15º Domingo Comum - Ano B

Roteiro Homilético 1: Mensagem
(cnbbleste2.org.br Dom Emanuel Messias de Oliveira)

1ª LEITURA - Am 7,12-15
O tempo de Amós era um tempo de “milagre econômico”, ou seja, aparente prosperidade da nação às custas de tremenda injustiça para com o povo oprimido, empobrecido e escravizado pelo estado e por uma elite privilegiada e desonesta. Também a religião estava em decadência. Tudo isso sacudiu o interior vulcânico do pastor de Técua que, de vaqueiro e cultivador de sicômoros, sentiu-se chamado a ser profeta, ou seja, a gritar em nome do Deus da justiça, do Deus da Aliança.

 Ele sai de Técua e vai a Betel - o santuário real  - e ali denuncia a opressão, a injustiça e o desprezo da Aliança. O luxo, o roubo e o falso culto causam indignação ao profeta. O sacerdote  Amasias reage violentamente, acusa-o diante do rei, chama-o de vidente, de falso profeta profissional para assim ganhar o seu pão. Então, Amós vai justificar sua vocação profética. Amós diz que nunca pertenceu à corporação de profetas profissionais. Ele era vaqueiro e colhia figos selvagens. Foi o Senhor que o desenraizou de seu torrão natal, afastou-o da sua humilde profissão e o chamou para profetizar. Eis as palavras do Senhor: “Vá e fale como profeta a meu povo de Israel”. O chamado de Javé é uma ordem à qual não se pode fugir. Amós é profeta de verdade, reveste-se de coragem e enfrenta sacerdotes e reis em nome de Deus. Se você quiser experimentar a veemência profética do grande Amós prolongue por mais dois versículos a leitura do texto de hoje. Profeta é aquele que anuncia e denuncia. Você tem coragem também de denunciar?



2ª LEITURA - Ef 1,3-10
Esta carta, atribuída ao grande apóstolo Paulo, é uma espécie de carta circular dirigida às comunidades da Ásia Menor. Ela poderia ser divida em duas  grandes partes: a primeira parte seria uma parte doutrinal - capítulos 1-3. A segunda parte são exortações morais  - capítulos 4-6.

Nosso texto deixa bem claro a centralidade de Cristo em tudo. Começa bendizendo ao Pai de N.S.J.C., que, em Cristo,  nos cumulou com toda a espécie de bênçãos; é um hino de louvor composto de seis bênçãos, se o prolongarmos até o versículo 14. Em síntese, o Pai nos abençoou em Cristo com a eleição (v. 4), a predestinação (vv. 8-10),  a redenção (v. 17), a recapitulação (vv. 8-10), a herança (vv. 11-12) e o Espírito Santo (vv. 13-14).

1ª e 2ª bênçãos (vv.4-6) são a eleição e a predestinação: “Nele, Deus nos escolheu, antes da fundação  do mundo, para sermos santos e íntegros diante dele, no amor. “Santos e íntegros”: fomos destinados a ser: “Filhos adotivos”: O filho é sempre da mesma natureza do Pai. Assim é Jesus. Mas nós não somos da mesma natureza de Deus; Deus é divino, nós somos humanos, mas Deus nos adotou como filhos em Jesus Cristo, por isso somos filhos adotivos. A finalidade é “o louvor de sua graça gloriosa  com que nos agraciou no seu  bem-amado (v.6).

3ª bênção (vv.7-9) é a redenção através do sangue de Cristo que nos liberta da escravidão do pecado.

4ª bênção (v.10) é a realidade do projeto de Deus: “reencabeçar tudo em Cristo, tudo o que existe no céu e na terra”. Este é o mistério da vontade de Deus, que, na plenitude dos tempos, nos foi revelado em Jesus Cristo.

5ª e 6ª bênçãos (vv. 11-14) dizem respeito aos judeus que já tinham parte na herança e aos gentios que são incorporados ao povo de Deus e marcados pelo Espírito, garantia desta herança. Você reconhece e agradece a Deus por tantas bênçãos?  Enumere outras.


EVANGELHO - Mc 6,7-13
Estamos diante de um texto de vocação e missão. Jesus chama e envia em missão. Jesus enviou os 12, dois a dois. Jesus não envia apenas 12 pessoas, mas os 12, ou seja, os fundamentos do novo povo de Deus - a Igreja. Jesus começa algo totalmente novo. Os 12 fundamentam esta novidade. A novidade não é uma doutrina nova, mas uma pessoa: Jesus Cristo homem-Deus. A Igreja é missionária desde suas origens. Os 12 não devem agir isoladamente, devem partir  2 a 2, pois segundo o Dt 19,15  “A sentença se apoiará na palavra de duas ou três testemunhas.”

 Jesus lhes dá poder contra as forças do mal; contra tudo aquilo que foi considerado como força maligna. Só Deus é absoluto. O mal em suas várias formas e manifestações é habitualmente chamado pelos judeus de espírito imundo ou demônio. Os missionários devem ser desprendidos de bens materiais, só devem levar consigo cajado na mão, sandália aos pés e uma túnica no corpo. Nada de comer, nada de sacola, nada de dinheiro. Este desprendimento é o sinal de sua fidelidade, é o triunfo e a alegria da privação por solidariedade com alguém - menos favorecido. Busca de próprios interesses é contratestemunho. Eles não devem andar de casa em casa, mas em cada lugar devem hospedar-se apenas numa casa. É a urgência escatológica da missão. Acabou o tempo da espera: “Completou-se o tempo, e  o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos  e crede na Boa-Nova” (Mc 1,15). Caso eles sejam mal recebidos num lugar e o povo não os escutar, eles devem sacudir a poeira dos pés, como se faz no Oriente, como sinal de protesto e de ruptura. Não acolher os missionários e não escutá-los significa rejeição da mensagem de salvação. É preciso decidir a favor ou contra o Reino; os missionários não podem esperar muito, pois o tempo é curto e não há uma segunda chance.

Em Jo 3,18 lemos: “Quem crer nele não será condenado. Qual é o núcleo do conteúdo da mensagem e da atividade apostólica? É o convite à conversão, expulsão de demônios e curas através da unção com óleo. Por que conversão? Porque na realidade”, chegou algo totalmente novo em Jesus Cristo, chegou o Reino de Deus (1,15). Este relato de missão retrata a preocupação da comunidade primitiva em legitimar sua missão apostólica como uma ordem do Cristo histórico. Você tem consciência de ser um vocacionado, um discípulo missionário, ou seja, chamado a servir a Igreja - Comunidade? Qual é a sua missão específica na Comunidade?







Roteiro Homilético 2: Dehonianos de Portugal
(http://www.dehonianos.org/)

Tema do 15º Domingo do Tempo Comum

A liturgia do 15º Domingo do Tempo Comum recorda-nos que Deus actua no mundo através dos homens e mulheres que Ele chama e envia como testemunhas do seu projecto de salvação. Esses “enviados” devem ter como grande prioridade a fidelidade ao projecto de Deus e não a defesa dos seus próprios interesses ou privilégios.
A primeira leitura apresenta-nos o exemplo do profeta Amós. Escolhido, chamado e enviado por Deus, o profeta vive para propor aos homens – com verdade e coerência – os projectos e os sonhos de Deus para o mundo. Actuando com total liberdade, o profeta não se deixa manipular pelos poderosos nem amordaçar pelos seus próprios interesses pessoais.
A segunda leitura garante-nos que Deus tem um projecto de vida plena, verdadeira e total para cada homem e para cada mulher – um projecto que desde sempre esteve na mente do próprio Deus. Esse projecto, apresentado aos homens através de Jesus Cristo, exige de cada um de nós uma resposta decidida, total e sem subterfúgios.
No Evangelho, Jesus envia os discípulos em missão. Essa missão – que está no prolongamento da própria missão de Jesus – consiste em anunciar o Reino e em lutar objectivamente contra tudo aquilo que escraviza o homem e que o impede de ser feliz. Antes da partida dos discípulos, Jesus dá-lhes algumas instruções acerca da forma de realizar a missão… Convida-os especialmente à pobreza, à simplicidade, ao despojamento dos bens materiais.


LEITURA I – Am 7,12-15

Leitura da Profecia de Amós

Naqueles dias,
Amasias, sacerdote de Betel, disse a Amós:
«Vai-te daqui, vidente.
Foge para a terra de Judá.
Aí ganharás o pão com as tuas profecias.
Mas não continues a profetizar aqui em Betel,
que é o santuário real, o templo do reino».
Amós respondeu a Amasias:
«Eu não era profeta, nem filho de profeta.
Era pastor de gado e cultivava sicómoros.
Foi o Senhor que me tirou da guarda do rebanho e me disse:
‘Vai profetizar ao meu povo de Israel’».

AMBIENTE

Amós, o “profeta da justiça social”, exerceu o seu ministério profético no reino do Norte (Israel) em meados do séc. VIII a.C. (possivelmente, por volta de 762 a. C.), durante o reinado de Jeroboão II. É uma época de prosperidade económica e de tranquilidade política: as conquistas de Jeroboão II alargaram consideravelmente os limites do reino e permitiram a entrada de tributos dos povos vencidos; o comércio e a indústria (mineira e têxtil) desenvolveram-se significativamente… As construções da burguesia urbana atingiram um luxo e magnificência até então desconhecidos.
A prosperidade e bem-estar das classes favorecidas contrastavam, porém, com a miséria das classes baixas. O sistema de distribuição estava nas mãos de comerciantes sem escrúpulos que, aproveitando o bem-estar económico, especulavam com os preços. Com o aumento dos preços dos bens essenciais, as famílias de menores recursos endividavam-se e acabavam por se ver espoliadas das suas terras em favor dos grandes latifundiários. A classe dirigente, rica e poderosa, dominava os tribunais e subornava os juízes, impedindo que o tribunal fizesse justiça aos mais pobres e defendesse os direitos dos menos poderosos.
Entretanto, a religião florescia num esplendor ritual nunca visto. Magníficas festas, abundantes sacrifícios de animais, um culto esplendoroso, marcavam a vida religiosa dos israelitas… O problema é que esse culto não tinha nada a ver com a vida: no dia a dia, os mesmos que participavam nesses ritos cultuais majestosos praticavam injustiças contra o pobre e cometiam toda a espécie de atropelos ao direito. Ainda mais: os ricos ofereciam a Deus abundantes ofertas, a fim de serenar as suas consciências culpadas e a fim de assegurar a cumplicidade de Deus para os seus negócios escuros… Além disso, a influência da religião cananeia estava a levar os israelitas para o sincretismo religioso: o culto a Jahwéh misturava-se com rituais pagãos provenientes dos cultos a Baal e Astarte. Essa confusão religiosa punha em sérios riscos a pureza da fé jahwista.
É neste contexto que aparece o profeta Amós. Natural de Técua (uma pequena aldeia situada no deserto de Judá), Amós não é profeta profissional; mas, chamado por Deus, deixa a sua terra e parte para o reino vizinho para gritar à classe dirigente a sua denúncia profética. A rudeza do seu discurso, aliada à integridade e afoiteza da sua fé, traz algo do ambiente duro do deserto e contrasta com a indolência e o luxo da sociedade israelita da época.
O episódio que a primeira leitura deste domingo nos propõe leva-nos até ao santuário de Betel, no centro da Palestina. Trata-se de um lugar considerado sagrado, desde tempos imemoriais. De acordo com Gn 35,1-8, Jacob construiu aí um altar e dedicou-o a Jahwéh. Mais tarde, Betel aparece como o local onde se reúne a assembleia de “todo o Israel” para “consultar Deus” (cf. Jz 20,18), para chorar diante de Deus a sua infelicidade (cf. Jz 20,26) e para se encontrar com Deus (cf. Jz 21,2). Tudo isto reflecte a importância cultual do lugar.
Quando o Povo de Deus se dividiu em dois reinos, após a morte de Salomão (932 a.C.), os reis do norte (Israel) potenciaram o culto em Betel, para impedir que os seus súbditos tivessem de deslocar-se a Jerusalém, situado no reino inimigo do sul (Judá). Então, Betel transformou-se numa espécie de “santuário oficial” do regime, onde o culto era financiado, em grande parte, pelo próprio rei. O sacerdote que presidia ao culto era uma espécie de “funcionário real”, encarregado de zelar para que os interesses do rei fossem defendidos, nesse local por onde passava uma parte significativa dos fiéis de Israel. Na época em que Amós exerce o seu ministério profético em Betel, o sacerdote encarregado do santuário era um tal Amasias. Alguns elementos que chegaram até nós parecem indiciar também a existência em Betel de uma imagem de um bezerro, que representava Jahwéh e que era adorado pelos fiéis (cf. Os 10,5).
Betel é um dos lugares onde ecoa a denúncia profética de Amós. Provavelmente, Amós criticou as injustiças cometidas pelo rei e pela classe dirigente; e, certamente, denunciou, nesse lugar, um culto que era aliado da injustiça e que procurava comprometer Deus com os esquemas corruptos dos poderosos.

MENSAGEM

O nosso texto descreve o confronto entre o sacerdote Amasias e o profeta Amós. É um texto fundamental para entendermos a missão do profeta, a sua liberdade face aos interesses do mundo e dos poderes instituídos.
O sacerdote Amasias é o homem da religião oficial, enfeudada aos interesses do rei e da ordem estabelecida, comprometida com o poder político. Para ele, o que interessa é manter intocável um sistema que assegura benefícios mútuos, quer ao trono, quer ao altar. Nesse sistema, o rei é o guardião supremo da ordem instituída e não há lugar (nem necessidade) de uma intervenção que ponha em causa a ordem estabelecida. A tarefa da religião é, na perspectiva de Amasias, proteger e legitimar os interesses do rei; em troca, o rei sustenta o santuário. Trono e religião são, assim, cúmplices ligados por interesses mútuos, que fazem tudo para manter o “statu quo” e os privilégios. O próprio Amasias tem muito a perder, se as coisas não correrem bem, já que é um funcionário real cuja função é defender os interesses do rei. A religião de Amasias é uma religião escrava dos interesses, que se ajoelha diante dos poderosos e que está completamente fechada aos desafios de Deus (que, se fossem escutados e acolhidos, poderiam desarranjar o sistema). Nesta perspectiva, a denúncia de Amós soa a rebelião contra os interesses enlaçados do poder e da religião, a doutrina subversiva que põe em causa as estruturas e que abala os fundamentos da ordem estabelecida. Por isso, há que usar toda a força do sistema para calar a voz incómoda do profeta. Amós é, portanto, denunciado, convidado a deixar o santuário e a voltar à sua terra para “ganhar aí o seu pão”.
A resposta de Amós deixa claro que o profeta é um homem livre, que não actua por interesses humanos (próprios ou alheios), mas por mandato de Deus. A iniciativa de ser profeta não foi sua… Deus é que veio ao seu encontro, interrompeu a normalidade da sua vida e convocou-o para a missão. De resto, a profecia não é, para ele, uma ocupação profissional, ou uma forma de realizar interesses pessoais. Amós é profeta porque Deus irrompeu na sua vida com uma força irresistível, tomou conta dele e enviou-o a Israel. O profeta não está, portanto, preocupado com os interesses do rei ou com os interesses do sacerdote Amasias, ou com a perpetuação de uma ordem social injusta e opressora… Ele foi convocado para ser a voz de Deus e só lhe interessa cumprir a missão que Deus lhe confiou. Doa a quem doer, é isso que Amós procurará fazer. Ele não pode, nem quer ficar calado… A sua missão (ainda que isso custe a Amasias e ao rei) tem autoridade por si própria, porque vem de Deus e Deus é infinitamente maior do que o rei. Munido dessa autoridade (que não só o legitima na sua acção profética, mas até o obriga a ser fiel à missão que lhe foi confiada), Amós anuncia (num desenvolvimento que o texto que nos é proposto não conservou – cf. Am 7,16-17) o castigo para o rei, para Amasias e para toda a nação infiel.

ACTUALIZAÇÃO

• Neste texto – como em tantos outros textos proféticos – transparece a absoluta convicção de que o profeta é um homem de Deus, escolhido por Deus, chamado por Deus, enviado por Deus, legitimado por Deus. Deus está na origem da vocação profética; e a actuação do profeta só faz sentido se partir de Deus e se tiver como objectivo apresentar aos homens as propostas de Deus. É preciso que nós crentes – constituídos profetas pelo Baptismo – tenhamos Deus como a referência de onde parte e para onde se orienta a nossa acção e missão proféticas. Nenhum profeta o é por sua iniciativa pessoal, ou para anunciar propostas pessoais; mas é Deus que nos chama, que nos envia e que está na base desse testemunho que somos chamados a dar no meio dos homens.

• O profeta é um homem livre, que não se amedronta nem se dobra face aos interesses dos poderosos. Por isso, o profeta não pode calar-se perante a injustiça, a opressão, a exploração, tudo o que rouba a vida e impede a realização plena do homem. Amasias – o sacerdote que alinha ao lado dos poderosos, que defende intransigentemente a ordem estabelecida, que se compromete com ela, que vende a sua consciência para manter o lugar e que transige com a injustiça para não incomodar os poderosos – é um exemplo a não seguir… Amós, o profeta que não se cala nem se vende, que está disposto a arriscar tudo (inclusive a própria vida) para defender os pequenos e os fracos e que não hesita em propor os projectos de Deus para o homem e para o mundo, deve ser o modelo para qualquer crente a quem Deus chama a cumprir uma missão profética no meio do mundo.

• Amasias é o homem comodamente instalado nos seus privilégios, benesses, que cala a voz da própria consciência porque tem muito a perder e não quer arriscar; Amós é o profeta livre da preocupação com os bens materiais, que não está preocupado com a defesa dos próprios interesses, mas sim com a defesa intransigente dos interesses dos pobres e marginalizados, que são os interesses de Deus. A diferença entre os dois é a diferença entre aquele para quem os valores materiais são a prioridade fundamental e aquele para quem os valores de Deus são a prioridade fundamental. O verdadeiro profeta não pode colocar os bens materiais como a sua prioridade fundamental; se isso acontecer, perderá a sua liberdade profética e tornar-se-á um escravo de quem lhe paga.

• Este texto fala-nos também da promiscuidade entre a religião e o poder. Trata-se de uma combinação que não produz bons frutos (como, aliás, a história da Igreja tem demonstrado nas mais diversas épocas e lugares). A Igreja, para poder exercer com fidelidade a sua missão profética, tem de evitar colar-se aos poderosos e depender deles, sob pena de ser infiel à missão que Deus lhe confiou. Uma Igreja que está preocupada em não incomodar o poder para manter privilégios fiscais, ou para continuar a receber dinheiro para as instituições que tutela, será uma Igreja escrava, de mãos atadas, dependente, que está longe de Jesus Cristo e da sua proposta libertadora.


SALMO RESPONSORIAL – Salmo 84 (85)

Refrão 1: Mostrai-nos, Senhor, o vosso amor
 e dai-nos a vossa salvação.

Refrão 2: Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia.

Deus fala de paz ao seu povo e aos seus fiéis
e a quantos de coração a Ele se convertem.
A sua salvação está perto dos que O temem
e a sua glória habitará na nossa terra.

Encontraram-se a misericórdia e a fidelidade,
abraçaram-se a paz e a justiça.
A fidelidade vai germinar da terra
e a justiça descerá do Céu.

O Senhor dará ainda o que é bom,
e a nossa terra produzirá os seus frutos.
A justiça caminhará à sua frente
e a paz seguirá os seus passos.


LEITURA II – Ef 1,3-14

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios

Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,
que do alto dos Céus nos abençoou
com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo.
N’Ele nos escolheu, antes da criação do mundo,
para sermos santos e irrepreensíveis,
em caridade, na sua presença.
Ele nos predestinou, de sua livre vontade,
para sermos seus filhos adoptivos, por Jesus Cristo,
para que fosse enaltecida a glória da sua graça,
com a qual nos favoreceu em seu amado Filho.
N’Ele, pelo seu sangue,
temos a redenção, a remissão dos pecados.
Segundo a riqueza da sua graça,
que Ele nos concedeu em abundância,
com plena sabedoria e inteligência,
deu-nos a conhecer o mistério da sua vontade:
segundo o beneplácito que n’Ele de antemão estabelecera,
para se realizar na plenitude dos tempos:
instaurar todas as coisas em Cristo,
tudo o que há nos Céus e na terra.
Em Cristo fomos constituídos herdeiros,
por termos sido predestinados,
segundo os desígnios d’Aquele que tudo realiza
conforme a decisão da sua vontade,
para servir à celebração da sua glória,
nós que desde o começo esperámos em Cristo.
Foi n’Ele que vós também,
depois de ouvirdes a palavra da verdade,
o Evangelho da vossa salvação,
abraçastes a fé e fostes marcados pelo Espírito Santo prometido,
que é o penhor da nossa herança,
para a redenção do povo que Deus adquiriu
para louvor da sua glória.

AMBIENTE

A cidade de Éfeso, capital da Província romana da Ásia, estava situada na costa ocidental da Ásia Menor. O seu importante porto e a sua numerosa população faziam dela uma cidade florescente. Paulo passou em Éfeso na sua segunda viagem missionária (cf. Act 18,19-21) e, durante a sua terceira viagem missionária, fez de Éfeso o quartel-general, a partir do qual evangelizou toda a zona ocidental da Ásia Menor.
A nossa Carta aos Efésios é, provavelmente, um dos exemplares de uma “carta circular” enviada a várias igrejas da Ásia Menor, numa altura em que Paulo está na prisão (em Cesareia? Em Roma?). O seu portador é um tal Tíquico.
Alguns vêem nesta carta uma espécie de síntese da teologia paulina, numa altura em que a missão do apóstolo está praticamente terminada no oriente. O tema mais importante da carta aos Efésios é aquilo que o autor chama “o mistério”: trata-se do projecto salvador de Deus, definido e elaborado desde sempre, escondido durante séculos, revelado e concretizado plenamente em Jesus, comunicado aos apóstolos e, nos “últimos tempos”, tornado presente no mundo pela Igreja.
O texto que nos é hoje proposto aparece no início da carta. É um hino litúrgico que deve ter circulado nas comunidades cristãs antes de ser enxertado aqui por Paulo. Este hino dá graças pela acção do Pai (cf. Ef 1,3-6), do Filho (cf. Ef 1,7-12) e do Espírito Santo (cf. Ef 1,13-14), no sentido de oferecer aos homens a salvação.

MENSAGEM

A acção de graças dirige-se a Deus, pois Ele é a fonte última de todas as graças concedidas aos homens. Essas graças atingiram os homens através do Filho, Jesus Cristo.
Qual é então, segundo este hino, a acção do Pai?
O Pai, no seu amor, elegeu-nos desde sempre (“antes da criação do mundo”). Elegeu-nos para quê? A resposta é: “para sermos santos e irrepreensíveis”. A palavra “santo” indica a situação de alguém que foi separado do mundo e consagrado a Deus, para o serviço de Deus; a palavra “irrepreensível” era usada para falar das vítimas oferecidas em sacrifício a Deus, que deviam ser imaculadas e sem defeito… Significa, pois, uma santidade (isto é, uma consagração a Deus) verdadeira e radical.
Além de nos eleger, o Pai predestinou-nos “para sermos seus filhos adoptivos”. Através de Cristo, o Pai ofereceu-nos a sua vida e integrou-nos na sua família na qualidade de filhos. O fim desta acção de Deus é o louvor da sua glória.
“Eleição” e “adopção como filhos” resultam do imenso amor de Deus pelos homens – um amor que é gratuito, incondicional e radical.
E Jesus Cristo, o Filho, que papel teve neste processo?
Nos vers. 7-10, o autor do hino refere-se ao sangue derramado de Cristo e ao seu significado redentor. A morte de Jesus na cruz é o sinal evidente do espantoso amor de Deus pelos homens; e dessa forma, Deus ensinou-nos a viver no amor, no amor total e radical. Através de Cristo, Deus derramou sobre nós a sua graça, tornando-nos pessoas novas e diferentes, capazes de viver no amor. Assim, Deus manifestou-nos o seu projecto de salvação (que o hino chama “o mistério”) e que consiste em levar-nos a uma identificação plena com Jesus (na sua ilimitada capacidade de amar e de dar vida), a uma unidade e harmonia totais com Jesus. Identificando-nos com Cristo e ensinando-nos a viver no amor total e radical, Deus reconciliou-nos consigo, com todos os outros e com a própria natureza. Da acção redentora de Cristo nasceu, pois, um Homem Novo, capaz de um novo tipo de relacionamento (não marcado pelo egoísmo, pelo orgulho, pela auto-suficiência, mas marcado pelo amor e pelo dom da vida) com Deus, com os outros homens e mulheres e com toda a criação.
Dessa forma, em Cristo fomos constituídos filhos de Deus e herdeiros da salvação, conforme o projecto de Deus preparado desde toda a eternidade em nosso favor (vers. 11-12).
Os crentes que aderiram a Jesus foram marcados pelo “selo” do Espírito. Esse “selo” é a marca que atesta a nossa integração na família divina e a garantia de que um dia participaremos na vida eterna, plena e verdadeira, conforme o plano que Deus tem para nós (vers. 13-14).

ACTUALIZAÇÃO

• O nosso texto afirma, de forma clara, que Deus tem um projecto de vida plena e total para os homens, um projecto que desde sempre esteve na mente de Deus. É muito importante termos isto em conta: não somos um acidente de percurso na evolução inexorável do cosmos, mas somos actores principais de uma história de amor que o nosso Deus sempre sonhou e que Ele quis escrever e viver connosco… No meio das nossas desilusões e dos nossos sofrimentos, da nossa finitude e do nosso pecado, dos nossos medos e dos nossos dramas, não esqueçamos que somos filhos amados de Deus, a quem Ele oferece continuamente a vida definitiva, a verdadeira felicidade.

• De acordo com o nosso texto, Deus “elegeu-nos… para sermos santos e irrepreensíveis”. Já vimos que “ser santo” significa ser consagrado para o serviço de Deus. O que é que isto implica em termos concretos? Entre outras coisas, implica tentar descobrir o plano de Deus, o projecto que Ele tem para cada um de nós e concretizá-lo dia a dia com verdade, fidelidade e radicalidade. No meio das solicitações do mundo e das exigências da nossa vida profissional, social e familiar, temos tempo para Deus, para dialogar com Ele e para tentar perceber os seus projectos e propostas? E temos disponibilidade e vontade de concretizar as suas propostas, mesmo quando elas não são conciliáveis com os nossos interesses pessoais?

• O nosso texto afirma ainda a centralidade de Cristo nesta história de amor que Deus quis viver connosco… Jesus veio ao nosso encontro, cumprindo com radicalidade a vontade do Pai e oferecendo-Se até à morte para nos ensinar a viver no amor. Como é que assumimos e vivemos essa proposta de amor que Jesus nos apresentou? Aprendemos com Ele a amar sem excepção e com radicalidade? Somos profetas que testemunham, diante do mundo, o projecto de Deus? Aqueles que caminham pelo mundo ao nosso lado encontram nos nossos gestos e atitudes sinais vivos do amor de Deus revelado em Jesus?


ALELUIA – cf. Ef 1,17-18

Aleluia. Aleluia.

Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,
ilumine os olhos do nosso coração,
para sabermos a que esperança fomos chamados.


EVANGELHO – Mc 6,7-13

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo,
Jesus chamou os doze Apóstolos
e começou a enviá-los dois a dois.
Deu-lhes poder sobre os espíritos impuros
e ordenou-lhes que nada levassem para o caminho,
a não ser o bastão:
nem pão, nem alforge, nem dinheiro;
que fossem calçados com sandálias,
e não levassem duas túnicas.
Disse-lhes também:
«Quando entrardes em alguma casa,
ficai nela até partirdes dali.
E se não fordes recebidos em alguma localidade,
se os habitantes não vos ouvirem,
ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés
como testemunho contra eles».
Os Apóstolos partiram e pregaram o arrependimento,
expulsaram muitos demónios,
ungiram com óleo muitos doentes e curaram-nos.

AMBIENTE

Toda a primeira parte do Evangelho segundo Marcos (cf. Mc 1,14-8,30) está montada à volta da ideia de que Jesus é o Messias que proclama o Reino de Deus. Como ponto de partida está um sumário-anúncio inicial (cf. Mc 1,14-15) onde se proclama a chegada do Reino; em seguida, Jesus apresenta a proposta do Reino a um grupo de discípulos, que escutam o apelo e aceitam embarcar na aventura do Reino de Deus (cf. Mc 1,16-20); depois, Marcos descreve como Jesus, com palavras e com gestos concretos, vai propondo essa nova realidade que é o Reino e vai intercalando as propostas de Jesus com as respostas positivas ou negativas dos fariseus, do povo e dos próprios discípulos (cf. Mc 1,21-8,30).
À medida que o “caminho do Reino” avança, os discípulos vão aparecendo cada vez mais ligados a Jesus e cada vez mais implicados no projecto do Reino. Chamados por Jesus, eles responderam positivamente a esse chamamento e seguiram-n’O; depois, durante a caminhada que fizeram com Jesus, eles escutaram os ensinamentos de Jesus e testemunharam os seus gestos e sinais. Formados por Jesus na “escola do Reino”, os discípulos podem agora ser enviados ao mundo, a fim de anunciar a todos os homens a chegada desse mundo novo que Jesus chamava o “Reino de Deus”.

MENSAGEM

O nosso texto é uma autêntica catequese sobre a missão dos discípulos de Jesus no meio do mundo. As instruções postas aqui na boca de Jesus conservam o seu sentido e valor para os discípulos de todo o tempo e lugar.
Marcos começa por deixar claro que a iniciativa do chamamento dos discípulos é de Jesus: Ele “chamou-os” (vers. 7). Não há qualquer explicação sobre os critérios que levaram a essa escolha: falar de vocação e de eleição é falar de um mistério insondável, que depende de Deus e que o homem nem sempre consegue compreender e explicar.
Depois, Marcos aponta o número dos discípulos que são enviados (“doze”). Porquê exactamente “doze”? Trata-se de um número simbólico, que lembra as doze tribos que formavam o antigo Povo de Deus. Estes “doze” discípulos representam simbolicamente a totalidade do Povo de Deus, do novo Povo de Deus. É a totalidade do Povo de Deus que é enviada em missão.
Os “doze” são enviados “dois a dois”. É provável que o envio “dois a dois” tenha a ver com o costume judaico de viajar acompanhado, para ter ajuda e apoio em caso de necessidade; pode também pensar-se que esta exigência de partir em missão “dois a dois” tenha a ver com as exigências da lei judaica, de acordo com a qual eram necessárias duas testemunhas para dar credibilidade a um qualquer anúncio (cf. Dt 19,15; Mt 18,16). Em qualquer caso, a exigência de partir em missão “dois a dois” sugere também que a evangelização tem sempre uma dimensão comunitária. Os discípulos nunca devem trabalhar sós, à margem do resto da comunidade; não devem anunciar as suas ideias, mas a fé da Igreja. Quem anuncia o Evangelho, anuncia-o em nome da comunidade; e o seu anúncio deve estar em sintonia com a fé da comunidade.
Em seguida, Marcos define a missão que Jesus lhes confiou (“deu-lhes poder sobre os espíritos impuros). Os espíritos impuros representam aqui tudo aquilo que escraviza o homem e que o impede de chegar à vida em plenitude. A missão dos discípulos é, pois, lutar contra tudo aquilo – seja de carácter físico, seja de carácter espiritual – que destrói a vida e a felicidade do homem (podemos dizer que a missão dos discípulos é lutar contra o “pecado”). É da acção libertadora dos discípulos (que actuam por mandato de Jesus) que nasce um mundo novo, de homens livres – o mundo do “Reino”.
Em seguida, vêm as instruções para a missão (vers. 8-9). Na perspectiva de Jesus, os discípulos devem partir para a missão, num despojamento total de todos os bens e seguranças humanas… Podem levar um cajado (na versão de Mateus e de Lucas, os discípulos não deviam levar cajado – cf. Mt 10,10; Lc 9,3); mas não devem levar nem pão, nem alforge, nem moedas (essas pequenas moedas de cobre que o viajante levava sempre consigo para as suas pequenas necessidades), nem duas túnicas. Os discípulos devem ser totalmente livres e não estar amarrados a bens materiais; caso contrário, a preocupação com os bens materiais pode roubar-lhes a liberdade e a disponibilidade para a missão. Por outro lado, essa atitude de pobreza e de despojamento ajudará também os discípulos a perceber que a eficácia da missão não depende da abundância dos bens materiais, mas sim da acção de Deus. Finalmente, a sobriedade e o desapego são sinais de que o discípulo confia em Deus e contribuem para dar credibilidade ao testemunho.
Um outro género de instruções refere-se ao comportamento dos discípulos diante da hospitalidade que lhes for oferecida (vers. 10-11). Quando forem acolhidos numa casa, devem aí permanecer algum tempo (seguramente para formar uma comunidade) e não devem saltar de um lugar para o outro, ao sabor das amizades, dos interesses próprios ou alheios ou das suas próprias conveniências pessoais. Quando não forem recebidos num lugar, devem “sacudir o pó dos pés” ao abandonar esse lugar: trata-se de um gesto que os judeus praticavam quando regressavam do território pagão e que simboliza a renúncia à impureza. Aqui, deve significar o repúdio pelo fechamento às propostas libertadoras de Deus.
Finalmente, Marcos descreve a realização da missão dos discípulos (vers. 12-13): pregavam a conversão (“metanoia” – isto é, uma mudança radical de mentalidade, de valores, de atitudes, um voltar-se para Jesus Cristo e um acolher o seu projecto), expulsavam demónios, curavam os doentes. Trata-se de continuar a missão de Jesus: libertar o homem de tudo aquilo que o oprime e lhe rouba a vida, para fazer aparecer um mundo de homens livres e salvos (“Reino de Deus”).
O anúncio que é confiado aos discípulos é o anúncio que Jesus fazia (o “Reino”); os gestos que os discípulos são convidados a fazer para anunciar o “Reino” são os mesmos que Jesus fez. Ao apresentar a missão dos discípulos em paralelo e em absoluta continuidade com a missão de Jesus, Jesus convida a Igreja (os discípulos) a continuar na história a obra libertadora que Ele começou em favor do homem.

ACTUALIZAÇÃO

• Como é que Deus age, hoje, no mundo? A resposta que o Evangelho deste domingo dá é: através desses discípulos que aceitaram responder positivamente ao chamamento de Jesus e embarcaram na aventura do “Reino”. Eles continuam hoje no mundo a obra de Jesus e anunciam – com palavras e com gestos – esse mundo novo de felicidade sem fim que Deus quer oferecer aos homens.

• Atenção: Jesus não chama apenas um grupo de “especialistas” para o seguir e para dar testemunho do “Reino”. Os “doze” representam a totalidade do Povo de Deus. É a totalidade do Povo de Deus (os “doze”) que é enviada, a fim de continuar a obra de Jesus no meio dos homens e anunciar-lhes o “Reino”. Tenho consciência de que isto me diz respeito e que eu pertenço à comunidade que Jesus envia em missão?

• Qual é a missão dos discípulos de Jesus? É lutar objectivamente contra tudo aquilo que escraviza o homem e que o impede de ser feliz. Hoje há estruturas que geram guerra, violência, terror, morte: a missão dos discípulos de Jesus é contestá-las e desmontá-las; hoje há “valores” (apresentados como o “último grito” da moda, do avanço cultural ou científico) que geram escravidão, opressão, sofrimento: a missão dos discípulos de Jesus é recusá-los e denunciá-los; hoje há esquemas de exploração (disfarçados de sistemas económicos geradores de bem estar) que geram miséria, marginalização, debilidade, exclusão: a missão dos discípulos de Jesus é combatê-los. A proposta libertadora de Jesus tem de estar presente (através dos discípulos) em qualquer lado onde houver um irmão vítima da escravidão e da injustiça. É isso que eu procuro fazer?

• As advertências de Jesus para que os discípulos se apresentem sempre numa atitude de sobriedade e de despojamento significam, em primeiro lugar, que o discípulo nunca deve fazer dos bens materiais a sua prioridade fundamental. Se o discípulo estiver obcecado pelo “ter”, tornar-se-á escravo dos bens, acomodar-se-á e não terá espaço nem disponibilidade para se lançar na aventura do anúncio do Reino. Por outro lado, o discípulo que erige os bens materiais como a prioridade da sua vida sentirá sempre a tentação de se calar, de não incomodar os poderosos, a fim de preservar os seus interesses económicos e os seus benefícios particulares.

• As advertências de Jesus para que os discípulos se apresentem sempre numa atitude de sobriedade e de despojamento significam também o desapego das ideias e preconceitos, dos hábitos e costumes, das paixões e afectos que podem constituir um obstáculo para a missão de anunciar o Reino.

• As palavras de Jesus recomendam ainda aos discípulos que actuam por um tempo prolongado num determinado lugar, a moderação e o agradecimento para com aqueles que os acolhem. Quem é recebido numa casa ou num lugar como hóspede, deve converter-se numa bênção para essa casa e comportar-se com sobriedade, equilíbrio e maturidade.

• Com frequência os discípulos de Jesus têm de lidar com a oposição e a recusa da proposta que eles testemunham. É um facto que deve ser visto com normalidade e compreensão. No entanto, quando isto suceder, é missão dos discípulos alertar os implicados para a gravidade da recusa. Quem recusa as propostas de Deus, deve estar plenamente consciente de que está a perder oportunidades únicas e a afastar-se da sua realização plena, da vida verdadeira.


ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 15º DOMINGO DO TEMPO COMUM
(adaptadas de “Signes d’aujourd’hui”)

1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 15º Domingo do Tempo Comum, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa… Aproveitar, sobretudo, a semana para viver em pleno a Palavra de Deus.

2. BILHETE DE EVANGELHO.
Testemunho do “nós”… Jesus envia os discípulos dois a dois. Ele sabe que a sua missão será difícil de cumprir. Mesmo Ele, Jesus, fez-Se acompanhar de uma equipa. O testemunho é sempre um “nós” para nunca se falar em nome próprio mas, com outros, em nome daquele que envia. Algumas recomendações a estes peregrinos da Boa Nova: contar apenas com Deus; pôr-se a caminho para se fazer peregrino; aceitar a hospitalidade para se apresentar como um pobre; não forçar as portas para respeitar a liberdade. Quanto à mensagem a proclamar, é a mensagem do Mestre: “convertei-vos!” E quanto aos actos, são os mesmos de Jesus: expulsar os demónios e curar os doentes. Decididamente, o servo não é maior do que o seu mestre, e o enviado faz sempre referência àquele que o envia. Hoje, o “nós” é o da Igreja. Oxalá ela possa contar apenas com Deus, fazer-se peregrina, apresentar-se pobre, respeitar a liberdade dos homens…

3. À ESCUTA DA PALAVRA.
Testemunhas do amor de Deus… “Jesus chamou os doze Apóstolos e começou a enviá-los dois a dois. Deu-lhes poder sobre os espíritos impuros”. O apelo dos Apóstolos está ligado ao seu envio, à sua missão. Serem os companheiros de Jesus, não para ficarem abrigados perto d’Ele, mas para serem enviados comos suas testemunhas até aos confins da terra. Ele envia-os dois a dois. Sem dúvida, porque na altura um testemunho só era reconhecido como autêntico se levado por duas testemunhas. Mas, mais profundamente, Jesus veio para colocar os homens na “circulação do amor”. Deus criou os homens para serem à sua imagem. Como “Deus é Amor”, os homens serão imagens de Deus na medida em que construírem juntos relações de amor fraterno. Ora, eles recusaram isso. O espírito do mal é chamado de diabo, aquele que divide em vez de unir. Jesus veio para acabar com a divisão. Ele é aquele que reconcilia os homens com Deus e entre si. Eis porque Jesus envia os Apóstolos dois a dois: para que sejam primeiramente, pelo seu comportamento e pela sua vida, testemunhas desta obra de reconciliação. A salvação nunca é individual, é colocada na relação dos homens entre si, no movimento de amor de Deus. A missão dos Apóstolos é, pois, de lutar contra o mal que divide e corrompe. Então, compreendemos melhor porque Jesus dá conselhos de pobreza. Encher-se de riquezas materiais é arriscar cair na armadilha da possessão egoísta, é entrar no círculo infernal da vontade de poder, da inveja. É centrar-se sobre si mesmo em lugar de dar lugar aos outros. É obscurecer o seu olhar interior e não ser mais suficientemente disponível para acolher o outro. É sempre válido para todos os baptizados cuja missão é serem testemunhas da Boa Nova no coração do mundo!

4. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE…
Bendizer no quotidiano… Em cada dia desta semana, dirigir ao Senhor uma curta oração de bênção: para a felicidade partilhada nesse dia, para um encontro enriquecedor, para uma refeição partilhada e cheia de amizade, para a beleza da Criação, para um nascimento ou a alegria das crianças, etc.


UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 – 1800-129 LISBOA – Portugal
Tel. 218540900 – Fax: 218540909








Roteiro Homilético 3: Vida Pastoral

Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj
 
Chamados e enviados para proclamar a conversão

I. Introdução geral

Deus, com absoluta liberdade, chama todos e cada um em particular. Isso significa que ele não faz acepção de pessoas, mas todos são vocacionados à filiação divina, suprema vocação humana, embora haja distintas missões, conforme os desígnios de Deus. Para o exercício do anúncio do evangelho, algumas coisas são exigidas dos enviados e dos destinatários. Dos primeiros se exige que renunciem aos interesses egoístas e se dediquem com afinco à proclamação do reino, mesmo que o missionário se torne malquisto ou rejeitado. Exemplo disso é Amós, que não falou palavras agradáveis e não buscou os próprios interesses. Dos destinatários da missão se requer a acolhida ao missionário como enviado de Deus e a docilidade à palavra divina por ele proclamada.

II. Comentário dos textos bíblicos

Evangelho (Mc 6,7-13): Chamou os Doze e os enviou dois a dois
Esse trecho do Evangelho de Marcos nos insere no âmago da vocação da Igreja, que é ser missionária.

A comunidade, representada pelos Doze, é formada pelos discípulos seguidores de Jesus, que participam da vida e missão de seu mestre. São seguidores porque foram convocados por Jesus para segui-lo e a ele responderam afirmativamente. Isso significa que a vocação cristã não se fundamenta em méritos pessoais, mas unicamente no amor e na gratuidade de Deus, por meio de Jesus, e no consentimento humano.

Uma vez chamados, os discípulos são enviados a serviço da transformação deste mundo em um reino de fraternidade e paz. Jesus os envia com o mesmo poder e autoridade porque o discípulo participa da missão do Mestre, assumindo seu estilo de vida e seu destino. Esse poder e autoridade estão a serviço do anúncio do reino, não são para benefício próprio. O poder sobre os espíritos impuros ou sobre enfermidades significa que o reino de Deus se expande enquanto o reino da morte e do pecado cede espaço. Não há nenhum poder mágico, mas a ação de Deus que destrói o poder das trevas quando a luz de Cristo é levada aos povos.

O envio de dois em dois é muito importante, por causa do apoio mútuo e da deliberação a respeito da melhor forma de evangelizar em cada local, ressaltando assim o sentido da vida em comunidade. Isso também mostra que os discípulos estavam de acordo a respeito do conteúdo da mensagem, o que evitava possíveis desconfianças nos ouvintes, pois naquela época havia muitos charlatães prometendo felicidade em troca de benefícios.

A missão dos Doze exige empenho, que se traduz principalmente em despojamento: não lhes é permitido levar nada do que geralmente se levava numa viagem, para que a provisão viesse de quem os acolhesse. Não se preocupando em levar pão, não cobravam nada para poder comprá-lo. Apenas sandálias foram permitidas, porque teriam longo caminho a trilhar. Além das sandálias, um só bastão para se defender das feras. Por conta da urgência do anúncio, não deviam perder tempo com quem rejeitasse a mensagem. Dessa forma, o anúncio chegaria com rapidez e eficácia àqueles que o acolhessem com fé.

I leitura (Am 7,12-15): Vai, profetiza para meu povo
Na primeira leitura, o sacerdote Amasias pensa que o profeta Amós usa a religião para ganhar dinheiro. O sacerdote se sente incomodado com as profecias de Amós e tenta persuadi-lo a ir embora, aconselhando-o a ganhar dinheiro em outro lugar, pois ali é Betel, santuário real, e as críticas do profeta não são nada agradáveis ao rei. Amós informa que não pertence a nenhum grupo de “profetas”, como eram chamados os conselheiros dos reis. Ele não usa a religião para ganhar dinheiro, mas tem sua própria profissão.

Amós não profetizava por decisão pessoal, ele apenas correspondeu ao chamado de Deus. Não deu a si mesmo essa tarefa e, aliás, ela não era nada lucrativa para ele; ao contrário, ao criticar o rei, o profeta poderia receber grandes represálias. O que Amós estava fazendo nada mais era que obedecendo a uma ordem de Deus, que o chamou e o enviou a profetizar para que Israel voltasse ao caminho que os antepassados haviam percorrido com o Senhor durante toda a história da salvação. A mensagem podia até não ser agradável, mas visava ao arrependimento e à conversão.

II leitura (Ef 1,3-14): Em Cristo Deus nos chamou a ser seus filhos
A segunda leitura de hoje nos apresenta a vocação humana, ou seja, o plano divino da salvação para os seres humanos: abençoados em Cristo, escolhidos nele antes da criação do mundo e designados para serem filhos de Deus. Esse grandioso desígnio de salvação se realiza mediante Cristo na oferta de sua própria vida, que nos redime do pecado e nos confere a sua graça. Mas isso não excluiu a colaboração humana; ao contrário, exige fé e empenho pessoal para viver em santidade. Além disso, essa sublime vocação humana demanda o anúncio da “palavra da verdade”, isto é, o “evangelho da salvação”.

III. Pistas para reflexão

– Os vocacionados à missão recebem a instrução de nada levar na viagem a não ser o estritamente necessário, pois Deus cuidará do sustento deles por meio da hospitalidade oferecida aonde forem. A hospitalidade era um costume e até mesmo uma lei universal na sociedade antiga. Lendas folclóricas asseguravam que os deuses se disfarçavam de seres humanos para testar a hospitalidade das pessoas e, caso não fossem acolhidos, podiam-se esperar severos castigos. A sociedade moderna não oferece as mesmas condições e os mesmos costumes da sociedade antiga, contudo permanece a orientação de Jesus a respeito do desprendimento que cada vocacionado deve ter.

– É bom ressaltar o exemplo de Amós, que tinha liberdade para dizer o que Deus lhe ordenava, pois, se não dependia da religião para o próprio sustento, não sentia a imposição de dizer somente as palavras que agradassem aos ouvintes. Também Paulo é exemplo de abandono nas mãos de Deus.

– Pode-se enfocar o exemplo do apóstolo Paulo, que reconhecia as próprias fraquezas e limitações, consciente de que a missão só podia ser levada a termo porque Deus o fortalecia e o capacitava.

– Deve-se destacar também o papel da comunidade no êxito da missão. A hospitalidade dada aos missionários na Antiguidade pode ser atualizada na sociedade moderna em diversos atos que promovam o desenvolvimento da missão.

Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj
Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje – BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: aylanj@gmail.com








Roteiro Homilético 4: Dom Henrique

Am 7,12-15

Sl 84

Ef 1,3-14

Mc 6,7-13

Hoje, a santa Palavra que Deus nos dirige nos fala de duas realidades: nossa missão de profetas e a mensagem de devemos comunicar.

Primeiro, a vocação de profeta. Escutamos na primeira leitura como Amós não poderia se calar. Ele mesmo reconhece: “Não sou profeta nem sou filho de profeta; sou pastor de gado e cultivo sicômoros. O Senhor chamou-me, quando eu tangia o rebanho, e o Senhor me disse: ‘Vai profetizar para Israel, meu povo!’” Amós não era profeta profissional nem era de uma família tradicional de profetas. E, no entanto, o Senhor o tirou de trás do rebanho, tirou-o da sua vida, e o mandou falar em seu nome ao povo de Israel. No evangelho, vimos Jesus chamando os Doze e os mandando em missão: sem levar nada, confiando somente em Deus, correndo o risco de serem incompreendidos e rejeitados, eles deveriam ir, anunciando o Reino de Deus, que exige mudança de vida, conversão de pensamento, atitudes e modo de agir…

Meus caros, ainda hoje é assim; entre nós é assim! Deus continua falando, Deus continua escolhendo profetas, Deus continua dirigindo seu chamado ao mundo e a cada pessoa. Se escutarmos com atitude de fé a Palavra santa, se na oração nos abrirmos aos seus apelos, se estivermos atentos ao que ele nos fala no nosso coração, descobriremos que o Senhor também nos envia! Isso mesmo: todo cristão, pelo Batismo e a Crisma, participa da missão do Cristo Jesus, a missão de anunciar o Reino de Deus, revelando a face do Pai, que Jesus nos veio mostrar! É verdade que, na Igreja, há aqueles chamados para o ministério ordenado: Bispos, padres e diáconos que, em nome de Cristo, apascentam o rebanho e anunciam o Evangelho. Eles são os primeiros responsáveis pelo anúncio da Palavra de Deus. Mas, todo o povo de Deus, todos os batizados e crismados, cada um de nós, tem a missão de falar em nome do Senhor e, em nome de Cristo, levar a luz nas trevas, a paz nas tensões e angústias, a esperança no desespero, a vida nova nas situações de morte. Somos todos um povo de profetas, caríssimos e, se nos calarmos, se nos omitirmos, seremos culpados de escondermos e sufocarmos a Palavra do Senhor de que o mundo tanto necessita!

Aqui cabe um urgente exame de consciência. Quantas oportunidades temos de falar de Cristo, de anunciar a vontade e o plano de Deus, de dar testemunho do seu amor e da sua presença – e nos calamos, nos omitimos, como se Cristo não fosse uma questão nossa! Quantas vezes somos cristãos cansados, cristãos omissos, cristãos comodistas! Os pais aqui presentes têm anunciado Jesus a seus filhos, têm sido seus primeiros evangelizadores e catequistas? Têm rezado com eles? Têm procurado lavá-los à Igreja? Marido e mulher, têm sido um para o outro um sinal de Deus, uma palavra e uma presença de Cristo? Têm procurado construir o lar como um sinal do Reino dos Céus? E os jovens cristãos, têm sido sinal de Nosso Senhor no mundo em que vivem? Têm feito e vivido as várias experiências da vida como discípulos de Cristo? Eis, meus caros irmãos! Não esqueçamos que nós somos os profetas, nós somos os enviados do Senhor! É esta a primeira lição que hoje a Palavra de Deus nos dá. No trabalho, no amor, no descanso, no estudo, nas relações sociais somos as testemunhas do Senhor nosso! Um dia, certamente seremos cobrados por isso; o Senhor nos pedirá contas!

Um segundo aspecto para nossa meditação é o que diz São Paulo na segunda leitura. Aí ele apresenta de modo maravilhoso aquilo que devemos comunicar ao mundo com a palavra e com a vida, isto é, o conteúdo da nossa fé cristã, o grande sonho de Deus para o mundo e para a humanidade. O que nos diz o Apóstolo? Diz-nos que antes da criação do mundo, o Pai sonhou conosco! As montanhas ainda não existiam, as estrelas ainda não brilhavam e o Pai, em Cristo, já sonhava em criar tudo, em nos criar – a mim e a você – e nos mandar o seu Filho amado. Por ele, o Pai criou tudo, por ele, na força do Santo Espírito, o Pai, desde o princípio, cumulou de bênçãos a sua criação. Seu maior sonho era nos mandar Jesus, o Filho feito um de nós, para que ele nos levasse à plenitude da amizade com o Pai na potência do Espírito. E quando nós pecamos, quando a humanidade, desde o princípio, fechou-se para Deus e para o seu sonho, o Pai nem assim desistiu do seu amor: na plenitude dos tempos ele enviou o seu Cristo para que, morrendo na cruz, ele nos libertasse do nosso pecado de teimosia e fechamento e, enchendo-nos do seu Espírito Santo, nos desse já o gostinho, as primícias da vida eterna. Essa vida, nós já a experimentamos aqui, em Jesus, ouvindo sua Palavra, convivendo com os irmãos como membros da Santa Igreja e, sobretudo, participando dos santos sacramentos, de modo especial da Eucaristia, que é Pão do céu, alimento que nos traz já o sabor da vida de Deus.

Eis, caríssimos! Somos enviados por Jesus ao mundo para testemunhar o plano, o sonho de amor para toda a humanidade, que o Pai desde toda eternidade acalentou e realizou em Cristo Jesus, tornando-o presente para nós pelo ministério da Igreja! Estejamos certos de uma coisa: somos parte desse sonho, somos cooperadores desse sonho! Que nossa vida, nossas palavras, nosso compromisso, testemunhem tornem presente esse sonho lindo de Deus!

Olhemos a cruz, conseqüência do nosso pecado, e tomemos consciência do quanto somos caros a Deus, do quanto somos preciosos, do quanto somos amados e do quanto somos chamados a amá-lo e participar da obra de salvação do mundo!

É esta a mensagem deste Domingo, é este o apelo do Senhor! Não sejamos surdos, mas como Amós, como os Doze primeiros, sejamos sementes do Reino de Deus. Amém.








Roteiro Homilético 5: Dom Total

JESUS ENVIA SEUS MENSAGEIROS
 1ª leitura: (Am 7,12-15) Missão do profeta – A gente não se faz profeta: Deus é que chama, mesmo a quem aparentemente não está preparado. Foi o caso de Amós, pastor e agricultor, que lembra isso quando o sacerdote de Betel (em Israel), farto de suas críticas, o quer mandar de volta a sua terra, Judá. * 7,12-13 cf. 1Sm 9,9; 1Rs 12,28-30 * 7,14-15 cf. Am 3,3-8; 2Sm 7,8.

2ª leitura: (Ef 1,3-14 ou 1,3-10) Deus nos chamou à santidade e à unidade em Cristo – A Carta aos Efésios caracteriza-se pela visão fundamental e abrangente do mistério da salvação. Inicia com um hino de louvor, que resume todos o agir de Deus no conceito de “bênção”. A vontade de Deus visa, em última instância, o “louvor da glória de sua graça”, ou seja, que todo o mundo possa reconhecer sua bondade (1,6; cf. 1,12.14). Esta abrange: nossa adoção filial, o perdão do pecado, nossa participação de seu Reino e glória. Tudo isso, ele o opera através de Cristo, Cabeça da criação. A garantia, já a recebemos no Espírito que nos é dado (no batismo e na vida). * 1,3-6 cf. Gl 3,14; Jo 17,24; 1Pd 1,20; Rm 8,29 * 1,7-12 cf. Cl 1,13-14; Rm 16,25; Fl 4,4; Cl 1,16.20 * 1,13-14 cf. Cl 1,5; Ef 4,30; Rm 5,5; 2Cor 1,22; 1Pd 2,9.

Evangelho: (Mc 6,7-13) Missão dos doze apóstolos – O Reino, tornado presente em Jesus, vai se alastrando. Os “Doze” serão os mensageiros que, como antes João Batista, devem provocar a conversão ao Evangelho anunciado por Jesus (6,12; cf. 1,4). Quem não os acolhe, perde a chance (6,11). Segundo Mc (diferente de Mt 10,7 e Lc 9,2), eles mesmos ainda não pregam o Reino, pois ainda não compreendem (8,14-21!). Mas, apesar disso, já podem realizar os sinais do Reino (6,13), entusiasmando-se muito com isso, como aparece na conclusão da missão, em 6,30 (entre o início e a conclusão, Mc insere, da maneira que lhe é característica, o episódio da morte do Batista, porque a atividade de Jesus e dos apóstolos faz Herodes lembrar-se de João). * Cf. Mt 10,1.9-14; Lc 9,16 * 6,7 cf. Mc 3,13-19; 6,30 * 6,13 cf. Tg 5,14.

***   ***   ***

Num contexto amplo que evoca a preparação dos discípulos, Jesus manda estes para uma missão urgente, não permitindo que levem mais do que o estritamente necessário: um par de sandálias e o bastão do profeta itinerante. Comparando com 2Rs 4,29 (a pressa de Giezi, levando o bastão de Eliseu), temos a impressão de que se trata de uma coisa de vida ou morte. (Esta pressa ficou melhor conservada ainda na outra versão, em Lc 10,4: não devem entrar em casa de ninguém só para saudá-lo, nem mesmo podem saudar alguém no caminho.) A efervescência da missão de Jesus, anunciando a proximidade do Reino de Deus, teve esta característica: a última chance!

Mc insiste, porém, sobretudo na “imitação de Cristo”. Os apóstolos recebem dele “autoridade” (assim como Eliseu, da parte de Elias: 2Rs 2,9-15) para curar, exorcizar e fazer os sinais que ele fazia. Essa imitação inclui também o ser rejeitado (Mc 6,11; cf. 6,1-6a, dom. pass.). Nesse caso, deverão sacudir o pó de suas sandálias em testemunho contra a cidade que não os receber: a cidade teve sua chance (cf. Ez 2,5; dom. pass.).

Neste ponto, o evangelho tem ligação com a 1ª leitura: o profeta Amós, rejeitado pelo sacerdote Amasias de Betel (em Israel, reino do Norte) e intimado a voltar a sua região de origem, Judá (reino do Sul). As razões do sacerdote são razoáveis; Amós parece um daqueles nabis profissionais, videntes carismáticos, muitas vezes pouco fidedignos e desprezados pelo povo (cf. 1Sm 10,11). “Não, diz Amós, eu não sou um vidente profissional, não viro a cabeça das pessoas para ganhar dinheiro. Sou um homem com duas profissões bem honestas: pastor e cultivador de sicômoros. Mas Deus é que me tirou de trás do rebanho e me forçou a profetizar, fora de minha terra, em Israel”.

Amós pertence a um novo tipo de profetas, não mais os tradicionais videntes, mas representantes dos movimentos de renovação religiosa, dos quais o mais marcante é o que produziu o livro do Deuteronômio. Eles se sabem enviados por Deus, mesmo a regiões fora de sua jurisdição natural, com uma mensagem de conversão. Conhecidos são os oráculos pouco reverentes de Amós contra a aristocracia de Samaria (cf. a sequência da presente leitura: Am 7,16-17; ou as advertências às senhoras de Samaria em Am 4). É este o tipo de missão que a liturgia de hoje evoca, na 1ª leitura e no evangelho: uma advertência ao povo instalado, para provocar sua conversão. Missão por iniciativa de Deus, muitas vezes contra a vontade do próprio profeta, para denunciar e assim lograr conversão. Ora, no Novo Testamento esta missão é acompanhada por sinais de benevolência, pois o Reino que eles manifestam presente é um Reino de graça e misericórdia.

O enviado não executa sua missão como ganha-pão. Deus revoluciona sua vida, porque tem uma mensagem revolucionária a lhe confiar. Impelido por Deus, acolhido ou rejeitado pelos homens, eis a vida do enviado, ao modelo de Jesus Cristo. Na Igreja, como no antigo Israel, os porta-vozes oficiais transformaram, às vezes, a missão em ganha-pão. Mas cada época da história da Igreja é marcada por movimentos de renovação profética, para que se realize sempre de novo o que Paulo resume vigorosamente em 2Cor 5,14: “A caridade de Cristo nos impele”.

A 2ª leitura é o rico início de Ef, resumindo a palavra que deve ser anunciada, o “evangelho” de Paulo (1,13), como bênção de Deus em Jesus Cristo, eleição e vocação à santidade, “projeto” (predestinação) de adoção filial, e tudo isso, graças ao sangue do Cristo, que nos remiu. Ele remiu tudo para Deus; tudo é agora dele. Por isso, o plano de Deus é: recapitular tudo em Cristo. Dando crédito à realidade anunciada no evangelho (a “Palavra da Verdade”, 1,13), recebemos a garantia de Deus: seu Espírito, penhor de nossa herança, antegosto daquilo que esperamos. É notável o contraste entre a situação original da pregação de Jesus (a efervescência apocalíptica da iminente irrupção do Reino) e a interpretação bem mais espiritual da realidade escatológica em Ef. Há mais de trinta anos de distância; dirige-se a outra cultura. Mas é substancialmente a mesma mensagem: não deixeis escapar a realização da promessa.



EVANGELIZAR

Amós não era profeta nem “filho de profeta” – termo bíblico para dizer discípulo (1ª leitura). Não ganhava seu pão profetizando. Era pastor e agricultor. Tampouco era cidadão da Samaria; era de Judá, que vivia em conflito com os samaritanos. Mesmo assim, Deus o escolheu para dar um sério aviso ao sacerdote de Betel, santuário da Samaria.

Tampouco eram missionários profissionais os doze que Jesus enviou a anunciar a proximidade do reino de Deus (evangelho). Estavam entregues à sua missão, à boa-nova que deviam anunciar. Estavam entregues à hospitalidade das casas que encontrassem. Recebiam, sim, de Deus, o poder de fazer uns discretos sinais, curas, exorcismos. Nada deviam ter de si mesmos: nem dinheiro, nem roupa de reserva. Só sandálias e um bom cajado para caminhar. Pois deviam avançar com pressa. O tempo se cumpriu!

Na encíclica Evangelii nuntiandi, o Papa Paulo VI escreveu que cada evangelizado deve ser evangelizador. Se acreditamos na boa-nova do Reino, não a podemos esconder aos nossos irmãos. Se acreditamos que a prática de Jesus inaugurou a salvação do mundo e mostrou o caminho para todas as gerações, não podemos guardar isso para nós. O mundo tem de ouvir isso. “Como poderão crer, se não ouvirem” (Rm 10,14). Quem crê verdadeiramente, tem de evangelizar. Mas como?

Não precisa ser especialista, capaz de discutir nas ruas e nas praças. Nem precisa de treinamento para aprender a enrolar as pessoas ingênuas e tirar um “dízimo” ou uma “aposta” de quem nem tem dinheiro para criar os seus filhos... Jesus deu aos doze galileus poder de curar e de expulsar demônios. (Naquele tempo chamava-se demônio qualquer doença inexplicável, sobretudo de ordem psíquica.) Ou seja, Jesus lhes deu força para fazer bem ao povo ao qual anunciavam a proximidade do Reino. Esses gestos eram um aperitivo do Reino. O bem que muitas pessoas fazem em sua generosa simplicidade é um aperitivo do Reino de Deus. Já tem o gostinho daquilo que chamamos o Reino – quando é feita a vontade do Pai, como rezamos no Pai-Nosso.

A própria prática do Reino é anúncio do Reino – provavelmente, o anúncio mais eficaz. Vendo a prática do Reino, as pessoas vão perguntar o porquê: as “razões de nossa esperança” (1Pd 3,15). Se nos comportarmos com simplicidade, entregues àquilo em que acreditamos, ajudando onde pudermos – mas sem apoiarmos causas erradas, estruturas injustas – o mundo perguntará que esperança está por trás disso, que fé nos move, que amor nos envolve. Então responderemos: o amor que aprendemos de Jesus, que deu sua vida por nós.

A palavra do pregador será fidedigna, se acompanhada de uma prática que mostre o Reino... na prática.

  (O Roteiro Homilético é elaborado pelo Pe. Johan Konings SJ – Teólogo, doutor em exegese bíblica, Professor da FAJE. Autor do livro "Liturgia Dominical", Vozes, Petrópolis, 2003. Entre outras obras, coordenou a tradução da "Bíblia Ecumênica" – TEB e a tradução da "Bíblia Sagrada" – CNBB. Konings é Colunista do Dom Total.)








Roteiro Homilético 6: Roteiro
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RITOS INICIAIS





cf. Salmo 16, 15

ANTÍFONA DE ENTRADA: Eu venho, Senhor, à vossa presença: ficarei saciado ao contemplar a vossa glória.



Introdução ao espírito da Celebração



Jesus sempre apelou à conversão, não entendendo esta como uma questão meramente moral, mas sim, como a transformação de nossa maneira de entender e viver a vida. Converter-se não é tanto trocar algumas coisas que fazemos mas deixar de viver a vida sem esperança, sem confiança na realidade da presença do Reino já entre nós. Como entendo eu a conversão a que me chama Jesus? De que tenho de converter-me?

Ao celebrarmos o XV Domingo do Tempo Comum, possa o Senhor converter o nosso coração e transformar-nos em profetas do Reino de Deus, um Reino paz, justiça e alegria.



ORAÇÃO COLECTA: Senhor nosso Deus, que mostrais aos errantes a luz da vossa verdade para poderem voltar ao bom caminho, concedei a quantos se declaram cristãos que, rejeitando tudo o que é indigno deste nome, sigam fielmente as exigências da sua fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.





LITURGIA DA PALAVRA



Primeira Leitura



Monição: A leitura do profeta Amós vem recordar-nos que a liberdade da fé deve ser defendida perante qualquer poder político, para que, sem compromissos, possa anunciar na íntegra o Evangelho.



Amós 7, 12-15

Naqueles dias, 12Amasias, sacerdote de Betel, disse a Amós: «Vai-te daqui, vidente. Foge para a terra de Judá. Aí ganharás o pão com as tuas profecias. 13Mas não continues a profetizar aqui em Betel, que é o santuário real, o templo do reino». 14Amós respondeu a Amasias: «Eu não era profeta, nem filho de profeta. Era pastor de gado e cultivava sicómoros. 15Foi o Senhor que me tirou da guarda do rebanho e me disse: ‘Vai profetizar ao meu povo de Israel’».



A leitura é tirada da 3ª parte do livro de Amós, «o ciclo das visões proféticas» (7, 1 – 9, 10). A visão do fio-de-prumo (7, 6-9) tinha denunciado a falta de rectidão e corrupção que grassava no Reino do Norte, que se encontrava como uma parede desaprumada, a ameaçar ruína iminente. O sacerdote Amasias, apaniguado do rei Joroboão II, vê no profeta uma ameaça para a sua privilegiada situação e por isso previne o rei contra o profeta que anunciava a sua morte e a destruição do Reino do Norte (vv. 10-11) e dá ordens a Amós para que se retire para o Reino de Judá (vv. 12-13), chamando-lhe «vidente», um outro nome dado aos profetas. Amós confessa que era um simples trabalhador, mas que Deus inesperadamente o chamou e enviou a profetizar (vv. 14-15): «Eu não era profeta nem filho de profeta». Temos aqui a única alusão à sua vocação. Este texto deixa ver a genuinidade do carisma profético de Amós, que não era um mero elemento dum grupo profético, ou um profeta profissional ou cortesão, ao serviço dos homens.



Salmo Responsorial Sl 84 (85), 9ab-10.11-12.13-14 (R. 8)



Monição: Junto do Senhor encontra-se a misericórdia, a paz e a justiça. Supliquemos, pois, com a confiança do Salmo 84: «Mostrai-nos, Senhor, o vosso amor e dai-nos a vossa salvação»



Refrão: MOSTRAI-NOS, SENHOR, O VOSSO AMOR

E DAI-NOS A VOSSA SALVAÇÃO.



Ou: MOSTRAI-NOS, SENHOR, A VOSSA MISERICÓRDIA.



Deus fala de paz ao seu povo e aos seus fiéis

e a quantos de coração a Ele se convertem.

A sua salvação está perto dos que O temem

e a sua glória habitará na nossa terra.



Encontraram-se a misericórdia e a fidelidade,

abraçaram-se a paz e a justiça.

A fidelidade vai germinar da terra

e a justiça descerá do Céu.



O Senhor dará ainda o que é bom,

e a nossa terra produzirá os seus frutos.

A justiça caminhará à sua frente

e a paz seguirá os seus passos.



Segunda Leitura*



Monição: Para Paulo estava claro que não só os judeus, mas também os gentios estavam em Cristo, e participavam da bênção de Deus. A grande dificuldade do começo da Igreja foi aceitar os gentios. Paulo esforçava-se por mostrar que os baptizados também participavam da escolha, da graça e da iniciação no mistério de Deus.



* O texto entre parêntesis pertence à forma longa e pode ser omitido.



*Forma longa: Efésios 1, 3-14 Forma breve: Efésios 1, 3-10

3Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto dos Céus nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. 4N’Ele nos escolheu, antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, em caridade, na sua presença. 5Ele nos predestinou, de sua livre vontade, para sermos seus filhos adoptivos, por Jesus Cristo, 6para que fosse enaltecida a glória da sua graça, com a qual nos favoreceu em seu amado Filho. 7N’Ele, pelo seu sangue, temos a redenção, a remissão dos pecados. Segundo a riqueza da sua graça, 8que Ele nos concedeu em abundância, com plena sabedoria e inteligência, 9deu-nos a conhecer o mistério da sua vontade: segundo o beneplácito que n’Ele de antemão estabelecera, 10para se realizar na plenitude dos tempos: instaurar todas as coisas em Cristo, tudo o que há nos Céus e na terra.

[11Em Cristo fomos constituídos herdeiros, por termos sido predestinados, segundo os desígnios d’Aquele que tudo realiza conforme a decisão da sua vontade, 12para servir à celebração da sua glória, nós que desde o começo esperámos em Cristo. 13Foi n’Ele que vós também, depois de ouvirdes a palavra da verdade, o Evangelho da vossa salvação, abraçastes a fé e fostes marcados pelo Espírito Santo prometido, 14que é o penhor da nossa herança, para a redenção do povo que Deus adquiriu para louvor da sua glória.]



Este início da epístola aos Efésios de que é extraída a leitura tem o aspecto de um hino litúrgico e é uma das mais ricas sínteses doutrinais paulinas. A primeira parte (vv. 3-10), exalta as bênçãos que encerra o projecto divino de salvação em Cristo, por isso é chamda o benedictus paulino. Assim se exprime Bento XVI: «Cada semana, a Liturgia das Vésperas apresenta à oração da Igreja o solene hino de abertura da Carta aos Efésios… Pertence ao género das «berakot», ou seja, as «bênçãos», que já aparecem no A. T. e que terão uma ulterior difusão na tradição judaica. Trata-se, portanto, de uma constante cadeia de louvor elevada a Deus, que na fé cristã é celebrado como «Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo»» (Audiência geral de 23-XI-2005).

3 «Em Cristo». Toda a graça – «bênçãos espirituais» – que Deus concede ao homem, após o pecado, é concedida pela mediação de Cristo e através da união com Ele.

4-5 «Santos». «Filhos». O objectivo desta eleição eterna de Deus é «sermos santos», isto é, destacados do profano e pecaminoso para servir ao culto e glória divina: «diante d’Ele», isto é, na presença de Deus. Estamos chamados a estar sempre diante de Deus para O glorificar a partir de tudo o que fazemos, dizemos ou pensamos, como ensina o Concílio Vaticano II: «Todos os cristãos são, pois, chamados e devem tender à santidade e perfeição do próprio estado» (LG 42). A santidade está em sermos «participantes da natureza divina» (2 Pe 1, 4; Rom 12, 1), sendo filhos de Deus e vivendo como tais, imitando a Cristo, o Filho de Deus por natureza (cf. Rom 8, 15-29; Gal 4, 5-7; 1 Jo 3, 1-3). A expressão «santos e irrepreensíveis» faz pensar nas vítimas oferecidas a Deus no Antigo Testamento (cf. Lv 20, 20-22), insinuando-se assim o carácter oblativo e sacrificial de toda a vida do cristão (cf. 1 Pe 2, 5), bem como a perfeição que devemos pôr em tudo o que fazemos; e não se trata duma pureza meramente exterior e ritual, mas de um culto em espírito e verdade (cf. Jo 4, 23), «na sua presença» (de Deus) «que examina os rins e o coração» (Salm 7, 10), isto é, que perscruta o que há de mais íntimo no homem, a sua consciência, afectos e intenções.

7 «Pelo seu Sangue temos a Redenção». A salvação que Cristo nos traz não é uma mera libertação; é apresentada como um resgate, uma remissão dos pecados (cf. Col 1, 14), que custou o Sangue de Cristo, a sua vida oferecida em sacrifício pelos pecados (cf. Ef 1, 14; 1 Tes 5, 9; 1 Cor 6, 2; 7, 23; GaI 3, 13; 4, 5. 1 Pe 2, 9; 2 Pe 2, 1; Act 20, 28; Apoc 5, 9; 14, 3).

9 «O mistério da sua vontade» é o plano redentor que Deus tem guardado para salvar todos os homens: tendo permanecido oculto durante muito tempo, foi-nos revelado agora em Cristo (cf. Col 1, 26).

10 «Instaurar todas as coisas em Cristo», ou «Reunir sob a chefia de Cristo todas as coisas». O verbo grego «anakêfalaiôsasthai», é de significação bastante discutida e difícil de traduzir. Assim a Vulgata, preferiu o sentido de «instaurare omnia in Christo», (tradução mantida na actual tradução litúrgica), decidindo-se pela ideia de «restaurar todas as coisas», fazendo voltar ao princípio, à santidade original toda a Criação transtornada pelo pecado (assim, à partícula aná que entra na composição do verbo grego é dado um sentido iterativo). Porém outros, apoiando-se no elemento central da palavra, «kêfaláion» – «resumo», «ponto principal» –, traduzem por «concentrar ou reunir todas as coisas em Cristo», enquanto que Ele é o centro de convergência, o principio de unidade, ou o cume de toda a Criação. Finalmente, outros, atendendo ao contexto (v. 22; 4, 15; 5, 23; Col 1, 18; 2, 10.19), onde Cristo é apresentado como «Cabeça», em grego, «kêfalê», preferem traduzir por: «reunir sob a chefia de Cristo». Nesta linha parece estar a Nova Vulgata ao traduzir «recapitulare». Entretanto, parece-nos que o sentido literal não se fica somente no aspecto de fazer com que tudo tenha a Cristo por Cabeça, mas que visa também o aspecto de reunir. Também a tradução por «reunir sob a chefia de Cristo» não parece suficientemente expressiva. Com efeito, todos os seres criados estão desconjuntados e desunidos tanto entre si, como relativamente a Deus; pela Redenção de Cristo voltam a unir-se entre si e com Deus, em Cristo, ao unirem-se a Cristo e ao serem vivificados por Ele, constituído como cabeça de toda a Criação. A verdade é que este primado e capitalidade de Cristo por enquanto só é universal «de direito»; para que o seja «de facto» são os homens chamados a uma missão co-redentora, esforçando-se por «pôr Cristo no cume de todas as actividades humanas, dando forma a tudo segundo o espírito de Jesus, colocando Cristo no âmago de todas as coisas» (S. Josemaria, Cristo que passa, n.º 105).



Aclamação ao Evangelho cf. Ef 1, 17-18



Monição: Começa uma nova etapa no processo do seguimento, a da missão. Agora cabe aos Doze, proclamar o que viram e ouviram.



ALELUIA



CÂNTICO: J. Duque, NRMS 21



Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, ilumine os olhos do nosso coração,

para sabermos a que esperança fomos chamados.





Evangelho



São Marcos 6, 7-13

Naquele tempo, 7Jesus chamou os doze Apóstolos e começou a enviá-los dois a dois. Deu-lhes poder sobre os espíritos impuros 8e ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser o bastão: nem pão, nem alforge, nem dinheiro; 9que fossem calçados com sandálias, e não levassem duas túnicas. 10Disse-lhes também: «Quando entrardes em alguma casa, ficai nela até partirdes dali. 11E se não fordes recebidos em alguma localidade, se os habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés como testemunho contra eles». 12Os Apóstolos partiram e pregaram o arrependimento, 13expulsaram muitos demónios, ungiram com óleo muitos doentes e curaram-nos.



Esta missão dos 12 é restrita aos judeus e vai ser uma espécie de estágio ou treino para a missão universal, após a Ressurreição (cf. Mc 16, 15). Entre as recomendações de Jesus sobressai a do desprendimento; com efeito, o pregador há-de pregar sobretudo com o exemplo da sua vida.

11 «Sacudi o pó…» Gesto habitual dos judeus ao entrarem na Terra Santa, para não a contaminarem com a terra dos gentios, que se tenha colado às sandálias. Com tal gesto mostrava-se que consideravam como gentios aqueles que os não recebessem.

13 «Ungiam com óleo numerosos doentes». Aqui aparece insinuado o Sacramento da Unção dos Enfermos, que o Senhor terá instituído talvez mais adiante e que mais tarde foi recomendado e promulgado aos fiéis. na epístola de S. Tiago 5, 14 ss.



Sugestões para a homilia

Servidores do Reino



As instruções dadas por Jesus aos apóstolos enviados em missão visavam ajudá-los a não perder de vista a perspectiva de serviço ao Reino. O sucesso poderia fazê-los esquecer sua condição de servidores e levá-los a cair na tentação de recrutar discípulos para si mesmos. O insucesso poderia desanimá-los e levá-los a abandonar a tarefa recebida. Tanto numa quanto na outra situação, o apóstolo deve manter-se no caminho pelo qual enveredou.

A orientação para missionar na pobreza visava evitar, por parte dos apóstolos, qualquer espécie de exibição de poder, que atraísse multidões por motivos alheios ao Reino. E, pior ainda, que inculcasse nelas o ideal de acumular bens, despertando, em seus corações, falsas esperanças. A própria pobreza material dos apóstolos já seria um instrumento de evangelização. Indicava uma dependência radical a Deus. Tornava-se apelo para a partilha, por parte dos ouvintes. Enfim, permitia aos apóstolos pregar com toda liberdade, pois nada tinham a perder.

Eles foram orientados também sobre como comportar-se no fracasso. Na medida em que tinham consciência de terem sido fiéis no cumprimento da missão, caso os ouvintes não dessem ouvido às suas palavras, só lhes restaria seguir adiante. A rejeição não era um sinal de que a missão tivesse chegado ao fim. Restava-lhes o mundo todo para evangelizar.

Que a Virgem Maria faça de cada um de nós apóstolos felizes e testemunhas credíveis da Palavra de seu Filho.





LITURGIA EUCARÍSTICA



ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS: Olhai, Senhor, para os dons da vossa Igreja em oração e concedei aos fiéis que os vão receber a graça de crescerem na santidade. Por Nosso Senhor.



SANTO: «DA MISSA DE FESTA», Az. Oliveira, NRMS 50-51



Monição da Comunhão



Ninguém dá o que não tem. Só poderemos ser verdadeiros profetas e anunciadores de Cristo, se estivermos intimamente unidos à sua Palavra e à sua Pessoa. Que a participação na mesa da Eucaristia nos leve a transmitir com verdade e júbilo aquilo que vimos, ouvimos e vivemos.



Salmo 83, 4-5

ANTÍFONA DA COMUNHÃO: As aves do céu encontram abrigo e as andorinhas um ninho para os seus filhos, junto dos vossos altares, Senhor dos Exércitos, meu Rei e meu Deus. Felizes os que moram em vossa casa e a toda a hora cantam os vossos louvores.



Ou

Jo 6, 57

Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em Mim e Eu nele, diz o Senhor.



ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO: Senhor, que nos alimentais à vossa mesa santa, humildemente Vos suplicamos: sempre que celebramos estes mistérios, aumentai em nós os frutos da salvação. Por Nosso Senhor.





RITOS FINAIS



Monição final



Ao longo de sua vida, Jesus se dedicou à insistência e à prioridade do anúncio do Reino; o Reino foi o tema prioritário, o fundamental na sua vida, a sua causa e utopia. A profecia na Igreja não provém de vozes misteriosas interiores que possam escutar só alguns espíritos privilegiados, mas sim da confrontação do cristão com a utopia do Reino. Como profetas do novo Reino, partamos com a coragem de anunciar e viver com alegria e coerência os valores do Evangelho.








Roteiro Homilético 7: Exegese
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EPÍSTOLA

EFÉSIOS 1, 3-10

(Pe. Ignácio, dos padres escolápios)





INTRODUÇÃO: Todos os nossos privilégios e toda a bondade de Deus, derramada em nós como fruto de seu amor, têm como base e fundamento o amor do Pai por seu Filho Jesus, o Verbo Encarnado, de cuja semelhança nós participamos como parte do gênero humano, e de cuja inserção na divindade somos também porção pela imersão no batismo, que nos torna membros da família divina. Daí que Deus nos escolheu desde o início para sermos seus filhos, recapitulando em Cristo toda a obra de sua criação, que agora se tornou redenção e será, em definitivo, glorificação.

DEUS BENDITO: Bendito [eulogetos<2128>] o Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo quem nos há abençoado em toda bênção espiritual nos espaços celestes [epouraniois <2032>] em Cristo (3). Benedictus Deus et Pater Domini nostri Iesu Christi qui benedixit nos in omni benedictione spiritali in caelestibus in Christo. BENDITO: Eulogeö é a palavra própria para abençoar em nome de Deus ou louvar seus benefícios como no caso do pão que vamos comer (Mt 4, 19) ou no caso de pessoas que são abençoadas por Deus (Mt 21, 9). Especificamente é a palavra usada para narrar a bênção do pão eucarístico na última ceia (Mt 26, 26; Mc 14, 22 e Lc 14, 30). Até tal ponto que Paulo chama o cálice consagrado de cálice da bênção (1 Cor 19, 6). Eulogetos [bendito] é usado só para Deus e eulogemenos [abençoado] para o homem que recebe os benefícios de Deus. Assim Maria é eulogemene (Lc 1, 42). Mas esta não é única vez em que Paulo se dirige a Deus com essa fórmula tão latrêutica e elegante. No NT a vemos repetida em 2 Cor 1, 3 e 1 Pd 1, 3. É uma fórmula que provém do AT como lemos em Gn 9, 26, Êx 18, 10 e Sl 28, 6 entre outras muitas passagens em que Deus é louvado. O eulogetos corresponde ao baruk hebraico. Eulogomenos diferencia-se de Makairos [ditoso], como bendito diverge de bemaventurado. Deus é bendito para sempre (Sl 72, 19), pois dEle só podemos receber o bem. PAI: O título indica o motivo ou a pessoa da bênção. Nesse caso, ambas as coisas estão unidas: é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que é bendito para sempre e a quem Paulo aclama como digno de ser louvado. Precisamente ao chamar Jesus como Cristo [Messias] e como Senhor [Kyrios<2962>] Paulo especifica uma paternidade que não é compartida pelos fiéis. É a paternidade essencial e natural que transforma Jesus em sagrado [ágios], como o chamou Gabriel ao explicar o mistério da Encarnação; e consequentemente será Filho do Altíssimo (Lc 1, 35). EPOURANIOIS: Literalmente significa sobre os céus, que o latim traduz como caelestis e que, não tendo uma palavra própria devemos traduzir de modo intelectual como regiões ou espaços celestes. O plural céus, é mais próprio da concepção semítica que, como mínimo, acreditava em três céus (2 Cor 12, 2) em cujas regiões Deus reinava supremo e não existia mal, nem maldade. A bondade divina se manifestava em bens que Paulo aqui denomina como espirituais; pois o corpo não podia morar em semelhantes lugares. E a causa dos benefícios é precisamente Cristo, ou seja, o Jesus já constituído em Messias que nos libertou, por meio do resgate de seu sangue, do pecado e da escravidão de Satanás.

CAUSA FORMAL: De acordo como nos escolheu [exelexanto<1586>] nEle antes da fundação [katabolës <2602>] do mundo para sermos consagrados [agious,40>] e sem culpa [amömous <299>] perante Ele em amor. Sicut elegit nos in ipso ante mundi constitutionem ut essemus sancti et inmaculati in conspectu eius in caritate. ESCOLHEU: do verbo eklegomai selecionar, escolher. A escolha foi através de Jesus [nEle] pois o nome correspondente a esse Ele é Cristo, em que foram dadas as mercês segundo o versículo anterior. E a escolha foi feita antes da fundação [kataboles] do mundo [kosmos]. KATABOLES: Segundo Mt 25, 34, o Reino definitivo foi preparado pelo Pai desde a fundação do mundo. A escolha foi feita nesse lugar feliz em que o Filho estava na glória do Pai, precisamente antes da fundação do mundo (Jo 17, 24). KOSMOS: primariamente significa um conjunto ordenado, mas logo se tornou sinônimo do Universo, o conjunto das coisas materiais que contemplamos como espaço e ambiente que nos rodeiam. ÁGIOS: A palavra significa consagrado a uma divindade, daí sagrado e finalmente santo, no sentido de não ser um ser puramente humano [psikikos de Paulo], mas transcendente ou divino. Pelo batismo fomos consagrados e imersos na família divina como membros da casa de Deus (Ef 2, 19). Daí que, inclusive a parte mais material, o corpo esteja também consagrado e dedicado, como um templo a Deus (Rm 12, 1). SEM CULPA: Paulo fala evidentemente da última realização do Reino em que tudo estará purificado, como é vista essa Igreja ou Comunidade purificada por Cristo (Ef 5, 27) e que completa seu corpo como pleroma (Ef 4, 12 e 1 Cor 12, 27), perante Ele. Isto implica uma ordem previamente estabelecida por Deus: uma eleição que corresponde, por nossa parte, a uma vocação, tendência e objetivo de nossas vidas. Uma justificação que se dá no Batismo inicialmente; e, finalmente, a glorificação que só se inicia, como em Cristo, quando, na hora da morte, entregamos a vida em suas [do Pai] mãos. Agioi e imaculados são dois adjetivos que representam as duas faces de uma pessoa purificada dos pecados: a positiva como sagrada e a negativa como livre de culpa. PERANTE ELE: Deus é o santo por excelência, como podemos ver em Santo, Santo, Santo é o Senhor (Is 6, 3) que em termos semíticos significa o superlativo máximo, ou seja, Santíssimo. Por isso, Ele não admite qualquer mácula ou imperfeição, especialmente a moral. Os animais destinados ao sacrifício deviam ser perfeitos, assim como o pão escolhido da flor da farinha. Sem essa total limpeza que os fariseus pensavam ser externa, mas que Jesus ensinou como provindo do coração ou mente, não é possível ver a Deus (Mt 5, 8). O homem deve permanecer descalço como mandou a Moisés se apresentar para ter a permissão de estar no lugar santo (Êx 3, 5). Descalço, como convém a um escravo, mas também com o significado de estar sem as impurezas que as sandálias recolhem do caminho (Mt 10, 14). EM AMOR: Paulo que fundamenta a justificação na graça de Deus, correspondendo a ela a fé do homem, não o santifica a não ser pelo amor, resumido em sacrifício e obediência. Há três maneiras de interpretar esse amor final do versículo 4: 1) Escolhidos por amor, unindo como final ao início da frase. 2) A santidade como fé aperfeiçoada pelo amor (Gl 5, 6) e que, na era escatológica, só permanecerá como amor (1 Cor 3, 13). 3) Finalmente, a que os autores modernos preferem: unida ao início do versículo seguinte: Em amor tendo nos predestinado.

A PREDESTINAÇÃO: Tendo nos predestinado [proorisas<4309] para adoção filial [uithosian <5206] através de Jesus Cristo para Ele, segundo o bem querer [eudokian <2107>] de sua vontade [thelëmatos <2307>] (5). Qui praedestinavit nos in adoptionem filiorum per Iesum Christum in ipsum secundum propositum voluntatis suae. PREDESTINADOS: Paulo deixa praticamente toda a pequena e grande história humana nas mãos do Pai. É com e por sua benevolência que nós vivemos e somos, como disse aos atenienses (At 17, 28). Aparentemente parece que a liberdade humana está fora de questão. Porém, esta é patrimônio pessoal de todo ser humano e, infelizmente, temos a escolha de podermos enfrentar os desígnios divinos que deveriam se cumprir universalmente em cada um de nós, como Paulo descreve neste versículo. ADOÇÃO: a palavra grega é um composto de uiós [filho] e tithemi [estabelecer] que, logicamente, significa adoção de um filho. Feita por Deus como Pai, é muito mais efetiva que legal. Implica uma participação na divindade, semelhante à que teve Jesus, com uma relação de amor principalmente e com um efeito que os antigos padres da Igreja exemplificavam com o fogo adquirido pelo metal nele submerso. Na realidade, o batismo implica essa submersão que nos dá o elemento divino a produzir semelhança e participação, introduzindo-nos na família divina como filhos amados do Pai (Rm 8, 15) e como irmãos queridos de Jesus, unidos no amor do Espírito. Esta adoção foi fruto do sacrifício de Jesus Cristo como causa meritória, e a Ele unidos como causa exemplar cuja vida procuramos imitar em obediência e com Ele unidos efetivamente por meio do Espírito que nos comunica eficazmente ao tornarmos membros de seu corpo pleno como pleroma de seu abundante poderio universal (Ef 1, 23). Porém não é em Jesus, o Cristo, que tudo tem fim e sentido, mas é no Pai [para Ele] que as coisas são ordenadas, como diz Paulo, uma vez que tudo esteja unido em Cristo, para assim apresentar ao Pai o Reino, dessa forma conquistado (1 Cor 15, 24). EUDOKIA: Desejo, satisfação, boa vontade, boa intenção, bel querer, ou bem querer. O Pai e Deus de nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 15, 6) quis ter mais filhos além do seu unigênito encarnado; e sua vontade admite como tais os que se conformam ao seu Unigênito como diz o apóstolo em Rm 8, 29: Aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou a serem conformes à imagem do seu Filho. Este é, segundo Paulo, o modelo e origem de toda a nova humanidade; pois Ele é o primeiro dos nascidos entre muitos irmãos (idem). Assombra essa unidade de doutrina coerente nas cartas paulinas, que não vemos ter muita base nos evangelhos. À exceção do 4º evangelista, os outros têm aparentemente uma teologia muito mais simples, com base na basileia, e da qual dificilmente poderíamos extrair estas conclusões teológicas paulinas. Quem foi primeiramente escrito, Paulo ou o evangelista (Marcos, Mateus, Lucas e João)? É uma questão que praticamente não se discute, mas que é digna de grave consideração.

FINALIDADE: Para exaltação [epainon<1868>] de glória [doxës<1391>] da sua caridade [charitos<5485>] na qual nos favoreceu [echarisomen <5487>] no Amado [ëgapëmeno <25>] (6) em quem temos o resgate [apolutrösin <629>] pelo seu sangue, a remissão [afesin <659>] dos pecados [paraptömatön <3900>], segundo a riqueza [ploutos <4149>] de seu amor [charitos <485>] (7). In laudem gloriae gratiae suae in qua gratificavit nos in dilecto, in quo habemus redemptionem per sanguinem eius remissionem peccatorum secundum divitias gratiae eius. EPAINOS: louvor, elogio, panegírico. É a glorificação da DOXA, que significa, em sentido religioso, a magnificência de Deus como supremo Senhor e do Messias como rei absoluto do Universo. Também se pode falar da gloriosa condição com a qual Deus, o Pai, exaltou o Filho após seu sacrifício na cruz. E finalmente a condição gloriosa dos bemaventurados como participantes da glória de seu Senhor. A frase para o louvor de sua glória, ou da glória de sua graça, sai 3 vezes nesta epístola (1,6; 1, 12 e 1, 14). E Deus recebe o titulo de Pai da glória (1, 17); glória que deve ser participada como é a paternidade, formando a parte dada ao filho em herança (1, 18). CARIDADE: Assim temos traduzido a charis grega que significa favor, dádiva, mercê. Por parte de Deus, de modo especial, é o dom de si mesmo no Espírito Santo (Lc 11, 13) que nos é dado (Jo 14, 26) como continuação do dom do Filho (Jo, 3, 16). AMADO: É o particípio passivo perfeito do verbo agapaö que significa amar, que o latim traduz por dilectus. Evidentemente, o Amado é Jesus de Nazaret, segundo vemos em Mt 3, 17 em que Jesus recebe o título de agapetós desta vez adjetivo que substitui o nome como aposição. APOLYTRÖSIS: É um homônimo de Lytron e ambos significam resgate, ou seja, o pagamento a satisfazer para alforriar um escravo. O pagamento, no caso, foi o sangue, isto é, a vida sacrificada pelos homens, todos pecadores, considerados escravos do diabo e do pecado. Daí que a remissão seja do pecado. E tudo foi feito devido à riqueza de seu amor. PARAPTÖMATOS: propriamente transgressão, como vemos em Mt 6, 5; é a palavra que Paulo emprega 14 vezes em suas cartas. O significado é uma injúria ou afronta contra uma pessoa, seja Deus ou o próximo. Pode ser substituído por pecado ou delito. PLOUTOS: pode significar a abundancia, ou seja, a grandeza sem limites de seu amor. Paulo é um enamorado do amor de Cristo por ele e por todos os que nEle confiam.

A ABUNDÂNCIA: A qual excedeu em nós em toda sabedoria [sofia<4678>] e discernimento [fronësei<4528>] (8). Quae superabundavit in nobis in omni sapientia et prudential. A tradução mais exata, do ponto de vista mais inteligível, seria: Essa opulência de seu amor excedeu, com respeito a todos nós, tudo o que podemos pensar e é prudente imaginar. SOFIA: Embora seja um saber prudente, aqui parece ter o significado de conhecimento em todos os amplos limites da palavra. FRONESIS: Pensamento, que pode ser atitude, como em Lc 1, 17 ou discernimento como um conhecer, na sua totalidade, circunstâncias e fatos. O sentido é um superlativo absoluto desse amor divino que é impossível imaginar, dentro dos limites de nosso modo de pensar e atuar.

A POLÍTICA DIVINA: Para a administração [oikonomian<3622>] da complementação [plërömatos <4138>] dos tempos: resumir [anakefalaiösasthai <346>] todas as coisas no Cristo, tanto as dos céus como as que estão sobre a terra (10). In dispensationem plenitudinis temporum instaurare omnia in Christo quae in caelis et quae in terra sunt in ipso. ADMINISTRAÇÃO: oikonomia é a gerência dos bens domésticos que, em termos mais amplos, podemos falar de administração de uma empresa ou negócio. Aqui se trata do assunto da salvação dos homens. PLERÖMA: E estamos já no final dos tempos que Paulo fala do fim, ou do remate dos mesmos. Propriamente é a conclusão de um período. É a escatologia [o fim de uma era] que já está em função e atuando do momento em que o Verbo se encarnou, segundo Tt 1, 3, que são os tempos próprios para se manifestar essa sua bondade e benignidade (Tt 3, 4). E precisamente essa sua manifestação tem como base a de resumir, como num compêndio de sua política, todas as coisas tanto nos céus como na terra. Exclui Paulo os infernos, lugar onde estão os poderes do mal? Aparentemente não; mas sabemos por outros escritos que os demônios creem e temem (Tg 2, 19), embora estejam submetidos e tenham que dobrar, como vencidos, o joelho diante do nome de Jesus (Fl 2, 10), que os fiéis dobram como amigos. De modo que Cristo seja tudo em todos (Ef 1, 23 e Cl 3,11).

PREDESTINADOS: Nele, no qual também fomos chamados predestinados segundo o propósito daquele que todas as coisas opera segundo o desígnio de sua vontade (11). In quo etiam sorte vocati sumus praedestinati secundum propositum eius qui omnia operatur secundum consilium voluntatis suae. FOMOS CHAMADOS [eklëröthëmen<2820>=vocati sumus] é o aoristo passivo de indicativo do verbo klëroö de significado ser designado por sorte. Logicamente aqui a sorte é substituída pelos desígnios da providência. Chamados por vocação de Deus, como foram os convidados na segunda chamada ao banquete das bodas reais (Mt 22, 9). PREDESTINADOS [prooristhentes <4309>=praedestinati] particípio do aoristo passivo do verbo proorizö, com o significado de predestinar, como lemos em At 4, 28: Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se houvesse de fazer. PROPÓSITO [prothesis<4286>=propositum] apresentação, como eram os pães da proposição (Mt 12, 4); e em termos formais, plano, propósito, resolução, vontade (At 11, 23). E é neste sentido que temos escolhido a tradução. DESÍGNIO [boulë <1012>=consilium] plano, propósito, resolução, e decisão como em At 2, 23: Jesus foi entregue conforme o plano previsto na sabedoria de Deus. Ou conselho e deliberação como em At 4, 23: Dai de mão a estes homens, e deixai-os, porque, se este conselho ou esta obra é de homens, se desfará. A tradução desígnio é até conforme com a ideia paulina que coloca a predestinação e vontade divina acima de nossos próprios méritos. É o que Paulo dirá como base de sua gratitude: O qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim (Ef 1, 5).

PARA LOUVOR: Para sermos para louvor de sua glória os que previamente temos esperado em Cristo (12). Ut simus in laudem gloriae eius qui ante speravimus in Christo. LOUVOR [epainos<1868>=laus] aprovação, reconhecimento. O exemplo é Rm 1, 29: A circuncisão, a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus. Como aprovação temos 1 Cor 4, 5: [no dia do juízo] então cada um receberá a devida aprovação da parte de Deus. Por isso, Paulo dirá que nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado (Ef 1, 5-6). Evidentemente Paulo está falando do final dos tempos escatológicos em que a bondade será suprema e o louvor terá como motivo uma ação de graças perene por termos recebido de Cristo a nova vida que nos tornou filhos no Filho (Gl 4, 20).

SELADOS: No qual também vós, ouvintes da palavra da verdade, o evangelho de vossa salvação, no qual também fostes selados com o Espírito Santo da promessa (13). In quo et vos cum audissetis verbum veritatis evangelium salutis vestrae in quo et credentes signati estis Spiritu promissionis Sancto. Paulo chama de palavra da verdade o evangelho que é salvação. FOSTES SELADOS [esfragisthëte<4972>=signati estis] é o aoristo passivo do vebo sfragizö literalmente coisa que está provista de um carimbo, ou selada, como diz Mateus 27, 66 do sepulcro: seguraram o sepulcro com a guarda, selando a pedra. Em sentido figurado, marcado com uma identidade especial, como aqui e em 2 Cor 1, 22: O qual também nos selou e deu o penhor do Espírito em nossos corações. A identidade do selo é o Espírito que em nós habita e clama Abbá (Rm 8, 15). Esse Espírito é o da PROMESSA [epaggelia<1860>=promisio] ou Espírito prometido, como paraklëtos, que Jesus tinha prometido: Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique convosco para sempre (Jo 14,16). Para ser o Espírito da Verdade e a Testemunha essencial de Cristo (Jo 14,13 e 16, 8-10).

O PENHOR: O qual é penhor de nossa herança para resgate de sua posse para louvor de sua glória (14). Qui est pignus hereditatis nostrae in redemptionem adquisitionis in laudem gloriae ipsius. PENHOR [arrabön<728>=pignus] com o signficado de depósito, pagamento inicial, fiança, penhor, garantia. De que é o Espírito garantia? Como Paulo afirma, pouco antes de falar do penhor do Espírito, sua garantia de que o mortal seja absorvido pela vida (2 Cor 5,4). HERANÇA [klëronomia<2817>=hereditas] como em Mt 21, 38: Os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, e apoderemo-nos da sua vinha. Segundo a lei vigente, ao não ter herdeiros o dono, a herança seria dos vinhateiros trabalhadores. A herança é eterna segundo Hb 9, 15, incorruptível e incontaminável, como é o reino de Cristo definitivo. Se a herança do AT era uma terra prometida, a Eretz Israel, a herança do NT era a participação do Reino, a eterna bem-aventurança de viver a mesma vida de Deus dentro de nós. Vive em mi Cristo, que diz Paulo (Gl 2, 20). Por isso o Espírito que habita no fiel é o penhor e garantia de que a vida definitiva nunca nele terá fim. RESGATE [apolytrösis<629>=redemptio] o significado próprio era de pagamento para a libertação de um escravo, que do latim redemptio, foi traduzido em línguas vernáculas, como redenção. Exemplo: Quando estas coisas começarem a acontecer, olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está próxima (Lc 21, 28). Essa redenção, segundo Paulo, atinge o corpo tanto como o espírito do homem; pois substancialmente é a adoção do mesmo como filho de Deus já que esperamos a mesma por adoção como redenção do nosso corpo (Rm 8, 23). E quem fez o pagamento foi Cristo em quem temos a redenção pelo seu sangue (Ef 1, 7). De modo que o cristão já é posse de Cristo; e, como diz Paulo, para louvor de sua [de Cristo] glória. De modo que tudo é de Cristo (Cl 3, 11) e Cristo é de Deus (1Cor 15, 24).





EVANGELHO

XV DOMINGO DO TEMPO COMUM

Marcos 6, 7-13

(paralelos: Mt 10, 1-42 e Lc 9, 1-10)

(Pe. Ignácio, dos Padres escolápios)



INTRODUÇÃO: O evangelho é a narração do envio dos 12, na sua missão de anunciar o Reino com missão limitada à região da Palestina (Mt 10, 5), com ênfase especial na conversão, porque o Reino já chegou (Mt 10, 7). O Reino implicava uma nova mentalidade, um giro de 180 graus de uma religião externa e formalista, com base na Torah, a outra em que o encontro com Jesus, um enviado do Pai, era o fundamento de uma fé que se exercitava pelo amor (Gl 5, 6). Embora possamos afirmar que nem mesmo os doze entendiam totalmente a base do Reino, a exceção de que Jesus era o Messias, o iniciador de uma nova Era ou pacto com Deus, de um povo novamente eleito (Jo 1, 49). O relato de Marcos é o mais breve dos três sinóticos e apenas contém doutrina teológica e uma série de recomendações práticas para distinguir os verdadeiros missionários dos astutos arrecadadores de riquezas, para proveito individual. Vejamos a interpretação dos versículos que o compõem.



A MISSÃO: Então, chama a si [proskaleitai <4341>] os doze e começou a enviá-los dois a dois, e deu-lhes autoridade [exousian <1849>] sobre os espíritos [pneumatön<4151>], os impuros [akathartön <169>] (7). Et convocavit duodecim et coepit eos mittere binos et dabat illis potestatem spirituum inmundorum. CONVOCA: Mateus usa o mesmo verbo, só que, mais corretamente, no aoristo e não no presente de Marcos. Os convoca, aos doze. Quando foi esta missão? Muito provavelmente após um tempo longo de convivência com Jesus. Um ano após tê-los chamado como seus discípulos, talvez. Um mestre esperava um tempo suficientemente longo para poder confiar que seus ensinamentos estivessem bem fundados para seus discípulos poderem repetir quase ao pé da letra os seus ensinamentos. Isto avalia os escritos evangélicos, se realmente escritos pelos apóstolos ou com sua licença. Os escritos são produto de um discipulado constante e repetido. A eleição de Matias corrobora este modo de julgar: homens que acompanharam Jesus desde o batismo (At 1, 21-22). Um dado a mais: as frases curtas do Senhor são, segundo os expertos, verdadeiros dísticos, como acostumavam ser os pronunciamentos dos rabinos. Nem tudo é devido à memória dos semitas, nem tudo é uma recordação afastada no tempo. O ENVIO: Foi feito de dois em dois, para ajuda mútua e para que ninguém pudesse duvidar de suas asserções, pois a Lei mandava que fossem duas as testemunhas (Dt 17, 6 e 19, 15). AUTORIDADE: Exousia que entre suas acepções está o poder de governar e mandar, de modo que os súditos fossem obrigados a obedecer. Tal era o poder dado por Jesus aos doze sobre os demônios, poder muito mais admirado, na época, que o de curar doenças, e muito mais ordenado à implantação do Reino, cujo inimigo era, evidentemente, o Maligno, ou Satanás (Mt 13, 25). ESPÍRITOS IMPUROS: Pneuma entre outros significados tem o de ser um espírito superior ao homem, mas inferior a Deus, que pode ser um anjo; mas que neste caso é um demônio ou espírito imundo [akathartos]. Esses demônios impuros eram, segundo se acreditava, a origem das doenças nervosas e doenças do tipo possessão diabólica, que tomavam posse do corpo do possesso. A frase espírito imundo sai 1 vez em Mateus (12, 43), 7 em Marcos e 4 em Lucas. Como endemoninhado temos 2 em Mateus, 4 em Marcos e 2 em Lucas. É notável que em João não tenhamos nenhum caso de cura de um possesso, mas é o próprio Jesus a quem os seus contemporâneos dizem ter demônio (Jo 7, 29; e 8, 48 entre outros). Hoje diríamos que está louco, como vemos em Jo 10, 20. Já que muitas doenças das que hoje sabemos têm sua origem puramente fisiológica, eram atribuídas a um espírito maligno, como podemos ver nos casos de mudos e cegos (Mt 9, 32 e 12, 22). Logicamente vemos como os escritores sagrados falam segundo a ciência da época e a cultura correspondente, tanto histórica, como de origem mais ou menos científica. Não podemos, pois, usar citações bíblicas para afirmar fatos científicos ou históricos como verdades reveladas. Segundo Mateus, os apóstolos também receberam o carisma de cura para toda classe de doenças e enfermidades (Mt 10, 1), coisa que Lucas confirma (Lc 9, 1).

AS ORDENS: E lhes ordenou que nada tomassem para (o) caminho, senão um bastão [rabdon<4464>] só, nem alforje [përan<4082>], nem pão, nem cobre [chalcon<5475>] no cinto [zönën<2223>] (8), mas, tendo calçado sandálias [sandália <4547>]; e não vistais duas túnicas [chitönas] (9). Et praecepit eis ne quid tollerent in via nisi virgam tantum non peram non panem neque in zona aes. Sed calciatos sandaliis et ne induerentur duabus tunicis. BASTÃO: A palavra indica um bordão, uma vara grossa que era a arma com a qual os peregrinos se defendiam dos bandidos no caminho. Mas tudo que não é imediatamente necessário para o caminho deve ser eliminado: alforjes [përa] onde levar a comida como o pão, ou onde os mendicantes religiosos ou os famosos cínicos da época, levavam os dinheiros arrecadados em suas viagens missionárias. Fora desse cajado, necessário para o caminho, a proibição de qualquer outra ajuda ou provisão é clara nas ordenanças de Jesus. Nada de comida e nada de dinheiro para comprá-la ou se hospedar nos povoados. Com respeito ao dinheiro, Marcos fala de cobre [chalcon] no cinto. No Brasil, até pouco tempo atrás, o dinheiro que em castelhano eles chamam de prata, era em português denominado como cobre. Exatamente como em Marcos. Cobre está por moedas de qualquer metal que eram colocadas no cinto [zönë], propriamente uma faixa de tela que, como era oca, servia de bolsa para carregar o dinheiro. Jesus permite o uso de sandálias: uma sola de couro atada ao pé por meio de tiras da mesma matéria. Era o calçado para o caminho, já que, em geral, em casa andavam com os pés nus. As duas túnicas: A palavra Chitön era a túnica ou vestido interior diferente da clâmide ou capa, externa. Que podemos dizer sobre estas recomendações? Jesus quer evitar a simonia. Na época, existiam muitos mensageiros ambulantes que em nome de um templo ou uma divindade percorriam os caminhos e entravam nas cidades. Saiam em busca de dinheiro para seus templos e voltavam carregados de bens. Temos o exemplo de Lucino que, como ministro da deusa Atargatis, reunia donativos para os sacrifícios de seu santuário. Saiu como mendigo, mas voltou como um arrieiro carregado de mercadorias. Em cada viagem trazia setenta sacos cheios. Talvez o exemplo dos apóstolos missionários dos tempos da Didaché tenha sido tomado deste trecho evangélico: não deve permanecer mais de um dia ou dois… Se permanecer 3 dias é um falso profeta. E quando partir, que não tome nada a não ser pão e se pede dinheiro é um falso profeta.

HOSPEDAGEM: E dizia-lhes: quando, pois, entrardes em casa, permanecei ali até dali sairdes (10). Et dicebat eis quocumque introieritis in domum illic manete donec exeatis inde. Em Mateus temos uma explicação mais explícita desta hospedagem buscando uma casa digna, isto é que não fosse impura por diversas circunstâncias. A razão de não mudar de casa é melhor compreendida nestas palavras de um rabino da época: Até quando um homem não deve mudar de hospedagem gratuita? E o rabi respondeu: Até que o hospedeiro não o golpeie ou lhe jogue suas coisas nas costas. Como temos visto, a Didaché não permitia uma estadia muito prolongada.

A REJEIÇÃO: E se em algum lugar não vos receberem nem vos ouvirem, saídos dali, sacudi o pó dos calçados de vossos pés em testemunho para eles (11). Et quicumque non receperint vos nec audierint vos exeuntes inde excutite pulverem de pedibus vestris in testimonium illis. Nas ideias da época, se alguém vinha de viagem de regiões de gentios e não se purificava ao entrar em Israel, a profanava com o pó que trazia dessas regiões. Por isso estava obrigado a sacudir vestidos e calçados antes de entrar no Hertz Haaretz [terra de Israel]. Esse gesto foi feito por Paulo e Barnabé em Antioquia da Pisídia, quando os judeus levantaram uma perseguição contra eles (At 13, 51). Mais do que o gesto está a condenação dos que não quiseram ver a luz nem ouvir a verdade testemunhada com prodígios, como eram os sinais feitos pelos apóstolos.

RESULTADOS: E tendo saído, pregavam para que se convertessem [metanoësösin <3340>] (12). E expulsavam muitos demônios e ungiam com óleo muitos doentes e sanavam (13). Et exeuntes praedicabant ut paenitentiam agerent. Et daemonia multa eiciebant et unguebant oleo multos aegrotos et sanabant. O metanoeö significa mudar de parecer, ou seja, admitir que até agora não se tinha seguido uma religião correta e se devia em consequência mudar de ideias e conduta. Era uma forma nova de culto a um Deus que rejeitava a antiga adoração como defeituosa e insuficiente. Além de que por meio dos antigos profetas, cuja tradição vemos refletida nas palavras do Batista, essa nova presença de Deus era como um julgamento em que palha e trigo deviam ser separados (Lc 3, 17). A unção com óleo é uma forma de remédio muito usada nos tempos antigos. Sua prática no Oriente é usual até em nossos dias, mas o uso pelos apóstolos, nesta ocasião, é mais instrumental que curativa. Era um sinal externo de que pela fé o poder divino atuava no enfermo para obter a cura. Todos se curavam? Não existe certeza, embora a frase deixe margem suficiente para pensar numa cura geral. Era o sacramento da Unção? Não, pois neste a finalidade principal era taumatúrgica e na unção temos o perdão dos pecados e da culpa dos mesmos como finalidade primária. O Concílio de Trento afirma: A unção sagrada dos enfermos foi instituída como verdadeiro e próprio sacramento do NT por Cristo, Nosso Senhor, insinuado já em Marcos e promulgado por Tiago (Tg 5, 14). Como temos dito no início, a expulsão dos demônios era um símbolo especial: o de que uma nova era já estava atuando e de que o poder do maligno estava sendo derrotado: Se no dedo de Deus eu expulso os demônios, certamente a vós é chegado o Reino de Deus (Lc 11, 20).






Roteiro Homilético 8: Mons. José Maria
(http://www.presbiteros.com.br/)

Quem é o Padre?

“Em Cristo, o Senhor nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor” (Ef 1,4). Todos os batizados podem aplicar a si próprios essas palavras de São Paulo. Graças ao Batismo e à Confirmação (Crisma), todos os fiéis cristãos são “uma raça eleita, um sacerdócio real, uma nação santa, o povo de sua particular propriedade” (1 Pd 2,9), “destinados a oferecer vítimas que sejam agradáveis a Deus por Jesus Cristo” (Vat. II, LG,10).

Por vontade divina, dentre os fiéis que possuem o sacerdócio comum, alguns são chamados- mediante o sacramento da Ordem- a exercer o sacerdócio ministerial. Este pressupõe o sacerdócio comum dos fiéis, mas distingue-se dele essencialmente: pela consagração recebida no sacramento da Ordem, o sacerdote converte-se em instrumento de Jesus Cristo, a quem empresta todo o seu ser, para levar a todos a graça da Redenção. É um homem escolhido entre os homens, constituído em favor dos homens no que se refere a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados (Hb 5,1). Qual é, pois, a identidade do sacerdote? “A de Cristo. Todos os cristãos podem e devem ser não já alter Christus, mas ipse Christus: outros Cristos, o próprio Cristo! Mas no sacerdote isto se dá imediatamente, de forma sacramental” (S. Josemaria Escrivá, Amar a Igreja, pág. 72).

O Senhor, presente de muitas maneiras entre nós, mostra-se muito próximo na figura do sacerdote. Cada sacerdote é um imenso dom de Deus ao mundo; é Cristo que passa fazendo o bem, curando doenças, dando paz e alegria às consciências; é o instrumento vivo de Cristo no mundo, empresta a Nosso Senhor a sua voz, as mãos, todo o seu ser. “Jesus – recordava Beato João Paulo II aos sacerdotes – identifica- nos de tal modo consigo no exercício dos poderes que nos conferiu, que a nossa personalidade como que desaparece diante da sua, já que é Ele quem atua por meio de nós.”

Na celebração da Missa, é Jesus Cristo quem muda a substância do pão e do vinho no seu Corpo e no seu Sangue. E “é o próprio Jesus quem, no sacramento da Penitência, pronuncia a palavra autorizada e paterna: Eu te absolvo dos teus pecados. E é Ele quem fala quando o sacerdote, exercendo o seu ministério em nome e no espírito da Igreja, anuncia a Palavra de Deus. É o próprio Cristo quem cuida dos doentes, das crianças e dos pecadores, quando o amor e a solicitude pastoral dos ministros sagrados os envolvem” (Beato João Paulo II).

Um sacerdote é mais valioso para a humanidade que todos os bens materiais e humanos juntos. Daí a importância de rezarmos muito pela santidade dos sacerdotes, ajudá-los e ampará-los com a nossa oração e a nossa estima.



Deus toma posse daquele que chamou ao sacerdócio, consagra-o para o serviço dos outros homens, seus irmãos, e confere-lhe uma nova personalidade. E este homem, eleito e consagrado ao serviço de Deus e dos outros, não o é somente em algumas ocasiões determinadas, por exemplo, quando realiza uma função sagrada, mas sempre, em todos os momentos, tanto quando exerce o mais alto e sublime ofício como no ato mais vulgar e humilde da vida quotidiana. Qualquer coisa que faça, qualquer atitude que tome, quer queira, quer não, será sempre a ação e a atitude de um sacerdote, porque ele o é sempre, em todas as horas e até à raiz do seu ser, faça o que quiser e pense o que pensar.

O Sacerdote é um enviado de Deus ao mundo, para que lhe fale da sua salvação, e é constituído administrador dos tesouros de Deus: o Corpo e o Sangue de Cristo, bem como a graça de Deus por meio dos sacramentos, a palavra de Deus mediante a pregação, a catequese ,os conselhos da Confissão. Está confiada ao sacerdote a mais divina das obras divinas, que é a salvação das almas; foi constituído embaixador e medianeiro entre Deus e os homens.

Por isso temos que rezar muito mais para que a Igreja conte sempre com os sacerdotes necessários, com sacerdotes que lutem por ser santos. Temos que rezar e fomentar essas vocações, se é possível, entre os membros da própria família! Que imensa alegria para uma família se Deus a abençoa com este dom!



Enviai, Senhor, Apóstolos Santos à vossa Igreja.





Roteiro Homilético 8: Padre Françoá Costa
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Fidelidade a Cristo



Eusébio, pai de Constantino Magno, passava em revista os seus soldados. Parado no meio do campo, exclamou: -“Os que forem cristãos venham para a minha direita”. Alguns tremeram, pois sabiam que Eusébio era idólatra. Eusébio, por sua vez, sabia que muitos dos seus soldados eram cristãos. Alguns valentes, com passo resoluto, puseram-se à sua direita, exclamando: -“Nós somos cristãos!” O imperador olhou para eles com fereza e disse: -“Sois vós somente?” Nenhum outro se moveu do lugar. Então dirigindo-se aos que estavam à sua direita, disse Eusébio: -“Vós formareis a minha legião de honra e todos os outros serão expulsos de minhas fileiras, porque da mesma maneira com que hoje se envergonharam de seu Deus diante do imperador, amanhã terão vergonha do imperador diante do inimigo”. (P. Francisco Alves, Tesouro de exemplos I, 380).

Como é importante ser fiel a Deus! Nós, cristãos, também não desprezamos a lealdade à palavra dada. Os cristãos são chamados de “fiéis”. Precisamos encorpar cada vez mais esse nome: fiel de Cristo. Fiéis! Leais!

Amós e Amasias são duas figuras muito interessantes. Amós foi um profeta que exerceu a sua missão no Reino do Norte. Lembrem-se: com Davi, unificam-se todas as tribos; Salomão, seu filho, continua a governar o reino unido; após a morte de Salomão tem lugar a divisão, formando-se assim o Reino do Norte, cujo principal lugar de culto era o Santuário de Betel, e o Reino do Sul, tendo Jerusalém e o seu Templo, construído por Salomão, como o lugar por excelência do culto a Deus.

Amós recebe uma missão divina, a de profetizar, que inclui o anúncio e a denúncia. Encontramo-nos no reinado de Jeroboão II, no Reino do Norte, no século VIII a.C. Os tempos de Jeroboão II são tempos de prosperidade e de esplendor material, mas também de muitas injustiças: “o luxo dos grandes insulta a miséria dos oprimidos, e na qual o esplendor do culto disfarça a ausência de uma religião verdadeira”. Amós é um homem simples, e com essa simplicidade, com as características próprias de um “homem da roça” começa a profetizar, a denunciar as injustiças.

Amasias, sacerdote do Santuário de Betel, homem profundamente zeloso de seus próprios interesses e dos do rei fala ao profeta que se retire, sem dúvida em detrimento da verdade. Amasias prefere continuar com aquele culto disfarçado e com os seus interesses materiais a ouvir a Palavra do Senhor. As verdades “duras e cruas” são sempre difíceis de serem acolhidas porque mexem com a nossa comodidade, nosso orgulho e nosso egoísmo. Preferimos muitas vezes permanecer na mentira a escutar a verdade de Deus… Por que? Porque incomodam. Tantas vezes privamos os nossos irmãos de um grande bem como é a correção fraterna porque somos covardes, falta-nos a valentia; ao invés de darmos ao nosso irmão essa grande ajuda, o bajulamos e o adulemos fazendo com que permaneça nos seus defeitos e nos seus pecados contanto que continuemos com os nossos benefícios.

Amós apresenta-se como um homem valente, destemido. Ele sabe que tem uma missão divina, e precisa cumpri-la ainda que muitos se sintam incomodados e ofendidos. Também a Igreja tem uma mensagem divina, tem uma missão divina. Precisa anunciá-la, não pode calar-se; ainda que muitos sintam-se contrariados, ela precisa falar. Nós, filhos de Deus e de sua Igreja, não podemos ser transigentes com a verdade, para nós dois mais três sempre serão cinco e não quatro e meio. Precisamos ser fiéis à fé e à moral cristã, precisamos ser coerentes, viver essa admirável unidade de vida que tem que caracterizar a vida da filha e do filho de Deus. Os transigentes não são felizes, e não o são porque não são fiéis. Fidelidade e felicidade são irmãs. “A transigência é sinal certo de não se possuir a verdade. – Quando um homem transige em coisas de ideal, de honra ou de Fé, esse homem é um homem… sem ideal, sem honra e sem Fé” (S. Josemaria Escrivá, Caminho, 396).

Transigir é ceder naquilo que não se deve ceder. Alguns exemplos:



Alguém diz: “Jesus Cristo é um simples homem”. O cristão medroso responde: “sabe que você tem razão.

Aquele amigo da turminha diz: “a castidade, a pureza, é uma bobagem”. O jovem cristão, porém transigente, responde: “realmente, a Igreja é uma antiquada”, no fundo ele não acredita que seja assim, mas para ficar bem diante dos amigos…

Sei que a justiça é um valor importante, mas… de vez em quando cobrar um “jurinho”, lá no meu comércio, de 500% não tem problema… !?



Um conselho: “Sê intransigente na doutrina e na conduta. – Mas suave na forma. – Maça poderosa de aço, almofadada. – Sê intransigente, mas não sejas cabeçudo.” (Caminho, 397). As coisas da fé e da moral são intocáveis. Os interesses de Deus e de sua Igreja em primeiro lugar, não os nossos próprios interesses. De que lado ficaremos, do lado de Amasias, com os nossos interesses, porém na covardia e na submissão aos homens, ou na companhia dos corajosos e valentes que, como Amós, anunciam a Verdade de Deus e denunciam a mentira e a falsidade, a injustiça e demais desordens com a finalidade de promover o bem dos nossos irmãos, os homens e as mulheres de hoje? Da nossa fidelidade dependem muitas coisas. Se você quer ver o seu marido ou a sua esposa, o seu filho, a sua filha, o seu amigo pertinho de Deus: isso depende de você também, da sua fidelidade a Deus!


O Evangelho de hoje nos fala da missão dos apóstolos: de pregar o Evangelho e fazer as obras que Jesus fazia. Eles cumpriram com a sua missão, foram fiéis e… por isso estamos aqui hoje louvando-o nessa liturgia dominical. A maior parte deles foram mártires, derramaram o seu sangue pelo nome de Cristo, mas, como bem se sabe, “o sangue dos mártires é semente de novos cristãos”.