O nome grego é sinapis e passou às línguas
vernáculas porque a semente era usada junto com o mosto de uva para formar o
mustum ardens [mosto ardente]. A mais comum é a branca não tão ardente como a
preta, precisamente por sua maior facilidade em recolher os frutos. E quando
está semeada surge e se torna maior do que todas as hortaliças e produz galhos
grandes de modo que podem, sob sua sombra, as aves do céu habitar (32). Et cum
seminatum fuerit ascendit et fit maius omnibus holeribus et facit ramos magnos
ita ut possint sub umbra eius aves caeli habitare. Temos visto como chegam até
3 ou 4 m de altura, suficientes para aninhar os pássaros em seus galhos. O
verbo kataskenoô<2681> significa
descansar, estabelecer-se, como temos visto anteriormente.
A RAZÃO DAS PARÁBOLAS: E com muitas
parábolas semelhantes falava a eles a palavra do modo que podiam ouvir (33). Et
talibus multis parabolis loquebatur eis verbum prout poterant audire. Vamos
traduzir o último versículo que completa este para depois intentar a
interpretação. Pois fora de comparação [parábola] não falava a eles; em
particular, porém, aos discípulos explicava todas as coisas (34). Sine parabola
autem non loquebatur eis seorsum autem discipulis suis disserebat omnia. Temos
aqui uma discriminação feita sem saber a razão do por que foi escolhida por
Jesus. Os discípulos tinham ocasião de saber o significado verdadeiro das
comparações, por vezes não muito claras para o ouvinte geral. O caso mais
evidente é o do semeador e os diversos terrenos em que a semente cai. O público
em geral podia ficar com a ideia de que a semente da palavra era recebida de
formas mui diversas pelos ouvintes, mas a razão destas diferenças só era
explicada aos que, interessados, perguntaram junto aos doze pela explicação da
mesma (Mc 4, 13-20). O encontro com a palavra é um dom de Deus, mas a resposta
à mesma depende da vontade e do interesse de cada um. A explicação
correspondente sempre a receberá quem esteja interessado em saber a verdade.
PISTAS: 1) Nas parábolas, Jesus
geralmente não define o Reino, mas só alguns atributos do mesmo. Na primeira
destas parábolas do dia de hoje temos a exposição de como o Reino se expande
com uma força que não depende dos homens, mas do próprio Deus. Poderíamos dizer
que descreve a força interna do Reino.
2) Na segunda parábola encontramos a
visão externa do Reino. Seu crescimento seria espetacular desde um pequeno
grupo insignificante como é a semente da mostarda que se parece com a cabeça de
um alfinete, até uma árvore que nada tem a invejar os carrascais da Palestina.
3) Uma certeza é evidente: o Reino é uma
realidade que não se pode ignorar. Em que consiste? Jesus não revela sua
essência, mas devido ao nome estamos inclinados a afirmar que o Reino como nova
instituição é uma irrupção da presença de Deus na História humana, que seria
uma revolução e uma conquista, não violenta, mas interior do homem, e que deveria
mudar a religião em primeiro lugar e as relações sociais em segundo termo. Numa
época em que revoluções externas e lutas pelo poder estavam unidas a uma
teocracia religiosa era perigoso anunciar a natureza verdadeira do Reino. Daí
que só as externas qualidades do Reino tenham sido descritas e de modo a não
levantar reações violentas. O reino sofrerá violências, mas não será o
violentador (Mt 11, 12).
4) Se quisermos apurar as coisas,
poderíamos atribuir ao Reino uma universalidade que não tinha a Antiga Aliança.
Mas isto é esticar as coisas além do estado natural das coisas e da narração de
hoje no evangelho de Marcos.
Roteiro
Homilético 9 - Liturgia: Roteiro presbíteros.org
RITOS INICIAIS
Sl 26, 7.9
ANTÍFONA DE ENTRADA: Ouvi, Senhor, a voz
da minha súplica. Vós sois o meu refúgio: não me abandoneis, meu Deus, meu
Salvador.
Introdução ao espírito da Celebração
Estamos em tempo de crise. Todos apelam
a que não se cruzem os braços.
O Reino de Deus também viverá em crise?
O Profeta Ezequiel, 17, 22-24 diz-nos:
«Do cimo do grande cedro, dos seus ramos mais altos, o Senhor Deus vai colher
um ramo novo, vai plantá-lo num monte muito alto. Abato a árvore elevada e
elevo a árvore abatida, faço que seque a árvore verde e reverdesça a árvore
seca. Eu, o Senhor, o afirmei e o hei-de realizar.» Tudo depende do Senhor mas
Ele espera a nossa colaboração.
São Paulo (2.º Coríntios, 5, 6-10)
recorda-nos que seremos julgados por Deus após esta vida. Mais uma vez somos
alertados para o dever de trabalhar no Reino de Deus.
Em São Marcos, 4, 26-34 o Reino de Deus
é comparado à semente que é lançada à terra. Também nós faremos tudo para que a
semente produza cem por um?
ORAÇÃO COLECTA: Deus misericordioso,
fortaleza dos que esperam em Vós, atendei propício as nossas súplicas; e, como
sem Vós nada pode a fraqueza humana, concedei-nos sempre o auxílio da vossa
graça, para que as nossas vontades e acções Vos sejam agradáveis no cumprimento
fiel dos vossos mandamentos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é
Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
LITURGIA DA PALAVRA
Primeira Leitura
Monição: De um ramo novo, de cedro muito
alto, pode surgir outro cedro ainda mais alto. Deus o fará mas conta connosco.
Ezequiel, 17, 22-24
22Eis o que diz o Senhor Deus: «Do cimo
do grande cedro, dos seus ramos mais altos, Eu próprio vou colher um ramo novo,
vou plantá-lo num monte muito alto. 23Na elevada montanha de Israel o hei-de
plantar. Ele há-de lançar ramos e dar frutos e tornar-se-á um cedro majestoso.
Nele farão ninho todas as aves, toda a espécie de pássaros habitará à sombra
dos seus ramos. 24E todas as árvores do campo hão-de saber que Eu sou o Senhor;
abato a árvore elevada e elevo a arvore abatida, faço que seque a árvore verde
e reverdesça a árvore seca. Eu, o Senhor, o afirmei e o hei-de realizar.»
O Profeta Ezequiel, após a denúncia das
infidelidades do seu povo sujeito ao duro castigo do exílio babilónico, fala
agora em nome do Senhor Deus, anunciando a restauração final do povo exilado,
como obra do próprio Deus. De um simples ramo – outra forma de referir o resto
de Israel – Ele fará surgir um cedro majestoso, a dar frutos, e em cujos ramos
«farão ninho todas as aves» (v. 23), numa visão universalista escatológica, que
preanuncia a universalidade do Reino de Deus, que Jesus descreve na parábola do
grão de mostarda do Evangelho de hoje.
Salmo Responsorial
Salmo 91 (92) 2-3. 13-14. 15-16. (R. cf. 2a)
Monição: Se o homem confia no Senhor,
florescerá como a palmeira e crescerá como o cedro do Líbano.
Refrão: É BOM LOUVAR-VOS SENHOR
É bom louvar o Senhor
e cantar salmos ao vosso nome, ó
Altíssimo,
proclamar pela manhã a vossa bondade
e durante a noite a vossa fidelidade.
O justo florescerá como a palmeira,
crescerá como o cedro do Líbano;
plantado na casa do Senhor,
florescerá nos átrios do nosso Deus.
Mesmo na velhice dará o seu fruto,
cheio de seiva e de vigor,
para proclamar que o Senhor é justo:
n’Ele, que é o meu refúgio, não há
iniquidade.
Segunda Leitura
Monição: Estou neste mundo de passagem.
Caminhamos para a eternidade onde cada um receberá o que tiver feito pelo Reino
de Deus.
2 Coríntios 5, 6-10
Meus irmãos: 6Nós estamos sempre cheios
de confiança, sabendo que, enquanto habitarmos neste corpo, vivemos como que
exilados, longe do Senhor, 7pois caminhamos pela fé e não vemos claramente. 8E,
com a mesma confiança, preferíamos exilar-nos do corpo, para habitarmos junto
do Senhor. 9Por isso nos empenhamos em Lhe ser agradáveis, quer continuemos a
habitar no corpo, quer tenhamos de afastar-nos dele. 10Todos nós devemos
aparecer a descoberto perante o tribunal de Cristo, a fim de cada qual receber
a sua paga, pelas obras feitas durante a vida corporal, conforme as tiver
praticado, boas ou más.
Na primeira parte da 2ª Carta aos
Coríntios (cap. 1 a 7), S. Paulo, depois de fazer a sua defesa perante as
acusações dos adversários, faz a apologia do seu ministério apostólico; e, no
meio de tribulações sem conta (4, 7-12), é a fé em Jesus ressuscitado e a
esperança no Céu que o leva a não desfalecer (4, 13 – 5, 10). O desejo de se
«exilar do corpo», isto é, de deixar esta vida terrena, «para habitar junto do
Senhor» no Céu (v. 8) leva-o ao empenho em lutar por Lhe agradar (v. 9). E não
deixa de aproveitar a ocasião para expor aos fiéis uma verdade de fé
fundamental que nos responsabiliza, a saber, que todos havemos de ser julgados
por Deus no fim desta vida. É a este mesmo «tribunal de Cristo» (v. 10) que se
refere o nº 1022 do Catecismo da Igreja Católica: «Cada homem recebe, na sua
alma imortal, a retribuição eterna logo depois da sua morte, num juízo
particular que põe a sua vida na referência de Cristo, quer através duma
purificação, quer para entrar imediatamente na felicidade do Céu, quer para se
condenar imediatamente para sempre». Chamamos a atenção para o modelo
antropológico grego que S. Paulo aqui adopta; como bom comunicador, costuma
lançar mão da linguagem que mais se presta a ser bem compreendido pelos
destinatários.
Aclamação ao Evangelho
Monição: Quando falha a sementeira, a
culpa nunca é de Cristo mas de cada um de nós.
ALELUIA
A
semente é a Palavra de Deus, Cristo é o semeador;
todo aquele que O encontra, encontra a
vida eterna.
Evangelho
São Marcos 4, 26-34
Naquele tempo, 26dizia Jesus às
multidões: «O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra.
27Dorme e levanta-se, de noite e de dia, enquanto a semente germina e cresce,
sem ele saber como. 28A terra produz por si, primeiro o pé, depois a espiga,
por fim o trigo maduro na espiga. 29E, mal o trigo o permite, logo ele mete a
foice; a seara está pronta. 30Jesus dizia também: «A que havemos de comparar o
Reino de Deus? Em que parábola o havemos de apresentar? 31É como o grão de
mostarda que, ao ser semeado no terreno, é a menor de todas as sementes que há
na terra. 32Mas, depois de semeado, começa a crescer, torna-se a maior de todas
as plantas da horta e deita ramos tão grandes que as aves do céu vêm abrigar-se
à sua sombra.» 33Jesus pregava-lhes a palavra Deus com muitas parábolas destas,
conforme eram capazes entender. 34E não lhes falava senão por meio de
parábolas, e, em particular, tudo explicava aos discípulos.
Após a interrupção com o tempo da
Quaresma e da Páscoa, retomamos hoje a sequência da leitura do evangelista do
ano, S. Marcos, com duas parábolas do Reino de Deus no final do cap. 4, a
saber, a do germinar e crescer da semente e a do grão de mostarda. A primeira
(vv. 26-29) é uma das poucas passagens exclusivas de S. Marcos; ela apresenta o
processo do desenvolvimento da semente, deveras misterioso sobretudo para os
antigos, pois tudo acontece sem que o semeador saiba como e sem que ele
intervenha de qualquer modo: «Dorme e levanta-se, de noite e de dia, enquanto a
semente germina e cresce, sem ele saber como» (v. 27). O Reino de Deus cresce
não pela virtude, preocupação ou mérito do pregador, mas pela sua energia
interna, pela força da graça de Deus que actua onde, como e quando quer. São
Paulo dirá aos Coríntios, ufanos em grupos à volta dos diversos pregadores do
Evangelho: «Eu plantei, Apolo regou, mas foi Deus quem deu o crescimento.
Assim, nem o que planta nem o que rega é alguma coisa, mas só Deus, que faz
crescer» (1 Cor 3, 6-7). Também se pode fazer uma leitura espiritual (lectio
divina) da parábola aplicando-a à acção da graça na alma: Deus faz que brotem
dentro de nós, sem sabermos como, santas inspirações, boas resoluções,
fidelidade, maior entrega… Ele realiza em nós e à nossa volta aquilo que nem
sequer podíamos sonhar, desde que lancemos a semente e não estorvemos a obra de
Deus.
30-32 A pergunta retórica com que a
parábola do grão de mostarda é introduzida – «a que havemos de comparar o Reino
de Deus? – é um recurso bem semítico destinado a atrair a atenção dos ouvintes.
O grão de mostarda era a semente mais pequena então conhecida, que pode em
pouco tempo vir a dar uma planta de cerca de três metros. Esta parábola põe em
evidência a desproporção entre a insignificância dos começos do Reino de Deus e
a sua vasta e rápida expansão. O livro de Actos dos Apóstolos sublinha
constantemente o crescimento progressivo da Igreja; por sua vez, em S. Lucas,
Jesus anima-nos a não temer a insignificância dos começos: «Não temais,
pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino» (Lc 12, 32).
Sugestões para a homilia
1. Eu, O Senhor o afirmei e o hei-de
realizar (Ezequiel, 17, 24)
Quem acredita em Deus olha para o
passado e por ele compreende o futuro.
Ezequiel nasceu em 620 antes de Cristo,
em Jerusalém, na época do rei Josias. Em 597 os judeus são deportados para
Babilónia e Ezequiel também.
O sofrimento dos exilados era muito
grande; sobretudo porque se encontravam longe da pátria, de Jerusalém e do
Templo. O Salmo 137 é uma autêntica balada dos exilados, traduzindo a amargura
e a saudade do povo, a quem os dominadores pediam «cânticos de alegria» (Salmo
137) «Junto aos rios da Babilónia nos sentámos a chorar, recordando-nos de
Jerusalém… Os que nos levaram para ali cativos pediam-nos um cântico…» –
«Cantai-nos um cântico de Jerusalém…» – «Como poderíamos nós cantar um cântico
do Senhor, estando numa terra estranha? Se me esquecer de ti, Jerusalém, fique
ressequida a minha mão direita! Pegue-se-me a língua ao paladar… se não fizer
de Jerusalém a minha suprema alegria»!
Atenção ao pequeno pormenor que vem a
seguir: «A tentação da dúvida e do desespero ameaçava profundamente os Judeus.
Muitos pensavam: o nosso Deus abandonou o seu povo; os deuses pagãos levaram a
melhor sobre o Deus de Israel!». Isto não era verdade. Deus nunca abandona os
que O amam. Apenas os coloca em provações. Tudo o que relatámos parece
repetir-se. Os povos do mundo inteiro quase ignoram Deus para confiar apenas
nas leis dos governantes e na técnica.
A humanidade estará de regresso a Deus?
A parábola do filho pródigo é sempre actual… Voltemos ao convívio íntimo com
Deus, e seremos salvos.
2. «O Reino de Deus é como um homem que
lançou a semente à terra». Como ajudá-la a crescer e a dar fruto?
O processo de desenvolvimento da semente
é um facto misterioso. O Reino de Deus cresce não por virtude ou mérito dos
apóstolos, mas com a força da graça de Deus. São Paulo dirá aos Coríntios (1
Cor 3, 6-7): «Eu plantei, Apolo regou, mas foi Deus quem deu o crescimento».
Assim, nem o que planta, nem o que rega é alguma coisa, mas só Deus faz
crescer».
Mas o plantar e regar é ou não imperativo
e imprescindível?
Claro que sim. Jesus fundou a Igreja e
conta com os leigos, os sacerdotes e os Bispos, para que o Reino de Deus se
dilate. A formação dos leigos, sacerdotes e Bispos deve ser integral.
Basta que falhe alguma das partes para
que a acção de cada pessoa seja um fracasso.
Qualidades humanas, cultura intelectual,
e vida de santidade são dados inseparáveis. As pessoas muito activas mas onde
falta a vida de oração, de frequência dos sacramentos, Eucaristia e comunhão
diária, confissão frequente, direcção espiritual, meditação, exame diário de
consciência, recitação diária da Liturgia das Horas, reza diária do Terço,
outras práticas de devoção a Nossa Senhora, devoção ao Anjo da Guarda, a São
José, etc, fazem muito barulho mas não conseguem levedar o meio em que vivem.
Estamos convencidos de que em primeiro
lugar está a santidade e só depois a acção?
Corremos todos o risco de muita
operosidade e pouca santidade.
Rezemos, façamos sacrifícios,
transformemos o trabalho em oração, mantenhamos a união com Deus ao longo do
dia e Deus fará o resto.
Para terminar, reparemos nestas palavras
de São Lucas, 13, 32: «Não temais pequeno rebanho, porque aprouve ao vosso Pai
dar-vos o Reino».
Não devemos esquecer este pormenor. No
mistério da conversão e santificação de cada cristão também conta o respeito de
Deus pela liberdade de cada pessoa. Ninguém se converte contra sua vontade.
LITURGIA EUCARÍSTICA
ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Senhor nosso
Deus, que pelo pão e o vinho apresentados ao vosso altar dais ao homem o
alimento que o sustenta e o sacramento que o renova, fazei que nunca falte este
auxílio ao nosso corpo e à nossa alma. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
SANTO
Monição da Comunhão
A semente recebida no Baptismo deve ser
acompanhada da Eucaristia.
Sl 26, 4
ANTÍFONA DA COMUNHÃO: Uma só coisa peço
ao Senhor, por ela anseio: habitar na casa do Senhor todos os dias da minha
vida.
ou
Jo 17, 11
Pai santo, guarda no teu nome os que Me
deste, para que sejam em nós confirmados na unidade, diz o Senhor.
ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Fazei,
Senhor, que a sagrada comunhão nos vossos mistérios, sinal da nossa união
convosco, realize a unidade na vossa Igreja. Por Nosso Senhor Jesus Cristo,
vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
RITOS FINAIS
Monição final
Cuidado! Se não és apóstolo no Reino dos
Céus, és apóstata.
HOMILIAS FERIAIS
11ª SEMANA
2ª Feira, 18-VI: Uma nova mentalidade.
2 Cor 6, 1-10 / Mt 5, 38-42
Ouvistes que foi dito aos antigos: olho
por olho, dente por dente. Pois eu digo-vos: não resistais ao malvado.
Jesus pede uma nova mentalidade no
relacionamento com as outras pessoas. É altura de acabar com a lei de Talião.
Agora deve prevalecer o amor ao próximo, que exige capacidade de humilhação,
desprendimento do próprio eu, espírito de serviço desinteressado, ajuda aos
mais necessitados.
É também ocasião de darmos um bom
exemplo: pela constância nas tribulações, nas adversidades, nos açoites… pela
ciência e pela paciência, pela bondade, pela palavra da verdade e pela força de
Deus (cf Leit)
3ª Feira, 19-VI: A riqueza da caridade.
2 Cor 8, 1-9 / Mt 5, 43-48
Ele (Jesus), que era rico, fez-se pobre
por vossa causa, para que vos tornásseis ricos pela sua pobreza.
S. Paulo reconhece que os fiéis de
Corinto são ricos em tudo: na fé, na eloquência, na doutrina, nas atenções e na
caridade (cf Leit).
Precisamos descobrir o tesouro do amor
aos inimigos, aqueles que nos incomodam: «No sermão da montanha, o Senhor
lembra o preceito: ‘Não matarás’, e acrescenta-lhe a proibição da ira, do ódio
e da vingança. Mais ainda: Cristo exige que o seu discípulo ofereça a outra
face, que ame os seus inimigos (Ev)» (CIC, 2262). Este amor é uma consequência
do amor que Deus semeia nos nossos corações.
4ª Feira,20-VI: Sementeira com
generosidade e alegria.
2 Cor 9, 6-11 / Mt 6, 1-6. 16-18
Quem semeia pouco, também colherá pouco,
e quem semeia com largueza colherá com largueza.
Com esta imagem da sementeira, S. Paulo
anima-nos a semear com generosidade e alegria: «Deus ama quem dá com alegria»
(Leit). Mas não esqueçamos que a semente é fornecida por Deus (cf Leit).
Essa mesma generosidade na sementeira
há-de notar-se nas formas de penitência interior: «A penitência interior do
cristão pode ter expressões muito variadas. A Escritura e os Padres insistem
sobretudo em três: o jejum, a oração e a esmola (Ev), que exprimem a conversão,
em relação a si mesmo, a Deus e aos outros» (CIC, 1434).
5ª Feira,21-VI: O pão nosso de cada dia.
2 Cor 11, 1-11 / Mt 6, 7-15
Orai, pois, deste modo: Pai nosso… o pão
nosso de cada dia nos dai hoje.
Ao pedirmos o pão nosso de cada dia
reconhecemos que toda a nossa existência depende de Deus. Pedimos, em primeiro
lugar, o necessário para resolver as necessidades de cada dia; e, depois, o que
é necessário para a salvação da alma.
O pão nosso «tomado à letra
(sobre-substancial), designa directamente o Pão da vida, o corpo de Cristo,
‘remédio de imortalidade’, sem o qual não temos a vida em nós… A Eucaristia é o
nosso pão de cada dia… E também são pão de cada dia as leituras que em cada dia
ouvimos na igreja» (CIC, 2837).
Celebração e Homilia: ADRIANO TEIXEIRA
Nota Exegética: GERALDO MORUJÃO
Homilias Feriais: NUNO ROMÃO
Sugestão Musical: DUARTE NUNO ROCHA