4° Domingo do Tempo Comum, Ano A 6
Roteiro Homilético 6: Roteiro
RITOS INICIAIS
Salmo 105, 47
Antífona de
entrada: Salvai-nos, Senhor nosso Deus, e reuni-nos de todas as nações, para
dar graças ao vosso santo nome e nos alegrarmos no vosso louvor.
Introdução ao
espírito da Celebração
O carnaval é
para muitos sinónimo de alegria. Mas podemos perguntar: onde se encontra de
facto a verdadeira alegria e felicidade?
Na liturgia de
hoje o Senhor vai falar-nos da bem-aventurança, da felicidade que todos
buscamos.
Irmãos, para
podermos escutá-Lo, vamos preparar o nosso coração, limpando-o do pecado.
Oração
colecta: Concedei, Senhor nosso Deus, que Vos adoremos de todo o coração e
amemos todos os homens com sincera caridade. Por Nosso Senhor…
Liturgia da
Palavra
Primeira
Leitura
Monição: O
profeta Sofonias anima o povo de Israel a procurar a Deus. Só os de coração
humilde encontrarão repouso no Senhor.
Sofonias 2, 3;
3, 12-13
3Procurai o
Senhor, vós todos os humildes da terra, que obedeceis aos seus mandamentos.
Procurai a justiça, procurai a humildade; talvez encontreis protecção no dia da
ira do Senhor. 12Só deixarei ficar no meio de ti um povo pobre e humilde, que
buscará refúgio no nome do Senhor. 13O resto de Israel não voltará a cometer
injustiças, não tornará a dizer mentiras, nem mais se encontrará na sua boca
uma língua enganadora. Por isso, terão pastagem e repouso, sem ninguém que os
perturbe.
Estas palavras
do profeta preparam o caminho das Bem-aventuranças que Jesus havia de proclamar
solenemente como o código de felicidade do seu Reino (cf. Evangelho de hoje).
No povo messiânico só haverá lugar para os humildes, os pobres em espírito, os
que têm o coração desprendido de todos os recursos humanos e que põem toda a
sua confiança no Senhor, que é o seu refúgio; estes são os chamados ‘anawim, os
pobres de Yahwéh. Estes constituem o «resto de Israel» (v.13) que se salvará da
ruína e que virá a ser o núcleo da restauração do povo.
12 «Humilde e
pobre»: Os LXX traduziram por manso e humilde (praüs kai tapeínos), que passou
a ser uma ser expressão estereotipada da pregação de Jesus, bem ao gosto de S.
Mateus (cf. Mt 5, 3.5; 11, 29; 21, 5).
Salmo
Responsorial Salmo 145 (146), 7.8-9a.9bc-10 (R. Mt 5, 3 ou Aleluia)
Monição: O
salmo exalta os cuidados de Deus com os humildes e os que sofrem.
Refrão: Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o reino dos Céus.
Ou: Aleluia.
O Senhor faz
justiça aos oprimidos,
dá pão aos que
têm fome
e a liberdade
aos cativos.
O Senhor
ilumina os olhos dos cegos,
o Senhor
levanta os abatidos,
o Senhor ama
os justos.
O Senhor
protege os peregrinos,
ampara o órfão
e a viúva
e entrava o
caminho aos pecadores.
O Senhor reina
eternamente.
O teu Deus, ó
Sião,
é Rei por
todas as gerações.
Segunda
Leitura
Monição: O
orgulho fecha-nos a Deus e à Sua graça. Por isso Deus escolhe o que é fraco aos
olhos dos homens para realizar as Suas obras grandiosas.
Coríntios 1,
26-31
Irmãos: 26Vede
quem sois vós, os que Deus chamou: não há muitos sábios, naturalmente falando,
nem muitos influentes, nem muitos bem-nascidos. 27Mas Deus escolheu o que é
louco aos olhos do mundo para confundir os sábios; 28escolheu o que é vil e desprezível,
o que nada vale aos olhos do mundo, para reduzir a nada aquilo que vale, 29a
fim de que nenhuma criatura se possa gloriar diante de Deus. 30É por Ele que
vós estais em Cristo Jesus, o qual Se tornou para nós sabedoria de Deus,
justiça, santidade e redenção.31Deste modo, conforme está escrito, «quem se
gloria deve gloriar-se no Senhor».
S. Paulo ataca
as divisões dentro da comunidade na sua raiz: o apego ao prestígio dos
pregadores correspondia a uma procura orgulhosa da sabedoria humana. O que tem
valor diante de Deus não é a ciência, a retórica, a eloquência. E a prova disso
está em que Ele, em Corinto, chamou à fé não precisamente os mais sábios, os
mais influentes e mais nobres, mas, na sua maior parte, a gente simples e
modesta. Isto deixa ver como diante d’Ele o que vale não é a ciência, o poder,
ou a estirpe, mas a graça e a escolha divina, que recai sobre os que Lhe
agradam pela humildade. Assim, ninguém pode gloriar-se diante de Deus de ter
sido chamado ao Reino de Deus (v. 29): «quem se gloria deve gloriar-se no
Senhor» (segundo uma citação livre de Jr 9, 22-23), não nos seus dotes, porque
tudo recebeu de Deus (v.31).
Aclamação ao
Evangelho
Mt 5, 12a
Monição: As
bem aventuranças opõem-se frontalmente à mentalidade mundana reinante. Vamos
ouvir com atenção o que Jesus nos diz no evangelho. É Ele que tem razão.
Aleluia
Alegrai-vos e
exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa.
Evangelho
São Mateus 5,
1-12a
1Naquele
tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os
discípulos 2e Ele começou a ensiná-los, dizendo: 3«Bem-aventurados os pobres em
espírito, porque deles é o reino dos Céus. 4Bem-aventurados os que choram,
porque serão consolados. 5Bem-aventurados os humildes, porque possuirão a
terra. 6Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão
saciados. 7Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
8Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. 9Bem-aventurados os
que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. 10Bem-aventurados os
que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus.
11Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos
perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós.12aAlegrai-vos e
exultai, porque é grande nos Céus a vossa recompensa».
As oito
bem-aventuranças, a que se junta uma nona (v. 11) a reforçar a oitava,
constituem como o frontispício do Sermão da Montanha (Mt 5 – 7), «a expressão
mais perfeita da mensagem evangélica, um dos mais altos cumes do pensamento
humano, talvez o mais elevado» (G. Danieli); com razão disse Gandhi: «foi o
discurso da montanha que me reconciliou com o cristianismo». As bem-aventuranças,
expressas na terceira pessoa do plural, têm em Mateus um carácter solene e
universal, dirigidas a todas as pessoas e a todos os tempos, não apenas aos
ouvintes imediatos. Elas condensam a grande novidade do Evangelho, em contraste
flagrante com o próprio pensamento religioso judaico então vigente, para já não
falarmos do espírito mundano e hedonista do paganismo de então e do de agora.
Elas não são a expressão de qualquer espécie de «ressentimento» dos pobres e
desafortunados em face dos poderosos, dos ricos e satisfeitos, mas são antes um
grito de protesto e de provocação lançado ao conceito de felicidade baseada na
posse das riquezas, no gozo dos prazeres, na força, no poder e na fama. De modo
nenhum elas são uma «ética para uso dos débeis», mas são um ideal de vida para
almas fortes e generosas, uma ética que, quando vivida a sério, é capaz de
renovar as pessoas e a sociedade; como o demonstra a vida dos santos. Chamamos
a atenção para a motivação da felicidade em cada uma das bem-aventuranças:
«porque…»: a felicidade não está na pobreza, na aflição, na perseguição, mas no
seguimento de Jesus, pobre, aflito, manso, faminto e sedento, misericordioso,
puro, pacificador, perseguido, o que dá direito ao gozo daspromessas de Cristo.
3
«Bem-aventurados». Esta tradução (em vez de «felizes») vinca a ideia de que o
Senhor promete a felicidade na bem-aventurança eterna e, ao mesmo tempo, já
nesta vida, ao dizê-la do presente: «deles é» (não diz «deles será»). Mas não
se trata de uma felicidade qualquer: é uma felicidade incomparável, interior e
profunda, embora ainda não possuída de modo perfeito e completo na vida
terrena. As bem-aventuranças têm uma dimensão escatológica e actual:
correspondem a um futuro já iniciado.
«Os pobres em
espírito». Como bom catequista, Mateus não deixa de especificar «em espírito»,
para que fique bem claro que não é o caso de uma mera situação
económico-social, mas de uma atitude interior de humildade diante de Deus, de
reconhecimento da própria carência de méritos e da absoluta necessidade da
misericórdia de Deus para ser salvo. O desprendimento dos bens e a austeridade
de vida são uma consequência desta atitude de espírito própria de quem se apoia
não nos bens criados, mas só em Deus. Ao dizer «em espírito» (tô pneûmati), e não,
como no v. 8, «de coração» (tê kardía: no seu íntimo, diante de Deus, em
contraposição com o exterior), a expressão conota um sentido dinâmico, de
acção, e portanto uma pobreza que corresponde a uma opção, isto é, uma «pobreza
voluntária». É de notar que a expressão de Mateus é uma expressão religiosa
coincidente com a dos textos de Qumrã (cf. 1QM, 14, 7: ‘anawê rûah).
4-5 A ordem destes versículos não
é transmitida da mesma maneira em todos os manuscritos, por isso a fórmula que
aparecia antes nos catecismos tem outra ordem que corresponde a uns poucos de
manuscritos gregos e à Vulgata, diferente da que temos aqui; pensa-se que a
ordem original teria sido alterada, a fim de facilitar a memorização e a
compreensão, juntando frases semelhantes, dado o paralelismo entre os pobres e
os humildes (os mansos) e entre os que choram (os aflitos) e os que têm fome e
sede.
«Os que
choram», isto é, os aflitos. A consolação dos que estão aflitos é um dos bens
messiânicos (Is 61, 1-3; cf. Lc 4, 1ss) que Jesus garante aos seus discípulos
(cf. Jo 16, 20-22). A consolação é uma forma emotivamente concreta de designar
a salvação esperada e trazida por Cristo (cf. Lc 2, 25; Act 3, 20; 2 Tes 2,
16-17). O verbo na passiva «serão consolados» é uma forma reverente de se referir
a Deus como agente, sem ter de o nomear (passivum divinum), equivalente a «Deus
os consolará».
«Os mansos»,
tradução que consideramos preferível à adoptada e proposta por um com um bom
número de exegetas. Com efeito, se bem que a tradução «os humildes» corresponda
ao hebraico (‘anawîm: pobres) da passagem paralela do Salmo 37, 10-11 (mas
traduzido pelos LXX por praeîs: mansos, e assim também pela Vulgata e
Neovulgata: mansueti), a verdade é que a mansidão é uma noção que tem grande
relevo em Mateus, pois o próprio Jesus se apresenta como «manso e humilde» (Mt
11, 29), na linha das profecias de Is 42, 1-4 citada em Mt 12, 18-21 e de Zac
9, 9 citada em Mt 21, 5. Por isso não nos parece que em Mateus a 1ª e a 3ª
bem-aventuranças sejam simplesmente equivalentes; «mansos» são os humildes, mas
com um matiz particular: são os que vencem o mal com o bem, não com a
violência, mas com o perdão e com a bondade, como se insiste no mesmo sermão da
montanha (Mt 5, 21-26.38-42.43-48; 6, 12.14-15). Estes são, não apenas os que
são afáveis, ou simplesmente os não violentos, mas especificamente os que
sofrem serenamente e sem ira, ódio ou abatimento, as perseguições injustas e as
contrariedades. «Possuirão a terra» (prometida como herança), isto é, «a pátria
celeste», figurada na terra prometida ao povo eleito (cf. Hebr 4, 2, 11; 11,
10.16; 12, 22; 13, 14).
6 «Fome e sede
de justiça», isto é, uma fome mais espiritual do que material, pela
especificação: de justiça. Estamos assim diante duma noção de natureza
religiosa, central no discurso da montanha (cf. 5, 10.20; 6, 1.31.33): a
submissão à vontade de Deus e aos seus desígnios de amor, uma vida justa,
inocente, santa e perfeita (cf. 5, 48).
7 «Os
misericordiosos»: o tema da misericórdia é central no Evangelho, pois dela o
homem é extremamente necessitado e também está muito presente em Mateus; com
efeito, Jesus é cheio de misericórdia (cf. 9, 36; 9, 9-13; 12, 1-7) para com os
necessitados que a Ele clamam (cf. 9, 27; 15, 22; 17, 15; 20, 30.34); e esta
tem de ser a atitude do discípulo para obter a misericórdia divina (cf. 6,
14-15; 18, 23-35); e é pelas obras de misericórdia que todos hão-de ser
julgados sem apelo (cf. 25, 31-46).
8 «Os puros de
coração», dado o contexto dos ensinamentos de Jesus, não se trata de uma simples
pureza ritual que satisfaz uma série de requisitos externos para se estar em
condições de realizar actos de culto (recordem-se as prescrições de Lv 11 – 16
relativos a alimentos, nascimento, actividade sexual, doença e morte), mas de
uma pureza moral que não fica hipocritamente em exterioridades farisaicas (cf.
Mt 23, 25-26), mas vai, na linha da pregação dos profetas (cf. Is 1, 15-16; 29,
13; Salm 24, 3-4; 51, 12; Prov 22, 11), até ao mais profundo do interior da
pessoa, onde nascem os desejos e as intenções (cf. Mt 15, 1-20; 5, 28; 12, 34).
A pureza do coração é fundamentalmente a rectidão total dos pensamentos, das
palavras e das acções, não apenas as boas intenções, segundo o Salmo 24, 3-4,
que parece estar na base desta bem-aventurança (cf. Tg 4, 8; 1 Tim 1, 5; 2 Tim
2, 22; Hebr 10, 22). Não se limita à castidade, mas pressupõe-na e exige-a de
modo particular, para se entrar em comunhão com Deus – para «ver a Deus» (cf.
Hebr 12, 14; Apoc 22, 3-4; 1 Jo 3, 3; Catecismo da Igreja Católica, nº
2517-2533).
9 «Os que
promovem a paz». Alguns exegetas preferem a tradução pacíficos, indicando o
espírito conciliador, sereno, tolerante, indulgente e paciente (cf. Tg 3,
3-18), mas a maioria pensa que se trata não só dos pacíficos, mas daqueles que
se empenham em activamente promover a paz entre os homens (e também – podíamos
acrescentar – a paz dos homens com Deus, fundamento sério de toda a paz no
mundo); estes «serão chamados…», uma expressão semítica que corresponde a
«serão de verdade filhos de Deus» (cf. Mt 5, 45).
10 «Os que
sofrem perseguição por amor da justiça» (cf. 1 Pe 3, 14), isto é, ao fim e ao
cabo, por causa de Jesus (cf. Mt 10, 24-28), por viver piamente (cf. 2 Tim 3,
12). Esta «justiça», como na 4ª bem-aventurança, não é a justiça dos homens,
mas corresponde à plena adesão à vontade de Deus, numa vida recta e santa.
11-12 Depois
das 8 bem-aventuranças anteriores, que formam um bloco (uma inclusão marcada
pela fórmula «porque deles é o reino dos Céus»: vv. 3.10), há aqui uma
ampliação e uma aplicação directa aos ouvintes da 8ª e última bem-aventurança.
Finalmente
quero chamar a atenção para a observação de Bento XVI na sua recente obra,
Jesus de Nazaré, ao introduzir o tema das bem-aventuranças: «As
bem-aventuranças não raramente são apresentadas como a alternativa do Novo
Testamento a respeito do Decálogo, por assim dizer a mais elevada ética dos
cristãos ante os mandamentos do Antigo Testamento. Com tal concepção
distorce-se totalmente o sentido das palavras de Jesus. Jesus sempre pressupôs
como evidente a validade do Decálogo (ver, por exemplo, Mc 10, 19; Lc 16, 17);
no Sermão da Montanha são assumidos e aprofundados os mandamentos da segunda
tábua, mas não são abolidos (Mt5, 21-48)…».
Sugestões para
a homilia
Bem
aventurados
Bem
aventurados os pobres
Verão a Deus
Bem
aventurados
Deus quer-nos
felizes já na terra e, depois, para sempre no Céu. O sofrimento existe no mundo
por causa do pecado do homem, que trouxe consigo todas as desgraças. Jesus veio
salvar-nos, libertando-nos do pecado: não nos tirou os sofrimentos, mas
ensinou-nos a aproveitá-los para nosso bem e para salvação dos que nos rodeiam.
A felicidade
encontra-se em Deus e só nEle. Santo Agostinho exclamava depois da sua triste
experiência longe de Deus: «Senhor fizeste-nos para Ti e o nosso coração anda
inquieto enquanto não descansa em Ti» (Confissões 1,1).
Já na terra
podemos ser felizes se procuramos a Deus, se O amamos de verdade. Carlos IX,
rei de França, perguntava um dia ao grande poeta, Torcato Tasso:
-Quem achas
que é a pessoa mais feliz?
-Deus, sem
dúvida.
-Já sei. Mas
dos homens cá na terra, quem é mais feliz?
-O homem mais
feliz? Quem esteja mais perto de Deus.
Tinha razão o
poeta.
Santa Teresa
de Ávila conta no livro da sua vida muitos dos sofrimentos físicos e morais que
lhe foram aparecendo no decorrer dos anos e, a certa altura, exclama: Senhor,
ou sofrer ou morrer. Sem o lastro do sofrimento a sua alma voaria para Deus,
separando-se do corpo. Os santos foram as pessoas mais felizes, mesmo no meio
das contradições da vida.
As bem
aventuranças do Evangelho falam-nos da felicidade, que podemos encontrar já na
terra. Não está nas riquezas, nos prazeres da vida, nas glórias humanas. Deus
quer-nos felizes e indica-nos o caminho, para não nos deixarmos iludir pelos
vendedores de promessas.
As bem
aventuranças chocam frontalmente com a maneira de pensar em moda. Mas Jesus tem
razão. Só Ele tem «palavras de vida eterna» (Jo 6, 69). Ao desejar a felicidade
os homens, sem saber, estão à procura de Deus, que é o bem e a beleza infinita
e a fonte da verdadeira alegria.
As bem
aventuranças são um resumo do Evangelho. «Ensinam-nos qual o fim último a que
Deus nos chama: o Reino, a visão de Deus, a participação na natureza divina, a
vida eterna, a filiação, o repouso em Deus» (Cat.I. Católica, 1726)
Bem
aventurados os pobres
Tantos homens
de hoje continuam a pensar que o dinheiro, a riqueza os torna felizes. Em vez
de adorar o verdadeiro Deus, adoram a casa, o automóvel, as comodidades. O
cristão aprendeu de Jesus a usar as coisas terrenas, que são boas porque dadas
por Deus, mas sem se deixar prender a elas, sem pôr nelas a sua segurança. Por
isso Jesus diz: «bem aventurados o pobres em espírito, porque deles é o reino
dos céus».
Outra ilusão
de felicidade para o homem do nosso tempo é a ambição das glórias humanas, a
cobiça do poder e domínio dos outros. Jesus lembra também: «bemaventurados os
mansos (os humildes) porque possuirão a terra». E convidou-nos a aprender com
Ele: «Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração e encontrareis o
descanso para as vossas almas» (Mt.11,29)
É aos humildes
que Deus Se revela: «Eu Te bendigo, ó Pai, porque escondeste estas coisas aos
sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos» (Mt 11,25). O orgulho
fecha os corações a Deus, porque estão cheios de si mesmos.
Deus resiste
aos soberbos e dá a Sua graça aos humildes. A explicação do ateísmo e do
agnosticismo, que nega a possibilidade de conhecer para além das ciências
experimentais, está o orgulho do homem que se fia apenas no que pode tocar.
Acaba por ser como a toupeira, que não vê e só conhece o que palpa na sua toca
escura.
A fé é como os
olhos para a alma. Leva a fiar-nos em Deus e naquilo que Ele ensina, abre-nos
horizontes novos e maravilhosos, dá-nos a possibilidade de contemplar a beleza
à nossa volta e dá sentido a toda a vida humana.
A fé abre o
nosso coração para a esperança, que nos leva a abandonar-nos em Deus que nos
tornou Seus filhos e cuida de nós a todo o momento. Que até os cabelos da nossa
cabeça tem contados (Cf. Mt 10, 30), que está atento aos mais pequenos
problemas da nossa vida.
Se vivemos
como filhos de Deus andaremos sempre felizes mesmo no meio das dores e
sofrimentos. Porque sabemos «que tudo concorre para o bem daqueles que amam a
Deus» (Rom 8, 28).
Mesmo as
perseguições por causa de Jesus serão para nós caminho de felicidade já na
terra e, depois, um dia no céu. Disso nos falam os mártires de todos os tempos.
Os primeiros cristãos, condenados à morte pelos imperadores romanos, iam para a
arena a cantar. Isso impressionava as multidões pagãs embrutecidas pelos
espectáculos sanguinários. Foi assim que muitos descobriram as belezas do
cristianismo.
A esperança
leva a gozar antecipadamente a felicidade que nos foi prometida. Como a criança
que está já muito contente quando a mãe lhe promete o brinquedo que sonhava. S.
Paulo lembra: «os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória
que se manifestará em nós» (Rom 8, 18) Se vivemos com os olhos na eternidade as
agruras deste mundo não poderão roubar-nos a alegria.
Se olhamos
para Jesus crucificado entendemos o valor do sofrimento por amor de Deus e
aprendemos a não ter medo dos sacrifícios que Deus nos pede e daqueles que
voluntariamente fazemos por Seu amor.
Verão a Deus
«Bem
aventurados os puros de coração, porque verão a Deus». Para ver a Deus, para
conhecê-Lo cá na terra e contemplá-Lo um dia no Céu, temos de purificar o
coração, limpá-lo do pecado, sobretudo da impureza.
Muitos não
acreditam porque têm o coração e os olhos cobertos de lama.
Um dia um
jovem universitário perguntava a S. Josemaria:
-Padre, tenho
um amigo que não tem fé. Que posso fazer por ele?
-Foi
baptizado?
-Sim, Padre.
-Recebeu
formação cristã, de pequeno?
-Sim, padre.
-Olha, leva-o
a confessar-se e virá de lá com uma fé muito grande.
O passarito
com as asas enlameadas não pode voar para as alturas. Se temos os olhos sujos
de lama não podemos ver. Nem abri-los sequer muitas vezes.
A pureza da
alma e do corpo prepara-nos para entender as verdades da fé, para captar mais
facilmente as coisas espirituais. S. Paulo diz que «o homem animal(animalizado)
não capta aquelas coisas que são do Espírito de Deus, porque para ele são
loucura e não as pode entender» (1 Cor.14). Acaba por ser como o filho pródigo
reduzido a guardar porcos. Todo sujo e cheio de fome desejava matar a fome com
as bolotas que os porcos comiam.
Vamos pedir a
Jesus que saibamos entender as bem aventuranças, deixar-nos guiar por elas. Que
saibamos ter fome e sede de justiça, de santidade. Que saibamos ser
misericordiosos para com todos. Que saibamos semear a paz à nossa volta.
Que saibamos
viver a sério como filhos de Deus, abandonando-nos totalmente nEle, pondo nEle
a nossa segurança. Foi assim que viveu Nossa Senhora. Foi assim que viveu S.
José. Eles são para nós modelos práticos para vivermos as bem aventuranças.
Liturgia
Eucarística
Oração sobre
as oblatas: Apresentamos, Senhor, ao vosso altar os dons do vosso povo santo;
aceitai-os benignamente e fazei deles o sacramento da nossa redenção. Por Nosso
Senhor…
Monição da
Comunhão : O Senhor é o amigo sempre tão perto de nós, fonte de paz, de
segurança, de alegria.
Salmo 30,
17-18
Antífona da
comunhão: Fazei brilhar sobre mim o vosso rosto, salvai-me, Senhor, pela vossa
bondade e não serei confundido por Vos ter invocado.
Ou: Mt 5, 3-4
Bem-aventurados
os pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os
humildes, porque possuirão a terra prometida.
Oração depois
da comunhão: Fortalecidos pelo sacramento da nossa redenção, nós Vos
suplicamos, Senhor, que, por este auxílio de salvação eterna, cresça sempre no
mundo a verdadeira fé. Por Nosso Senhor…
Ritos Finais
Monição final
Agradeçamos a
Jesus este encontro que nos proporcionou, as luzes que recebemos e a força para
encontrar a alegria no dia a dia da nossa vida.
Homilias
Feriais
4ª SEMANA
2ª feira,
4-II: S. João de Brito: Os males que vêm por bem.
Narraram o que
havia sucedido ao possesso e o que se passara com os porcos. Começaram então a
pedir a Jesus que se retirasse do seu território.
Jesus é
rejeitado porque morreram dois mil porcos em troca da cura de um espírito
imundo (cf. Ev). Pelo contrário, David aceita todas pedradas e insultos que lhe
são dirigidos como permitidas por Deus: «foi o Senhor quem lho ordenou» (Leit).
Só a fé nos
fará descobrir a mão de Deus por detrás daquilo que humanamente consideramos
males. Aproveitemos bem as contrariedades desta vida para podermos ser felizes
na outra. S. João de Brito dedicou-se às missões, partindo para a Índia e
ofereceu a sua vida pela salvação daqueles povos.
3ª feira,
5-II: S. Águeda: Agrademos ao Senhor.
2 Sam 18,
9-10. 14. 24-25. 30- 19, 4 (Mc 5, 21-43
Pois dizia
consigo: Se eu, ao menos, lhe tocar nas vestes, ficarei curada.
Jesus curou
esta mulher, porque viu a sua grande fé (cf. Ev). David chora amargamente a
morte do seu filho, esquecendo o grande triunfo militar (cf. Leit).
Nós podemos
agradar a Jesus constantemente, quando nos esforçamos por cumprir a vontade de
Deus, quando participamos na Eucaristia, quando o recebemos na Comunhão, quando
fazemos oração ou realizamos os nossos trabalhos. S. Águeda agradou ao Senhor
pela sua virgindade e coragem no martírio, sofrido nas primeiras perseguições.
Celebração e
Homilia: Celestino Correira Ferreira
Nota
Exegética: Geraldo Morujão
Homilias
Feriais: Nuno Romão
Sugestão
Musical: Duarte Nuno Rocha